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Coaching Ontológico: Transforme Sua Vida Pessoal e Profissional
Inteligência Relacional: O Segredo para uma Liderança Eficaz
Resposta a Pedro Cardoso
Do Isolamento à Conexão: Inteligência Relacional e o Futuro do Trabalho Remoto
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“O Diário de um CEO” é um livro escrito por Steven Bartlett em 2023, originalmente divulgado no podcast The Diary of a CEO, com um subtítulo: “As 33 leis dos negócios e da vida”. Resumidamente é uma obra que combina memórias pessoais, lições de vida e insights sobre empreendedorismo, liderança e gestão.
Steven Bartlett, um premiado empreendedor britânico que atua como investidor em mais de 40 empresas; é palestrante e criador de conteúdo, além de apresentar um dos podcast mais populares da Europa, The Diary of a CEO, onde compartilha sua vasta experiência no mundo corporativo, agora acessível em seu livro.
Resumidamente, quando tinha 22 anos, fundou a Social Chain, uma agência de marketing digital global. Aos 27 anos abriu o capital de sua agência na bolsa de valores e foi destaque na Business Insider, no Financial Times e no The Guardiane, sendo considerado pela Forbes uma das 30 personalidades mais influentes com menos de 30 anos. Deu palestras nas Nações Unidas, na SXSW, na TEDx e no VTEX Day ao lado de Barack Obama.
O que lhes apresento nesse e-book, é um “resumo” pessoal da obra, recheado de minhas anotações e reflexões sobre o tema e de alguns complementos que me ajudaram a compreender o que Bartlett deseja transmitir. Faço isso ao tempo em que organizo as ideias do livro para uma melhor construção de práticas e insights sobre gestão, liderança, qualidade de vida e relacionamentos.
O livro é dividido em quatro pilares onde são organizadas as trinta e três leis que norteiam o trabalho de Bartlett:
O primeiro pilar trata do EU e agrupa as primeiras nove leis. Nesse pilar ele começa com uma citação de Leonardo Da Vinci: “Não se pode ter menor ou maior domínio do que o domínio de si mesmo”. Essa ideia é mote para a discussão da importância do autoconhecimento para que é, ou almeja ser um executivo qualificado.
O segundo pilar trata da HISTÓRIA e agrupa as leis 10 a 18. Nesse pilar ele conta um pouco de sua história e apresenta os aspectos estratégicos que aprendeu na vida executiva.
O terceiro pilar trata da FILOSOFIA que ele adota na sua forma de conduzir os negócios e suas estratégias de gestão, mostrando a relação direta existente entre “quem você é, as escolhas que faz e os resultados que obtém”. Segundo ele, é a partir de sua “filosofia de vida” que você se torna capaz de fazer escolhas sobre valores, propósitos e a missão que norteiam sua conduta. Nesse pilar estão as leis 19 a 27.
Por fim, o quarto pilar trata da EQUIPE, onde ele apresenta as leis 28 a 33, que tratam das relações corporativas, dos desafios e das estratégias para uma liderança e gestão efetivas.
Primeira Parte – Infância e Formação
Bartlett começa explorando suas origens humildes, crescendo em uma família modesta no Reino Unido. Nesse contexto ele reflete sobre como sua infância moldou sua ética de trabalho, determinação e visão de mundo. Apesar de enfrentar desafios como o racismo e a falta de recursos, ele encontrou motivação em suas dificuldades e no desenvolvimento de um espírito resiliente.
O autor também destaca como foi abandonar a universidade. Uma decisão arriscada, crucial para seguir seus sonhos empresariais, enfatizando que muitas vezes as escolhas não convencionais podem levar a resultados extraordinários, desde que sejam tomadas com coragem e clareza.
Sua infância e formação moldaram não apenas sua visão de mundo, mas também os pilares de sua ética de trabalho e resiliência emocional. Filho de imigrantes que enfrentaram dificuldades econômicas e sociais no Reino Unido, Bartlett cresceu sentindo o peso das expectativas familiares e os desafios de se adaptar a uma sociedade que frequentemente o fazia sentir-se um “outsider”. Essa fase inicial de sua vida é retratada como um terreno fértil para o desenvolvimento de qualidades essenciais para o sucesso – algo que outros autores, filósofos e líderes também destacam como fundamental.
As adversidades enfrentadas durante a infância – como o racismo, a exclusão social e as limitações financeiras, serviram como força motriz para sua ambição e perseverança. Ele aprendeu a transformar obstáculos em motivação, uma ideia amplamente abordada por Viktor Frankl em seu livro Em Busca de Sentido. Frankl argumenta que o sofrimento pode ser uma fonte de propósito, visto que é encarado como parte de um caminho para algo maior. Essa perspectiva também é reforçada por Angela Duckworth em Garra: O Poder da Paixão e da Perseverança. Duckworth afirma que o realização é resultado não só de talento, mas também de uma combinação de paixão e persistência. No caso de Bartlett, as dificuldades não o definiram como vítima, mas como um agente ativo em busca de mudança.
Essa busca proporciona a construção de competências diretamente ligadas a uma atitude de curiosidade extrema, autodidatismo e questionamentos. Ele abandonou a universidade por acreditar que a educação tradicional não atenderia às suas ambições, nem lhe promoveria tais atitudes.
Peter Thiel, cofundador do PayPal e investidor em diversas startups, como o Facebook (p.ex.), ao escrever o livro De Zero a Um, discorre sobre decisões semelhantes às de Bartlett, que transformaram a vida de muitas pessoas que hoje são referências no mundo corporativo e na vida político-social. Thiel critica o modelo educacional tradicional por sua falta de inovação e incentiva os jovens a explorarem caminhos alternativos para alcançar grandes feitos.
Bartlett também ecoa a filosofia de Søren Kierkegaard, que defende a importância das escolhas autênticas e individuais. Kierkegaard sugere que a verdadeira realização vem da coragem de viver de acordo com os próprios valores, mesmo que isso signifique ir contra as normas condicionais. Para Bartlett, abandonar a universidade não foi apenas uma decisão prática, mas um ato de afirmação de sua autonomia e confiança em sua visão.
Desde cedo, Bartlett trabalhou com seus pais para garantir a sobrevivência da família. Essa exposição ao trabalho árduo influenciou profundamente sua ética de trabalho. A ideia de que o esforço constante é a base do sucesso é corroborada por Malcolm Gladwell no livro Outliers (Fora de Série, na tradução brasileira) , onde ele apresenta o conceito das 10.000 horas de prática deliberada como requisito para o domínio de qualquer habilidade. Ninguém se torna virtuoso sem esforço contínuo, metodologia clara e objetivos definidos.
No entanto, Bartlett não romantiza o trabalho árduo. Ele reconhece que o sacrifício de seus pais, embora admirável, muitas vezes veio às custas de tempo em família e bem-estar emocional. Esse equilíbrio delicado entre trabalho e vida pessoal é um tema explorado por Clayton Christensen em Como Medir Sua Vida . Christensen argumenta que o verdadeiro sucesso não é medido apenas pelo progresso profissional, mas também pela qualidade dos relacionamentos e do propósito pessoal; um entendimento que Bartlett começou a desenvolver já em sua juventude.
Bartlett reflete sobre sua identidade como uma pessoa negra em um ambiente predominantemente branco e como isso influenciou sua percepção de si mesmo e de suas aspirações. Ele menciona que durante grande parte de sua infância, sentiu que precisava se provar mais do que os outros. Essa luta por validação externa é algo que Brené Brown discute no livro A Coragem de Ser Imperfeito, ao enfatizar como a vulnerabilidade e as deficiências são essenciais para superar o medo de não ser suficiente.
Por outro lado, essa busca por autoafirmação também pode ser vista sob a lente da filosofia de Friedrich Nietzsche, que apresenta o conceito do Übermensch (o “super-homem”) como alguém que transcende as limitações impostas pela sociedade e cria seus próprios valores. Bartlett, ao internalizar tais conceitos oriundos de suas lutas e dificuldades na infância, transformo-os em motivação para se tornar o arquiteto de seu próprio destino.
Sobre isso, Bartlett considera a importância do ambiente na construção daquilo que ele chama de determinação e foco para superar a deficiência financeira e a desigualdade social presentes nas circunstâncias de vida de sua infância. “O ambiente levou-me a ser criativo, disruptivo e proativo desde cedo”. Isso está alinhado com as ideias de Carol Dweck em Mindset: A Nova Psicologia do Sucesso, onde descreve como um ambiente que valoriza o crescimento pode estimular a mentalidade de aprendizado contínuo, enquanto ambientes limitadores podem sufocar grandes potenciais.
No entanto, ele também admite que nem todos conseguem superar as limitações dos seus ambientes. Mas há um contraponto esperançoso: enquanto o ambiente inicial pode influenciar, a força de vontade e a mentalidade aberta são as chaves para transcender essas barreiras.
Steven Bartlett usa sua infância e juventude como uma moldura para explorar temas universais de resiliência, autodeterminação e propósito. Ele não apenas narra sua história, mas oferece várias outras lições valiosas extraídas de sua experiência; e nisso, ele entende que aprender com os argumentos de outros compensadores, como Frankl, Duckworth, Thiel e Nietzsche, reforça a ideia de que as adversidades não precisam ser vistas como limites, mas como oportunidades de crescimento.
Essa primeira parte de O Diário de um CEO não é apenas uma introdução biográfica, mas também uma lição sobre como o início da vida pode plantar as sementes do sucesso (ou do fracasso), desde que sejam regadas com coragem, reflexão e trabalho contínuo. Bartlett nos mostra que, independentemente das situações, é possível assumir o controle da narrativa e construir um futuro que reflita valores e sonhos.
Segunda Parte 2: A Jornada Empresarial
O livro narra a criação e o crescimento meteórico da Social Chain, uma das maiores agências de mídia social do mundo. Bartlett compartilha detalhes sobre como começou o negócio com poucos recursos, mas com uma visão clara de como as redes sociais transformaram o marketing. Ele descreve os altos e baixos da construção de uma startup, desde momentos de euforia com o sucesso até episódios de combustão e dúvidas. Aqui, Bartlett fornece conselhos valiosos para aspirantes a empreendedores, como: a importância de entender profundamente o público-alvo; o papel do risco calculado e da ousadia na criação de algo inovador, a necessidade de construir equipes resilientes e motivadas e o desafio de desenvolver competências relacionais.
Na segunda parte de O Diário de um CEO, Steven Bartlett narra a criação e o crescimento da Social Chain, destacando como os desafios e conquistas ao longo de sua trajetória profissional requereram o desenvolvimento das competências fundamentais de um CEO. A jornada de um líder não é apenas sobre a construção de uma empresa ou organização; ela envolve uma transformação pessoal e profissional, na qual as habilidades técnicas, emocionais e estratégicas são continuamente lapidadas. Esse processo é amplamente corroborado por teorias de gestão e insights de líderes empresariais renomados.
Bartlett iniciou a Social Chain com recursos limitados, o que o forçou a enfrentar desafios significativos desde o início. Essas dificuldades moldaram sua resiliência, uma habilidade essencial para CEOs. Segundo o psicólogo Daniel Goleman, autor de Inteligência Emocional, a resiliência é uma das principais competências da liderança emocional, pois permite que o líder se mantenha calmo e objetivo em situações de alta pressão.
Além disso, a construção de competências para a resolução de problemas complexos foi consistentemente recorrente na trajetória de Bartlett. Os CEOs frequentemente lidam com cenários incertos e decisões multifacetadas, como alocação de recursos, estratégia de crescimento e gestão de crises. Ao enfrentar essas situações, Bartlett desenvolveu uma reflexão analítica e adaptável, características que o filósofo Nassim Nicholas Taleb destaca no livro Antifrágil. Taleb argumenta que os líderes que aprendem com adversidades não apenas sobrevivem, mas crescem em contextos imprevisíveis.
Um ponto crucial na jornada empresarial de Bartlett foi a criação de uma equipe resiliente e engajada. Ele percebeu que o sucesso da Social Chain dependia de sua capacidade de atrair, desenvolver, manter e liderar talentos. Esse aspecto destaca o papel das habilidades interpessoais no crescimento de um CEO, fundamenta nas competências da Inteligência Relacional.
Jack Welch, ex-CEO da General Electric, em seu livro Winning, afirma que os melhores líderes são aqueles que sabem como inspirar suas equipes, cultivando um ambiente de confiança e colaboração. Bartlett aprendeu que a empatia e a comunicação aberta não são apenas “atributos desejáveis”, mas requisitos para criar um espaço onde as pessoas se sintam valorizadas e motivadas. Ele internalizou a ideia de que um CEO deve ser um “líder servidor”, conceito popularizado por Robert Greenleaf. Isso significa que o papel do líder é capacitar sua equipe, removendo barreiras para que os colaboradores possam alcançar o desempenho máximo.
Bartlett transformou a Social Chain em uma das maiores agências de mídia social porque teve uma visão antecipada de tendências emergentes. Ele compreendeu, desde o início, o impacto crescente das redes sociais na forma como as marcas se conectam com os consumidores. Essa capacidade de olhar para o futuro é uma das competências mais críticas de um CEO, como enfatizado por Jim Collins em Empresas Feitas para Vencer . XXX
Collins argumenta que os CEOs visionários não apenas respondem às mudanças do mercado, mas como as antecipam, moldando o futuro do setor em que atuam. Bartlett desenvolveu essa visão estratégica ao monitorar constantemente o mercado, testando hipóteses e assumindo riscos calculados, algo que os CEOs fazem regularmente para manter suas organizações competitivas.
O crescimento de uma startup como a Social Chain envolve momentos de incerteza e riscos consideráveis. Bartlett destaca como a tomada de decisões em ambientes incertos foi um terreno útil para o aprendizado. Os CEOs precisam equilibrar riscos com oportunidades, muitas vezes tomando decisões com informações incompletas. “Não vivemos em mundos perfeitos; vivemos em mundos possíveis, como afirma Reis em “Gente Inteligente Se Olha no Espelho.”
John Kotter, especialista em liderança e autor de Acelerando a Mudança , afirma que líderes eficazes prosperam em ambientes ruidosos porque desenvolvem agilidade mental e aprendem a identificar padrões em meio ao caos. Bartlett internalizou isso às suas estratégias para gerenciamento de situações complexas, promovendo mudanças rápidas no mercado de tecnologia, promovendo o engajamento de pessoas e times com alto desempenho, e mantendo pressão por resultados.
Ao longo de sua jornada, Bartlett reforça a importância de estar em aprendizado constante. Ele menciona que as rápidas transformações no setor digital são projetadas para que se adquira novas habilidades e conhecimentos continuamente. CEOs que adotam o conceito de aprendizagem ao longo da vida demonstram maior capacidade de inovação e adaptabilidade.
Peter Senge, em A Quinta Disciplina, destaca que organizações que aprendem, lideradas por CEOs comprometidos com o aprendizado, têm uma vantagem competitiva significativa. Bartlett exemplifica isso ao demonstrar como um CEO deve ser um modelo de curiosidade, engajando-se em novas ideias e experiências que impulsionam o crescimento pessoal e organizacional.
A jornada empresarial de Bartlett também lhe ensinou a importância da inteligência relacional e emocional. Ele fala abertamente sobre os impactos do estresse e da exaustão para equilibrar as demandas de um negócio em crescimento. Daniel Goleman identifica isso com a autoconsciência e a autorregulação como pilares da inteligência emocional, ambos essenciais para CEOs que precisam gerenciar suas emoções enquanto lideram equipes sob pressão. Além disso, também há que se destacar que nenhuma competência se sustenta se não tiver por objeto sua aplicação na qualificação dos relacionamentos humanos, como demonstra Reis em Gente Inteligente Sabe Se Relacionar.
Bartlett começou a valorizar o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, reconhecendo que o sucesso empresarial não deveria custar seu bem-estar. Esse entendimento se alinha com as ideias de Arianna Huffington em Thrive , que defende uma conceituação mais ampla de sucesso, incorporando saúde, sabedoria e propósito.
A jornada empresarial de Steven Bartlett é um roteiro para o desenvolvimento de competências cruciais para sua atuação como CEO. Ele não apenas construiu uma empresa de sucesso, mas também se transformou em um líder mais resiliente, empático, visionário e adaptável.
A experiência prática de liderar a Social Chain trouxe a Bartlett lições que nenhuma sala de aula poderia ensinar. Como outros pensadores e líderes destacam, a jornada profissional é uma das maiores escolas de liderança. Os CEOs aprendem a navegar pela complexidade, a inspirar pessoas e a transformar desafios em oportunidades, habilidades que só podem ser refinadas na prática. A trajetória de Bartlett é uma prova de que a jornada é tão importante quanto o destino, pois é nela que os líderes se formam.
Terceira Parte 3: Liderança e Autoconhecimento
Um dos temas centrais do livro é sobre liderança, mas Bartlett aborda o tema de uma perspectiva muito pessoal. Ele admite suas falhas, como nos períodos em que foi um líder ineficaz devido à falta de empatia ou comunicação. No entanto, essas experiências o ensinaram que um bom líder não é apenas alguém que guia os outros, mas também alguém que se entende profundamente.
Ele discute a importância da vulnerabilidade na liderança, explicando que os líderes que são autênticos e transparentes criam conexões mais profundas com suas equipes. Bartlett também fala sobre o equilíbrio entre ser ambicioso e cuidar da saúde mental, destacando que o sucesso não pode ser alcançado à custa do bem-estar.
Essa visão se alinha aos conceitos desenvolvidos por pensadores da filosofia, psicologia e administração. Desde Sócrates, que defende o princípio do conhece-te a ti mesmo, até Daniel Goleman com a Inteligência Emocional e minhas contribuições (Reis) sobre a Inteligência Relacional, temos boas referências para a jornada de formação de um líder e/ou CEO. Nesse sentido, muito se pode aprender sobre ser líder e, O Diário de um CEO nos apresenta algumas reflexões substantivas sobre o tema.
Um dos conceitos mais influentes na conexão entre liderança e autoconhecimento é o de inteligência relacional. Bartlett, em sua trajetória, viu que muitas de suas perdas como líder vieram da falta de consciência sobre suas próprias limitações e inseguranças. Inicialmente, ele acreditava que um CEO deveria ter todas as respostas e demonstrar força o tempo todo. Com o tempo, aprendeu que assumir vulnerabilidades e considerar suas fraquezas o tornava um líder mais humano, mais acessível e mais efetivo. Com o tempo ele entendeu que não se faz nada sozinho e tudo o que se faz pressupõe relacionamentos com “diferentes”. Essa ideia é reforçada por Brené Brown, em A Coragem de Ser Imperfeito, ao afirmar que a liderança pressupõe a construção de redes relacionais em profunda interação de competências recíprocas e oportunidades de crescimento.
Um dos maiores desafios que Bartlett enfrentou em sua jornada como líder foi aprender a lidar com o próprio ego. Ele percebeu que, muitas vezes, suas decisões eram motivadas pela necessidade de validação externa, ou que priorizavam o sucesso pessoal em detrimento do grupo e do “projeto” como um todos. Essa reflexão encontra eco na filosofia estoica, especialmente nos ensinamentos de Sêneca e Marco Aurélio no livro Meditações.
Nos dias atuais, esse conceito foi amplamente discutido por Ryan Holiday em O Ego é o Inimigo. Superar a armadilha do egoísmo exacerbado significa aprender a escutar mais, delegar responsabilidades e aceitar críticas. Um líder eficaz não precisa ser uma pessoa mais inteligente do grupo, mas sim aquela que sabe reunir talentos em torno de um propósito maior.
Bartlett enfatiza que proteger o grupo é uma das qualidades mais poderosas de um líder. Em um mundo empresarial repleto de discursos ensaiados e posturas artificiais, ele percebe que os colaboradores e clientes valorizam a honestidade e a transparência. Esse conceito se alinha ao conceito de liderança autêntica que busca criar uma cultura empresarial onde a vulnerabilidade e a transparência são incentivadas. Em sua gestão, ele introduz práticas como feedbacks abertos, reuniões honestas sobre desafios da empresa e o compartilhamento de suas próprias dificuldades por meio de metodologias ágeis, que a Inteligência Relacional chama de “roda de conversas”, conversas circulares ou “conversas nutritivas”.
A psicologia organizacional reforça essa visão. Amy Edmondson, professora de Harvard, desenvolveu o conceito de segurança psicológica, onde defende que uma das maiores competências de um líder é ser capaz de fazer com que seus liderados sintam-se seguros diante dos desafios corporativos.
Outro aprendizado fundamental dessa mesma corrente é encontrar um equilíbrio possível entre habilidades e bem-estar. Durante anos, Bartlett se dedicou intensamente ao crescimento da Social Chain, sacrificando sua saúde e seus relacionamentos. No entanto, sua aprendizagem sobre isso reforça a ideia de que o verdadeiro sucesso não pode ser construído à custa do esgotamento e das demais doenças corporativas como burnout, depressão e ansiedade.
Essa lição dialoga com a visão de Arianna Huffington em Thrive , que nos desafia a aprender a equilibrar trabalho e vida pessoal. Essa é a grande contribuição que os processos de mentoria estão trazendo para as organizações e que foi um dos maiores desafios na jornada de Bartlett. Ele percebeu que os CEOs não devem apenas buscar apenas o crescimento financeiro de suas operações , mas também criar um impacto positivo na vida das pessoas ao seu redor. Entendimento que o levou a compensar sua abordagem de liderança, adotando práticas como mindfulness, pausas estratégicas e maior atenção ao bem-estar do seu time.
Bartlett entende e promove a ideia de que um CEO eficaz não é aquele que centraliza o poder, mas sim aquele que fortalece sua equipe, dando-lhe autonomia. Essa visão se aproxima do conceito de Liderança Servidora, proposta por Robert K. Greenleaf em “The Servant as Leader”, um ensaio publicado pela primeira vez em 1970.
Bartlett aplicou essa filosofia na Social Chain para criar uma cultura onde os colaboradores tivessem autonomia para inovar e tomar decisões. Ele entendeu que um CEO não precisa ser um ditador de regras, mas sim um facilitador de crescimento e de processos. Essa abordagem não apenas fortalece o engajamento da equipe, mas também cria um ambiente de alto desempenho e inovação.
A jornada de Steven Bartlett mostra que uma liderança eficaz não nasce apenas de habilidades técnicas ou conhecimento de mercado, mas sim de um profundo entendimento de si mesmo e das relações que constrói e mantem. CEOs que desenvolvem autoconsciência são capazes de tomar decisões mais equilibradas, comunicar-se de forma autêntica e criar culturas organizacionais mais saudáveis.
Por fim, a filosofia socrática, a inteligência emocional, a visão sobre o ego, os benefícios da ênfase no bem-estar e a Inteligência Relacional, convergem para fortalecer a tese de Bartlett: o sucesso de um líder começa no autoconhecimento em um mundo onde a pressão por resultados pode obscurecer a humanidade do gestor. A mensagem de Bartlett é clara: um CEO eficaz é aquele que primeiro aprende a conviver, depois aprende a ser, em seguida aprende a fazer, para enfim aprender a aprender.
Quarta Parte 4: Lições de Vida
Ao longo do livro, Bartlett compartilha reflexões práticas sobre como construir uma carreira e uma vida significativa. Algumas das principais lições incluem a
autenticidade como o ativo mais valioso, a integridade como expressão de identidade, a dignidade como forma de promover o humano e o respeito incondicional como garantia de um humanismo saudável. “Seja fiel a si mesmo e ao que você acredita, mesmo que isso signifique seguir um caminho não convencional”, reitera Bartlett.
Embora Bartlett tenha feito muito sucesso profissional, ele conclui o livro discutindo como o verdadeiro significado da vida vai além do trabalho e das realizações de materiais. Ele aborda a importância dos relacionamentos, do propósito e do impacto que deixamos no mundo. O autor incentiva os leitores a se concentrarem no legado que desejam construir e na felicidade genuína.
“O Diário de um CEO” é mais do que uma biografia ou um manual de negócios. É um convite para reflexão sobre como vivemos, vencemos e lideramos. Steven Bartlett combina vulnerabilidade, insights práticos e histórias de sobrevivência para criar um livro que ressoa tanto em aspirantes a empreendedores quanto em qualquer pessoa buscando uma vida mais plena e significativa. Mas, acima de tudo é um livro que promove a reflexão madura e desafiadora de quem quer assumir posições de liderança mais estratégicas.
Steve Bartlett aprendeu e compartilha que a vida profissional de empreendedores, executivos, empresários, gestores e candidatos a essas posições, não se caracteriza por uma jornada racional-linear. Muito pelo contrário. A incerteza é algo presente e que não deve a ser temida, mas sim compreendida e gerenciada. Esse pensamento se alinha a diversas abordagens da filosofia, psicologia e administração, que oferecem insights sobre como enfrentar o imprevisível e construir uma carreira sólida. Bartlett faz esse alerta para deixar claro que seu “livro” não é um oráculo, nem um manual; é apenas um relato que pretende ser inspirador e gerador de insights que promovam a construção de organizações mais humanas, gestores e líderes mais capazes de “servir” e colaboradores mais comprometidos e engajados em projetos com propósitos altruístas.
Para mim foi um prazer ler O Diário de um CEO. Recomendo fortemente a leitura, reflexão e o compartilhamento dessa obra, por tudo que ela tem de desafiador na construção de organizações, gestores e líderes que, de fato, representem a restauração do que seja “essencialmente humano” em nossas atividades profissionais.
Reflitam em paz!
Homero Reis
Consultor
[1]Proibida a reprodução do todo ou de partes desse texto, por qualquer meio, sem a autorização prévia e formal do autor. Homero Reis, homero@homeroreis.com. Brasília, fevereiro/25.

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Recentemente escutei um podcast em que Pedro Cardoso, (1962/… ), ator, redator, roteirista, autor, escritor e humorista brasileiro, expressou-se sobre algumas questões acerca do modo como os cristãos pensam a vida de Jesus. Provocativamente o ator pergunta sobre “do que Jesus salva a humanidade?”, afirmando que nunca lhe responderam tal questão. Pois bem, vamos a ela.
A salvação de si mesmo: a vida de Jesus como exemplo de humanidade plena
A humanidade, desde os primórdios, carrega consigo um paradoxo: ao mesmo tempo em que constrói civilizações grandiosas, também perpetua destruições, guerras e desigualdades. Ao tempo em que cultua o valor humanístico, exclui, segrega, discrimina. Ao tempo em que fala de fraternidade e paz, é incapaz de exercer tais conceitos. Na reflexão proposta por Pedro Cardoso, ao questionar “do que Jesus salva a humanidade?”, uma resposta emerge clara: Jesus salva a humanidade de si mesma.
Ele não traz uma salvação mística ou distante, mas um chamado para que o ser humano se reencontre sua própria humanidade, resgate a dignidade do outro e busque, na convivência amorosa, um mundo melhor. Sua vida é o mapa para a salvação. Sua vida é um convite a um projeto humano que transcende o egoísmo e a destruição.
Salvar-nos de nós mesmos é, antes de tudo, um ato de coragem. Significa encarar nossa arrogância, nossa busca desenfreada pelo poder, nossa incapacidade de perceber a beleza que reside nas diferenças e na pluralidade. Salvar-nos é romper com o ciclo vicioso da ganância, das guerras ideológicas, das desigualdades sociais e das violências cotidianas que praticamos, muitas vezes, de forma inconsciente. Jesus traz essa provocação. Sua vida não é uma doutrina fria ou uma ideologia vazia, mas um testemunho vivo de como o amor, a compaixão e a justiça podem transformar a humanidade.
Um reino que é contra a lógica do poder
Jesus era esperado como um rei. Há uma esperança humana quase incontrolável por um líder que destrua os opressores e instaure uma nova ordem. No entanto, ao contrário da expectativa de seu tempo, Jesus não busca substituir reis ou instituir um reino político. Seu reino é outro: é o reino em que a justiça se sobrepõe à lei, em que o amor integra e não exclui, em que o perdão tem mais valor que a vingança.
Esse reino é uma revolução silenciosa, subversiva, contra cultural. Ele contraria a lógica do poder que domina o mundo: enquanto o mundo busca a supremacia, Jesus ensina o serviço; enquanto o mundo exalta a força, Jesus celebra a mansidão; enquanto o mundo oprime os fracos, Jesus acolhe os vulneráveis. Quando lhe foi oferecida a oportunidade de falar em Atenas – o centro intelectual do mundo antigo – Jesus optou pelo Calvário, rejeitando o brilho do debate estéril que apenas explica, mas não transforma, optando pela demonstração clara da “vida a serviço da vida”.
A vida de Jesus: um exemplo de plenitude
Pedro Cardoso chama a atenção para um ponto crucial: muitos cristãos valorizam exageradamente a morte de Jesus, deixando de lado o significado de sua vida. O que Cardoso parece não perceber é que aqueles que assim o fazem, não entenderam o propósito da missão dele. De fato, é na vida de Jesus que encontramos o verdadeiro chamado à humanidade plena. Sua vida é uma declaração contínua do valor da existência humana, uma celebração da vida em si.
Jesus viveu para que outros pudessem viver. Ele celebrou a vida quando transformou água em vinho no casamento em Caná, ensinando que a alegria tem lugar especial na existência humana. Ele celebrou a vida quando trouxe luz aos olhos dos cegos, caminhou com os excluídos e resgatou a dignidade dos impuros e esquecidos. Ele celebrou a vida quando restaurou o caminhar do coxo, quando trouxe de volta a saúde da mulher com hemorragia, quando livrou a “pecadora” do apedrejamento, quando reconciliou aquele que o traiu três vezes.
Sua vida desafiou sistemas religiosos, políticos e sociais que oprimiam os mais fracos. Ele enfrentou a arrogância dos poderosos, não com espada ou violência, mas com palavras e gestos de justiça e acolhimento. Sua vida não se resumiu a milagres, mas ao exemplo de humanidade. Jesus reuniu inimigos em uma mesma mesa, reconciliou famílias divididas, devolveu a esperança aos que haviam desistido de viver.
O propósito de sua morte: uma declaração de vida
Por que então a morte de Jesus é tão celebrada? Porque sua morte é uma extensão de sua vida. Sua morte é a prova de que o amor verdadeiro não se dobra às forças da opressão. É um tributo à verdade e à vida que ele tanto defendeu. Na cruz, Jesus declarou que a vida é mais importante do que a própria existência. Sua entrega é um ato de resistência contra tudo o que desumaniza e diminui a dignidade humana.
Aqueles que valorizam apenas a morte de Jesus e esquecem sua vida, não compreenderam o significado de sua missão. Sua morte é a culminação de uma vida vivida com propósito, entrega e amor incondicional. Sua ressurreição, por sua vez, é a porta para a eternidade, a prova de que a vida é um ciclo que nunca termina.
O chamado: transcender a nós mesmos
Jesus nos convida a transcender. Transcender a lógica do egoísmo, do poder e da destruição. Transcender nossa visão limitada sobre o outro e sobre o mundo. Ele nos lembra que não somos tão importantes assim. Nossa arrogância nos leva a achar que o mundo é nosso. Ledo engano. Fazemos parte do mundo, com a responsabilidade de cuidar dele, conservando-o em sua generosa e abundante riqueza, com a sabedoria que emana da sustentabilidade.
Por isso, Jesus nos desafia a “olhar os lírios do campo”, a acolher o próximo como o “samaritano” o fez, a receber de volta o “filho pródigo”, a repartir o pão, a “dar também a túnica”, e a “andá a segunda milha”.
Jesus nos salva de nós mesmos ao nos mostrar que há um caminho melhor: o caminho do amor, da compaixão e da justiça. Ele nos convida a viver uma vida que faz sentido, uma vida que celebra a existência do outro e que busca transformar o mundo em um lugar mais justo e mais humano.
Ao olharmos para a vida de Jesus, encontramos uma resposta clara para a pergunta de Pedro Cardoso: Jesus salva a humanidade dela mesma, oferecendo um exemplo vivo de como devemos viver. Sua vida é um convite permanente a sermos melhores, a reconstruirmos o que está quebrado e a reencontrarmos nossa própria humanidade.
Reflitam em paz!
POR HOMERO REIS©
PROIBIDA A REPRODUÇÃO DO TODO OU DE PARTES DESSE TEXTO, POR QUALQUER MEIO, SEM A AUTORIZAÇÃO PRÉVIA E FORMAL DO AUTOR. HOMERO REIS, HOMERO@HOMEROREIS.COM. BRASÍLIA, DEZEMBRO/2024

by HOMERO REIS ©[1]
“Inteligência” é a capacidade de se “ler dentro de alguma coisa”. Ler dentro dos relacionamentos é o conceito básico de inteligência relacional. Nesse texto quero aplicar esse conceito no entendimento do que está acontecendo no mundo do trabalho, considerando o resultado de uma pandemia recente, a instalação durante ela do “home office” e as consequências de tudo isso para os relacionamentos entre as pessoas e para as organizações.
Nos últimos tempos o trabalho remoto ganhou muita força, principalmente considerando as experiências das organizações durante e depois da pandemia de COVID-19. No começo, parecia uma solução perfeita: sem trânsito, horários mais flexíveis, trabalhar em casa com mais autonomia, foco nos resultados e não na burocracia da legislação trabalhista, insumos da tecnologia, etc.
Mas, com o tempo, as consequências do trabalho remoto começaram a aparecer, notadamente em decorrência de temas sobre os quais tínhamos muita teoria, mas pouco experimento com tal nível de globalidade. Impactos na vida privada decorrentes do fato de que somos seres relacionais, nos fizeram perceber que existe uma demanda “quase que inconsciente” de contatos entre “diferentes” como uma forma de manter minimamente a saúde das relações entre pessoas e o senso comum de “humanidade”.
De fato, o trabalho por sua natureza coletiva, também tem um certo nível saudável de demandas de dependência uns dos outros, o que é vital para a produtividade e saúde humanas. Afinal, somos seres que atuam em redes relacionais.
Uma das grandes questões do trabalho remoto, percebida como experiência real, foi a falta de contato entre as pessoas. No escritório, a gente acaba trocando ideias, desabafando sobre o dia a dia e criando laços com os colegas, explorando outros temas que “não fazem parte do trabalho”, mas que fazem parte da vida e do que chamamos de humanidade. Já em casa, essa interação fica limitada e o resultado é que muitos se sentem sozinhos e desconfortáveis, mesmo cercados dos que se constituem como núcleo familiar seja ele de que natureza for.
Esse isolamento causou vários problemas e suas consequências apareceram nas estatísticas de saúde e produtividade em todos os institutos de pesquisa. A revista FORBES, a mais conceituada publicação sobre o mundo dos negócios, em recente artigo (setembro/24), mostrou como cresceu, nos últimos 36 meses, a tristeza, a depressão, o bournout, principalmente dentro dos espaços corporativos. A conclusão é de que o isolamento e o trabalho remoto tem muito a nos dizer sobre as origens dessas patologias emocionais.
Muitas vezes, a gente nem percebe o quanto essas pequenas interações cotidianas fazem diferença no nosso bem-estar. No início do trabalho remoto, a produtividade pareceu aumentar dada a liberdade que se tinha de se “trabalhar do jeito que a gente quiser e quando quiser”. A ideia era de que “o importante é a entrega e o acordo sobre expectativas”.
Mas, no andar da carruagem a gente acabou percebendo que a redução da interatividade interpessoal em seu aspecto físico-presencial, afetou a saúde e, como consequência, os resultados. Ou seja, aquilo que melhoramos em termos de desempenho, foi consumido pelo aumento das doenças ocupacionais. Daquelas que conhecíamos e das tantas outros que estamos a descobrir depois.
As reuniões online que, apesar de funcionais, são mais objetivas e diretas, deixam pouco espaço para conversas informais e troca de ideias espontâneas. Aqueles momentos de “brainstorm” ou uma conversas no corredor que geram insights, se perderam e aquilo que parecia ser muito bom, não foi tão bom assim.
Esse cenário tem um impacto forte não só na saúde mental, mas também nos índices dos resultados. O isolamento pode fazer com que as pessoas se sintam mais tristes, e, com o tempo, isso evolui para algo mais sério, como a depressão e outras “dificuldades”.
A falta de separação entre a vida pessoal e o trabalho também aumentou e o risco de esgotamento deixou de ser risco para ser uma realidade. Quando o escritório está em casa, muita gente acaba se sentindo “presa” no trabalho o tempo todo e o espaço sagrado da intimidade foi devastado pelo whatsapp a qualquer hora do dia ou da noite. É difícil desligar. Mas também é difícil desligar o chefe com síndrome do trabalho compulsivo.
A pessoa trabalha mais horas do que deveria, além de ficar com um sentimento de culpa latente, associado a um cansaço físico e mental não percebido.
Diante desse cenário, muitas empresas estão tentando encontrar um equilíbrio entre as vantagens do trabalho remoto e do trabalho presencial. O chamado modelo híbrido que combina o melhor do trabalho remoto e do presencial, permite que os colaboradores tenham liberdade para escolher onde e quando trabalhar, de acordo com suas necessidades e conforme os acordos feitos com as equipes e com a empresa.
Esse modelo tem ganhado popularidade à medida que as organizações registram que nem todos os funcionários se adaptam bem ao home office integral, mas, ao mesmo tempo, querem preservar as vantagens da flexibilidade, equilibrando suas responsabilidades profissionais e pessoais de maneira mais eficaz.
Foi isso que um cliente meu expressou depois de um programa de inteligência relacional. “Eles (colaboradores e gestores), podem trabalhar em casa em dias em que precisam estar perto da família ou quando têm compromissos pessoais, mas também podem ir ao escritório em momentos em que precisam de um ambiente mais colaborativo com reuniões presenciais. Estou satisfeito com os resultados.”
A promoção de momentos presenciais periódicos para fortalecer os laços da equipe são fundamentais, mas o que muda no novo cenário do trabalho híbrido é que a escolha desses momentos não é mais uma imposição gerencial; antes, passa a ser um acordo entre pessoas maduras que entendem suas responsabilidades e compromissos.
Esses encontros são usados para atividades estratégicas, como sessões de planejamento, brainstorming ou treinamentos, mas também para momentos de socialização, como confraternizações, que ajudam a construir relacionamentos mais fortes entre todos, deixando a opção do trabalho remoto para as atividades operacionais e de caráter personalíssimo.
No fim das contas, o trabalho remoto tem suas vantagens, mas também traz muitos desafios que precisam ser enfrentados. A falta de contato e o isolamento são questões sérias, e é fundamental que as empresas estejam atentas a isso.
Então, o futuro do trabalho parece caminhar-se para um modelo mais flexível, onde cada vez mais será possível aproveitar o melhor dos dois mundos: a liberdade do home office e a interação do trabalho presencial, considerando que essa combinação promove tanto a produtividade quanto o bem-estar de todos. Afinal, o que todo mundo quer é encontrar o equilíbrio perfeito entre a vida pessoal e o trabalho, sem abrir a mão da saúde e da qualidade de vida relacional.
Na Homero Reis – Relações Inteligentes (www.homeroreis.com), estamos ajudando as organizações a encontrarem esse caminho mais adequado para uma nova “cultura” do trabalho. Nosso desafio junto aos nossos clientes tem sido o de promover espaços de responsabilidade e protagonismo, a partir da flexibilidade cognitiva, que nos permite construir juntos novos paradigmas para as relações de trabalho e produção.
A partir da inteligência relacional, buscamos encontrar soluções que atendam à necessidade das organizações de melhorarem seus resultados, mas também das pessoas de melhorarem sua qualidade de vida em todos os domínios do viver. Isso porque entendemos que “existe vida para além do trabalho”, mas é no trabalho que se constrói uma parte significativa de nossa identidade social e de nosso propósito existencial.
Resolvemos isso com muitas estratégias que promovem uma combinação possível (não perfeita), entre trabalho remoto e presencial, integrando as pessoas em uma cultura acolhedora, participativa e geradora do senso de pertencimento. Essas estratégias tem minorado significativamente a saúde de todos, fortalecido o senso de cooperação e colaboração, reduzindo custos e aumentado a interatividade de todos.
Os temas mais comuns que aparecem nesses projetos híbridos e que tem sido objeto de nossa oferta ao mercado, são:
- Gestão e monitoramento de equipes, onde usamos ferramentas de gestão de projetos e metodologias ágeis onde todos, colaboradores, gestores e líderes, desenvolvem novas competências conversacionais, garantindo que suas equipes se sintam reforçadas e orientadas tanto no ambiente presencial como no modelo remoto;
- Inovação e criatividade, onde usamos as técnicas construtivistas de “atividades cooperativas” e oficinas de relacionamentos;
- Segurança e privacidade, onde usamos modelos de protocolos de relacionamentos para estabelecer processos e limites relacionais voltados para preservação dos espaços individuais e controle dos espaços coletivos, bem como proteger redes, dispositivos, aplicativos, sistemas e dados de ameaças cibernéticas;
- Ergonomia e saúde física no trabalho remoto, onde usamos a prescrição de “dietas” de trabalho, laser, saúde e atividades físicas como processos educacionais na construção de hábitos saudáveis em todos os domínios da vida;
- e, questões ligadas à diversidade, inclusão e gênero, onde promovemos a reflexão, o debate e a construção de códigos de conduta e ética na vida, bem como a busca inteligente de um equilíbrio entre vida pessoal e profissional de todos e para todos.
Fazemos isso a partir de dois grandes eixos andragógicos: mentorias e transferência de tecnologia. No primeiro, construímos junto com os clientes um processo educacional a partir das melhores práticas, de modo que cada um se torne um multiplicador da nova cultura do trabalho dentro da organização em que atua.
No segundo, promovemos a transferência de conteúdos para a organização, de modo que ela “ganhe tempo” na instalação de novos paradigmas nas relações de trabalho e produção, focando em resultados e qualidade de vida.
É assim que atuamos.
Seja bem-vindo à Homero Reis – Relações Inteligentes.
Venha conversar conosco.
Abraços.
Homero Reis
Sócio-fundador.
[1] © proibida a reprodução do todo ou de parte desse texto sem a prévia autorização do autor. Direitos reservados a REIS, Homero; Brasília/DF, setembro/2024. homero@homeroreis.com

Entenda, Lide e Supere
por Homero Reis©
A vida e os relacionamentos humanos são complexos e cheios de circunstâncias nem sempre agradáveis, claras e objetivas. Muito pelo contrário. Vivemos em redes relacionais em intensa interação onde as interferências recíprocas são muito mais amplas do que “supõem nossa vã filosofia”. Mas, considerando a história da humanidade, começamos a estudar há muito pouco tempo os impactos (causas e consequências) de nossas interferências recíprocas em nossa saúde pessoal, social e emocional.
É fato que o que nasce da barriga da mulher é a reprodução biológica da espécie; mas, o que nos torna seres humanos é nossa vida sócio-comunitária porque “ser humano é ser social”. É nesse sentido que somos a origem e o destino de nossas competências e fracassos. Com essa distinção básica, começou-se a estudar o que as interações sociais promovem em termos de identidade e de saúde tanto na sociedade como nos indivíduos. Desde então, muitas coisas foram sendo explicadas e entendidas, mas muitas questões novas estão surgindo desses estudos. Dentre elas, o que se tem até o momento como o mais complexo dos sentimentos, e como um dos aspectos mais difíceis de serem compreendidos e cuidados é a questão da rejeição. Nos sentimos rejeitados, aprendemos a viver com isso e rejeitamos os outros num ciclo vicioso contínuo. Mas, amos conversar sobre isso.
Conceituando melhor o termo: Rejeição é uma palavra que evoca uma gama de emoções e experiências complexas. Desde os primeiros dias de nossa existência até os estágios mais avançados da vida, todos nós nos encontramos em muitos momentos, confrontados por esse sentimento desconfortável. Mas o que exatamente é rejeição? Como ela afeta nossa mente, nossas emoções e nosso comportamento? O que filósofos, educadores e religiosos dizem sobre a rejeição? E, o mais importante, como lidar com ela e ser capaz de superar esse desafio emocional?
A rejeição é a sensação de ser excluído, abandonado ou não aceito. Ela pode ser experimentada em diversas formas e em diferentes contextos. Pode ocorrer de forma sutil, como um olhar de desaprovação, uma frase dita por alguém, ou de maneira mais direta e ostensiva, como ser demitido de um emprego, rejeitado em um pedido de amor. Rejeitar alguém significa resistir às suas diferenças, desqualificá-lo a partir de preconceitos, desprezar ou recusar algo ou alguém por qualquer que seja a razão. Estudos mostram que dentre todas as “tragédias humanas”, a rejeição é a que gera as feridas emocionais mais profundas e dolorosas. A dor que ela provoca é mais intensa que a dor da perda e da morte de alguém que amamos muito. O que é mais grave é que a rejeição se faz presente em todos os âmbitos da vida e não se conhece nenhuma mecânica social que não a tenha em seu escopo. Todos os indivíduos, povos, línguas, culturas e raças, ao longo de todo o tempo viveram (ou vivem) situações de rejeição. Isso ocorre desde as relações sociais nucleares, até as relações entre estados, povos e nações.
A rejeição ocorre quando um indivíduo é deliberadamente excluído de uma relação ou interação social por outro indivíduo ou por grupos inteiros, incluindo aí a rejeição de seus pares, a rejeição dos afetos, a étnica, cultural e a rejeição familiar, além das que decorrem de preconceitos de qualquer natureza.
Além disso, a rejeição pode ser ativa, quando promove a exposição do outro ridicularizando-o, desqualificando-o (bullying), ou; passiva, quando ignora o outro. Mas, em qualquer caso, a experiência de ser rejeitado ou de viver circunstâncias inevitáveis de rejeição, embora seja subjetiva, gera inúmeras consequências objetivas na vida. Seus efeitos mais comuns aparecem travestidos de isolamento social, sentimento de exclusão e cancelamento, quebra de vínculos afetivos, “síndrome do estrangeiro”, além de solidão, baixa autoestima, agressividade, depressão, insegurança, dificuldades afetivo-relacionais, dentre outras.
A rejeição é especialmente dolorosa porque a necessidade de interação com outros seres humanos é uma necessidade básica e essencial para a construção de nossa identidade. Segundo Maslow (falarei dele mais a frente), todos os seres humanos, mesmo aqueles mais introvertidos, precisam ser capazes de dar e receber afeto para serem psicologicamente saudáveis. O contato simples ou a interação social eventual com os outros não é suficiente para atender a essa necessidade. As pessoas necessitam formar e manter relacionamentos interpessoais significativos e estáveis para satisfazer necessidades de amar e ser amado, como de pertencimento social. Se algum desses ingredientes (pertencimento e amor), estiverem faltando, as pessoas começarão a sentir-se solitárias e infelizes. Por isso a rejeição é uma ameaça significativa. De fato, a maioria das ansiedades humanas parece decorrer de preocupações sobre a questão da rejeição.
O modo como o indivíduo espera ser reconhecido no meio em que vive é um componente-chave para a qualidade da autoimagem e do modo como ele atua me sociedade. Tanto é que um estudo da Duke University, conduzido por Mark Leary (2022), sugeriu que o objetivo principal da autoimagem é monitorar nossas relações sociais e detectar a possibilidades de rejeição. Nesse estudo, a autoimagem aparece como uma medida da nossa capacidade de tolerar a exclusão. Quando essa taxa é baixa, aparecem comportamentos antissociais (solidão, isolamento, agorafobia, etc); bem como comportamento agressivo, desatenção, impulsividade e altas taxas de ansiedade.
Depois que o indivíduo “admite” viver em estado de rejeição, ou sucumbe-se a esse estado, tende a julgar impossível livrar-se dele e sua vida, no sentido mais amplo, passa a ser determinada por desmotivações, vitimismo, resistência à mudança, comportamento excessivamente rotineiro. No estudo da Duke University, pesquisadores descobriram que, a rejeição quando internalizada como “conduta normal do mundo”, promove quebra de conexões sociais e um vazio existencial preenchido, muitas vezes, por sentimentos de preconceitos e tirania, dando lugar à angústia constante.
É importante considerar que o tema da rejeição é amplo e a maneira como ela pode se manifestar, em diferentes áreas da vida, é complexo e diverso em cada contexto. As principais formas de manifestação do “sentimento” de rejeição, começam com a exclusão passiva por um grupo social ou por alguém, e segue com rompimento amoroso ou preferência familiar, até rejeição profissional, como não ser selecionado para um emprego ou receber críticas negativas reiteradas vezes. Ela também pode ocorrer de maneira sutil, como não ser convidado para um evento, ou de forma mais direta, ser insultado ou menosprezado por outras pessoas.
A rejeição tem um impacto significativo no bem-estar mental e emocional, desencadeando uma série de emoções negativas, como tristeza, raiva, vergonha e ansiedade. Além disso, repetida ou prolongada contribui para o desenvolvimento de problemas de saúde mental, como transtornos obsessivo compulsivo, e as já citadas depressão, baixa autoestima e transtornos de ansiedade.
A rejeição cria um ciclo vicioso e negativo de vergonha crônica em que a pessoa começa a internalizar a mensagem de que não é digna de amor ou aceitação, se envergonha por isso e, por isso passa a acreditar que não é digna de amor e aceitação. Isso leva a um padrão de pensamento e comportamento que tende à autodestruição.
Do ponto de vista psíquico, a rejeição ativa áreas do cérebro associadas à dor física, sugerindo que ela pode ser percebida pelo nosso cérebro como uma forma de lesão emocional. Isso explica por que a rejeição pode ser tão dolorosa e difícil de superar. A psicologia oferece insights valiosos sobre como a rejeição funciona e como podemos lidar com ela. A Teoria da Autodeterminação, (p.ex.), afirma que todos nós temos uma necessidade inata de nos sentir conectados e aceitos pelos outros. Quando essa necessidade não é atendida, experimentamos a dor da rejeição. A resiliência como capacidade de suportar e se recuperar de adversidades e desafios, incluindo a rejeição, é outro indicador importante. A psicologia nos ensina que a resiliência não é algo inato, mas sim uma habilidade que pode ser desenvolvida através de práticas e estratégias específicas que nos fortalecem contra os “estragos” da rejeição.
Freud (Sigmund), ofereceu várias contribuições importantes para a compreensão da rejeição enquanto fenômeno psíquico. Embora ele não a tenha abordado diretamente em sua obra, muitos de seus conceitos e teorias são relevantes para a forma como entendemos esse fenômeno.
Na teoria do complexo de Édipo (p.ex.), usada para explicar o desenvolvimento da sexualidade infantil e a formação do superego, Freud defende que durante a fase fálica do desenvolvimento psicossexual, as crianças desenvolvem desejos inconscientes pelo genitor do sexo oposto e hostilidade em relação ao genitor do mesmo sexo. A resolução bem-sucedida desse complexo envolve a identificação com o genitor do mesmo sexo e a internalização dos valores e normas sociais, enquanto a rejeição desses desejos pode levar a conflitos psíquicos e distúrbios emocionais. A resolução do complexo de Édipo pressupõe a competência para se lidar com a rejeição.
Freud também descreveu uma série de mecanismos de defesa que o ego utiliza para lidar com conflitos e ansiedades. A negação (p.ex.), é um mecanismo de defesa pelo qual a pessoa recusa aceitar uma determinada realidade dolorosa ou perturbadora. Nesse caso, a rejeição é uma forma de negação, onde o indivíduo tenta negar ou minimizar o impacto emocional de uma experiência de exclusão ou não aceitação.
Na teoria sobre o narcisismo, Freud discute a questão do amor-próprio e da autoestima. Para ele o narcisismo saudável consiste em ser capaz de reconhecer sua beleza e de estimar-se por isso, sendo natural ao desenvolvimento humano uma “alta” autoestima. Mas, quando em excesso, o narcisismo leva à rigidez psíquica e à incapacidade de lidar com o fato de que os outros podem discordar de nós. Nesse caso, a rejeição pode ser particularmente desafiadora para os indivíduos com um alto grau de narcisismo, pois ameaça a imagem idealizada de si mesmos.
Embora Freud não tenha tratado explicitamente da rejeição como um fenômeno isolado, suas teorias sobre o desenvolvimento psicossexual, os mecanismos de defesa e o narcisismo oferecem insights importantes sobre como a rejeição pode ser entendida e abordada do ponto de vista psicanalítico. A partir desses conceitos, os psicanalistas contemporâneos continuam a explorar a dinâmica da rejeição e seu impacto na vida mental e emocional dos indivíduos.
Do ponto de vista filosófico, muito se fala sobre a rejeição. Vários filósofos ao longo da história exploraram o tema, oferecendo perspectivas valiosas sobre esse aspecto da experiência humana. Por exemplo, Søren Kierkegaard, o filósofo dinamarquês do século XIX, pai do existencialismo, abordou a rejeição em sua obra “O Conceito de Angústia”. Nela ele explora a ideia de que a rejeição é uma manifestação da angústia existencial, resultante da liberdade e da responsabilidade do indivíduo. Kierkegaard argumentava que a rejeição é uma parte inevitável da busca pela autenticidade e pelo significado na vida. A questão está em saber lidar com ela e não sucumbir-se a ela.
Já Friedrich Nietzsche discutiu a rejeição em relação ao conceito de ressentimento em sua obra “Genealogia da Moral”. Ele sugeria que a rejeição surge como uma reação à inferioridade percebida em relação a outra pessoa ou grupo. Nietzsche via a superação do ressentimento e da rejeição como uma parte essencial do projeto de “maturidade humana “e da afirmação da vontade de poder.
Sartre (Jean-Paul), o existencialista francês, explorou a rejeição em sua filosofia da liberdade e da responsabilidade individual. No livro “O Ser e o Nada”, argumenta que a rejeição é uma consequência inevitável da liberdade de escolha. Ele enfatizava a importância de assumir a responsabilidade por nossas próprias ações, mesmo quando enfrentamos a rejeição dos outros. Para ele, cada escolha pressupõe a renúncia de infinitas outras possibilidades. Saber renunciar é saber lidar com a rejeição.
Michel Foucault examinou a dinâmica do poder e da exclusão social em sua análise das instituições sociais e do controle disciplinar. Na obra “Vigiar e Punir”, ele descreveu como a rejeição pode ser utilizada como uma ferramenta de controle social, marginalizando aqueles que desafiam as normas estabelecidas. Foucault destacava a importância de resistir à rejeição e de lutar contra as estruturas opressivas do poder.
Esses filósofos (dentre tantos), oferecem uma variedade de perspectivas sobre a rejeição, desde sua relação com a angústia existencial e o ressentimento, até sua conexão com a liberdade e o poder. Suas ideias continuam a influenciar o pensamento contemporâneo sobre esse tema complexo e universal.
Mas o que os educadores falam sobre a rejeição? À semelhança da filosofia, os educadores também têm na rejeição um tema estruturante de suas teorias. Jean Piaget, um dos educadores mais influentes e pai do construtivismo, quando tratou do desenvolvimento cognitivo infantil, não se concentrou especificamente na rejeição, mas nos trouxe importantes princípios, no contexto educacional, que têm contribuído com perspectivas sobre como a rejeição pode afetar o processo educacional e o desenvolvimento das crianças. Suas teorias esclarecem como elas lidam com o conflito e a desaprovação. Piaget enfatizou a importância do jogo simbólico e da interação social na aprendizagem das crianças. Ele argumentava que as crianças constroem ativamente seu próprio conhecimento por meio da exploração e da experimentação. O conflito cognitivo entre a construção da identidade e a rejeição natural dos outros, desempenha um papel crucial nesse processo.
Vygotsky, outro importante teórico do desenvolvimento infantil, tem ideias relevantes para o tema da rejeição no processo educacional, com repercussões na vida adulta. Ele enfatizou o papel do ambiente social na aprendizagem das crianças, argumentando que a interação com os outros e a participação em atividades culturais e sociais são fundamentais para o desenvolvimento cognitivo. Vygotsky introduziu o conceito de “zona proximal de desenvolvimento”, que se refere ao espaço entre o que uma criança pode fazer sozinha e o que pode fazer com a ajuda de um adulto ou colega mais experiente. No contexto educacional, a rejeição por parte dos colegas ou dos professores pode afetar negativamente a autoestima e o engajamento dos alunos, limitando assim seu acesso à zona proximal de desenvolvimento e seu potencial de aprendizagem. Tal processo cria mecanismos que se repetirão na vida adulta. Quando alguém entende que está sendo rejeitado, sua mobilização e seu potencial para a vida, são profundamente reduzidos.
Carl Rogers também abordou questões relacionadas à educação e ao desenvolvimento pessoal, nos dando boas pistas para se entender o efeito da rejeição na vida. Ele enfatizou a importância da aceitação incondicional e do respeito genuíno no processo educacional, argumentando que os alunos prosperam em um ambiente onde se sentem valorizados e respeitados como indivíduos. A rejeição por parte dos professores ou dos colegas, mina a autoestima e a autoconfiança, prejudicando o desempenho acadêmico, profissional, relacional e o bem-estar emocional.
Na hierarquia das necessidades psicológicas de Abraham Maslow, depois de satisfeitas as necessidades básicas (fisiológicas: comer, beber, etc), todos os demais níveis (segurança, social, estima) presumem reconhecimento e aceitação. Segurança e pertencimento são o contraponto à rejeição que, quando não “processada” ameaça toda a estabilidade psicossocial das pessoas e dificulta o processo de aprendizagem, desenvolvimento e engajamento social.
Howard Gardner, conhecido por sua teoria das inteligências múltiplas, mentes que criam e estruturas da mente, também enfatiza a importância do reconhecimento e da valorização das habilidades e talentos únicos de cada um, num contexto de aceitação e acolhimento. A rejeição, ao surgir, pode nos fazer sentir inadequados ou desvalorizados por não nos encaixar em determinado padrão “de sucesso”, o que prejudica substantivamente a autoestima e motivação para a vida.
Carol Dweck, conhecida por seu trabalho sobre a mentalidade de crescimento, sugere que as crenças das pessoas sobre suas próprias habilidades influenciam seu comportamento e desempenho. No contexto relacional, Dweck argumenta que nossas habilidades podem ser desenvolvidas através do esforço e da prática e, se associado a isso também se tem um contexto de aceitação dessas habilidades pelo grupo social, exponencializa-se o desempenho e a saúde tanto da pessoa como da “comunidade”. Por outro lado, se esse contexto é de rejeição, as perdas pessoais e sociais são enormes. A rejeição desencadeia uma mentalidade de “fixação”, onde as pessoas se veem como incapazes de mudar ou melhorar, prejudicando assim seu desempenho, sua motivação para aprender e seu compromisso com a vida. Dweck vai mais além quando afirma que a rejeição é uma forma extremamente agressiva de relacionamentos tóxicos e abusivos.
Na religião cristã, a abordagem da rejeição segue a linha da complexidade, refletindo uma combinação de ensinamentos bíblicos, interpretações teológicas e práticas espirituais que atuam a partir de dois argumentos: 1) A rejeição é um fenômeno decorrente do pecado. O homem rejeitou a Deus e, por isso sofre as consequências de sua escolha; 2) A salvação em Cristo restaura a relação do homem com Deus, afastando a rejeição e criando um novo homem e um povo que vive a partir do amor. Esse povo é chamado de “igreja de cristo”, “corpo de Cristo”, “Reino de Deus”.
As perspectivas da rejeição, do ponto de vista da fé cristã, em seus aspectos negativos e positivos, podem ser resumidos assim:
1. Deus é amor e aceita e ama incondicionalmente cada indivíduo, independentemente de suas falhas ou imperfeições. Essa aceitação divina é vista como uma fonte de segurança e consolo para aqueles que se sentem rejeitados pelos outros.
2. A morte e ressurreição de Jesus Cristo, dá a todas as pessoas a oportunidade de serem perdoadas e reconciliadas com Deus. Isso significa que, mesmo quando nos sentimos rejeitados pelos outros ou por nós mesmos, podemos encontrar esperança e renovação na fé em Cristo, pela aceitação de seu sacrifício na cruz e de sua condição de Senhor.
3. A comunidade cristã (igreja), é vista como um lugar de acolhimento e apoio mútuo, onde os membros são encorajados a se amarem e cuidarem uns dos outros. Os cristãos são chamados a praticar a empatia, a compaixão e a solidariedade, oferecendo conforto e apoio àqueles que estão enfrentando a rejeição.
4. Para os cristãos, a identidade do indivíduo não está enraizada nas opiniões ou julgamentos dos outros, mas sim na sua relação com Deus em Cristo Jesus, como filhas e filhos amados. Isso significa que a rejeição por parte dos outros não define quem somos, pois nossa identidade é encontrada em nossa fé em Cristo.
5. A fé cristã ensina que, mesmo diante da adversidade e da rejeição, podemos encontrar força e esperança na promessa de Deus de que Ele está conosco em todas as circunstâncias. Essa confiança na providência divina nos capacita a perseverar e a superar os desafios que enfrentamos.
A religião cristã aborda a rejeição como um desafio humano comum, mas oferece uma perspectiva de esperança, amor e aceitação divinos, juntamente com o apoio da comunidade de fé. Esses ensinamentos proporcionam conforto e orientação para aqueles que lidam com a rejeição, incentivando-os a encontrar significado e propósito em sua relação com Deus e com os outros.
Aqui vão alguns textos bíblicos que abordam o tema da rejeição: Salmo 27:10 (NVI): “Embora meus pais me abandonem, o Senhor me receberá.” Isaías 53:3 (NVI): “Foi desprezado e rejeitado pelos homens, um homem de dores e familiarizado com o sofrimento. Como alguém de quem os homens escondem o rosto, foi desprezado, e nós não o tínhamos em estima.” Mateus 21:42 (NVI): “Jesus lhes disse: ‘Vocês nunca leram nas Escrituras: ‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; isso vem do Senhor, e é algo maravilhoso para nós’. “Lucas 20:17 (NVI): “Jesus olhou para eles e perguntou: ‘Então, o que significa o que está escrito: ‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular’?” João 1:11 (NVI): “Ele veio para o que era seu, mas os seus não o receberam.” Romanos 9:33 (NVI): “Como está escrito: ‘Eis que ponho em Sião uma pedra de tropeço e uma rocha que faz cair; mas aquele que confia nela jamais será envergonhado’.”
Esses textos e tantos outros, refletem diferentes aspectos da rejeição, desde a experiência de ser abandonado pelos outros até a rejeição de Jesus Cristo pelos que o cercavam durante seu ministério terreno. No entanto, eles também transmitem a mensagem de esperança e redenção, mostrando como Deus pode transformar a rejeição em algo significativo e poderoso.
Mas, a boa notícia é que todos esses filósofos, psicólogos, educadores, sociólogos, e as orientações da fé cristã, oferecem perspectivas valiosas sobre a rejeição, tanto no seu aspecto diagnóstico, como na capacitação para se saber lidar com ela. Todos os que estudam o tema destacam a importância de se construir ambientes relacionais que promovam a aceitação, respeito mútuo e o reconhecimento das habilidades e potencialidades únicas de cada um, bem como a valorização das diferenças de cor, raça, sexo e cultura. Se assim o for, a dinâmica da pluralidade-aceita cria uma mentalidade de crescimento, de apoio e incentivo para que todos, juntos, enfrentem os desafios de construir vidas e sociedades mais adequadas e saudáveis.
Aqui estão algumas perspectivas e estratégias que fomentam relacionamentos mais saudáveis, mais inclusivos, acolhedores e menos promotores da rejeição:
1. A promoção da empatia e da inclusão a partir do entendimento das experiências e perspectivas uns dos outros, reduz o potencial de rejeição e exclusão.
2. O desenvolvimento de habilidades sociais e a convivência entre diferentes é fundamental para lidar com situações de rejeição. A prática de habilidades como comunicação eficaz, resolução de conflitos e trabalho em equipe, ajudam a construir relacionamentos saudáveis e resilientes.
3. A valorização da autoestima e da autoconfiança fortalecem o desenvolvimento e a estruturação da autoimagem positiva e de uma autoestima bem alicerçadas. A importância do elogio, do feedback, da educação continuada, da mentoria constante e da valorização da autonomia, são fundamentais.
4. As estratégias de enfrentamento e confrontamento saudáveis para se lidar com a rejeição e a adversidade, são bem-vindas. Isso inclui técnicas de relaxamento, respiração profunda, mindfulness, competências conversacionais, bem como o desenvolvimento de habilidades de pensamento positivo e resiliência emocional.
5. A criação de uma cultura de segurança, de honestidade intelectual, de flexibilidade cognitiva e de resolução de problemas complexos em grupos heterogêneos, reduz sensivelmente o senso de rejeição, promovendo abertura para a relacionamentos inteligentes e fornecendo recursos e orientação para se enfrentar as circunstâncias da vida social.
6. Programas educacionais de prevenção de bullying para organizações e instituições de todas as naturezas, incluindo treinamento para gestores e funcionários sobre aceitação e respeito é fundamental. A intervenção imediata quando comportamentos e falas inadequadas são identificados, é um princípio muito eficaz. A ideia é promover em toda a sociedade, ambientes seguros, inclusivos e solidários, neutralizando qualquer expressão preconceituosa. Ao fornecerem orientação, apoio e recursos, esses programas ajudam as pessoas a desenvolverem habilidades e resiliência para enfrentar os desafios da vida e construir relacionamentos saudáveis e significativos.
Do ponto de vista pessoal, lidar com a rejeição é desafiador. Mas, existem várias estratégias e atitudes que podem nos ajudar a enfrentá-la de forma saudável e construtiva:
1. Reconheça e aceite seus sentimentos de rejeição. É normal se sentir triste, magoado ou zangado. Permita-se experimentar essas emoções, mas lembre-se de que elas não definem quem você é. Converse sobre isso com alguém competente em que você confia.
2. Reflita sobre como você está reagindo à rejeição. Está se culpando ou se depreciando? Tente identificar pensamentos distorcidos e substituí-los por pensamentos mais realistas e compassivos.
3. Busque apoio em amigos, familiares ou profissionais de saúde mental. Compartilhar seus sentimentos com outras pessoas pode ajudá-lo a se sentir compreendido e apoiado. Mentorias e processos terapêuticos são muito úteis.
4. Cultive uma autoestima saudável, reconhecendo suas qualidades e valor pessoal. Lembre-se de que a rejeição de uma pessoa ou situação não significa que você não seja digno de amor e aceitação.
5. Veja a rejeição como uma oportunidade de crescimento e aprendizado. Pergunte a si mesmo o que você pode aprender dessa experiência e como pode usá-la para se fortalecer no futuro. Seja proativo.
6. Priorize o autocuidado físico, emocional e mental. Cuide de si mesmo praticando atividades que o façam sentir-se bem, como exercícios, meditação, hobbies ou passatempos.
7. Evite se fixar no passado ou se preocupar demasiadamente com o futuro. Concentre-se no momento presente e nas coisas que você pode controlar.
A rejeição é uma parte inevitável da experiência humana, mas não precisa nos definir ou nos limitar. Ao compreendermos o que é rejeição, como ela nos afeta e como podemos lidar com ela, podemos aprender a transformar essa experiência desafiadora e dolorida, em uma oportunidade de crescimento e fortalecimento pessoal. Com práticas e atitudes positivas, podemos nos libertar do peso da rejeição e seguir em frente em direção a uma vida mais plena e satisfatória, lembrando sempre de que não estamos sozinhos nessa jornada.
E você, gostou?
Faz sentido essa reflexão?
Vamos conversar sobre o tema?
Acesse-me em homero@homeroreis.com; ou @homero.reis
Reflita em paz!
Homero Reis©.
Curitiba/PR, abril/2024

Pensadores em todos os tempos e das mais diferentes orientações sempre buscaram metáforas para construir modelos para explicar o que é a mente humana, o que a compõe e como ela funciona. John Locke a descreve como uma “tábua em branco ou tábula rasa” onde toda a nossa experiência sensorial é gravada. Para Locke nascemos sem conhecimento e nossa compreensão do mundo é moldada pela experiência, incluindo aí a educação como sendo a “forma como somos ensinados a pensar e a interpretar as coisas. Aristóteles, por sua vez, entendia a mente como um espelho que reflete a realidade externa.
Nessa metáfora, a mente é passiva e recebe informações do mundo ao seu redor, refletindo-as de volta na forma de pensamentos e percepções. Alguns filósofos modernos, como Gilbert Ryle, defendem a ideia da mente como uma máquina, argumentando que os processos mentais podem ser entendidos em termos de operações mecânicas, químicas e físicas. A Mente como um Jardim, é uma metáfora encontrada em algumas tradições filosóficas orientais, que a descreve como um espaço a ser cultivado a partir das “sementes” que elegemos escolher daquilo que os sentidos captam da realidade. Como um jardim pode ser cultivado para produzir flores bonitas e frutas saudáveis, a mente pode ser cultivada através da prática da meditação e do cultivo de pensamentos positivos.
William Shakespeare e outros, associavam a mente a um teatro, onde os pensamentos e emoções são encenações de histórias (enredo) que contamos sobre nós mesmos e sobre as coisas que acontecem conosco. Nessa metáfora, personagens, cenário e história criam o espetáculo da vida. Somos os autores, atores e os espectadores do drama que se desenrola dentro de nós mesmos. Essas são apenas algumas das muitas metáforas existentes, que os pensadores têm usado ao longo da história para descrever a complexidade da mente humana. Cada uma delas oferecendo uma perspectiva única sobre a natureza e o funcionamento da mente, contribuindo para o entendimento da experiência humana.
No entanto, uma explicação se faz necessária. É preciso deixar claro a diferença entre mente e cérebro. Vou fazer isso rapidamente. A Mente humana é um conceito abstrato e multifacetado. Refere-se ao conjunto de processos mentais e experiências subjetivas que ocorrem dentro da consciência de um indivíduo. Isso inclui pensamentos, sentimentos, percepções, memórias, desejos, crenças e imaginação, entre outros aspectos da experiência humana. A mente é responsável por nossa experiência subjetiva do mundo e por nossa capacidade de reflexão, autoconsciência e autorreflexão.
O cérebro, por sua vez, é um órgão físico do corpo humano, parte do sistema nervoso central, situado dentro do crânio. Ele desempenha diversas funções vitais, como controlar os movimentos corporais, processar informações sensoriais, regular funções autônomas (como respiração e batimentos cardíacos) e realizar funções cognitivas complexas, como pensamento, memória e emoção. O cérebro é composto por bilhões de células nervosas, chamadas neurônios, que se comunicam entre si por meio de sinais elétricos e químicos. ETop of Form
E Enquanto o cérebro é um órgão físico responsável por processar informações e controlar diversas funções corporais, a mente é um conceito mais amplo que se refere aos processos mentais e experiências subjetivas que ocorrem dentro da consciência de um indivíduo. O cérebro fornece a base física para esses processos mentais, mas a mente transcende o funcionamento puramente biológico do cérebro, envolvendo aspectos emocionais, cognitivos, sociais e espirituais da experiência humana.
Então, quero prosseguir refletindo sobre nossa mente. Apesar das inúmeras formas de se tentar representá-la, há um fator comum em toda a literatura sobre o tema: temos a consciência (mais ou menos) de que somos habitados por diferentes formas de ver o mundo. Essas formas coexistem e coabitam o mesmo “espaço” em nosso corpo, mas nem sempre estão de acordo entre si. Metaforicamente falando, essas “diferentes formas de ver o mundo” podem ser vistas como personagens autônomas com identidades próprias. Às vezes um lado de nós concorda com algo, enquanto outro lado discorda veementemente. Pensamos e fazemos coisas que “um lado aprova e o outro rejeita”. A dúvida é, de fato, um diálogo entre essas identidades (personagens) que nos habitam simultaneamente. Cada uma delas, pode-se assim dizer, é um “ser” antagônico aos demais que “luta para manter-se no domínio”.
Nesse vasto universo da mente humana, existe um baile eterno de personagens internos. Personagens que, como astros em órbita, cada um com sua própria luz e sombra, dançam ao redor do núcleo central que chamamos de “eu”. São eles que compõem a complexa sinfonia que somos nós mesmos: pai, amigo, esposo, filho, profissional, o lado bom, o lado ruim, a luz e a sombra, a “carne e o espírito – todos eles têm seu lugar nessa dança, cada um com sua própria trajetória, suas próprias influências, suas próprias histórias.
Há dias em que esses personagens fluem em harmonia, como estrelas cadentes pintando o céu noturno com sua beleza efêmera. Mas há dias em que suas órbitas se chocam, criando uma chuva de meteoros interna, onde conflitos existenciais promovem colisões de interesses e geram o caos. Imagine, se quiser, o turbilhão dos movimentos mentais que esse fenômeno promove e observe de perto esses personagens em seu eterno ballet psíquico. Quem nunca se percebeu em conflito consigo mesmo?
De um lado o ser protetor, do outro o rebelde. Um personagem amoroso com ideais de proteção e cuidado convivendo com outro anárquico, egoísta e pronto a desconstruir tudo. De um lado a responsabilidade da orientação e do amor incondicional. Do outro um ser rebelde e inquieto em busca de sua própria identidade, desafiando as convenções, testando os limites do espaço ao seu redor. O amigo leal e o inimigo convivendo num diálogo sem fim sobre como se conduzir na vida. O desejo de ser uma estrela guia e a vontade inquieta de “colocar fogo no mundo”. Um lado está cheio de luz, o outro navega na sombra. Ao lado do amigo, há uma presença mais sombria – o inimigo interior. Ele sussurra dúvidas e medos, espalhando uma sombra que obscurece a visão clara do caminho à frente. É uma batalha constante entre a confiança e a autossabotagem, entre a luz e a escuridão. Um lado é bom, o outro não.
Compondo a plêiade de personagens que nos habitam, há o profissional determinado, uma estrela de realizações e ambições. Ele trabalha incansavelmente para alcançar suas metas, navegando pelas correntes turbulentas do mercado de trabalho com habilidade e destreza. Sua luz é intensa, refletindo o brilho do sucesso conquistado com esforço e dedicação. A seu lado, como um cometa destrutivo, está o crítico implacável. O perfeccionista doentio que aponta cada falha, cada imperfeição, lançando sombras sobre os triunfos do profissional e dúvidas sobre sua competência. É uma dança perigosa entre a autoconfiança e a autocrítica, onde o menor deslize pode resultar em colisão catastrófica.
A esposa apaixonada, uma estrela de amor e compromisso, pilar de apoio em tempos de turbulência, a chama que aquece os momentos mais frios da vida. Luz suave e constante, ilumina os cantos mais escuros da alma com seu calor reconfortante. Ao seu lado, a amante proibida representando os desejos ocultos, as fantasias não realizadas, as tentações que espreitam nas sombras da rotina. É uma batalha entre o dever e o desejo, entre a fidelidade e a tentação, onde o coração é dividido entre dois mundos distintos.
A dualidade eterna – o lado bom e o lado ruim, são como luz e trevas, sempre em conflito, sempre em equilíbrio frágil. Um lado busca a paz, a compaixão, a bondade que nos habita. O outro instiga o caos, arquiteta a destruição, sussurra tentações nas horas mais escuras da noite. Sua escuridão é profunda, envolvendo os corações em um abraço gélido, corroendo a pureza com sua influência nefasta.
Assim, a mente atua num ciclo interminável de luz e sombra, de conflito e harmonia, de vida e morte. Cada personagem interno tem seu papel a desempenhar, sua própria história a contar, sua própria órbita a seguir. No centro de tudo isso, somos nós mesmos, navegando pelo vasto cosmos da alma, tentando encontrar nosso lugar neste universo infinito de possibilidades.
Diante do intricado panorama de personagens internos que nos habitam, é natural que nos encontremos em constante conflito e em busca de equilíbrio. Reconhecer a existência dessas múltiplas facetas da nossa identidade é o primeiro passo para uma jornada de autoconhecimento e crescimento pessoal. É o primeiro passo para aquilo que chamamos de maturidade, de saúde psíquica, de inteligência nos relacionamentos.
Mas, como podemos lidar com essa dinâmica intensa dos personagens internos que nos habitam? Como lidar com eles e como manter uma certa coerência diante de tantas controvérsias internas? As respostas não são fáceis, nem muito menos simples. Não há manual sobre isso. Mas existem algumas recomendações que nos podem ser úteis.
O primeiro passo para se lidar com nossos personagens internos é desenvolver a autoconsciência. Reconhecer e compreender as diferentes facetas da nossa personalidade nos permite identificar padrões de comportamento e emoções associadas a cada personagem. Isso abre a possibilidade de intervir nas atuações desses personagens “reescrevendo seus roteiros de vida” e, como diretores dessa peça teatral que é a nossa vida, alterar a importância que tais personagens tem na história que estamos contando.
O segundo passo é aceitar cada um dos personagens que nos habitam. Eles fazem parte de quem somos. Não se pode negar sua existência nem, ingenuamente, julgar que eles não têm importância nesse condomínio que somos nós. Em vez de reprimir ou negar aspectos mais sombrios, devemos aceitá-los como parte integrante da nossa identidade. A aceitação não significa aprovação, mas sim reconhecimento e compreensão de que eles lá estão. Nosso desafio é saber lidar com eles.
Em seguida, buscar o equilíbrio entre os diversos personagens internos. Esse equilíbrio é essencial para uma vida harmoniosa e saudável. Envolve aprender a integrar e gerenciar as diferentes partes de nós mesmos, reconhecendo que cada personagem tem seu papel a desempenhar, mas nenhum deve dominar completamente o cenário.
Segue-se a isso, a pratica da auto empatia. É fundamental ser empático conosco mesmos para se lidar com os conflitos internos. Isso significa cultivar uma relação auto-amorosa e compassiva consigo mesmo, reconhecendo que todos nós somos seres humanos imperfeitos e merecemos compaixão, perdão e acolhimento. Mas cuidado. A empatia tem também seu lado sombrio que é a vitimização. Entenda que você não é a vítima da sua vida. Antes, é o protagonista de sua história. Portanto, use a empatia para alavancar a proatividade.
O próximo passo é ser capaz de manter um saudável diálogo interno. Desenvolver as conversas privadas (conversas internas), é essencial para resolver conflitos e tomar decisões alinhadas com nossos valores e objetivos. Isso envolve aprender a escutar as diferentes vozes dentro de nós e buscar soluções que levem em consideração as necessidades e aspirações de todos os nossos personagens internos. Todos eles têm uma razão de existir e, portanto, um propósito na rede relacional da qual participamos no mundo. Esse diálogo interno nos fornece um rico material emocional e cognitivo que deve ser considerado quando tomamos nossas decisões.
Cuide-se, priorizando o equilíbrio entre os personagens internos. Isso envolve cuidar da nossa saúde física, mental, relacional e emocional, reservando tempo para atividades que nos tragam prazer e bem-estar, mas também desafios para superação de nós mesmos. Estabeleça limites, mas ouse avançar; respeite as regras e normas, mas considere desobedecer; seja acolhedor, mas não se omita; estabeleça limites saudáveis, mas não tenha medo de perder; seja responsável, mas não se prive dos riscos; seja acolhedor, mas não queira agradar a todos; misture-se, mas seja diferente; relacione-se, mas cuide de sua individualidade.
Ao seguir essas recomendações e cultivar uma relação mais consciente e harmoniosa com os múltiplos personagens que nos habitam, podemos nos tornar protagonistas da nossa própria jornada de autoconhecimento, crescimento pessoal e realização. Em vez de serem fontes de conflito e angústia, esses personagens internos podem se tornar aliados na busca por uma vida mais autêntica, significativa e plena, lembrando que “erros só existem quando a experiência não é usada como aprendizado que se manifesta no modo de viver a vida”.
E você, gostou? Faz sentido essa reflexão? Vamos conversar sobre o tema!
Reflita em paz!
Homero Reis©.
Curitiba/PR, abril/2024

Relacionamentos Inteligentes
Por Homero Reis ©
Ah, o amor inabalável entre pais e filhos, tão cheio de ternura, compreensão e… bem, quem sabe um pouco de sarcasmo? Vamos encarar, a ideia de que laços sanguíneos significam laços de afeto é tão antiquada quanto escrever telegramas ou escutar discos de vinil. Hoje em dia os valores são outros e as construções afetivas são construídas a partir de outras lógicas. O fato é: as relações afetivas paterno-filiais existem, mas não da forma como existiam em um passado recente, concordemos ou não. Saber atuar no cenário dos relacionamentos nos dias de hoje é difícil e o tempo está sempre contra nós porque tudo muda numa velocidade que não permite que nada se solidifique: valores se alteram, tudo é permitido, os limites se dissolvem no ar juntamente com tudo aquilo que dávamos por certo há poucos instantes. O melhor que se tem desse contexto é que pais e filhos estão totalmente confusos ou perdidos e, o que é pior, cada um acha que está “mais certo” do que o outro, sem dar ao outro o espaço necessário para entender o que está acontecendo.
Dia desses um pai me disse assim: “nessa questão dos relacionamentos com meus filhos, pare o mundo que eu quero descer. Não os entendo e sei que não sou entendido. Às vezes tenho a sensação de que somos estranhos que habitam o mesmo espaço. O que eu esperava ter com meus filhos está longe de ser o que temos e, tenho certeza de que eles também pensam assim. A questão é que a gente sente isso mas não faz nada para mudar. A gente não consegue se explicar, o outro não consegue entender e tudo continua do mesmo jeito”. De fato, a realidade é muito diferente das expectativas. Mas deixe-me lhes dizer como tenho vivido isso. Comigo não tem sido muito diferente dos pais (e filhos) com quem tenho conversado. Aliás, não tem sido diferente nem em inúmeras conversas com minha terapeuta. A gente acaba vivendo num fluxo normal com algumas pitadas de esquizofrenia social, pequenos dramas e tragédias eventuais, mas nada que nos mobilize de fato para promover uma reflexão ativa sobre o tema dos amores e afetos entre pais e filhos. É assim que inicio esse texto, que espero, possa lhe ser útil. Quero refletir sobre os relacionamentos paterno-filiais numa jornada trágica-cômica (ou pode ser ao contrário), através dos meandros tortuosos da parentalidade e da descendência, onde o amor é questionável, as brigas são frequentes, os conflitos são o prato do dia e o respeito já deixou de ser servido. Não quero ser categórico. Nesse mar de incertezas existem algumas ilhas.
Começo com umas declarações clássicas, “raras, mas que acontecem sempre”, que tenho escutado cada vez nos círculos que frequento. É claro, escutado das mais diversas formas e com muitos disfarces. Coisas do tipo: “Eu sou assim porque sou seu filho; não pedi para nascer; ela é igual à mãe; você não sabe de nada; você não manda em mim; não sou eu que vai realizar o seus sonhos”. Essas declarações presumem que a genética e a circunstância sócio-parentais são as mais fortes concorrentes a culpadas por todas as falhas de comportamento, caráter e dificuldades relacionais que vivemos. Claro, as falhas nos afetos e nos relacionamentos não tem nada a ver com a maneira como você foi criado, suas influências externas, seus ciclos expandidos de influências recíprocas ou suas próprias escolhas. Não, é tudo culpa dos nossos queridos progenitores, que convenientemente se tornam os bodes expiatórios de todas as nossas imperfeições e dificuldades afetivas. “Ah, mãe, se eu sou preguiçoso é porque herdei isso de você, aprendi isso em casa, certo? Somos espelhos um do outro”. Outra: “sou assim porque você vive me enchendo o saco”. É como se a sociologia doméstica fosse um álibi perfeito para todos os dramas comportamentais. E quando se trata de pais, há sempre aquela acusação clássica: “Você não me acrescenta nada. Deixa que eu me viro”. Ah, sim, porque claramente os pais existem apenas para serem almoxarifados emocionais, fornecendo amor, apoio e conselhos ininterruptos sem nunca esperar nada em troca. Como se a mera existência deles não fosse o suficiente para nos dar uma base sólida para a vida. “Não preciso de você para nada”, escutei um filho dizer enquanto deleitava-se com o fato de ter sido financiando nos estudos, na sustentação da vida, no teto sobre sua cabeça, na comida na mesa, na enfermidade e na certeza de o “leite nasce na geladeira, assim como no videogame, na viagem à Disney”. Sim, realmente os pais não acrescentam nada, exceto, você sabe, tudo. É incrível como às vezes usamos a desculpa de “eu sou assim porque sou seu filho, ou porque nasci nessa (ou naquela) família”, como um passe livre para todos os dramas nos relacionamentos como se nossos pais fossem uma fábrica de defeitos e nós simplesmente escolhêssemos aqueles que mais nos convêm. “Você sempre foi tão cabeça-dura e teimoso!” Como se pudéssemos, magicamente, alterar nossa genética, cultura familiar ou a maneira como nos educaram para evitar que herdássemos características indesejadas. Claro, porque se há algo que os pais adoram fazer é escolher os piores traços de personalidade para passar adiante. Então, onde isso nos deixa na grande questão do amor entre pais e filhos? Bem, talvez não seja tão simples quanto uma linha reta de afeto incondicional. Talvez seja uma dança complicada de expectativas não atendidas, ressentimentos mal direcionados, falta de conversa e amor verdadeiro que persiste, apesar de tudo. Porque, no fundo, mesmo quando estamos resmungando sobre “como nossos pais são antiquados, inadequados e desatualizados” e os acusando de serem egoístas porque tudo se trata deles, há um vínculo indelével que nos une, não importa o quanto tentemos negá-lo. E daí que, apesar de toda a ironia e sarcasmo, há uma verdade subjacente que não se pode ignorar: o vínculo entre pais e filhos, embora muitas vezes complicado e repleto de conflitos, é profundamente significativo. Mesmo quando estamos ocupados reclamando sobre os hábitos ultrapassados deles, de serem egoístas e de só pensarem em si, há um amor genuíno que persiste, um amor que transcende as diferenças e os desentendimentos. Isso é difícil de entender, mas de fato existe.
Mas, de repente, a maturidade chega. Às vezes mais cedo, às vezes mais tarde. Só se espera que não chegue “tarde demais”. A maturidade desempenha um papel crucial nos relacionamentos entre pais e filhos. (Haja paciência para espera-la acontecer). É natural que os filhos, especialmente a partir da adolescência, com ênfase no início da idade adulta, questionem a autoridade de seus pais e busquem afirmar sua própria identidade e independência. Isso muitas vezes leva a conflitos e desafios, na medida em que os jovens adultos lutam para encontrar seu lugar no mundo e definir suas próprias crenças e valores.
Sabe-se que no início da vida as relações são de dependência. Os filhos dependem dos pais e, por isso, vendo-os suprir todas as suas necessidades, os veem também como heróis. Com o tempo a figura heroica se desfaz em si mesma e surge o outro ciclo: o ciclo da independência. Nesse momento, os filhos no início da vida adulta, já se julgam sabedores de tudo e conhecedores dos meandros da vida e de sua mecânica. Criticam os pais, desejam ser “filhos de outros”, tem soluções para tudo, declaram conhecimento profundo sobre coisas complexas que desafiam a humanidade desde os primórdios. Nunca vi pessoas mais cheias de certezas do que jovens adultos. Mas, o bom disso tudo, é que tudo passa. Nada melhor do que alguns tombos para se entender que nada é tão óbvio como parece. Depois de um tempo chega o tempo da interdependência. Nesse novo ciclo, os filhos que conseguiram conquistar a “maturidade” descobrem o valor de seus pais e entendem o que eles foram, são e poderão continuar a ser até que a vida se encerre. Minha torcida é para que isso não aconteça tarde demais. Porque é isso que escuto de muitos filhos: devia ter convivido mais, devia ter conversado mais, devia ter sido mais paciente, “devia ter amado mais, chorado mais, ter visto o sol nascer…” como diz aquela música dos Titãs. Devia… devia… devia. Então, por que não o fazem?
Creio que é aí que entra a questão da honra. Honrar pai e mãe é um preceito imperativo na cultura judaico-cristã e uma ideia profundamente enraizada em muitas culturas e tradições ao redor do mundo. Originário de princípios éticos e morais, esse “mandamento” geralmente é interpretado como uma instrução para mostrar respeito, gratidão e reverência aos pais. Mas, a ideia transcende as fronteiras da religião e se torna uma parte fundamental da ética familiar em muitas sociedades. Honrar pai e mãe não se trata apenas de seguir ordens cegamente, mas de reconhecer o papel vital que os pais desempenham em nossas vidas e demonstrar apreciação por isso. Honrar pai e mãe também significa reconhecer de onde viemos e valorizar essa origem como ponto de partida de toda a nossa história pessoal, seja ela qual for. É respeitar a autoridade paterno-maternal e escutar seus conselhos, preservar a figura “genitora” e seguir seus legados, quando apropriados. Embora possamos discordar deles, e isso é mais comum do que se imagina, é importante reconhecer sua sabedoria e experiência, especialmente em questões importantes sobre o ciclo da vida. Normalmente os pais são “mais velhos que os filhos”; já viram e já passaram por mais coisas do que os filhos. Isso lhes dá, pelo menos, a autoridade de afirmar que tudo passa. Portanto, “fiquem tranquilos, meus filhos, isso vai passar (seja o que for)”.
Mas nessa conversa toda, sempre tem os interlocutores mais objetivos. Foi o caso de um “colega” ciclista que, durante o nosso pedal em que falávamos sobre o tema, perguntou-me objetivamente. –Tá bom, mas você pode dar alguns exemplos de como honrar pai e mãe? Exemplos de como resolver a questão prática do amor? – Claro, respondi. No meu modo de ver, aqui vão algumas possibilidades:
1. Respeite a autoridade de seus pais: Isso inclui considerar suas regras e diretrizes quando estamos sob seu cuidado, especialmente durante a infância e a adolescência; e, na fase adulta, ser capaz de lhes dar relevância. Mesmo quando discordamos, é importante expressar nossa opinião de maneira respeitosa e solene, até mesmo quando um entendimento mútuo não seja possível. O respeito é a taça sagrada que se enche com amor. Amor sem respeito é insustentável, respeito sem amor é formalidade.
2. Expresse gratidão: Mostre apreciação pelos sacrifícios e esforços que foram feitos por você ao longo dos anos. Tenho certeza que você não tem a menor ideia do quanto seus pais se esforçaram; e, se tem, reconheça isso. Expressar gratidão pode ser feito através de palavras sinceras de agradecimento, gestos de carinho e reconhecimento de suas contribuições para a vida.
3. Passe tempo com eles: Demonstre que você valoriza a companhia deles e que quer estar presente em suas vidas. Isso pode incluir visitas regulares, telefonemas, e-mails ou mensagens de texto, especialmente se você mora longe deles. Mas também requer “pequenas ações elegantes”; ou seja, surpreenda-os com um programa inusitado e/ou pequenos gestos criativos que fujam da rotina. A desculpa da vida corrida, da agenda apertada e de “cada um tem sua vida”, pode até ser “politicamente correta”, mas não cola mais; a não ser para aliviar sua consciência.
4. Cuide deles na velhice: Assumir a responsabilidade de cuidar de seus pais à medida que envelhecem, é um fator de honra. Faça isso generosamente, mas não queira ser “o pai dos seus pais”. Garanta que tenham o apoio necessário em termos de saúde, finanças e bem-estar emocional. Os pais, quando envelhecem, não se tornam incapazes. Talvez um pouco ranzinzas e com algumas manias. Repetem histórias e piadas. Ria disso, mesmo que já tenha escutado algumas vezes. Para você não é novidade, mas para eles é história. Cuidar pode envolver ajudá-los com tarefas cotidianas, tomar decisões médicas em seu nome e garantir que estejam seguros e confortáveis. Nem sempre os pais estão tão conectados com o mundo moderno e, talvez, não tenham tanta facilidade com as “coisas desse tempo” como você gostaria. Portanto, cuide.
5. Escute seus conselhos: Reconhecer a experiência e sabedoria de vida de seus pais e considerar a opinião deles em questões importantes da vida, como carreira, relacionamentos e saúde é uma forma de demonstrar amor e honra. Embora nem sempre você vá concordar, é importante escutar suas perspectivas e levar em consideração seus caminhos pela vida. Mas escute também suas histórias e se interesse honestamente sobre como elas se deram. Seja curioso e atento. Esse escutar alivia a ansiedade da vida, reduz a insegurança, promove um pouco mais de clareza quanto ao futuro e gera senso de pertencimento.
6. Defenda o nome e reputação de seus pais: Proteja a dignidade e a integridade de seus pais e faça isso tanto em público quanto em particular. Essa é uma forma de respeito. Significa evitar falar mal deles, envergonhá-los ou expô-los. Em vez disso, fale com orgulho sobre suas realizações e qualidades. Defenda-os não como paradigmas de virtude, mas como pessoas que lhes precederam e que trazem no corpo e na alma as marcas do caminho.
7. Perdoe e deixe ir ressentimentos passados: Reconheça que seus pais são seres humanos com falhas e imperfeições, e esteja disposto a perdoá-los por erros passados. Isso não significa esquecer as mágoas do passado, mas sim libertar-se do peso do ressentimento e cultivar um relacionamento mais saudável e positivo. Se nem sempre seus pais “acertaram na mosca”, saiba que nunca tiveram a intenção de errar.
Esses são alguns exemplos práticos que dei ao meu “colega de pedal”, de como se pode honrar pai e mãe em nossas vidas. No entanto, é importante lembrar que a maneira como expressamos esse respeito e gratidão pode variar de acordo com as circunstâncias individuais e o tipo de relacionamento que temos com eles. O importante é cultivar um vínculo baseado no amor, respeito e compreensão mútuos.
Outro aspecto que deve ser considerado é a necessidade de pais e filhos atuarem juntos para construir um relacionamento saudável e significativo, baseado na confiança, no apoio mútuo e no amor incondicional. Isso envolve práticas de expressão e apreciação de afetos, resolução de conflitos de forma construtiva e cultivo de um ambiente familiar onde todos se sintam valorizados e respeitados; e, acima de tudo, entender que é melhor viver em paz “do que estar certo”. A vida do afetos paterno-filiais, não é uma competição. Considere também como os desafios e conflitos existentes entre pais e filhos podem ser oportunidades para crescimento e fortalecimento relacional. Em vez de evitar ou ignorar os momentos difíceis, construa conexões mais profundas onde você e seus pais podem aprender a enfrentar juntos, as situações que vão surgindo na vida em função da idade e das acontecências históricas que se nos acometem a todos. Lembre-se, com a idade, um dia você chegará lá. Como diz o ditado popular, você não pode mudar sua origem, mas pode construir um belíssimo final.
E você, gostou?
Faz sentido essa reflexão?
Vamos conversar sobre o tema.
Reflita em paz!
Homero Reis©.
Curitiba/PR, abril/2024

Pertencer a uma cultura, um país, uma família, a uma tribo, um grupo social é a maior demanda do ser humano. O não pertencimento gera quebra de vínculos e conexões, sendo a principal causa dos problemas de saúde emocional e relacional. Pesquisas afirmam que “não pertencer” gera desajustes sociais, sociopatias, distúrbios emocionais, agressividade, solidão e desequilíbrios relacionais. Queremos ser e fazer parte de algo que tenha significado, que seja maior do que nós mesmos e que nos forneça um propósito para a vida. Queremos pertencer e fazer parte de coisas que sejam significativas na família, no trabalho, nos relacionamentos.
Pertencer a algo, ou “pertencimento” (termo usado na literatura que trata desse assunto), é conceituado como o sentimento de estar conectado, aceito e integrado a um grupo, comunidade ou identidade compartilhada. É a sensação de fazer parte de algo maior onde nos identificamos e encontramos um lugar de propósito, aceitação e significado. O pertencimento não apenas proporciona uma rede de apoio relacional e emocional, mas contribui para o desenvolvimento da identidade pessoal e coletiva, influenciando a autoestima, os valores e comportamentos. Essa conexão com outros indivíduos ou entidades sociais é fundamental para o bem-estar psicológico, social e emocional das pessoas, influenciando diretamente sua qualidade de vida, seu senso de realização, seu propósito e trabalho.
A necessidade de pertencimento é uma característica fundamental da natureza humana, profundamente enraizada em nossa psicologia e evolução social. Desde os primórdios da humanidade os seres humanos têm vivido em grupos, tribos e comunidades, onde o pertencimento não só proporciona segurança física, mas também emocional e psíquica. A busca por pertencimento é motivada pela necessidade de conexão, identidade e significado, e é gerada pela natureza gregária de nossa espécie.
Quando uma pessoa se sente excluída ou desvinculada de qualquer grupo ao qual ela pertença ou aspire pertencer, tem como consequência uma série de desajustes. Além da solidão, o sentimento de não pertencimento pode causar ansiedade, depressão e baixa autoestima, potencializando sofrimentos crônicos e outros distúrbios mais graves.
A sensação de pertencimento está intimamente ligada à nossa identidade e autoestima. Quando nos identificamos com um grupo, seja ele uma família, uma cultura, uma religião, uma comunidade online ou qualquer outra forma de associação social, isso nos dá uma sensação de propósito e significado, nos ajudando a encontrar nosso lugar no mundo e a compreender nosso papel na sociedade. Os grupos oferecem o apoio necessário para ajudar seus membros a enfrentar desafios e as dificuldades da vida a partir do princípio da reciprocidade. Eles oferecem amizade, camaradagem e um senso de conexão que pode ser vital para o bem-estar sócio-emocional. Pertencer a algo ou a alguma coisa nos proporciona apoio para a jornada humana. O caminho sempre é mais fácil quando se caminha junto.
Sentir-se excluído ou não pertencente é o estopim (ou o gatilho) para fomentar ciclos de isolamento que se tornam em solidão crônica com efeitos devastadores em todos os domínios da vida privada e social. O sentimento de exclusão quebra o vínculo humanístico, descaracterizando nossa natureza humana. As consequências disso podem chegar a níveis em que o indivíduo já não se reconhece mais como “ser humano”, além de não reconhecer o outro, também como tal. (P.Ex.) Em extremo, mas não tanto, o suicídio se ancora no despertencimento e na quebra de vínculos com a vida.
Portanto, é crucial reconhecer a importância do pertencimento e trabalhar para criar comunidades inclusivas e acolhedoras onde todos se sintam valorizados e aceitos. Isso requer esforços tanto a nível individual quanto coletivo para promover a compreensão, a empatia e a tolerância em relação às diferenças e diversidades que existem dentro de nossa sociedade e dentro também dos grupos ou tribos. Ao cultivar um senso de pertencimento positivo e inclusivo, podemos ajudar a mitigar muitos dos problemas sociais e emocionais associados à exclusão e solidão.
O pertencimento é percebido pela experiência de envolvimento pessoal com um sistema relacional, ou ambiente social, de forma que a pessoa sinta que é parte integrada de algo maior, de uma comunidade, de um grupo de pessoas, com propósitos e valores com os quais ela se identifica ou deseja se identificar. Ela se sente vinculada, próxima e aceita pelas pessoas; sente-se “igual” e torna-se capaz de manter relações estáveis e de crescer com o grupo (uma nação, um time esportivo, uma religião ou uma família), desenvolvendo afetos orgânicos com os demais. Isso é fundamental para manter os vínculos humanísticos que nos caracterizam como espécie. Apesar de nossas inúmeras diferenças, somos todos, humanos. Por outro lado, a sensação de não pertencimento surge a partir da falta de conexão com o meio. Por exemplo, indivíduos que não se sentem pertencentes à sua família por terem personalidades e crenças muito diferentes, sentem-se alijados dos “pequenos grupos” aos quais deveria estar associado, sentem-se objeto de críticas e preconceitos; enfim, sentem-se fora do contexto. Isso desencadeia “sentimentos” que produzem desconexão, afastamento e quebra de vínculos com suas patologias associadas: depressão, solidão, agorafobia, dentre outros.
A sensação de pertencimento começa a esmorecer quando o indivíduo percebe que sua existência no grupo não é mais relevante para o conjunto de acontecimentos que caracterizam o grupo. Ao perceber-se marionete de vontades alheias, objeto de descriminação e de “cancelamento social”, além de julgamentos constantes e críticas maldosas, ocorre a fragilização de suas relações com o grupo e, por consequência, da sensação de pertencer.
Dentre as principais causas que dificultam o pertencimento, seja em organizações, empresas ou grupos sociais, as mais significativas são:
- Discriminação e preconceito: quando as pessoas são discriminadas ou tratadas de maneira injusta com base em características como raça, etnia, gênero, orientação sexual, religião, status socioeconômico, entre outros.
- Exclusão ou cancelamento social: situações em que as pessoas são deliberadamente excluídas ou marginalizadas por razões meramente subjetivas ou por motivo torpe (p.ex.: divergências de opinião, orientação política, time de futebol ou parar na faixa de pedestres).
- Falta de diversidade e representação: grupos que carecem de diversidade e representação podem fazer com que alguns membros se sintam alienados, alijados ou não representados e sem valor. Essa tentativa de uniformidade do grupo já contou a sua história: raça pura, hegemonia masculina, fascismo, etc.
- Normas e expectativas restritivas: normas culturais ou expectativas sociais rígidas e inflexíveis, impostas autoritariamente, podem alienar os indivíduos que não se encaixam nessas normas, fazendo com que se sintam excluídos ou incompreendidos.
- Conflitos interpessoais: disputas, rivalidades ou indisposições entre os membros, podem criar tensões e divisões que prejudicam o senso de pertencimento de todos os envolvidos, principalmente quando não há espaços conversacionais.
- Falta de comunicação eficaz: uma comunicação deficiente, preconceituosa ou com falta de transparência dentro da comunidade pode levar a mal-entendidos, ressentimentos e desconexões. Piadas sexistas, racistas, machistas são um bom exemplo do que não deve ser feito.
- Ambiente hostil ou inseguro: Um ambiente físico ou social que seja percebido como hostil, inseguro ou ameaçador desencoraja o pertencimento ao criar sentimentos de medo, ansiedade ou desconfiança.
- Individualismo excessivo: Uma cultura que valoriza excessivamente o individualismo em detrimento do senso de comunidade e colaboração pode levar os membros a se sentirem isolados ou desconectados.
- Falta de oportunidades de participação: Quando os membros não têm oportunidades significativas para contribuir, participar ativamente ou se envolver, isso pode reduzir seu senso de pertencimento e investimento no grupo, no time ou na comunidade.
- Mudanças rápidas ou desestruturação: Mudanças rápidas ou desestruturações não negociadas, alterações de normas e procedimentos unilaterais, podem criar incerteza e instabilidade, dificultando o senso de pertencimento dos membros.
Identificar essas causas e aborda-las no sentido de promover conversas e compartilhamentos, é trabalhar para criar um ambiente inclusivo, acolhedor e participativo, essencial para promover o pertencimento e fortalecer a coesão dentro dos sistemas relacionais.
O sentimento de exclusão ou não pertencimento, decorrente das causas acima mencionadas, se manifesta de várias maneiras na vida social e relacional das pessoas. Tais manifestações podem variar de acordo com a personalidade, experiências individuais e contexto social, mas apresentam certos sinais já conhecidos. Dentre eles, os mais ocorrentes e que indicam maior sentimento de exclusão ou não pertencimento, com suas doenças relacionadas, são os seguintes:
- Solidão crônica: Sentir-se constantemente isolado, criticado e sem apoio social. A solidão crônica pode levar a uma série de problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade, e, não raro, à tendências suicidas.
- Baixa autoestima: Sentimentos de inadequação, desvalorização e falta de autoconfiança. Isso pode contribuir para o desenvolvimento de transtornos de personalidade, compulsividade ou distúrbios alimentares.
- Ansiedade social: O medo intenso de ser julgado, rejeitado, criticado ou ridicularizado. Isso promove transtornos de imagem e cognição.
- Depressão: Sentimentos persistentes de tristeza, desesperança e desinteresse pela vida. A depressão é uma doença mental comum e séria, muitas vezes associada ao sentimento de exclusão.
- Comportamentos de evitação: Preferir evitar situações sociais, se isolar ou se distanciar dos outros, não conseguir formar amizades, ser excessivamente ritualista, muitas vezes são estratégias de enfrentamento adotadas por pessoas que se sentem excluídas ou não pertencentes. Isso tem como consequência problemas de relacionamento e dificuldades de interação social.
- Hostilidade e agressão: Algumas pessoas respondem à exclusão social com sentimentos de raiva, agressividade, ressentimentos e hostilidade em relação aos outros, muitas vezes sem “causa aparente”. Isso leva a conflitos interpessoais e comportamentos agressivos.
- Desenvolvimento de vícios: O uso compulsivo de substâncias como álcool, drogas, jogos de azar ou on-line, pode ser uma forma de lidar com a dor emocional e o vazio resultantes da exclusão social e do não pertencimento.
- Transtornos alimentares: Transtornos alimentares, como anorexia ou bulimia, são também considerados formas patológicas do enfrentamento da perda do senso de pertencimento como forma auto-destrutiva da autoestima.
- Auto isolamento: Retirar-se voluntariamente das interações sociais e evitar contato com outras pessoas também é um tipo de resposta ao sentimento de exclusão ou não pertencimento. Isso pode levar ao desenvolvimento de problemas de saúde mental, como agorafobia ou fobia social. Muitos casos de “homeless” decorrem do auto isolamento como modo de enfrentar o sentimento de “não pertencer”.
- Baixa qualidade de vida geral: Descuido com a qualidade de vida, com a imagem pessoal, com a saúde. Desmazelo e desprezo para com os cuidados rudimentares da vida, indicam desconexão e despertencimento.
Do ponto de vista individual é importante reconhecer esses sinais para buscar o apoio adequado necessário. A terapia individual ou em grupo e o apoio de redes sociais e comunitárias podem ser recursos úteis para se lidar com os efeitos negativos da exclusão social e promover o senso de pertencimento. Do ponto de vista social, é fundamental que gestores, professores, pais, terapeutas e demais pessoas que “cuidam de gente”, entendam esses sinais como forma de promover práticas corporativas e políticas públicas de acolhimento. O desafio é gerar nas pessoas a sensação correta de ser um elemento importante na teia social. Esse sentimento faz com que elas se sintam parte de algo maior. Já, o contrário disso é trágico, como já comentei.
Nas organizações (p.ex.), para aumentar o sentimento de pertencimento, é preciso que formadores de opinião, gestores e lideranças, demonstrem confiança nos seus times. Isso funciona muito bem quando as expectativas e objetivos ficam claros para os colaboradores, por meio de feedbacks e avaliações constantes com seus líderes. A cultura e a forma como a organização percebe seus colaboradores diz muito sobre o nível de efetividade de uma política de pertencimento. Não basta apenas teorizar sobre as condições de trabalho, mas também assegurar uma prática inclusiva condizente. Quem “sente que pertence” aonde trabalha, tende a ser mais produtivo, otimista e preocupado com o negócio. Isso se manifesta no modo como vivencia e experimenta, no dia-a-dia, uma condição de melhoria contínua do trabalho e das oportunidades de crescimento.
Seguem algumas dicas para se cuidar do “senso de pertencimento” nas organizações:
- Estimule uma cultura que tenha como compromisso fazer com que todas as jornadas valham a pena. Enxergar o capital humano a partir do estímulo de uma visão empreendedora como fonte geradora de riqueza e crescimento do negócio abre espaço para a diversidade, a inclusão e o pertencimento.
- Melhore a comunicação interna. A comunicação e a informação sem ruídos, num ambiente livre, produzem interações positivas, minimizando conversas paralelas e interpretações equivocadas. Essa boa prática evita movimentos paralelos que prejudicam os relacionamentos e geram possíveis conflitos entre equipes.
- Construa e fortaleça os vínculos entre as pessoas dizendo a todos que são importantes e que o tratamento é igualitário, valorizando a participação de todos, tendo mecanismos claros de promoção do mérito, além de estimular que as pessoas façam coisas juntas para além do trabalho. Quanto à construção de vínculos, refiro-me a ter atividades que façam com que a equipe troque experiências e se integre a partir das diferenças individuais, tanto em seus aspectos interpessoais, quanto na percepção da dinâmica organizacional. Refiro-me também à narrativa da organização, que faz com que esse coletivo de pessoas esteja junto considerando os motivos que levam a organização a existir e a seguir em frente construindo algo maior a partir de suas atividades rotineiras.
- Escute os colaboradores. A rotina acelerada, repleta de processos e urgências, condiciona empresas e organizações a tornarem os relacionamentos vulneráveis porque todos têm algo a dizer e desejam ser escutados mas, quando isso não acontece, se retraem e deixam de dar boas ideias. Cuidando da escuta ativa se pode ter duas surpresas agradáveis: uma chuva de ideias altamente produtivas e o despertar de novos profissionais que, percebendo a oportunidade de serem reconhecidos, passarão a ter maior engajamento e disposição para o trabalho.
- Celebre conquistas. Celebre coisas grandes e pequenas mantendo no time o sentimento de que estamos vencendo sempre, seja nos resultados, seja na aprendizagem. Antes de serem profissionais, os seres humanos sonham e vibram quando conquistam algo; logo, celebre sempre.
- Ofereça reconhecimento. Reconheça o trabalho, seja grato e generoso. Ideias como “não fez mais do que a obrigação” são péssimas para uma boa prática de pertencimento. Todas as vezes que alguém, seja quem for, apresentar uma boa performance reconheça e permita que todos saibam. Elogie. Diante de desafios, incentive todos a usarem todo o conhecimento disponível e a mostrar do que são capazes. Assim eles verão a empresa/organização com apoiadora e não apenas aquela que utiliza seus profissionais para atingir metas.
- Promova o equilíbrio entre vida profissional e pessoal. O bom desempenho profissional depende de uma saúde mental equilibrada, onde a qualidade de vida, o bem-estar e a realização pessoal tem um lugar de destaque na vida de cada pessoa. Gerir o tempo para o lazer e família, estimula o compromisso com as relações de trabalho, favorecendo o desejo de pertencer.
Construir “boas práticas” de pertencimento que se caracterizem como elemento de uma cultura organizacional (e social) saudável, não é resultado de uma fórmula mágica; antes, é o resultado de cuidados cotidianos constantes e de atenção com a qualidade dos relacionamentos. Essa é uma construção dinâmica, diária e evolutiva. E não se esqueça: o sentimento de pertencimento nasce da percepção de respeito, sem distinções no tratamento das pessoas independentemente do grau hierárquico ou tempo na empresa/organização. É a inclusão mostrando o valor e o real sentido da palavra pertencimento.
E você, gostou? Faz sentido essa reflexão? Vamos conversar sobre o tema.
Reflitam em paz!
Por: Homero Reis