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Sua Liderança usa Dashboards como “Espelho Mágico” ou “Janela para a Realidade”? Uma Análise Gerencial do Conto da Branca de Neve

Quiet Quitting: O Sintoma de uma Liderança Ausente.

JANELA DE OVERTON PRIMEIRAS ANOTAÇÕES

DIÁRIO DE UM CEO ©

coaching ontológico

Coaching Ontológico: Transforme Sua Vida Pessoal e Profissional

inteligência relacional

Inteligência Relacional: O Segredo para uma Liderança Eficaz

Resposta a Pedro Cardoso

Do Isolamento à Conexão: Inteligência Relacional e o Futuro do Trabalho Remoto

A Jornada da Rejeição

Os Personagens que nos Habitam

O drama do amor e da honra entre pais e filhos

Pertencimento – A Arte de Promover o Humano

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Imagine a cena, tão comum no mundo corporativo de hoje: o líder, imerso na luz azul da tela, analisa seus dashboards. Gráficos de produtividade, KPIs de desempenho, metas de OKRs. Ele busca a verdade nos números. Mas que verdade ele está realmente procurando?

Em meu livro “Branca de Neve e os Sistemas Gerenciais”, uso a poderosa metáfora da Rainha Má e seu Espelho Mágico para ilustrar um dos arquétipos mais perigosos da liderança: o líder que usa suas ferramentas não para ver a realidade, mas para validar o próprio ego. A pergunta diária “Espelho, espelho meu, existe equipe mais produtiva do que a minha?” é a versão moderna da busca por validação da Rainha.

Este artigo é um convite para você, líder, a refletir: seus dashboards são um Espelho Mágico ou uma Janela para a Realidade?

O Líder-Rainha e a Métrica como Vaidade

A liderança reativa, assim como a Rainha, utiliza as métricas de forma superficial e reativa.

  • O Dashboard é um Espelho: O sucesso nos números serve para inflar o ego do gestor. O fracasso é visto como uma afronta pessoal. A equipe que fica “vermelha” no gráfico é caçada, enquanto a “verde” é celebrada, muitas vezes sem que se entenda o contexto humano por trás de cada cor.
  • A Competição Interna é Estimulada: Assim como a Rainha não suportava que Branca de Neve fosse “a mais bela”, o líder-espelho cria um ambiente onde os membros da equipe são colocados uns contra os outros. A performance é rankeada publicamente, gerando medo e minando a colaboração.
  • A Realidade é Ignorada: O espelho só mostra o que a Rainha pergunta. Da mesma forma, um dashboard só mostra as métricas que foram programadas. Ele pode mostrar que a produtividade está alta, mas esconde que a equipe está à beira do burnout. Ele aponta o “quê”, mas ignora completamente o “como” e o “porquê”.

A Liderança com Inteligência Relacional: A Janela para a Floresta

A alternativa a esse modelo é a liderança que usa seus dados como uma janela. Uma janela não serve para ver o nosso reflexo, mas para observar o mundo lá fora, com toda a sua complexidade e nuances.

O líder que olha pela janela entende que a equipe é uma “floresta”, um ecossistema vivo, como descrevo na metáfora dos “Sete Anões”, onde cada perfil tem suas forças, fraquezas e necessidades. Para este líder:

  1. Os Dados Geram Perguntas, Não Respostas: Um número baixo no dashboard não é um veredito, é um convite à curiosidade. Em vez de “Por que este número está baixo?”, ele pergunta à equipe: “Vejo que estamos enfrentando um desafio aqui. Quais obstáculos vocês estão encontrando? Que recursos ou apoio vocês precisam de mim para superarmos isso juntos?”.
  2. O Foco é no Sistema, Não no Indivíduo: Ele entende que uma performance ruim raramente é culpa de uma só pessoa. Ele olha para os processos, para a clareza da comunicação, para as ferramentas disponíveis e para o clima da equipe. Ele busca a falha no sistema, não no “Anão Zangado”.
  3. O “Como” Importa Mais que o “Quê”: Ele se senta com a equipe para entender a história por trás dos números. Ele celebra o esforço e o aprendizado, mesmo quando o resultado final não é o esperado. Ele sabe que uma equipe psicologicamente segura e conectada (o “como”) é a única garantia de resultados sustentáveis (o “quê”).

Em sua próxima reunião de resultados, resista à tentação de simplesmente apresentar os gráficos. Comece abrindo a janela. Pergunte à sua equipe sobre a história por trás dos dados. Você pode se surpreender ao descobrir que a solução para o seu maior desafio de performance não está em uma nova métrica, mas em uma nova conversa.

Afinal, a liderança verdadeiramente “mais bela de todas” não é a que possui os dashboards mais verdes, mas aquela que cultiva a floresta mais saudável, resiliente e colaborativa.

Sua empresa opera mais no modo “Espelho” ou “Janela”? Compartilhe sua perspectiva nos comentários e vamos aprofundar essa importante reflexão.

O termo “Quiet Quitting” ecoa como um fantasma nos corredores das empresas. Virou um rótulo conveniente para explicar a queda de produtividade, a apatia e o distanciamento que tantos líderes observam em suas equipes. A reação instintiva de muitos é culpar a nova geração, a falta de comprometimento ou a preguiça. Mas e se tudo isso for apenas um diagnóstico errado?

Da minha perspectiva, após décadas atuando como psicanalista e no desenvolvimento de lideranças, afirmo com segurança: o Quiet Quitting raramente é um problema do colaborador. Ele é um sintoma visível de um sistema onde a liderança está relacionalmente ausente. É o grito de socorro silencioso em resposta a um ambiente que falhou em prover o essencial.

O Diagnóstico Errado que Aumenta o Problema

Quando um líder encara o “desligamento silencioso” como uma falha de desempenho individual, sua reação padrão é aplicar mais controle. Mais dashboards de acompanhamento, mais reuniões de status, mais pressão por resultados. O efeito? O exato oposto do desejado. Essa abordagem apenas reforça no colaborador a sensação de que ele não é confiável, compreendido ou valorizado como ser humano, intensificando seu mecanismo de defesa, que é o distanciamento.

Essa é uma falha em enxergar a dinâmica por trás da dinâmica. Trata-se de medicar o sintoma enquanto se ignora a doença.

A Raiz do Problema: A Quebra do Contrato Relacional

Em todo ambiente de trabalho, existe um “contrato relacional” implícito, um conceito que exploro em profundidade no livro “Gente Inteligente Sabe se Relacionar”. Este contrato vai muito além do salário no fim do mês. Ele envolve expectativas não escritas de reconhecimento, oportunidade de crescimento, propósito no que se faz e, acima de tudo, segurança psicológica.

O Quiet Quitting é a consequência direta da quebra deste contrato. Acontece quando o profissional, dia após dia, sente que sua entrega não é vista, sua voz não é ouvida e seu bem-estar não importa. Da perspectiva psicanalítica, o “desligamento” é um ato de autopreservação. É o ego se protegendo de um ambiente que gera frustração, ansiedade ou dor, investindo o mínimo de energia necessária para sobreviver. Não é preguiça, é estratégia de sobrevivência emocional.

O Líder como “Espelho” e a Cura pela Conexão

A solução não está em novas ferramentas de gestão, mas em um novo tipo de liderança. Como detalho em “Gente Inteligente se Olha no Espelho”, a transformação começa quando o líder tem a coragem de olhar para si e perguntar: “Como meu comportamento está contribuindo para este cenário?”.

A cura para o Quiet Quitting passa por reestabelecer o contrato relacional. E isso é feito através de três práticas fundamentais da Inteligência Relacional:

  1. Praticar a Escuta Ontológica: Ir além das palavras ditas em uma reunião de feedback. É escutar as emoções, as preocupações e as ambições que não estão no relatório. É criar um espaço onde o colaborador se sinta seguro para ser vulnerável e honesto sobre seus desafios.
  2. Mudar o Foco do Feedback: Parar de usar o feedback como um “julgamento” sobre o passado e transformá-lo em um diálogo sobre o futuro. A pergunta-chave muda de “Por que você fez isso?” para “O que precisamos, juntos, para alcançarmos nosso objetivo da próxima vez?”. Isso posiciona o líder como um aliado, não um adversário.
  3. Criar Rituais de Reconhecimento Genuíno: O reconhecimento não é um bônus anual. É o “bom dia” atencioso, o elogio específico a um trabalho bem feito em uma reunião de equipe, a celebração de pequenas vitórias. São esses pequenos atos que reconstroem a confiança e o sentimento de valorização.

Em suma, a epidemia de Quiet Quitting é um chamado urgente para um novo paradigma de liderança. Um que entende que, em um mundo cada vez mais tecnológico e impessoal, a conexão humana não é apenas um “diferencial”, mas a única fundação sobre a qual se constrói uma equipe verdadeiramente engajada, inovadora e resiliente.

Essa reflexão fez sentido para a sua realidade? Compartilhe nos comentários qual o maior desafio relacional que você enfrenta com sua equipe. Para aprofundar nestes conceitos, convido você a conhecer meus livros e meu trabalho.

JANELA DE OVERTON
PRIMEIRAS ANOTAÇÕES
by Homero Reis ©

RESUMO: O conceito da “janela” de Overton, formulado por Joseph P. Overton, descreve como ideias consideradas inaceitáveis em um momento podem se tornar normais e até políticas públicas por meio de um deslocamento gradual da percepção pública. A “janela” define o espectro do que é socialmente aceitável e é moldada por cultura, discurso, mídia e instituições de poder. Overton defendia mudanças sociais planejadas e fundamentadas na liberdade individual e na descentralização do poder estatal, enfatizando a influência de think tanks, organizações que promovem ideias antes do tempo e moldam a opinião pública através de pesquisas, advocacy e formação de lideranças. O texto explora a metodologia da “janela” em seis fases, desde o “impensável” até a “política pública”, com exemplos históricos e sociais. Conceitos como dessensibilização, manipulação discursiva e o papel da mídia são discutidos, evidenciando como a linguagem pode normalizar práticas antes repudiadas. Referências a autores como Zimbardo, La Boétie, Kahneman, Arendt, Foucault e Popper ampliam o entendimento sobre o impacto psicológico, ético e político do fenômeno. Reis nos alerta para os riscos da manipulação da “janela” por interesses autoritários ou populistas, que, por meio da linguagem e da repetição, podem deslocar os limites do aceitável em direção a discursos intolerantes. Ao final, destaca-se a importância de consciência crítica para identificar quem move a “janela”, com que propósito e em que direção, pois nem toda mudança representa avanço, e a liberdade requer responsabilidade.

A “janela” de Overton é um conceito (e uma metodologia) da ciência política e da sociologia que descreve o espectro de ideias aceitáveis para o público em um determinado momento histórico. Ou seja, é a faixa de políticas, opiniões ou discursos considerados socialmente aceitáveis ou “pensáveis” dentro de uma sociedade. Tudo o que está fora dessa “janela” é visto como radical, impensável ou inaceitável — até que, por meio de diversos processos culturais, psicológicos e midiáticos, essas ideias sejam normalizadas e, eventualmente, aceitas.

Ela define o limite do que é considerado razoável e discutível em um contexto cultural e sócio-político específico. Essa “janela” muda com o tempo, expandindo-se ou encolhendo-se à medida que as opiniões públicas, os debates sociais e os políticos evoluem.

O termo foi cunhado por Joseph P. Overton (1960-2003), ex-vice-presidente do centro de estudos norte-americano Mackinac Center for Public Policy. Seu trabalho mais famoso é conhecido como ““janela” de Overton”, mas suas ideias vão além desse conceito, ainda que quase todo o seu pensamento acabe girando em torno da teoria da mudança do discurso político e social e sua influência na vida pública e privada.

Ele estava profundamente envolvido no debate sobre liberdade individual, mercado livre e governo limitado, quando se inquietou com a questão de como as alterações das “agendas temáticas” da sociedade se alteram fazendo com o que era absurdo em uma determinada época, tornou-se aceitável e até adotada em outra. Isso acontece organicamente ou há interesses e metodologias que provocam tal processo? Vamos entender isso.

Suas ideias refletem sobre temas como: Descentralização do poder, onde defende a tese de que o poder político deveria ser limitado e devolvido ao cidadão comum sempre que possível; menor intervenção estatal, onde criticava a ideia de políticas públicas que defendem a expansão do Estado em dependência do governo; como também considerava a Liberdade individual com eixo moral e valor supremo de um povo ou nação, acreditando que as políticas públicas deveriam ser avaliadas com base nesse critério.

Essas temáticas fizeram com que ele desenvolvesse um profundo interesse pelos mecanismos pelos quais a sociedade muda de opinião e como grupos de interesse influenciam a política, não só do ponto de vista da atividade pública, mas também do ponto de vista da micro sociedade ou das sociedades corporativas.

Seu trabalho considera a engenharia do consenso – a ideia de que opiniões populares podem ser moldadas ao longo do tempo por meio de discursos, mídias e influência cultural; a importância da narrativa – a forma como os temas são apresentados ao público (linguagem, emoção, identidade) é crucial para movê-los de inaceitáveis para aceitáveis; e, por fim, a relação entre cultura e política – a cultura molda o que é politicamente interessante para sustentar algo no poder. Nesse caso Overton preconizava que “mudar a cultura é um pré-requisito para mudar leis”.

Para isso acontecer ele pesquisou a importância das “Think Tanks” (“laboratórios de ideias” ou “institutos de pesquisa”). Tais organizações “independentes”, geralmente sem fins lucrativos, produzem e promovem ideias, pesquisas e propostas sobre comportamento, políticas públicas, economia, sociedade, tecnologia, entre outros temas, mas que também são responsáveis por descobrir pontos vulneráveis na cultura de uma sociedade ou de parte dela, para usar tais fraquezas como pontos de entrada de temas de interesse de corporações ou governos.

As “Think Tanks” são agentes de produção de ideias antes do tempo – desenvolvem e sustentam ideias que ainda não são populares, mas que podem vir a ser; promovem influência indireta – mudam a mentalidade da elite intelectual e dos formadores de opinião, que depois influenciarão a sociedade em geral; e, estimulam a advocacy – fazendo pressão, mobilizando e argumentando para provocar mudanças sociais ou políticas. Dizia ele: “Não se trata apenas de protestar, mas de atuar de forma intencional e planejada, com base em evidências, diálogo e articulação para introduzir ideias “inaceitáveis”, mas que são de interesse de algum grupo ou segmento social”; e, por fim, formar lideranças e cidadãos com uma visão clara de liberdade e responsabilidade individual que interessam (ou não) ao grupo dominante (que está no poder), ou ao grupo reagente (que almeja o poder).

Algumas Think Tanks – (centros de pesquisa e formulação de políticas), são apartidárias, outras têm orientação ideológica, mas todas se concentram em pesquisa, análise e recomendação de políticas públicas. Alguns exemplos:

Internacionais:
1. Brookings Institution (EUA) – Foco em política pública, economia, governança.
2. RAND Corporation (EUA) – Pesquisa aplicada em segurança, saúde, educação.
3. Chatham House (Reino Unido) – Política internacional, relações exteriores.
4. Carnegie Endowment for International Peace (EUA) – Relações internacionais e diplomacia.
5. Bruegel (Bélgica) – Economia europeia.

No Brasil
1. FGV (Fundação Getulio Vargas) – Políticas públicas, economia, direito.
2. IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) – Órgão do governo federal focado em estudos socioeconômicos.
3. Instituto Millenium – Liberal-conservador, atua na defesa da economia de mercado e da liberdade individual.
4. Instituto Sou da Paz – Segurança pública, controle de armas, políticas de redução da violência.
5. Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) – Ciências sociais, política, urbanismo.

Sobre a prática de Advocacy (defesa de causas e interesses públicos), essas organizações buscam influenciar políticas públicas, mobilizar a sociedade ou pressionar governos. Alguns exemplos:

Internacionais
1. Greenpeace – Meio ambiente e mudanças climáticas.
2. Amnesty International – Direitos humanos.
3. Human Rights Watch – Monitoramento e denúncia de violações de direitos humanos.
4. Oxfam – Combate à pobreza, justiça social e desigualdade.
5. Campaign for Tobacco-Free Kids – Prevenção ao tabagismo e saúde pública.

No Brasil
1. Instituto Ethos – Responsabilidade social empresarial.
2. Rede Nossa São Paulo – Transparência, cidadania e urbanismo.
3. Conectas Direitos Humanos – Justiça e equidade nos direitos humanos.
4. Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) – Defesa dos direitos dos povos indígenas.
5. MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) – Moradia, justiça social e mobilização popular.

Overton rejeitava as mudanças radicais ou imposições ideológicas súbitas, defendendo uma mudança gradual, coerente e estrategicamente pensada, mas com ampla participação da sociedade civil em todos os seus matizes. Não se tratava de manipular a sociedade, mas de abrir espaço para novas ideias. Ele acreditava que mudar a sociedade era uma batalha de longo prazo, que exigia paciência e consistência a partir de uma utopia do que seja “essencialmente humano”.

Na verdade ele foi um estrategista político com uma profunda base filosófica e libertária, que acreditava no poder das ideias, da cultura e da persuasão como instrumentos legítimos de transformação da sociedade em direção à liberdade individual e à limitação do poder estatal, sem perder de vista os ideais democráticos. Acreditava que criar pontes realistas e práticas entre a teoria e a prática política, era o caminho da verdadeira mudança e por onde ela deveria começar: fora da política partidária tradicional.

A partir de tudo isso, ele acabou construindo a ““janela” de Overton”, um “modelo conceitual e metodológico” pelo qual ficou mundialmente conhecido. Nesse trabalho ele observou que para que uma ideia se torne politicamente viável, não é necessário mudar apenas a mente das pessoas, mas sim a opinião pública.

Como funciona essa ““janela””?
A “janela” de Overton é composta por diferentes graus de aceitabilidade, divididos em etapas que se constituem em um fluxo que vai de uma situação normal para outra, inicialmente inadmissível, mas que ao final, torna-se o “novo normal”.

As etapas da “janela” são: Impensável (unthinkable) – a sociedade rejeita totalmente; Radical (radical) – alguns grupos pequenos começam a discutir o tema; aceitável (acceptable) – a ideia entra no debate privado e público; Sensato (sensible) – a ideia começa a parecer lógica e a “fazer sentido”; Popular (popular) – o apoio começa a crescer até tornar-se maioria; Política pública (policy) – a ideia torna-se um tema comum que requer uma lei ou prática oficial que a legitime.

Uma ideia pode, ao longo do tempo, migrar de “impensável” para “aceitável”, dependendo da maneira como ela é apresentada, discutida e incorporada na cultura. Isso acontece frequentemente com mudanças sociais e tecnológicas e podem ser observadas em uma infinidade de situações históricas.

Exemplos (algumas mudanças segundo a “janela” de Overton):

TEMA ANTES DEPOIS
Casamento entre pessoas do mesmo sexo Considerado impensável e até criminoso Legalizado em vários países, com apoio popular
Legalização da maconha medicinal Tabu e proibido Aceita como questão de saúde pública
Cinto de segurança em carros Visto como desnecessário ou perigoso Hoje é obrigatório por lei
Trabalho remoto (home office) Considerado improdutivo ou inviável Amplamente aceito após a pandemia
Casamento interracial Proibido ou condenado Hoje legal e socialmente aceito
Mulheres no mercado de trabalho Restritas ao ambiente doméstico Atualmente incentivadas à liderança
Paternidade ativa Homens vistos apenas como provedores Hoje se espera envolvimento ativo na criação dos filhos
Veganismo e vegetarianismo Considerado radical ou excêntrico Estilo de vida respeitado e com apoio da indústria
Tatuagens visíveis no trabalho Associadas à marginalidade Hoje são amplamente aceitas
Discussão sobre saúde mental Tabu, sinal de fraqueza Tema comum e incentivado em vários ambientes
Educação sexual nas escolas Visto como indecente Defendido como essencial por especialistas
Mudança de nome/gênero (trans) Inaceitável ou invisível Reconhecido por lei em diversos países
Energia renovável Cara e tecnicamente inviável Incentivada como solução ambiental

Na perspectiva da psicologia social, o psicólogo Philip Zimbardo, conhecido pelo experimento de Stanford (1971), entende que a mudança de normas sociais está intimamente ligada à pressão de grupo e ao comportamento conformista. Quando pequenas mudanças são introduzidas repetidamente e associadas a benefícios emocionais ou sociais, as pessoas tendem a reavaliar o que é aceitável ou moralmente correto. Isso é uma base psicológica importante da “janela” de Overton. Situações sociais e papéis impostos, seja por que mecanismo for, mídia, propaganda de massa, discursos de autoridades sociais, etc, podem transformar o comportamento das pessoas. Pessoas comuns podem agir de forma cruel ou submissa se colocadas sob certas condições, ou seguir condutas conforme o “modelo de rebanho”. O ambiente e o sistema têm grande influência sobre o comportamento humano — não apenas os traços das personalidades individuais.

A posição de Zimbardo não é totalmente nova e, parece-me, teve um pouco de sua inspiração em Étienne de La Boétie no século XVI, em seu livro, Discurso da Servidão Voluntária. No texto, La Boétie reflete sobre as razões pelas quais as pessoas aceitam ser dominadas por tiranos ou por “conceitos dominantes”. O autor questiona como é possível que um só governante exerça poder sobre milhões, e afirma que a tirania só se sustenta porque os próprios dominados consentem com ela. Segundo La Boétie, esse consentimento não é necessariamente consciente, mas resulta do hábito, da manipulação e da perda do senso de liberdade. Ele argumenta que, se as pessoas simplesmente deixassem de obedecer, o poder do tirano desapareceria. O texto defende que a liberdade é natural ao ser humano, e a servidão é aprendida. Com linguagem direta e tom moral, a obra é uma crítica a passividade popular e é um apelo à autonomia e a resistência, contra a opressão. Esse é o ponto de convergência entre La Boétie, Zimbardo e Overton.

Já, o também psicólogo Daniel Kahneman, Prêmio Nobel de Economia, contribuiu indiretamente para o entendimento da “janela” ao explicar como somos influenciados por viés de ancoragem e repetição; ou seja, quanto mais uma ideia é repetida, mesmo que absurda no início, mais ela parecerá normal e aceitável. A “janela” se move lentamente com a exposição e familiaridade.

Os comunicadores e a mídia também tem um papel central no deslocamento da “janela” de Overton. Como observou o linguista e ativista Noam Chomsky, os meios de comunicação muitas vezes delimitam o campo do debate público; ou seja, permitem certa divergência de opiniões, mas sempre dentro de uma moldura aceitável. Isso garante que a ““janela”” seja mantida dentro de certos limites — ela se move, mas sob controle de influenciadores culturais e instituições poderosas. Programas de televisão, filmes, podcasts e redes sociais funcionam como vetores para introduzir gradualmente temas antes impensáveis. É o chamado “efeito de dessensibilização”, onde algo inicialmente chocante passa a ser banalizado com o tempo.

O efeito de dessensibilização, fortemente ligado à “janela” de Overton, é um processo social e psicológico que explora a repetição de ideais, comportamentos, imagens ou discursos considerados inaceitáveis, imorais ou radicais, de forma massiva, até que o público “perca o pudor” sobre tais temas, levando-os à perda de sensibilidade crítica, diante desses temas. Gradualmente, aquilo que outrora gerava choque passa a ser visto com indiferença, tolerância e, por fim, aceitação e defesa.

O “efeito dessensibilização” descreve como os discursos públicos e privados podem ser manipulados para mover uma ideia do impensável ao aceitável, até o institucionalizado. De fato, esse processo explica o surgimento de “tribos urbanas” de todas as naturezas, a formação de grupos radicais, a aceitação de preconceitos, etc. Também explica como as transições geracionais vão ampliando o senso de limites até a perda total de qualquer referência ética ou moral. A pergunta que abre a crítica para esse processo é: qual o limite da liberdade?

Na filosofia, Hannah Arendt abordou conceito similar ao discutir a “banalização do mal” no contexto do nazismo: indivíduos que participavam de atos cruéis e/ou violentos, o faziam como se fossem tarefas rotineiras, dessensibilizados por um ambiente que normalizou a barbárie. Já na sociologia, Norbert Elias, em O Processo Civilizador, descreve como normas e sensibilidades sociais se transformam ao longo do tempo, moldando o que é aceitável, por algum interesse.

Por exemplo: punições físicas em escolas: antes vistas como disciplina, hoje são consideradas abusos; violência na mídia: filmes e jogos normalizaram imagens antes chocantes; discurso de ódio nas redes sociais ou em falas públicas, fazem com que a repetição de temas controversos se banalizem e ampliem sua aceitação; mudanças de costumes incentivadas pela propaganda de massa com uso de “autoridades e personagens de impacto social”, tornam possíveis o uso de roupas consideradas indecentes em décadas passadas como normais e que tornam-se novos padrões de beleza comuns a todos.

O efeito de dessensibilização pode ser usado tanto para o progresso social (como na aceitação de minorias, igualdade de gênero e outros temas análogos), quanto para a normalização de práticas nocivas, dependendo de como e por quem é conduzido.

Do ponto de vista da da ética, a pergunta que surge é: o que está em jogo? O filósofo Michel Foucault discutiu conceitos muito próximos à “janela” de Overton, como a ideia de regimes de verdade: “o que é considerado verdadeiro ou aceitável em uma sociedade depende das relações de poder”. A “janela”, nesse caso, não é só cultural, mas também política e estratégica. Para Foucault, o discurso é uma arma — e quem controla o discurso, controla a sociedade.

Já o filósofo austríaco Karl Popper abordaria a questão da “janela” de Overton sob a ótica da tolerância e da liberdade de expressão. Para ele, o desafio é manter uma sociedade aberta ao debate sem permitir que ideias destrutivas (como o totalitarismo p.ex.) entrem na “janela” em nome da liberdade. Isso levou Popper a propor o chamado “paradoxo da tolerância”. Em sua obra A Sociedade Aberta e Seus Inimigos (1945), ele nos apresenta uma pergunta complexa: até que ponto devemos tolerar o intolerável? Essa questão nos coloca diante de um tema delicadíssimo, principalmente nos dias de hoje, porque se trata de um dilema ético, moral e político: se uma sociedade (por extensão uma pessoa), é ilimitadamente tolerante, sua capacidade de ser tolerante pode ser destruída pelos intolerantes.

Popper argumenta que, se tolerarmos totalmente a intolerância, os intolerantes acabarão por eliminar os tolerantes, destruindo a própria base de uma sociedade livre e aberta. Portanto, para preservar a tolerância, é necessário não tolerar a intolerância extrema.

Para ser prático com esse tema, imagine uma democracia que permita a livre expressão de todas as ideias, inclusive de grupos que defendem a supressão dessa mesma democracia (como regimes totalitários ou ideologias supremacistas). Se esses grupos tiverem liberdade plena para se organizar, fazer propaganda e conquistar o poder, podem acabar destruindo o sistema democrático que os permitiu existir.

Popper não defende a censura, nem o controle da comunicação, mas entende a necessidade de limites racionais: devemos estar prontos para reprimir movimentos intolerantes quando eles se tornam uma ameaça real e quando se recusam a debater ou usam a crueldade psíquica e a violência em vez de argumentos. A tolerância ilimitada leva ao fim da tolerância. Portanto, uma sociedade tolerante deve ser intolerante com a intolerância — para preservar sua própria existência.

Overton não usou diretamente os conceitos de Popper, mas sua metodologia esclarece o paradoxo da tolerância e nos capacita a como atuar em contextos onde as polaridades acirram a racionalidade dos discursos e a liberdade tende a ser exercida sem as consequências sociais requeridas. Ser livre é também responder responsavelmente por isso.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES AO CONCEITO E À METODOLOGIA DE OVERTON.

Alguns críticos argumentam que a “janela” de Overton pode ser manipulada de forma cínica. Estratégias de marketing político ou ideológico podem usar essa teoria para introduzir ideias extremistas de forma gradual, preparando o terreno para que se tornem aceitas. É o que muitos identificam como tática comum em regimes autoritários, em campanhas de desinformação, e até mesmo em campanhas políticas.

Além disso, críticos mais profundos do modelo apontam que a “janela” de Overton simplifica excessivamente o processo social pelo qual ideias se tornam aceitáveis ou não. A metáfora da ““janela”” sugere um movimento linear e unidimensional — do inaceitável ao popular —, quando, na realidade, a dinâmica sociopolítica é muito mais complexa, envolvendo múltiplas camadas de poder, linguagem, identidade e resistência. Ao focar quase exclusivamente na percepção pública da aceitabilidade, o modelo negligencia fatores estruturais como desigualdade social, controle econômico e institucional, e a capacidade real de grupos marginalizados influenciarem o discurso público.

Outro ponto crítico está na neutralidade aparente da teoria. Embora ela se apresente como uma ferramenta descritiva, o modelo pode ser usado como instrumento normativo, permitindo que agentes sociais com interesses particulares manipulem gradualmente o imaginário coletivo sem enfrentarem resistência imediata. Ao normalizar o processo de tornar o impensável aceitável, corre-se o risco de desresponsabilizar os envolvidos na disseminação de ideias nocivas, como o discurso de ódio ou o revisionismo histórico.

Mas há ativistas sociais e educadores que usam o conceito positivamente na promoção de debates, humanizando histórias e expondo injustiças. Tais profissionais e outros de mesma natureza, deslocam a “janela” no sentido do progresso moral, da igualdade de direitos, da inclusão e acolhimento das minorias e dos direitos humanos. No entanto, mesmo esse uso progressista do modelo precisa ser analisado com cuidado: o foco excessivo em “mudança de mentalidade e percepção” pode eclipsar a necessidade de transformações materiais concretas, como políticas públicas, acesso a direitos e redistribuição de poder.

A “janela” de Overton nos mostra que as ideias dominantes não são fixas, e sim moldadas por discurso, cultura e poder. Reafirmo que, como cidadãos, é importante estarmos atentos a quem está tentando mover essa “janela”, em que direção, e com que propósito.

Por fim, a manipulação discursiva – uso estratégico da linguagem para influenciar percepções, pensamentos e comportamentos das pessoas – é geralmente usada de forma sutil e indireta. Isso inclui eufemismos, omissão de informações, inversão de significados, repetição sistemática de ideias ou uso emocional de palavras para moldar desde as “conversas de botequim” ao debate público. Tais elementos podem ser entendidos como algo válido, que está “dentro” do discurso público legítimo, mas que, de fato, é uma “manipulação discursiva” do que seja discutido como normal, aceitável ou razoável.

Esse deslocamento artificial promovido por meio de discursos cuidadosamente manipulados (por exemplo, desqualificando pessoas, desumanizando certos grupos ou banalizando práticas autoritárias), promove a erosão de valores democráticos. A linguagem manipulada pode legitimar discursos autoritários, intolerantes ou discriminatórios, tornando-os aceitáveis dentro da “janela”: termos importantes podem ser esvaziados ou distorcidos (“liberdade”, “justiça”, “verdade”), gerando confusão e dificultando o debate racional. Tal dinâmica constrói “polarizações na sociedade”. Ao manipular o discurso para reforçar “nós contra eles”, grupos políticos ou ideológicos empurram os limites da “janela” para extremos, minando o diálogo e a moderação.

Podemos ver a manipulação discursiva em alguns exemplos históricos e contemporâneos, onde a “janela” de Overton foi alterada negativamente:

1. No Nazismo na Alemanha (1930). Manipulação: O regime de Hitler usou propaganda para desumanizar judeus, comunistas, homossexuais e outros grupos, referindo-se a eles como “pragas”, “ameaças” ou “inimigos internos”. Efeito na “janela” de Overton: Ideias como segregação, censura e até genocídio passaram de impensáveis a socialmente aceitas por boa parte da população alemã.

2. “Guerra ao Terror” nos EUA (pós – 11 de setembro, 2001). Manipulação: O termo “terrorista” foi amplamente usado para justificar políticas de vigilância em massa e tortura (eufemisticamente chamada de “técnicas aprimoradas de interrogatório”). Efeito: Medidas antes inaceitáveis (como espionagem de cidadãos e prisões sem julgamento) foram normalizadas.

3. Ditadura Militar no Brasil (1964–1985). Manipulação: A repressão foi chamada de “defesa da democracia” e a censura era apresentada como “garantia da ordem”. Efeito: Isso permitiu que o regime justificasse torturas, desaparecimentos e perseguições como ações legítimas dentro de um discurso de patriotismo.

4. Populismo contemporâneo. Manipulação: Líderes populistas frequentemente usam termos como “povo do bem” vs. “inimigos da nação” ou “mídia mentirosa” para deslegitimar opositores e a imprensa. Efeito: A crítica política é desvalorizada e propostas autoritárias passam a ser discutidas como razoáveis — ampliando a tolerância ao autoritarismo.

Esses exemplos mostram como o discurso não apenas reflete a realidade, mas molda o que é considerado possível, legítimo ou desejável.

Vivemos em uma era onde as mudanças culturais acontecem rapidamente, graças a globalização, à internet e às redes sociais. Por isso, compreender esse conceito é essencial para navegar o mundo contemporâneo com consciência crítica — e para não sermos apenas espectadores passivos da história em movimento. Mais do que identificar a mecânica da “janela”, é preciso questionar quem a empurra, com que recursos, e a quem ela se fecha ou se abre. Afinal, nem toda mudança de narrativa representa um avanço — e nem todo “progresso” é, de fato, emancipador.

Reflitam em paz!

Homero Reis
Brasília, maio/25
homero@homeroreis.com

“O Diário de um CEO” é um livro escrito por Steven Bartlett em 2023, originalmente divulgado no podcast The Diary of a CEO, com um subtítulo: “As 33 leis dos negócios e da vida”. Resumidamente é uma obra que combina memórias pessoais, lições de vida e insights sobre empreendedorismo, liderança e gestão.

Steven Bartlett, um premiado empreendedor britânico que atua como investidor em mais de 40 empresas; é palestrante e criador de conteúdo, além de apresentar um dos podcast mais populares da Europa, The Diary of a CEO, onde compartilha sua vasta experiência no mundo corporativo, agora acessível em seu livro.

Resumidamente, quando tinha 22 anos, fundou a Social Chain, uma agência de marketing digital global. Aos 27 anos abriu o capital de sua agência na bolsa de valores e foi destaque na Business Insider, no Financial Times e no The Guardiane, sendo considerado pela Forbes uma das 30 personalidades mais influentes com menos de 30 anos. Deu palestras nas Nações Unidas, na SXSW, na TEDx e no VTEX Day ao lado de Barack Obama.

O que lhes apresento nesse e-book, é um “resumo” pessoal da obra, recheado de minhas anotações e reflexões sobre o tema e de alguns complementos que me ajudaram a compreender o que Bartlett deseja transmitir. Faço isso ao tempo em que organizo as ideias do livro para uma melhor construção de práticas e insights sobre gestão, liderança, qualidade de vida e relacionamentos.

O livro é dividido em quatro pilares onde são organizadas as trinta e três leis que norteiam o trabalho de Bartlett:

O primeiro pilar trata do EU e agrupa as primeiras nove leis. Nesse pilar ele começa com uma citação de Leonardo Da Vinci: “Não se pode ter menor ou maior domínio do que o domínio de si mesmo”. Essa ideia é mote para a discussão da importância do autoconhecimento para que é, ou almeja ser um executivo qualificado.

O segundo pilar trata da HISTÓRIA e agrupa as leis 10 a 18. Nesse pilar ele conta um pouco de sua história e apresenta os aspectos estratégicos que aprendeu na vida executiva.

 

O terceiro pilar trata da FILOSOFIA que ele adota na sua forma de conduzir os negócios e suas estratégias de gestão, mostrando a relação direta existente entre “quem você é, as escolhas que faz e os resultados que obtém”. Segundo ele, é a partir de sua “filosofia de vida” que você se torna capaz de fazer escolhas sobre valores, propósitos e a missão que norteiam sua conduta. Nesse pilar estão as leis 19 a 27.

 

Por fim, o quarto pilar trata da EQUIPE, onde ele apresenta as leis 28 a 33, que tratam das relações corporativas, dos desafios e das estratégias para uma liderança e gestão efetivas.

 

Primeira Parte – Infância e Formação

Bartlett começa explorando suas origens humildes, crescendo em uma família modesta no Reino Unido. Nesse contexto ele reflete sobre como sua infância moldou sua ética de trabalho, determinação e visão de mundo. Apesar de enfrentar desafios como o racismo e a falta de recursos, ele encontrou motivação em suas dificuldades e no desenvolvimento de um espírito resiliente.

 

O autor também destaca como foi abandonar a universidade. Uma decisão arriscada, crucial para seguir seus sonhos empresariais, enfatizando que muitas vezes as escolhas não convencionais podem levar a resultados extraordinários, desde que sejam tomadas com coragem e clareza.

 

Sua infância e formação moldaram não apenas sua visão de mundo, mas também os pilares de sua ética de trabalho e resiliência emocional. Filho de imigrantes que enfrentaram dificuldades econômicas e sociais no Reino Unido, Bartlett cresceu sentindo o peso das expectativas familiares e os desafios de se adaptar a uma sociedade que frequentemente o fazia sentir-se um “outsider”. Essa fase inicial de sua vida é retratada como um terreno fértil para o desenvolvimento de qualidades essenciais para o sucesso – algo que outros autores, filósofos e líderes também destacam como fundamental.

 

As adversidades enfrentadas durante a infância – como o racismo, a exclusão social e as limitações financeiras, serviram como força motriz para sua ambição e perseverança. Ele aprendeu a transformar obstáculos em motivação, uma ideia amplamente abordada por Viktor Frankl em seu livro Em Busca de Sentido. Frankl argumenta que o sofrimento pode ser uma fonte de propósito, visto que é encarado como parte de um caminho para algo maior. Essa perspectiva também é reforçada por Angela Duckworth em Garra: O Poder da Paixão e da Perseverança. Duckworth afirma que o realização é resultado não só de talento, mas também de uma combinação de paixão e persistência. No caso de Bartlett, as dificuldades não o definiram como vítima, mas como um agente ativo em busca de mudança.

 

Essa busca proporciona a construção de competências diretamente ligadas a uma atitude de curiosidade extrema, autodidatismo e questionamentos. Ele abandonou a universidade por acreditar que a educação tradicional não atenderia às suas ambições, nem lhe promoveria tais atitudes.

 

Peter Thiel, cofundador do PayPal e investidor em diversas startups, como o Facebook (p.ex.), ao escrever o livro De Zero a Um, discorre sobre decisões semelhantes às de Bartlett, que transformaram a vida de muitas pessoas que hoje são referências no mundo corporativo e na vida político-social. Thiel critica o modelo educacional tradicional por sua falta de inovação e incentiva os jovens a explorarem caminhos alternativos para alcançar grandes feitos.

Bartlett também ecoa a filosofia de Søren Kierkegaard, que defende a importância das escolhas autênticas e individuais. Kierkegaard sugere que a verdadeira realização vem da coragem de viver de acordo com os próprios valores, mesmo que isso signifique ir contra as normas condicionais. Para Bartlett, abandonar a universidade não foi apenas uma decisão prática, mas um ato de afirmação de sua autonomia e confiança em sua visão.

Desde cedo, Bartlett trabalhou com seus pais para garantir a sobrevivência da família. Essa exposição ao trabalho árduo influenciou profundamente sua ética de trabalho. A ideia de que o esforço constante é a base do sucesso é corroborada por Malcolm Gladwell no livro Outliers (Fora de Série, na tradução brasileira) , onde ele apresenta o conceito das 10.000 horas de prática deliberada como requisito para o domínio de qualquer habilidade. Ninguém se torna virtuoso sem esforço contínuo, metodologia clara e objetivos definidos.

No entanto, Bartlett não romantiza o trabalho árduo. Ele reconhece que o sacrifício de seus pais, embora admirável, muitas vezes veio às custas de tempo em família e bem-estar emocional. Esse equilíbrio delicado entre trabalho e vida pessoal é um tema explorado por Clayton Christensen em Como Medir Sua Vida . Christensen argumenta que o verdadeiro sucesso não é medido apenas pelo progresso profissional, mas também pela qualidade dos relacionamentos e do propósito pessoal; um entendimento que Bartlett começou a desenvolver já em sua juventude.

Bartlett reflete sobre sua identidade como uma pessoa negra em um ambiente predominantemente branco e como isso influenciou sua percepção de si mesmo e de suas aspirações. Ele menciona que durante grande parte de sua infância, sentiu que precisava se provar mais do que os outros. Essa luta por validação externa é algo que Brené Brown discute no livro A Coragem de Ser Imperfeito, ao enfatizar como a vulnerabilidade e as deficiências são essenciais para superar o medo de não ser suficiente.

Por outro lado, essa busca por autoafirmação também pode ser vista sob a lente da filosofia de Friedrich Nietzsche, que apresenta o conceito do Übermensch (o “super-homem”) como alguém que transcende as limitações impostas pela sociedade e cria seus próprios valores. Bartlett, ao internalizar tais conceitos oriundos de suas lutas e dificuldades na infância, transformo-os em motivação para se tornar o arquiteto de seu próprio destino.

Sobre isso, Bartlett considera a importância do ambiente na construção daquilo que ele chama de determinação e foco para superar a deficiência financeira e a desigualdade social presentes nas circunstâncias de vida de sua infância. “O ambiente levou-me a ser criativo, disruptivo e proativo desde cedo”. Isso está alinhado com as ideias de Carol Dweck em Mindset: A Nova Psicologia do Sucesso, onde descreve como um ambiente que valoriza o crescimento pode estimular a mentalidade de aprendizado contínuo, enquanto ambientes limitadores podem sufocar grandes potenciais.

No entanto, ele também admite que nem todos conseguem superar as limitações dos seus ambientes. Mas há um contraponto esperançoso: enquanto o ambiente inicial pode influenciar, a força de vontade e a mentalidade aberta são as chaves para transcender essas barreiras.

Steven Bartlett usa sua infância e juventude como uma moldura para explorar temas universais de resiliência, autodeterminação e propósito. Ele não apenas narra sua história, mas oferece várias outras lições valiosas extraídas de sua experiência; e nisso, ele entende que aprender com os argumentos de outros compensadores, como Frankl, Duckworth, Thiel e Nietzsche, reforça a ideia de que as adversidades não precisam ser vistas como limites, mas como oportunidades de crescimento.

Essa primeira parte de O Diário de um CEO não é apenas uma introdução biográfica, mas também uma lição sobre como o início da vida pode plantar as sementes do sucesso (ou do fracasso), desde que sejam regadas com coragem, reflexão e trabalho contínuo. Bartlett nos mostra que, independentemente das situações, é possível assumir o controle da narrativa e construir um futuro que reflita valores e sonhos.

 

Segunda Parte 2: A Jornada Empresarial

O livro narra a criação e o crescimento meteórico da Social Chain, uma das maiores agências de mídia social do mundo. Bartlett compartilha detalhes sobre como começou o negócio com poucos recursos, mas com uma visão clara de como as redes sociais transformaram o marketing. Ele descreve os altos e baixos da construção de uma startup, desde momentos de euforia com o sucesso até episódios de combustão e dúvidas. Aqui, Bartlett fornece conselhos valiosos para aspirantes a empreendedores, como: a importância de entender profundamente o público-alvo; o papel do risco calculado e da ousadia na criação de algo inovador,  a necessidade de construir equipes resilientes e motivadas e o desafio de desenvolver competências relacionais.

 

Na segunda parte de O Diário de um CEO, Steven Bartlett narra a criação e o crescimento da Social Chain, destacando como os desafios e conquistas ao longo de sua trajetória profissional requereram o desenvolvimento das competências fundamentais de um CEO. A jornada de um líder não é apenas sobre a construção de uma empresa ou organização; ela envolve uma transformação pessoal e profissional, na qual as habilidades técnicas, emocionais e estratégicas são continuamente lapidadas. Esse processo é amplamente corroborado por teorias de gestão e insights de líderes empresariais renomados.

 

Bartlett iniciou a Social Chain com recursos limitados, o que o forçou a enfrentar desafios significativos desde o início. Essas dificuldades moldaram sua resiliência, uma habilidade essencial para CEOs. Segundo o psicólogo Daniel Goleman, autor de Inteligência Emocional, a resiliência é uma das principais competências da liderança emocional, pois permite que o líder se mantenha calmo e objetivo em situações de alta pressão.

 

Além disso, a construção de competências para a resolução de problemas complexos foi consistentemente recorrente na trajetória de Bartlett. Os CEOs frequentemente lidam com cenários incertos e decisões multifacetadas, como alocação de recursos, estratégia de crescimento e gestão de crises. Ao enfrentar essas situações, Bartlett desenvolveu uma reflexão analítica e adaptável, características que o filósofo Nassim Nicholas Taleb destaca no livro Antifrágil. Taleb argumenta que os líderes que aprendem com adversidades não apenas sobrevivem, mas crescem em contextos imprevisíveis.

 

Um ponto crucial na jornada empresarial de Bartlett foi a criação de uma equipe resiliente e engajada. Ele percebeu que o sucesso da Social Chain dependia de sua capacidade de atrair, desenvolver, manter e liderar talentos. Esse aspecto destaca o papel das habilidades interpessoais no crescimento de um CEO, fundamenta nas competências da Inteligência Relacional.

 

Jack Welch, ex-CEO da General Electric, em seu livro Winning, afirma que os melhores líderes são aqueles que sabem como inspirar suas equipes, cultivando um ambiente de confiança e colaboração. Bartlett aprendeu que a empatia e a comunicação aberta não são apenas “atributos desejáveis”, mas requisitos para criar um espaço onde as pessoas se sintam valorizadas e motivadas. Ele internalizou a ideia de que um CEO deve ser um “líder servidor”, conceito popularizado por Robert Greenleaf. Isso significa que o papel do líder é capacitar sua equipe, removendo barreiras para que os colaboradores possam alcançar o desempenho máximo.

 

Bartlett transformou a Social Chain em uma das maiores agências de mídia social porque teve uma visão antecipada de tendências emergentes. Ele compreendeu, desde o início, o impacto crescente das redes sociais na forma como as marcas se conectam com os consumidores. Essa capacidade de olhar para o futuro é uma das competências mais críticas de um CEO, como enfatizado por Jim Collins em Empresas Feitas para Vencer . XXX

 

Collins argumenta que os CEOs visionários não apenas respondem às mudanças do mercado, mas como as antecipam, moldando o futuro do setor em que atuam. Bartlett desenvolveu essa visão estratégica ao monitorar constantemente o mercado, testando hipóteses e assumindo riscos calculados, algo que os CEOs fazem regularmente para manter suas organizações competitivas.

 

O crescimento de uma startup como a Social Chain envolve momentos de incerteza e riscos consideráveis. Bartlett destaca como a tomada de decisões em ambientes incertos foi um terreno útil para o aprendizado. Os CEOs precisam equilibrar riscos com oportunidades, muitas vezes tomando decisões com informações incompletas. “Não vivemos em mundos perfeitos; vivemos em mundos possíveis, como afirma Reis em “Gente Inteligente Se Olha no Espelho.”

 

John Kotter, especialista em liderança e autor de Acelerando a Mudança , afirma que líderes eficazes prosperam em ambientes ruidosos porque desenvolvem agilidade mental e aprendem a identificar padrões em meio ao caos. Bartlett internalizou isso às suas estratégias para gerenciamento de situações complexas, promovendo mudanças rápidas no mercado de tecnologia, promovendo o engajamento de pessoas e times com alto desempenho, e mantendo pressão por resultados.

 

Ao longo de sua jornada, Bartlett reforça a importância de estar em aprendizado constante. Ele menciona que as rápidas transformações no setor digital são projetadas para que se adquira novas habilidades e conhecimentos continuamente. CEOs que adotam o conceito de aprendizagem ao longo da vida demonstram maior capacidade de inovação e adaptabilidade.

 

Peter Senge, em A Quinta Disciplina, destaca que organizações que aprendem, lideradas por CEOs comprometidos com o aprendizado, têm uma vantagem competitiva significativa. Bartlett exemplifica isso ao demonstrar como um CEO deve ser um modelo de curiosidade, engajando-se em novas ideias e experiências que impulsionam o crescimento pessoal e organizacional.

 

A jornada empresarial de Bartlett também lhe ensinou a importância da inteligência relacional e emocional. Ele fala abertamente sobre os impactos do estresse e da exaustão para equilibrar as demandas de um negócio em crescimento. Daniel Goleman identifica isso com a autoconsciência e a autorregulação como pilares da inteligência emocional, ambos essenciais para CEOs que precisam gerenciar suas emoções enquanto lideram equipes sob pressão. Além disso, também há que se destacar que  nenhuma competência se sustenta se não tiver por objeto sua aplicação na qualificação dos relacionamentos humanos, como demonstra Reis em Gente Inteligente Sabe Se Relacionar.

 

Bartlett começou a valorizar o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, reconhecendo que o sucesso empresarial não deveria custar seu bem-estar. Esse entendimento se alinha com as ideias de Arianna Huffington em Thrive , que defende uma conceituação mais ampla de sucesso, incorporando saúde, sabedoria e propósito.

 

A jornada empresarial de Steven Bartlett é um roteiro para o desenvolvimento de competências cruciais para sua atuação como CEO. Ele não apenas construiu uma empresa de sucesso, mas também se transformou em um líder mais resiliente, empático, visionário e adaptável.

 

A experiência prática de liderar a Social Chain trouxe a Bartlett lições que nenhuma sala de aula poderia ensinar. Como outros pensadores e líderes destacam, a jornada profissional é uma das maiores escolas de liderança. Os CEOs aprendem a navegar pela complexidade, a inspirar pessoas e a transformar desafios em oportunidades, habilidades que só podem ser refinadas na prática. A trajetória de Bartlett é uma prova de que a jornada é tão importante quanto o destino, pois é nela que os líderes se formam.

 

Terceira Parte 3: Liderança e Autoconhecimento

Um dos temas centrais do livro é sobre liderança, mas Bartlett aborda o tema de uma perspectiva muito pessoal. Ele admite suas falhas, como nos períodos em que foi um líder ineficaz devido à falta de empatia ou comunicação. No entanto, essas experiências o ensinaram que um bom líder não é apenas alguém que guia os outros, mas também alguém que se entende profundamente.

 

Ele discute a importância da vulnerabilidade na liderança, explicando que os líderes que são autênticos e transparentes criam conexões mais profundas com suas equipes. Bartlett também fala sobre o equilíbrio entre ser ambicioso e cuidar da saúde mental, destacando que o sucesso não pode ser alcançado à custa do bem-estar.

 

Essa visão se alinha aos conceitos desenvolvidos por pensadores da filosofia, psicologia e administração. Desde Sócrates, que defende o princípio do conhece-te a ti mesmo, até Daniel Goleman com a Inteligência Emocional e minhas contribuições (Reis) sobre a Inteligência Relacional, temos boas referências para a jornada de formação de um líder e/ou CEO. Nesse sentido, muito se pode aprender sobre ser líder e, O Diário de um CEO nos apresenta algumas reflexões substantivas sobre o tema.

 

Um dos conceitos mais influentes na conexão entre liderança e autoconhecimento é o de inteligência relacional. Bartlett, em sua trajetória, viu que muitas de suas perdas como líder vieram da falta de consciência sobre suas próprias limitações e inseguranças. Inicialmente, ele acreditava que um CEO deveria ter todas as respostas e demonstrar força o tempo todo. Com o tempo, aprendeu que assumir vulnerabilidades e considerar suas fraquezas o tornava um líder mais  humano, mais acessível e mais efetivo. Com o tempo ele entendeu que não se faz nada sozinho e tudo o que se faz pressupõe relacionamentos com “diferentes”. Essa ideia é reforçada por Brené Brown, em A Coragem de Ser Imperfeito, ao afirmar que a liderança pressupõe a construção de redes relacionais em profunda interação de competências recíprocas e oportunidades de crescimento.

 

Um dos maiores desafios que Bartlett enfrentou em sua jornada como líder foi aprender a lidar com o próprio ego. Ele percebeu que, muitas vezes, suas decisões eram motivadas pela necessidade de validação externa, ou que priorizavam o sucesso pessoal em detrimento do grupo e do “projeto” como um todos. Essa reflexão encontra eco na filosofia estoica, especialmente nos ensinamentos de Sêneca e Marco Aurélio no livro Meditações.

 

Nos dias atuais, esse conceito foi amplamente discutido por Ryan Holiday em O Ego é o Inimigo. Superar a armadilha do egoísmo exacerbado significa aprender a escutar mais, delegar responsabilidades e aceitar críticas. Um líder eficaz não precisa ser uma pessoa mais inteligente do grupo, mas sim aquela que sabe reunir talentos em torno de um propósito maior.

 

Bartlett enfatiza que proteger o grupo é uma das qualidades mais poderosas de um líder. Em um mundo empresarial repleto de discursos ensaiados e posturas artificiais, ele percebe que os colaboradores e clientes valorizam a honestidade e a transparência. Esse conceito se alinha ao conceito de liderança autêntica que busca criar uma cultura empresarial onde a vulnerabilidade e a transparência são incentivadas. Em sua gestão, ele introduz práticas como feedbacks abertos, reuniões honestas sobre desafios da empresa e o compartilhamento de suas próprias dificuldades por meio de metodologias ágeis, que a Inteligência Relacional chama de “roda de conversas”, conversas circulares ou “conversas nutritivas”.

 

A psicologia organizacional reforça essa visão. Amy Edmondson, professora de Harvard, desenvolveu o conceito de segurança psicológica, onde defende que uma das maiores competências de um líder é ser capaz de fazer com que seus liderados sintam-se seguros diante dos desafios corporativos.

 

Outro aprendizado fundamental dessa mesma corrente é encontrar um equilíbrio possível entre habilidades e bem-estar. Durante anos, Bartlett se dedicou intensamente ao crescimento da Social Chain, sacrificando sua saúde e seus relacionamentos. No entanto, sua aprendizagem sobre isso reforça a ideia de que o verdadeiro sucesso não pode ser construído à custa do esgotamento e das demais doenças corporativas como burnout, depressão e ansiedade.

 

Essa lição dialoga com a visão de Arianna Huffington em Thrive , que nos desafia a aprender a equilibrar trabalho e vida pessoal. Essa é a grande contribuição que os processos de mentoria estão trazendo para as organizações e que  foi um dos maiores desafios na jornada de Bartlett. Ele percebeu que os CEOs não devem apenas buscar apenas o crescimento financeiro de suas operações , mas também criar um impacto positivo na vida das pessoas ao seu redor. Entendimento que o levou a compensar sua abordagem de liderança, adotando práticas como mindfulness, pausas estratégicas e maior atenção ao bem-estar do seu time.

 

Bartlett entende e promove a ideia de que um CEO eficaz não é aquele que centraliza o poder, mas sim aquele que fortalece sua equipe, dando-lhe autonomia. Essa visão se aproxima do conceito de Liderança Servidora, proposta por Robert K. Greenleaf em “The Servant as Leader”, um ensaio publicado pela primeira vez em 1970.

 

Bartlett aplicou essa filosofia na Social Chain para criar uma cultura onde os colaboradores tivessem autonomia para inovar e tomar decisões. Ele entendeu que um CEO não precisa ser um ditador de regras, mas sim um facilitador de crescimento e de processos. Essa abordagem não apenas fortalece o engajamento da equipe, mas também cria um ambiente de alto desempenho e inovação.

 

A jornada de Steven Bartlett mostra que uma liderança eficaz não nasce apenas de habilidades técnicas ou conhecimento de mercado, mas sim de um profundo entendimento de si mesmo e das relações que constrói e mantem. CEOs que desenvolvem autoconsciência são capazes de tomar decisões mais equilibradas, comunicar-se de forma autêntica e criar culturas organizacionais mais saudáveis.

 

Por fim, a filosofia socrática, a inteligência emocional, a visão sobre o ego, os benefícios da ênfase no bem-estar e a Inteligência Relacional, convergem para fortalecer a tese de Bartlett: o sucesso de um líder começa no autoconhecimento em um mundo onde a pressão por resultados pode obscurecer a humanidade do gestor. A mensagem de Bartlett é clara: um CEO eficaz é aquele que primeiro aprende a conviver, depois aprende a ser, em seguida aprende a fazer, para enfim aprender a aprender.

 

Quarta Parte 4: Lições de Vida

Ao longo do livro, Bartlett compartilha reflexões práticas sobre como construir uma carreira e uma vida significativa. Algumas das principais lições incluem a

autenticidade como o ativo mais valioso, a integridade como expressão de identidade, a dignidade como forma de promover o humano e o respeito incondicional como garantia de um humanismo saudável. “Seja fiel a si mesmo e ao que você acredita, mesmo que isso signifique seguir um caminho não convencional”, reitera Bartlett.

 

Embora Bartlett tenha feito muito sucesso profissional, ele conclui o livro discutindo como o verdadeiro significado da vida vai além do trabalho e das realizações de materiais. Ele aborda a importância dos relacionamentos, do propósito e do impacto que deixamos no mundo. O autor incentiva os leitores a se concentrarem no legado que desejam construir e na felicidade genuína.

 

“O Diário de um CEO” é mais do que uma biografia ou um manual de negócios. É um convite para reflexão sobre como vivemos, vencemos e lideramos. Steven Bartlett combina vulnerabilidade, insights práticos e histórias de sobrevivência para criar um livro que ressoa tanto em aspirantes a empreendedores quanto em qualquer pessoa buscando uma vida mais plena e significativa. Mas, acima de tudo é um livro que promove a reflexão madura e desafiadora de quem quer assumir posições de liderança mais estratégicas.

 

Steve Bartlett aprendeu e compartilha que a vida profissional de empreendedores, executivos, empresários, gestores e candidatos a essas posições, não se caracteriza por uma jornada racional-linear. Muito pelo contrário. A incerteza é algo presente e que não deve a ser temida, mas sim compreendida e gerenciada. Esse pensamento se alinha a diversas abordagens da filosofia, psicologia e administração, que oferecem insights sobre como enfrentar o imprevisível e construir uma carreira sólida. Bartlett faz esse alerta para deixar claro que seu “livro” não é um oráculo, nem um manual; é apenas um relato que pretende ser inspirador e gerador de insights que promovam a construção de organizações mais humanas, gestores e líderes mais capazes de “servir” e colaboradores mais comprometidos e engajados em projetos com propósitos altruístas.

 

Para mim foi um prazer ler O Diário de um CEO. Recomendo fortemente a leitura, reflexão e o compartilhamento dessa obra, por tudo que ela tem de desafiador na construção de organizações, gestores e líderes que, de fato, representem a restauração do que seja “essencialmente humano” em nossas atividades profissionais.

 

Reflitam em paz!

Homero Reis

Consultor

 

 

[1]Proibida a reprodução do todo ou de partes desse texto, por qualquer meio, sem a autorização prévia e formal do autor. Homero Reis, homero@homeroreis.com. Brasília, fevereiro/25.

 

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Recentemente escutei um podcast em que Pedro Cardoso, (1962/… ), ator, redator, roteirista, autor, escritor e humorista brasileiro, expressou-se sobre algumas questões acerca do modo como os cristãos pensam a vida de Jesus. Provocativamente o ator pergunta sobre “do que Jesus salva a humanidade?”, afirmando que nunca lhe responderam tal questão. Pois bem, vamos a ela.


A salvação de si mesmo: a vida de Jesus como exemplo de humanidade plena

A humanidade, desde os primórdios, carrega consigo um paradoxo: ao mesmo tempo em que constrói civilizações grandiosas, também perpetua destruições, guerras e desigualdades. Ao tempo em que cultua o valor humanístico, exclui, segrega, discrimina. Ao tempo em que fala de fraternidade e paz, é incapaz de exercer tais conceitos. Na reflexão proposta por Pedro Cardoso, ao questionar “do que Jesus salva a humanidade?”, uma resposta emerge clara: Jesus salva a humanidade de si mesma.

Ele não traz uma salvação mística ou distante, mas um chamado para que o ser humano se reencontre sua própria humanidade, resgate a dignidade do outro e busque, na convivência amorosa, um mundo melhor. Sua vida é o mapa para a salvação. Sua vida é um convite a um projeto humano que transcende o egoísmo e a destruição.

Salvar-nos de nós mesmos é, antes de tudo, um ato de coragem. Significa encarar nossa arrogância, nossa busca desenfreada pelo poder, nossa incapacidade de perceber a beleza que reside nas diferenças e na pluralidade. Salvar-nos é romper com o ciclo vicioso da ganância, das guerras ideológicas, das desigualdades sociais e das violências cotidianas que praticamos, muitas vezes, de forma inconsciente. Jesus traz essa provocação. Sua vida não é uma doutrina fria ou uma ideologia vazia, mas um testemunho vivo de como o amor, a compaixão e a justiça podem transformar a humanidade.


Um reino que é contra a lógica do poder

Jesus era esperado como um rei. Há uma esperança humana quase incontrolável por um líder que destrua os opressores e instaure uma nova ordem. No entanto, ao contrário da expectativa de seu tempo, Jesus não busca substituir reis ou instituir um reino político. Seu reino é outro: é o reino em que a justiça se sobrepõe à lei, em que o amor integra e não exclui, em que o perdão tem mais valor que a vingança.

Esse reino é uma revolução silenciosa, subversiva, contra cultural. Ele contraria a lógica do poder que domina o mundo: enquanto o mundo busca a supremacia, Jesus ensina o serviço; enquanto o mundo exalta a força, Jesus celebra a mansidão; enquanto o mundo oprime os fracos, Jesus acolhe os vulneráveis. Quando lhe foi oferecida a oportunidade de falar em Atenas – o centro intelectual do mundo antigo – Jesus optou pelo Calvário, rejeitando o brilho do debate estéril que apenas explica, mas não transforma, optando pela demonstração clara da “vida a serviço da vida”.

A vida de Jesus: um exemplo de plenitude

Pedro Cardoso chama a atenção para um ponto crucial: muitos cristãos valorizam exageradamente a morte de Jesus, deixando de lado o significado de sua vida. O que Cardoso parece não perceber é que aqueles que assim o fazem, não entenderam o propósito da missão dele. De fato, é na vida de Jesus que encontramos o verdadeiro chamado à humanidade plena. Sua vida é uma declaração contínua do valor da existência humana, uma celebração da vida em si.

Jesus viveu para que outros pudessem viver. Ele celebrou a vida quando transformou água em vinho no casamento em Caná, ensinando que a alegria tem lugar especial na existência humana. Ele celebrou a vida quando trouxe luz aos olhos dos cegos, caminhou com os excluídos e resgatou a dignidade dos impuros e esquecidos. Ele celebrou a vida quando restaurou o caminhar do coxo, quando trouxe de volta a saúde da mulher com hemorragia, quando livrou a “pecadora” do apedrejamento, quando reconciliou aquele que o traiu três vezes.

Sua vida desafiou sistemas religiosos, políticos e sociais que oprimiam os mais fracos. Ele enfrentou a arrogância dos poderosos, não com espada ou violência, mas com palavras e gestos de justiça e acolhimento. Sua vida não se resumiu a milagres, mas ao exemplo de humanidade. Jesus reuniu inimigos em uma mesma mesa, reconciliou famílias divididas, devolveu a esperança aos que haviam desistido de viver.

O propósito de sua morte: uma declaração de vida

Por que então a morte de Jesus é tão celebrada? Porque sua morte é uma extensão de sua vida. Sua morte é a prova de que o amor verdadeiro não se dobra às forças da opressão. É um tributo à verdade e à vida que ele tanto defendeu. Na cruz, Jesus declarou que a vida é mais importante do que a própria existência. Sua entrega é um ato de resistência contra tudo o que desumaniza e diminui a dignidade humana.

Aqueles que valorizam apenas a morte de Jesus e esquecem sua vida, não compreenderam o significado de sua missão. Sua morte é a culminação de uma vida vivida com propósito, entrega e amor incondicional. Sua ressurreição, por sua vez, é a porta para a eternidade, a prova de que a vida é um ciclo que nunca termina.

O chamado: transcender a nós mesmos

Jesus nos convida a transcender. Transcender a lógica do egoísmo, do poder e da destruição. Transcender nossa visão limitada sobre o outro e sobre o mundo. Ele nos lembra que não somos tão importantes assim. Nossa arrogância nos leva a achar que o mundo é nosso. Ledo engano. Fazemos parte do mundo, com a responsabilidade de cuidar dele, conservando-o em sua generosa e abundante riqueza, com a sabedoria que emana da sustentabilidade.

Por isso, Jesus nos desafia a “olhar os lírios do campo”, a acolher o próximo como o “samaritano” o fez, a receber de volta o “filho pródigo”, a repartir o pão, a “dar também a túnica”, e a “andá a segunda milha”.

Jesus nos salva de nós mesmos ao nos mostrar que há um caminho melhor: o caminho do amor, da compaixão e da justiça. Ele nos convida a viver uma vida que faz sentido, uma vida que celebra a existência do outro e que busca transformar o mundo em um lugar mais justo e mais humano.

Ao olharmos para a vida de Jesus, encontramos uma resposta clara para a pergunta de Pedro Cardoso: Jesus salva a humanidade dela mesma, oferecendo um exemplo vivo de como devemos viver. Sua vida é um convite permanente a sermos melhores, a reconstruirmos o que está quebrado e a reencontrarmos nossa própria humanidade.

Reflitam em paz!

POR HOMERO REIS©
PROIBIDA A REPRODUÇÃO DO TODO OU DE PARTES DESSE TEXTO, POR QUALQUER MEIO, SEM A AUTORIZAÇÃO PRÉVIA E FORMAL DO AUTOR. HOMERO REIS, HOMERO@HOMEROREIS.COM. BRASÍLIA, DEZEMBRO/2024

by HOMERO REIS ©[1]

 “Inteligência” é a capacidade de se “ler dentro de alguma coisa”. Ler dentro dos relacionamentos é o conceito básico de inteligência relacional. Nesse texto quero aplicar esse conceito no entendimento do que está acontecendo no mundo do trabalho, considerando o resultado de uma pandemia recente, a instalação durante ela do “home office” e as consequências de tudo isso para os relacionamentos entre as pessoas e para as organizações.

Nos últimos tempos o trabalho remoto ganhou muita força, principalmente considerando as experiências das organizações durante e depois da pandemia de COVID-19. No começo, parecia uma solução perfeita: sem trânsito, horários mais flexíveis, trabalhar em casa com mais autonomia, foco nos resultados e não na burocracia da legislação trabalhista, insumos da tecnologia, etc.

Mas, com o tempo, as consequências do trabalho remoto começaram a aparecer, notadamente em decorrência de temas sobre os quais tínhamos muita teoria, mas pouco experimento com tal nível de globalidade. Impactos na vida privada decorrentes do fato de que somos seres relacionais, nos fizeram perceber que existe uma demanda “quase que inconsciente” de contatos entre “diferentes” como uma forma de manter minimamente a saúde das relações entre pessoas e o senso comum de “humanidade”.

De fato, o trabalho por sua natureza coletiva, também tem um certo nível saudável de demandas de dependência uns dos outros, o que é vital para a produtividade e saúde humanas. Afinal, somos seres que atuam em redes relacionais.

Uma das grandes questões do trabalho remoto, percebida como experiência real, foi a falta de contato entre as pessoas. No escritório, a gente acaba trocando ideias, desabafando sobre o dia a dia e criando laços com os colegas, explorando outros temas que “não fazem parte do trabalho”, mas que fazem parte da vida e do que chamamos de humanidade. Já em casa, essa interação fica limitada e o resultado é que muitos se sentem sozinhos e desconfortáveis, mesmo cercados dos que se constituem como núcleo familiar seja ele de que natureza for.

Esse isolamento causou vários problemas e suas consequências apareceram nas estatísticas de saúde e produtividade em todos os institutos de pesquisa.  A revista FORBES, a mais conceituada publicação sobre o mundo dos negócios, em recente artigo (setembro/24), mostrou como cresceu, nos últimos 36 meses, a tristeza, a depressão, o bournout, principalmente dentro dos espaços corporativos.  A conclusão é de que o isolamento e o trabalho remoto tem muito a  nos dizer sobre as origens dessas patologias emocionais.

Muitas vezes, a gente nem percebe o quanto essas pequenas interações cotidianas fazem diferença no nosso bem-estar. No início do trabalho remoto, a produtividade pareceu aumentar dada a liberdade que se tinha de se “trabalhar do jeito que a gente quiser e quando quiser”. A ideia era de que “o importante é a entrega e o acordo sobre expectativas”.

Mas, no andar da carruagem a gente acabou percebendo que a redução da interatividade interpessoal em seu  aspecto físico-presencial, afetou a saúde e, como consequência, os resultados. Ou seja, aquilo que melhoramos em termos de desempenho, foi consumido pelo aumento das doenças ocupacionais. Daquelas que conhecíamos e das tantas outros que estamos a descobrir depois.

As reuniões online que, apesar de funcionais, são mais objetivas e diretas, deixam pouco espaço para conversas informais e troca de ideias espontâneas. Aqueles momentos de “brainstorm” ou uma conversas no corredor que geram insights, se perderam e aquilo que parecia ser muito bom, não foi tão bom assim.

Esse cenário tem um impacto forte não só na saúde mental, mas também nos índices dos resultados. O isolamento pode fazer com que as pessoas se sintam mais tristes, e, com o tempo, isso evolui para algo mais sério, como a depressão e outras “dificuldades”.

A falta de separação entre a vida pessoal e o trabalho também aumentou e o risco de esgotamento deixou de ser risco para ser uma realidade. Quando o escritório está em casa, muita gente acaba se sentindo “presa” no trabalho o tempo todo e o espaço sagrado da intimidade foi devastado pelo whatsapp a qualquer hora do dia ou da noite. É difícil desligar. Mas também é difícil desligar o chefe com síndrome do trabalho compulsivo.

A pessoa trabalha mais horas do que deveria, além de ficar com um sentimento de culpa latente, associado a um cansaço físico e mental não percebido.

Diante desse cenário, muitas empresas estão tentando encontrar um equilíbrio entre as vantagens do trabalho remoto e do trabalho presencial. O chamado modelo híbrido que combina o melhor do trabalho remoto e do presencial, permite que os colaboradores tenham liberdade para escolher onde e quando trabalhar, de acordo com suas necessidades e conforme os acordos feitos com as equipes e com a empresa.

Esse modelo tem ganhado popularidade à medida que as organizações registram que nem todos os funcionários se adaptam bem ao home office integral, mas, ao mesmo tempo, querem preservar as vantagens da flexibilidade, equilibrando suas responsabilidades profissionais e pessoais de maneira mais eficaz.

Foi isso que um cliente meu expressou depois de um programa de inteligência relacional. “Eles (colaboradores e gestores), podem trabalhar em casa em dias em que precisam estar perto da família ou quando têm compromissos pessoais, mas também podem ir ao escritório em momentos em que precisam de um ambiente mais colaborativo com reuniões presenciais. Estou satisfeito com os resultados.”

A promoção de momentos presenciais periódicos para fortalecer os laços da equipe são fundamentais, mas o que muda no novo cenário do trabalho híbrido é que a escolha desses momentos não é mais uma imposição gerencial; antes, passa a ser um acordo entre pessoas maduras que entendem suas responsabilidades e compromissos.

Esses encontros são usados ​​para atividades estratégicas, como sessões de planejamento, brainstorming ou treinamentos, mas também para momentos de socialização, como confraternizações, que ajudam a construir relacionamentos mais fortes entre todos, deixando a opção do trabalho remoto para as atividades operacionais e de caráter personalíssimo.

No fim das contas, o trabalho remoto tem suas vantagens, mas também traz muitos desafios que precisam ser enfrentados. A falta de contato e o isolamento são questões sérias, e é fundamental que as empresas estejam atentas a isso.

Então, o futuro do trabalho parece caminhar-se para um modelo mais flexível, onde cada vez mais será possível aproveitar o melhor dos dois mundos: a liberdade do home office e a interação do trabalho presencial, considerando que essa combinação promove tanto a produtividade quanto o bem-estar de todos. Afinal, o que todo mundo quer é encontrar o equilíbrio perfeito entre a vida pessoal e o trabalho, sem abrir a mão da saúde e da qualidade de vida relacional.

Na Homero Reis – Relações Inteligentes (www.homeroreis.com), estamos ajudando as organizações a encontrarem esse caminho mais adequado para uma nova “cultura” do trabalho. Nosso desafio junto aos nossos clientes tem sido o de promover espaços de responsabilidade e protagonismo, a partir da flexibilidade cognitiva, que nos permite construir juntos novos paradigmas para as relações de trabalho e produção.

 A partir da inteligência relacional, buscamos encontrar soluções que atendam à necessidade das organizações de melhorarem seus resultados, mas também das pessoas de melhorarem sua qualidade de vida em todos os domínios do viver. Isso porque entendemos que “existe vida para além do trabalho”, mas é no trabalho que se constrói uma parte significativa de nossa identidade social e de nosso propósito existencial.

Resolvemos isso com muitas estratégias que promovem uma combinação possível (não perfeita), entre trabalho remoto e presencial, integrando as pessoas em uma cultura acolhedora, participativa e geradora do senso de pertencimento. Essas estratégias tem minorado significativamente a saúde de todos, fortalecido o senso de cooperação e colaboração, reduzindo custos e aumentado a interatividade de todos.

Os temas mais comuns que aparecem nesses projetos híbridos e que tem sido objeto de nossa oferta ao mercado, são:

  • Gestão e monitoramento de equipes, onde usamos ferramentas de gestão de projetos e metodologias ágeis onde todos, colaboradores, gestores e líderes, desenvolvem novas competências conversacionais, garantindo que suas equipes se sintam reforçadas e orientadas tanto no ambiente presencial como no modelo remoto;
  • Inovação e criatividade, onde usamos as técnicas construtivistas de “atividades cooperativas” e oficinas de relacionamentos;
  • Segurança e privacidade, onde usamos modelos de protocolos de relacionamentos para estabelecer processos e limites relacionais voltados para preservação dos espaços individuais e controle dos espaços coletivos, bem como proteger redes, dispositivos, aplicativos, sistemas e dados de ameaças cibernéticas;
  • Ergonomia e saúde física no trabalho remoto, onde usamos a prescrição de “dietas” de trabalho, laser, saúde e atividades físicas como processos educacionais na construção de hábitos saudáveis em todos os domínios da vida;
  • e, questões ligadas à diversidade, inclusão e gênero, onde promovemos a reflexão, o debate e a construção de códigos de conduta e ética na vida, bem como a busca inteligente de um equilíbrio entre vida pessoal e profissional de todos e para todos.

Fazemos isso a partir de dois grandes eixos andragógicos: mentorias e transferência de tecnologia. No primeiro, construímos junto com os clientes um processo educacional a partir das melhores práticas, de modo que cada um se torne um multiplicador da nova cultura do trabalho dentro da organização em que atua.

No segundo, promovemos a transferência de conteúdos para a organização, de modo que ela “ganhe tempo” na instalação de novos paradigmas nas relações de trabalho e produção, focando em resultados e qualidade de vida.

 

É assim que atuamos.

Seja bem-vindo à Homero Reis – Relações Inteligentes.

Venha conversar conosco.

Abraços.

Homero Reis

Sócio-fundador.

[1] © proibida a reprodução do todo ou de parte desse texto sem a prévia autorização do autor. Direitos reservados a REIS, Homero; Brasília/DF, setembro/2024. homero@homeroreis.com

Entenda, Lide e Supere
por Homero Reis©

A vida e os relacionamentos humanos são complexos e cheios de circunstâncias nem sempre agradáveis, claras e objetivas. Muito pelo contrário. Vivemos em redes relacionais em intensa interação onde as interferências recíprocas são muito mais amplas do que “supõem nossa vã filosofia”. Mas, considerando a história da humanidade, começamos a estudar há muito pouco tempo os impactos (causas e consequências) de nossas interferências recíprocas em nossa saúde pessoal, social e emocional.

É fato que o que nasce da barriga da mulher é a reprodução biológica da espécie; mas, o que nos torna seres humanos é nossa vida sócio-comunitária porque “ser humano é ser social”. É nesse sentido que somos a origem e o destino de nossas competências e fracassos. Com essa distinção básica, começou-se a estudar o que as interações sociais promovem em termos de identidade e de saúde tanto na sociedade como nos indivíduos. Desde então, muitas coisas foram sendo explicadas e entendidas, mas muitas questões novas estão surgindo desses estudos. Dentre elas, o que se tem até o momento como o mais complexo dos sentimentos, e como um dos aspectos mais difíceis de serem compreendidos e cuidados é a questão da rejeição. Nos sentimos rejeitados, aprendemos a viver com isso e rejeitamos os outros num ciclo vicioso contínuo. Mas, amos conversar sobre isso.

Conceituando melhor o termo: Rejeição é uma palavra que evoca uma gama de emoções e experiências complexas. Desde os primeiros dias de nossa existência até os estágios mais avançados da vida, todos nós nos encontramos em muitos momentos, confrontados por esse sentimento desconfortável. Mas o que exatamente é rejeição? Como ela afeta nossa mente, nossas emoções e nosso comportamento? O que filósofos, educadores e religiosos dizem sobre a rejeição? E, o mais importante, como lidar com ela e ser capaz de superar esse desafio emocional?

A rejeição é a sensação de ser excluído, abandonado ou não aceito. Ela pode ser experimentada em diversas formas e em diferentes contextos. Pode ocorrer de forma sutil, como um olhar de desaprovação, uma frase dita por alguém, ou de maneira mais direta e ostensiva, como ser demitido de um emprego, rejeitado em um pedido de amor. Rejeitar alguém significa resistir às suas diferenças, desqualificá-lo a partir de preconceitos, desprezar ou recusar algo ou alguém por qualquer que seja a razão. Estudos mostram que dentre todas as “tragédias humanas”, a rejeição é a que gera as feridas emocionais mais profundas e dolorosas. A dor que ela provoca é mais intensa que a dor da perda e da morte de alguém que amamos muito. O que é mais grave é que a rejeição se faz presente em todos os âmbitos da vida e não se conhece nenhuma mecânica social que não a tenha em seu escopo. Todos os indivíduos, povos, línguas, culturas e raças, ao longo de todo o tempo viveram (ou vivem) situações de rejeição. Isso ocorre desde as relações sociais nucleares, até as relações entre estados, povos e nações.
A rejeição ocorre quando um indivíduo é deliberadamente excluído de uma relação ou interação social por outro indivíduo ou por grupos inteiros, incluindo aí a rejeição de seus pares, a rejeição dos afetos, a étnica, cultural e a rejeição familiar, além das que decorrem de preconceitos de qualquer natureza.

Além disso, a rejeição pode ser ativa, quando promove a exposição do outro ridicularizando-o, desqualificando-o (bullying), ou; passiva, quando ignora o outro. Mas, em qualquer caso, a experiência de ser rejeitado ou de viver circunstâncias inevitáveis de rejeição, embora seja subjetiva, gera inúmeras consequências objetivas na vida. Seus efeitos mais comuns aparecem travestidos de isolamento social, sentimento de exclusão e cancelamento, quebra de vínculos afetivos, “síndrome do estrangeiro”, além de solidão, baixa autoestima, agressividade, depressão, insegurança, dificuldades afetivo-relacionais, dentre outras.
A rejeição é especialmente dolorosa porque a necessidade de interação com outros seres humanos é uma necessidade básica e essencial para a construção de nossa identidade. Segundo Maslow (falarei dele mais a frente), todos os seres humanos, mesmo aqueles mais introvertidos, precisam ser capazes de dar e receber afeto para serem psicologicamente saudáveis. O contato simples ou a interação social eventual com os outros não é suficiente para atender a essa necessidade. As pessoas necessitam formar e manter relacionamentos interpessoais significativos e estáveis para satisfazer necessidades de amar e ser amado, como de pertencimento social. Se algum desses ingredientes (pertencimento e amor), estiverem faltando, as pessoas começarão a sentir-se solitárias e infelizes. Por isso a rejeição é uma ameaça significativa. De fato, a maioria das ansiedades humanas parece decorrer de preocupações sobre a questão da rejeição.

O modo como o indivíduo espera ser reconhecido no meio em que vive é um componente-chave para a qualidade da autoimagem e do modo como ele atua me sociedade. Tanto é que um estudo da Duke University, conduzido por Mark Leary (2022), sugeriu que o objetivo principal da autoimagem é monitorar nossas relações sociais e detectar a possibilidades de rejeição. Nesse estudo, a autoimagem aparece como uma medida da nossa capacidade de tolerar a exclusão. Quando essa taxa é baixa, aparecem comportamentos antissociais (solidão, isolamento, agorafobia, etc); bem como comportamento agressivo, desatenção, impulsividade e altas taxas de ansiedade.
Depois que o indivíduo “admite” viver em estado de rejeição, ou sucumbe-se a esse estado, tende a julgar impossível livrar-se dele e sua vida, no sentido mais amplo, passa a ser determinada por desmotivações, vitimismo, resistência à mudança, comportamento excessivamente rotineiro. No estudo da Duke University, pesquisadores descobriram que, a rejeição quando internalizada como “conduta normal do mundo”, promove quebra de conexões sociais e um vazio existencial preenchido, muitas vezes, por sentimentos de preconceitos e tirania, dando lugar à angústia constante.

É importante considerar que o tema da rejeição é amplo e a maneira como ela pode se manifestar, em diferentes áreas da vida, é complexo e diverso em cada contexto. As principais formas de manifestação do “sentimento” de rejeição, começam com a exclusão passiva por um grupo social ou por alguém, e segue com rompimento amoroso ou preferência familiar, até rejeição profissional, como não ser selecionado para um emprego ou receber críticas negativas reiteradas vezes. Ela também pode ocorrer de maneira sutil, como não ser convidado para um evento, ou de forma mais direta, ser insultado ou menosprezado por outras pessoas.

A rejeição tem um impacto significativo no bem-estar mental e emocional, desencadeando uma série de emoções negativas, como tristeza, raiva, vergonha e ansiedade. Além disso, repetida ou prolongada contribui para o desenvolvimento de problemas de saúde mental, como transtornos obsessivo compulsivo, e as já citadas depressão, baixa autoestima e transtornos de ansiedade.

A rejeição cria um ciclo vicioso e negativo de vergonha crônica em que a pessoa começa a internalizar a mensagem de que não é digna de amor ou aceitação, se envergonha por isso e, por isso passa a acreditar que não é digna de amor e aceitação. Isso leva a um padrão de pensamento e comportamento que tende à autodestruição.

Do ponto de vista psíquico, a rejeição ativa áreas do cérebro associadas à dor física, sugerindo que ela pode ser percebida pelo nosso cérebro como uma forma de lesão emocional. Isso explica por que a rejeição pode ser tão dolorosa e difícil de superar. A psicologia oferece insights valiosos sobre como a rejeição funciona e como podemos lidar com ela. A Teoria da Autodeterminação, (p.ex.), afirma que todos nós temos uma necessidade inata de nos sentir conectados e aceitos pelos outros. Quando essa necessidade não é atendida, experimentamos a dor da rejeição. A resiliência como capacidade de suportar e se recuperar de adversidades e desafios, incluindo a rejeição, é outro indicador importante. A psicologia nos ensina que a resiliência não é algo inato, mas sim uma habilidade que pode ser desenvolvida através de práticas e estratégias específicas que nos fortalecem contra os “estragos” da rejeição.

Freud (Sigmund), ofereceu várias contribuições importantes para a compreensão da rejeição enquanto fenômeno psíquico. Embora ele não a tenha abordado diretamente em sua obra, muitos de seus conceitos e teorias são relevantes para a forma como entendemos esse fenômeno.

Na teoria do complexo de Édipo (p.ex.), usada para explicar o desenvolvimento da sexualidade infantil e a formação do superego, Freud defende que durante a fase fálica do desenvolvimento psicossexual, as crianças desenvolvem desejos inconscientes pelo genitor do sexo oposto e hostilidade em relação ao genitor do mesmo sexo. A resolução bem-sucedida desse complexo envolve a identificação com o genitor do mesmo sexo e a internalização dos valores e normas sociais, enquanto a rejeição desses desejos pode levar a conflitos psíquicos e distúrbios emocionais. A resolução do complexo de Édipo pressupõe a competência para se lidar com a rejeição.

Freud também descreveu uma série de mecanismos de defesa que o ego utiliza para lidar com conflitos e ansiedades. A negação (p.ex.), é um mecanismo de defesa pelo qual a pessoa recusa aceitar uma determinada realidade dolorosa ou perturbadora. Nesse caso, a rejeição é uma forma de negação, onde o indivíduo tenta negar ou minimizar o impacto emocional de uma experiência de exclusão ou não aceitação.

Na teoria sobre o narcisismo, Freud discute a questão do amor-próprio e da autoestima. Para ele o narcisismo saudável consiste em ser capaz de reconhecer sua beleza e de estimar-se por isso, sendo natural ao desenvolvimento humano uma “alta” autoestima. Mas, quando em excesso, o narcisismo leva à rigidez psíquica e à incapacidade de lidar com o fato de que os outros podem discordar de nós. Nesse caso, a rejeição pode ser particularmente desafiadora para os indivíduos com um alto grau de narcisismo, pois ameaça a imagem idealizada de si mesmos.

Embora Freud não tenha tratado explicitamente da rejeição como um fenômeno isolado, suas teorias sobre o desenvolvimento psicossexual, os mecanismos de defesa e o narcisismo oferecem insights importantes sobre como a rejeição pode ser entendida e abordada do ponto de vista psicanalítico. A partir desses conceitos, os psicanalistas contemporâneos continuam a explorar a dinâmica da rejeição e seu impacto na vida mental e emocional dos indivíduos.

Do ponto de vista filosófico, muito se fala sobre a rejeição. Vários filósofos ao longo da história exploraram o tema, oferecendo perspectivas valiosas sobre esse aspecto da experiência humana. Por exemplo, Søren Kierkegaard, o filósofo dinamarquês do século XIX, pai do existencialismo, abordou a rejeição em sua obra “O Conceito de Angústia”. Nela ele explora a ideia de que a rejeição é uma manifestação da angústia existencial, resultante da liberdade e da responsabilidade do indivíduo. Kierkegaard argumentava que a rejeição é uma parte inevitável da busca pela autenticidade e pelo significado na vida. A questão está em saber lidar com ela e não sucumbir-se a ela.

Já Friedrich Nietzsche discutiu a rejeição em relação ao conceito de ressentimento em sua obra “Genealogia da Moral”. Ele sugeria que a rejeição surge como uma reação à inferioridade percebida em relação a outra pessoa ou grupo. Nietzsche via a superação do ressentimento e da rejeição como uma parte essencial do projeto de “maturidade humana “e da afirmação da vontade de poder.

Sartre (Jean-Paul), o existencialista francês, explorou a rejeição em sua filosofia da liberdade e da responsabilidade individual. No livro “O Ser e o Nada”, argumenta que a rejeição é uma consequência inevitável da liberdade de escolha. Ele enfatizava a importância de assumir a responsabilidade por nossas próprias ações, mesmo quando enfrentamos a rejeição dos outros. Para ele, cada escolha pressupõe a renúncia de infinitas outras possibilidades. Saber renunciar é saber lidar com a rejeição.

Michel Foucault examinou a dinâmica do poder e da exclusão social em sua análise das instituições sociais e do controle disciplinar. Na obra “Vigiar e Punir”, ele descreveu como a rejeição pode ser utilizada como uma ferramenta de controle social, marginalizando aqueles que desafiam as normas estabelecidas. Foucault destacava a importância de resistir à rejeição e de lutar contra as estruturas opressivas do poder.

Esses filósofos (dentre tantos), oferecem uma variedade de perspectivas sobre a rejeição, desde sua relação com a angústia existencial e o ressentimento, até sua conexão com a liberdade e o poder. Suas ideias continuam a influenciar o pensamento contemporâneo sobre esse tema complexo e universal.

Mas o que os educadores falam sobre a rejeição? À semelhança da filosofia, os educadores também têm na rejeição um tema estruturante de suas teorias. Jean Piaget, um dos educadores mais influentes e pai do construtivismo, quando tratou do desenvolvimento cognitivo infantil, não se concentrou especificamente na rejeição, mas nos trouxe importantes princípios, no contexto educacional, que têm contribuído com perspectivas sobre como a rejeição pode afetar o processo educacional e o desenvolvimento das crianças. Suas teorias esclarecem como elas lidam com o conflito e a desaprovação. Piaget enfatizou a importância do jogo simbólico e da interação social na aprendizagem das crianças. Ele argumentava que as crianças constroem ativamente seu próprio conhecimento por meio da exploração e da experimentação. O conflito cognitivo entre a construção da identidade e a rejeição natural dos outros, desempenha um papel crucial nesse processo.

Vygotsky, outro importante teórico do desenvolvimento infantil, tem ideias relevantes para o tema da rejeição no processo educacional, com repercussões na vida adulta. Ele enfatizou o papel do ambiente social na aprendizagem das crianças, argumentando que a interação com os outros e a participação em atividades culturais e sociais são fundamentais para o desenvolvimento cognitivo. Vygotsky introduziu o conceito de “zona proximal de desenvolvimento”, que se refere ao espaço entre o que uma criança pode fazer sozinha e o que pode fazer com a ajuda de um adulto ou colega mais experiente. No contexto educacional, a rejeição por parte dos colegas ou dos professores pode afetar negativamente a autoestima e o engajamento dos alunos, limitando assim seu acesso à zona proximal de desenvolvimento e seu potencial de aprendizagem. Tal processo cria mecanismos que se repetirão na vida adulta. Quando alguém entende que está sendo rejeitado, sua mobilização e seu potencial para a vida, são profundamente reduzidos.

Carl Rogers também abordou questões relacionadas à educação e ao desenvolvimento pessoal, nos dando boas pistas para se entender o efeito da rejeição na vida. Ele enfatizou a importância da aceitação incondicional e do respeito genuíno no processo educacional, argumentando que os alunos prosperam em um ambiente onde se sentem valorizados e respeitados como indivíduos. A rejeição por parte dos professores ou dos colegas, mina a autoestima e a autoconfiança, prejudicando o desempenho acadêmico, profissional, relacional e o bem-estar emocional.

Na hierarquia das necessidades psicológicas de Abraham Maslow, depois de satisfeitas as necessidades básicas (fisiológicas: comer, beber, etc), todos os demais níveis (segurança, social, estima) presumem reconhecimento e aceitação. Segurança e pertencimento são o contraponto à rejeição que, quando não “processada” ameaça toda a estabilidade psicossocial das pessoas e dificulta o processo de aprendizagem, desenvolvimento e engajamento social.

Howard Gardner, conhecido por sua teoria das inteligências múltiplas, mentes que criam e estruturas da mente, também enfatiza a importância do reconhecimento e da valorização das habilidades e talentos únicos de cada um, num contexto de aceitação e acolhimento. A rejeição, ao surgir, pode nos fazer sentir inadequados ou desvalorizados por não nos encaixar em determinado padrão “de sucesso”, o que prejudica substantivamente a autoestima e motivação para a vida.

Carol Dweck, conhecida por seu trabalho sobre a mentalidade de crescimento, sugere que as crenças das pessoas sobre suas próprias habilidades influenciam seu comportamento e desempenho. No contexto relacional, Dweck argumenta que nossas habilidades podem ser desenvolvidas através do esforço e da prática e, se associado a isso também se tem um contexto de aceitação dessas habilidades pelo grupo social, exponencializa-se o desempenho e a saúde tanto da pessoa como da “comunidade”. Por outro lado, se esse contexto é de rejeição, as perdas pessoais e sociais são enormes. A rejeição desencadeia uma mentalidade de “fixação”, onde as pessoas se veem como incapazes de mudar ou melhorar, prejudicando assim seu desempenho, sua motivação para aprender e seu compromisso com a vida. Dweck vai mais além quando afirma que a rejeição é uma forma extremamente agressiva de relacionamentos tóxicos e abusivos.

Na religião cristã, a abordagem da rejeição segue a linha da complexidade, refletindo uma combinação de ensinamentos bíblicos, interpretações teológicas e práticas espirituais que atuam a partir de dois argumentos: 1) A rejeição é um fenômeno decorrente do pecado. O homem rejeitou a Deus e, por isso sofre as consequências de sua escolha; 2) A salvação em Cristo restaura a relação do homem com Deus, afastando a rejeição e criando um novo homem e um povo que vive a partir do amor. Esse povo é chamado de “igreja de cristo”, “corpo de Cristo”, “Reino de Deus”.

As perspectivas da rejeição, do ponto de vista da fé cristã, em seus aspectos negativos e positivos, podem ser resumidos assim:

1. Deus é amor e aceita e ama incondicionalmente cada indivíduo, independentemente de suas falhas ou imperfeições. Essa aceitação divina é vista como uma fonte de segurança e consolo para aqueles que se sentem rejeitados pelos outros.
2. A morte e ressurreição de Jesus Cristo, dá a todas as pessoas a oportunidade de serem perdoadas e reconciliadas com Deus. Isso significa que, mesmo quando nos sentimos rejeitados pelos outros ou por nós mesmos, podemos encontrar esperança e renovação na fé em Cristo, pela aceitação de seu sacrifício na cruz e de sua condição de Senhor.
3. A comunidade cristã (igreja), é vista como um lugar de acolhimento e apoio mútuo, onde os membros são encorajados a se amarem e cuidarem uns dos outros. Os cristãos são chamados a praticar a empatia, a compaixão e a solidariedade, oferecendo conforto e apoio àqueles que estão enfrentando a rejeição.
4. Para os cristãos, a identidade do indivíduo não está enraizada nas opiniões ou julgamentos dos outros, mas sim na sua relação com Deus em Cristo Jesus, como filhas e filhos amados. Isso significa que a rejeição por parte dos outros não define quem somos, pois nossa identidade é encontrada em nossa fé em Cristo.
5. A fé cristã ensina que, mesmo diante da adversidade e da rejeição, podemos encontrar força e esperança na promessa de Deus de que Ele está conosco em todas as circunstâncias. Essa confiança na providência divina nos capacita a perseverar e a superar os desafios que enfrentamos.

A religião cristã aborda a rejeição como um desafio humano comum, mas oferece uma perspectiva de esperança, amor e aceitação divinos, juntamente com o apoio da comunidade de fé. Esses ensinamentos proporcionam conforto e orientação para aqueles que lidam com a rejeição, incentivando-os a encontrar significado e propósito em sua relação com Deus e com os outros.

Aqui vão alguns textos bíblicos que abordam o tema da rejeição: Salmo 27:10 (NVI): “Embora meus pais me abandonem, o Senhor me receberá.” Isaías 53:3 (NVI): “Foi desprezado e rejeitado pelos homens, um homem de dores e familiarizado com o sofrimento. Como alguém de quem os homens escondem o rosto, foi desprezado, e nós não o tínhamos em estima.” Mateus 21:42 (NVI): “Jesus lhes disse: ‘Vocês nunca leram nas Escrituras: ‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; isso vem do Senhor, e é algo maravilhoso para nós’. “Lucas 20:17 (NVI): “Jesus olhou para eles e perguntou: ‘Então, o que significa o que está escrito: ‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular’?” João 1:11 (NVI): “Ele veio para o que era seu, mas os seus não o receberam.” Romanos 9:33 (NVI): “Como está escrito: ‘Eis que ponho em Sião uma pedra de tropeço e uma rocha que faz cair; mas aquele que confia nela jamais será envergonhado’.”

Esses textos e tantos outros, refletem diferentes aspectos da rejeição, desde a experiência de ser abandonado pelos outros até a rejeição de Jesus Cristo pelos que o cercavam durante seu ministério terreno. No entanto, eles também transmitem a mensagem de esperança e redenção, mostrando como Deus pode transformar a rejeição em algo significativo e poderoso.

Mas, a boa notícia é que todos esses filósofos, psicólogos, educadores, sociólogos, e as orientações da fé cristã, oferecem perspectivas valiosas sobre a rejeição, tanto no seu aspecto diagnóstico, como na capacitação para se saber lidar com ela. Todos os que estudam o tema destacam a importância de se construir ambientes relacionais que promovam a aceitação, respeito mútuo e o reconhecimento das habilidades e potencialidades únicas de cada um, bem como a valorização das diferenças de cor, raça, sexo e cultura. Se assim o for, a dinâmica da pluralidade-aceita cria uma mentalidade de crescimento, de apoio e incentivo para que todos, juntos, enfrentem os desafios de construir vidas e sociedades mais adequadas e saudáveis.

Aqui estão algumas perspectivas e estratégias que fomentam relacionamentos mais saudáveis, mais inclusivos, acolhedores e menos promotores da rejeição:

1. A promoção da empatia e da inclusão a partir do entendimento das experiências e perspectivas uns dos outros, reduz o potencial de rejeição e exclusão.
2. O desenvolvimento de habilidades sociais e a convivência entre diferentes é fundamental para lidar com situações de rejeição. A prática de habilidades como comunicação eficaz, resolução de conflitos e trabalho em equipe, ajudam a construir relacionamentos saudáveis e resilientes.
3. A valorização da autoestima e da autoconfiança fortalecem o desenvolvimento e a estruturação da autoimagem positiva e de uma autoestima bem alicerçadas. A importância do elogio, do feedback, da educação continuada, da mentoria constante e da valorização da autonomia, são fundamentais.
4. As estratégias de enfrentamento e confrontamento saudáveis para se lidar com a rejeição e a adversidade, são bem-vindas. Isso inclui técnicas de relaxamento, respiração profunda, mindfulness, competências conversacionais, bem como o desenvolvimento de habilidades de pensamento positivo e resiliência emocional.
5. A criação de uma cultura de segurança, de honestidade intelectual, de flexibilidade cognitiva e de resolução de problemas complexos em grupos heterogêneos, reduz sensivelmente o senso de rejeição, promovendo abertura para a relacionamentos inteligentes e fornecendo recursos e orientação para se enfrentar as circunstâncias da vida social.
6. Programas educacionais de prevenção de bullying para organizações e instituições de todas as naturezas, incluindo treinamento para gestores e funcionários sobre aceitação e respeito é fundamental. A intervenção imediata quando comportamentos e falas inadequadas são identificados, é um princípio muito eficaz. A ideia é promover em toda a sociedade, ambientes seguros, inclusivos e solidários, neutralizando qualquer expressão preconceituosa. Ao fornecerem orientação, apoio e recursos, esses programas ajudam as pessoas a desenvolverem habilidades e resiliência para enfrentar os desafios da vida e construir relacionamentos saudáveis e significativos.

Do ponto de vista pessoal, lidar com a rejeição é desafiador. Mas, existem várias estratégias e atitudes que podem nos ajudar a enfrentá-la de forma saudável e construtiva:

1. Reconheça e aceite seus sentimentos de rejeição. É normal se sentir triste, magoado ou zangado. Permita-se experimentar essas emoções, mas lembre-se de que elas não definem quem você é. Converse sobre isso com alguém competente em que você confia.
2. Reflita sobre como você está reagindo à rejeição. Está se culpando ou se depreciando? Tente identificar pensamentos distorcidos e substituí-los por pensamentos mais realistas e compassivos.
3. Busque apoio em amigos, familiares ou profissionais de saúde mental. Compartilhar seus sentimentos com outras pessoas pode ajudá-lo a se sentir compreendido e apoiado. Mentorias e processos terapêuticos são muito úteis.
4. Cultive uma autoestima saudável, reconhecendo suas qualidades e valor pessoal. Lembre-se de que a rejeição de uma pessoa ou situação não significa que você não seja digno de amor e aceitação.
5. Veja a rejeição como uma oportunidade de crescimento e aprendizado. Pergunte a si mesmo o que você pode aprender dessa experiência e como pode usá-la para se fortalecer no futuro. Seja proativo.
6. Priorize o autocuidado físico, emocional e mental. Cuide de si mesmo praticando atividades que o façam sentir-se bem, como exercícios, meditação, hobbies ou passatempos.
7. Evite se fixar no passado ou se preocupar demasiadamente com o futuro. Concentre-se no momento presente e nas coisas que você pode controlar.

A rejeição é uma parte inevitável da experiência humana, mas não precisa nos definir ou nos limitar. Ao compreendermos o que é rejeição, como ela nos afeta e como podemos lidar com ela, podemos aprender a transformar essa experiência desafiadora e dolorida, em uma oportunidade de crescimento e fortalecimento pessoal. Com práticas e atitudes positivas, podemos nos libertar do peso da rejeição e seguir em frente em direção a uma vida mais plena e satisfatória, lembrando sempre de que não estamos sozinhos nessa jornada.

E você, gostou?
Faz sentido essa reflexão?
Vamos conversar sobre o tema?
Acesse-me em homero@homeroreis.com; ou @homero.reis

Reflita em paz!
Homero Reis©.
Curitiba/PR, abril/2024

 

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