magine a cena, tão comum no mundo corporativo de hoje: o líder, imerso na luz azul da tela, analisa seus dashboards. Gráficos de produtividade, KPIs de desempenho, metas de OKRs. Ele busca a verdade nos números. Mas que verdade ele está realmente procurando?
Em meu livro “Branca de Neve e os Sistemas Gerenciais”, uso a poderosa metáfora da Rainha Má e seu Espelho Mágico para ilustrar um dos arquétipos mais perigosos da liderança: o líder que usa suas ferramentas não para ver a realidade, mas para validar o próprio ego. A pergunta diária “Espelho, espelho meu, existe equipe mais produtiva do que a minha?” é a versão moderna da busca por validação da Rainha.
Este artigo é um convite para você, líder, a refletir: seus dashboards são um Espelho Mágico ou uma Janela para a Realidade?
O Líder-Rainha e a Métrica como Vaidade
A liderança reativa, assim como a Rainha, utiliza as métricas de forma superficial e reativa.
- O Dashboard é um Espelho: O sucesso nos números serve para inflar o ego do gestor. O fracasso é visto como uma afronta pessoal. A equipe que fica “vermelha” no gráfico é caçada, enquanto a “verde” é celebrada, muitas vezes sem que se entenda o contexto humano por trás de cada cor.
- A Competição Interna é Estimulada: Assim como a Rainha não suportava que Branca de Neve fosse “a mais bela”, o líder-espelho cria um ambiente onde os membros da equipe são colocados uns contra os outros. A performance é rankeada publicamente, gerando medo e minando a colaboração.
- A Realidade é Ignorada: O espelho só mostra o que a Rainha pergunta. Da mesma forma, um dashboard só mostra as métricas que foram programadas. Ele pode mostrar que a produtividade está alta, mas esconde que a equipe está à beira do burnout. Ele aponta o “quê”, mas ignora completamente o “como” e o “porquê”.
A Liderança com Inteligência Relacional: A Janela para a Floresta
A alternativa a esse modelo é a liderança que usa seus dados como uma janela. Uma janela não serve para ver o nosso reflexo, mas para observar o mundo lá fora, com toda a sua complexidade e nuances.
O líder que olha pela janela entende que a equipe é uma “floresta”, um ecossistema vivo, como descrevo na metáfora dos “Sete Anões”, onde cada perfil tem suas forças, fraquezas e necessidades. Para este líder:
- Os Dados Geram Perguntas, Não Respostas: Um número baixo no dashboard não é um veredito, é um convite à curiosidade. Em vez de “Por que este número está baixo?”, ele pergunta à equipe: “Vejo que estamos enfrentando um desafio aqui. Quais obstáculos vocês estão encontrando? Que recursos ou apoio vocês precisam de mim para superarmos isso juntos?”.
- O Foco é no Sistema, Não no Indivíduo: Ele entende que uma performance ruim raramente é culpa de uma só pessoa. Ele olha para os processos, para a clareza da comunicação, para as ferramentas disponíveis e para o clima da equipe. Ele busca a falha no sistema, não no “Anão Zangado”.
- O “Como” Importa Mais que o “Quê”: Ele se senta com a equipe para entender a história por trás dos números. Ele celebra o esforço e o aprendizado, mesmo quando o resultado final não é o esperado. Ele sabe que uma equipe psicologicamente segura e conectada (o “como”) é a única garantia de resultados sustentáveis (o “quê”).
Em sua próxima reunião de resultados, resista à tentação de simplesmente apresentar os gráficos. Comece abrindo a janela. Pergunte à sua equipe sobre a história por trás dos dados. Você pode se surpreender ao descobrir que a solução para o seu maior desafio de performance não está em uma nova métrica, mas em uma nova conversa.
Afinal, a liderança verdadeiramente “mais bela de todas” não é a que possui os dashboards mais verdes, mas aquela que cultiva a floresta mais saudável, resiliente e colaborativa.
Sua empresa opera mais no modo “Espelho” ou “Janela”? Compartilhe sua perspectiva nos comentários e vamos aprofundar essa importante reflexão.