“O Diário de um CEO” é um livro escrito por Steven Bartlett em 2023, originalmente divulgado no podcast The Diary of a CEO, com um subtítulo: “As 33 leis dos negócios e da vida”. Resumidamente é uma obra que combina memórias pessoais, lições de vida e insights sobre empreendedorismo, liderança e gestão.
Steven Bartlett, um premiado empreendedor britânico que atua como investidor em mais de 40 empresas; é palestrante e criador de conteúdo, além de apresentar um dos podcast mais populares da Europa, The Diary of a CEO, onde compartilha sua vasta experiência no mundo corporativo, agora acessível em seu livro.
Resumidamente, quando tinha 22 anos, fundou a Social Chain, uma agência de marketing digital global. Aos 27 anos abriu o capital de sua agência na bolsa de valores e foi destaque na Business Insider, no Financial Times e no The Guardiane, sendo considerado pela Forbes uma das 30 personalidades mais influentes com menos de 30 anos. Deu palestras nas Nações Unidas, na SXSW, na TEDx e no VTEX Day ao lado de Barack Obama.
O que lhes apresento nesse e-book, é um “resumo” pessoal da obra, recheado de minhas anotações e reflexões sobre o tema e de alguns complementos que me ajudaram a compreender o que Bartlett deseja transmitir. Faço isso ao tempo em que organizo as ideias do livro para uma melhor construção de práticas e insights sobre gestão, liderança, qualidade de vida e relacionamentos.
O livro é dividido em quatro pilares onde são organizadas as trinta e três leis que norteiam o trabalho de Bartlett:
O primeiro pilar trata do EU e agrupa as primeiras nove leis. Nesse pilar ele começa com uma citação de Leonardo Da Vinci: “Não se pode ter menor ou maior domínio do que o domínio de si mesmo”. Essa ideia é mote para a discussão da importância do autoconhecimento para que é, ou almeja ser um executivo qualificado.
O segundo pilar trata da HISTÓRIA e agrupa as leis 10 a 18. Nesse pilar ele conta um pouco de sua história e apresenta os aspectos estratégicos que aprendeu na vida executiva.
O terceiro pilar trata da FILOSOFIA que ele adota na sua forma de conduzir os negócios e suas estratégias de gestão, mostrando a relação direta existente entre “quem você é, as escolhas que faz e os resultados que obtém”. Segundo ele, é a partir de sua “filosofia de vida” que você se torna capaz de fazer escolhas sobre valores, propósitos e a missão que norteiam sua conduta. Nesse pilar estão as leis 19 a 27.
Por fim, o quarto pilar trata da EQUIPE, onde ele apresenta as leis 28 a 33, que tratam das relações corporativas, dos desafios e das estratégias para uma liderança e gestão efetivas.
Primeira Parte – Infância e Formação
Bartlett começa explorando suas origens humildes, crescendo em uma família modesta no Reino Unido. Nesse contexto ele reflete sobre como sua infância moldou sua ética de trabalho, determinação e visão de mundo. Apesar de enfrentar desafios como o racismo e a falta de recursos, ele encontrou motivação em suas dificuldades e no desenvolvimento de um espírito resiliente.
O autor também destaca como foi abandonar a universidade. Uma decisão arriscada, crucial para seguir seus sonhos empresariais, enfatizando que muitas vezes as escolhas não convencionais podem levar a resultados extraordinários, desde que sejam tomadas com coragem e clareza.
Sua infância e formação moldaram não apenas sua visão de mundo, mas também os pilares de sua ética de trabalho e resiliência emocional. Filho de imigrantes que enfrentaram dificuldades econômicas e sociais no Reino Unido, Bartlett cresceu sentindo o peso das expectativas familiares e os desafios de se adaptar a uma sociedade que frequentemente o fazia sentir-se um “outsider”. Essa fase inicial de sua vida é retratada como um terreno fértil para o desenvolvimento de qualidades essenciais para o sucesso – algo que outros autores, filósofos e líderes também destacam como fundamental.
As adversidades enfrentadas durante a infância – como o racismo, a exclusão social e as limitações financeiras, serviram como força motriz para sua ambição e perseverança. Ele aprendeu a transformar obstáculos em motivação, uma ideia amplamente abordada por Viktor Frankl em seu livro Em Busca de Sentido. Frankl argumenta que o sofrimento pode ser uma fonte de propósito, visto que é encarado como parte de um caminho para algo maior. Essa perspectiva também é reforçada por Angela Duckworth em Garra: O Poder da Paixão e da Perseverança. Duckworth afirma que o realização é resultado não só de talento, mas também de uma combinação de paixão e persistência. No caso de Bartlett, as dificuldades não o definiram como vítima, mas como um agente ativo em busca de mudança.
Essa busca proporciona a construção de competências diretamente ligadas a uma atitude de curiosidade extrema, autodidatismo e questionamentos. Ele abandonou a universidade por acreditar que a educação tradicional não atenderia às suas ambições, nem lhe promoveria tais atitudes.
Peter Thiel, cofundador do PayPal e investidor em diversas startups, como o Facebook (p.ex.), ao escrever o livro De Zero a Um, discorre sobre decisões semelhantes às de Bartlett, que transformaram a vida de muitas pessoas que hoje são referências no mundo corporativo e na vida político-social. Thiel critica o modelo educacional tradicional por sua falta de inovação e incentiva os jovens a explorarem caminhos alternativos para alcançar grandes feitos.
Bartlett também ecoa a filosofia de Søren Kierkegaard, que defende a importância das escolhas autênticas e individuais. Kierkegaard sugere que a verdadeira realização vem da coragem de viver de acordo com os próprios valores, mesmo que isso signifique ir contra as normas condicionais. Para Bartlett, abandonar a universidade não foi apenas uma decisão prática, mas um ato de afirmação de sua autonomia e confiança em sua visão.
Desde cedo, Bartlett trabalhou com seus pais para garantir a sobrevivência da família. Essa exposição ao trabalho árduo influenciou profundamente sua ética de trabalho. A ideia de que o esforço constante é a base do sucesso é corroborada por Malcolm Gladwell no livro Outliers (Fora de Série, na tradução brasileira) , onde ele apresenta o conceito das 10.000 horas de prática deliberada como requisito para o domínio de qualquer habilidade. Ninguém se torna virtuoso sem esforço contínuo, metodologia clara e objetivos definidos.
No entanto, Bartlett não romantiza o trabalho árduo. Ele reconhece que o sacrifício de seus pais, embora admirável, muitas vezes veio às custas de tempo em família e bem-estar emocional. Esse equilíbrio delicado entre trabalho e vida pessoal é um tema explorado por Clayton Christensen em Como Medir Sua Vida . Christensen argumenta que o verdadeiro sucesso não é medido apenas pelo progresso profissional, mas também pela qualidade dos relacionamentos e do propósito pessoal; um entendimento que Bartlett começou a desenvolver já em sua juventude.
Bartlett reflete sobre sua identidade como uma pessoa negra em um ambiente predominantemente branco e como isso influenciou sua percepção de si mesmo e de suas aspirações. Ele menciona que durante grande parte de sua infância, sentiu que precisava se provar mais do que os outros. Essa luta por validação externa é algo que Brené Brown discute no livro A Coragem de Ser Imperfeito, ao enfatizar como a vulnerabilidade e as deficiências são essenciais para superar o medo de não ser suficiente.
Por outro lado, essa busca por autoafirmação também pode ser vista sob a lente da filosofia de Friedrich Nietzsche, que apresenta o conceito do Übermensch (o “super-homem”) como alguém que transcende as limitações impostas pela sociedade e cria seus próprios valores. Bartlett, ao internalizar tais conceitos oriundos de suas lutas e dificuldades na infância, transformo-os em motivação para se tornar o arquiteto de seu próprio destino.
Sobre isso, Bartlett considera a importância do ambiente na construção daquilo que ele chama de determinação e foco para superar a deficiência financeira e a desigualdade social presentes nas circunstâncias de vida de sua infância. “O ambiente levou-me a ser criativo, disruptivo e proativo desde cedo”. Isso está alinhado com as ideias de Carol Dweck em Mindset: A Nova Psicologia do Sucesso, onde descreve como um ambiente que valoriza o crescimento pode estimular a mentalidade de aprendizado contínuo, enquanto ambientes limitadores podem sufocar grandes potenciais.
No entanto, ele também admite que nem todos conseguem superar as limitações dos seus ambientes. Mas há um contraponto esperançoso: enquanto o ambiente inicial pode influenciar, a força de vontade e a mentalidade aberta são as chaves para transcender essas barreiras.
Steven Bartlett usa sua infância e juventude como uma moldura para explorar temas universais de resiliência, autodeterminação e propósito. Ele não apenas narra sua história, mas oferece várias outras lições valiosas extraídas de sua experiência; e nisso, ele entende que aprender com os argumentos de outros compensadores, como Frankl, Duckworth, Thiel e Nietzsche, reforça a ideia de que as adversidades não precisam ser vistas como limites, mas como oportunidades de crescimento.
Essa primeira parte de O Diário de um CEO não é apenas uma introdução biográfica, mas também uma lição sobre como o início da vida pode plantar as sementes do sucesso (ou do fracasso), desde que sejam regadas com coragem, reflexão e trabalho contínuo. Bartlett nos mostra que, independentemente das situações, é possível assumir o controle da narrativa e construir um futuro que reflita valores e sonhos.
Segunda Parte 2: A Jornada Empresarial
O livro narra a criação e o crescimento meteórico da Social Chain, uma das maiores agências de mídia social do mundo. Bartlett compartilha detalhes sobre como começou o negócio com poucos recursos, mas com uma visão clara de como as redes sociais transformaram o marketing. Ele descreve os altos e baixos da construção de uma startup, desde momentos de euforia com o sucesso até episódios de combustão e dúvidas. Aqui, Bartlett fornece conselhos valiosos para aspirantes a empreendedores, como: a importância de entender profundamente o público-alvo; o papel do risco calculado e da ousadia na criação de algo inovador, a necessidade de construir equipes resilientes e motivadas e o desafio de desenvolver competências relacionais.
Na segunda parte de O Diário de um CEO, Steven Bartlett narra a criação e o crescimento da Social Chain, destacando como os desafios e conquistas ao longo de sua trajetória profissional requereram o desenvolvimento das competências fundamentais de um CEO. A jornada de um líder não é apenas sobre a construção de uma empresa ou organização; ela envolve uma transformação pessoal e profissional, na qual as habilidades técnicas, emocionais e estratégicas são continuamente lapidadas. Esse processo é amplamente corroborado por teorias de gestão e insights de líderes empresariais renomados.
Bartlett iniciou a Social Chain com recursos limitados, o que o forçou a enfrentar desafios significativos desde o início. Essas dificuldades moldaram sua resiliência, uma habilidade essencial para CEOs. Segundo o psicólogo Daniel Goleman, autor de Inteligência Emocional, a resiliência é uma das principais competências da liderança emocional, pois permite que o líder se mantenha calmo e objetivo em situações de alta pressão.
Além disso, a construção de competências para a resolução de problemas complexos foi consistentemente recorrente na trajetória de Bartlett. Os CEOs frequentemente lidam com cenários incertos e decisões multifacetadas, como alocação de recursos, estratégia de crescimento e gestão de crises. Ao enfrentar essas situações, Bartlett desenvolveu uma reflexão analítica e adaptável, características que o filósofo Nassim Nicholas Taleb destaca no livro Antifrágil. Taleb argumenta que os líderes que aprendem com adversidades não apenas sobrevivem, mas crescem em contextos imprevisíveis.
Um ponto crucial na jornada empresarial de Bartlett foi a criação de uma equipe resiliente e engajada. Ele percebeu que o sucesso da Social Chain dependia de sua capacidade de atrair, desenvolver, manter e liderar talentos. Esse aspecto destaca o papel das habilidades interpessoais no crescimento de um CEO, fundamenta nas competências da Inteligência Relacional.
Jack Welch, ex-CEO da General Electric, em seu livro Winning, afirma que os melhores líderes são aqueles que sabem como inspirar suas equipes, cultivando um ambiente de confiança e colaboração. Bartlett aprendeu que a empatia e a comunicação aberta não são apenas “atributos desejáveis”, mas requisitos para criar um espaço onde as pessoas se sintam valorizadas e motivadas. Ele internalizou a ideia de que um CEO deve ser um “líder servidor”, conceito popularizado por Robert Greenleaf. Isso significa que o papel do líder é capacitar sua equipe, removendo barreiras para que os colaboradores possam alcançar o desempenho máximo.
Bartlett transformou a Social Chain em uma das maiores agências de mídia social porque teve uma visão antecipada de tendências emergentes. Ele compreendeu, desde o início, o impacto crescente das redes sociais na forma como as marcas se conectam com os consumidores. Essa capacidade de olhar para o futuro é uma das competências mais críticas de um CEO, como enfatizado por Jim Collins em Empresas Feitas para Vencer . XXX
Collins argumenta que os CEOs visionários não apenas respondem às mudanças do mercado, mas como as antecipam, moldando o futuro do setor em que atuam. Bartlett desenvolveu essa visão estratégica ao monitorar constantemente o mercado, testando hipóteses e assumindo riscos calculados, algo que os CEOs fazem regularmente para manter suas organizações competitivas.
O crescimento de uma startup como a Social Chain envolve momentos de incerteza e riscos consideráveis. Bartlett destaca como a tomada de decisões em ambientes incertos foi um terreno útil para o aprendizado. Os CEOs precisam equilibrar riscos com oportunidades, muitas vezes tomando decisões com informações incompletas. “Não vivemos em mundos perfeitos; vivemos em mundos possíveis, como afirma Reis em “Gente Inteligente Se Olha no Espelho.”
John Kotter, especialista em liderança e autor de Acelerando a Mudança , afirma que líderes eficazes prosperam em ambientes ruidosos porque desenvolvem agilidade mental e aprendem a identificar padrões em meio ao caos. Bartlett internalizou isso às suas estratégias para gerenciamento de situações complexas, promovendo mudanças rápidas no mercado de tecnologia, promovendo o engajamento de pessoas e times com alto desempenho, e mantendo pressão por resultados.
Ao longo de sua jornada, Bartlett reforça a importância de estar em aprendizado constante. Ele menciona que as rápidas transformações no setor digital são projetadas para que se adquira novas habilidades e conhecimentos continuamente. CEOs que adotam o conceito de aprendizagem ao longo da vida demonstram maior capacidade de inovação e adaptabilidade.
Peter Senge, em A Quinta Disciplina, destaca que organizações que aprendem, lideradas por CEOs comprometidos com o aprendizado, têm uma vantagem competitiva significativa. Bartlett exemplifica isso ao demonstrar como um CEO deve ser um modelo de curiosidade, engajando-se em novas ideias e experiências que impulsionam o crescimento pessoal e organizacional.
A jornada empresarial de Bartlett também lhe ensinou a importância da inteligência relacional e emocional. Ele fala abertamente sobre os impactos do estresse e da exaustão para equilibrar as demandas de um negócio em crescimento. Daniel Goleman identifica isso com a autoconsciência e a autorregulação como pilares da inteligência emocional, ambos essenciais para CEOs que precisam gerenciar suas emoções enquanto lideram equipes sob pressão. Além disso, também há que se destacar que nenhuma competência se sustenta se não tiver por objeto sua aplicação na qualificação dos relacionamentos humanos, como demonstra Reis em Gente Inteligente Sabe Se Relacionar.
Bartlett começou a valorizar o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, reconhecendo que o sucesso empresarial não deveria custar seu bem-estar. Esse entendimento se alinha com as ideias de Arianna Huffington em Thrive , que defende uma conceituação mais ampla de sucesso, incorporando saúde, sabedoria e propósito.
A jornada empresarial de Steven Bartlett é um roteiro para o desenvolvimento de competências cruciais para sua atuação como CEO. Ele não apenas construiu uma empresa de sucesso, mas também se transformou em um líder mais resiliente, empático, visionário e adaptável.
A experiência prática de liderar a Social Chain trouxe a Bartlett lições que nenhuma sala de aula poderia ensinar. Como outros pensadores e líderes destacam, a jornada profissional é uma das maiores escolas de liderança. Os CEOs aprendem a navegar pela complexidade, a inspirar pessoas e a transformar desafios em oportunidades, habilidades que só podem ser refinadas na prática. A trajetória de Bartlett é uma prova de que a jornada é tão importante quanto o destino, pois é nela que os líderes se formam.
Terceira Parte 3: Liderança e Autoconhecimento
Um dos temas centrais do livro é sobre liderança, mas Bartlett aborda o tema de uma perspectiva muito pessoal. Ele admite suas falhas, como nos períodos em que foi um líder ineficaz devido à falta de empatia ou comunicação. No entanto, essas experiências o ensinaram que um bom líder não é apenas alguém que guia os outros, mas também alguém que se entende profundamente.
Ele discute a importância da vulnerabilidade na liderança, explicando que os líderes que são autênticos e transparentes criam conexões mais profundas com suas equipes. Bartlett também fala sobre o equilíbrio entre ser ambicioso e cuidar da saúde mental, destacando que o sucesso não pode ser alcançado à custa do bem-estar.
Essa visão se alinha aos conceitos desenvolvidos por pensadores da filosofia, psicologia e administração. Desde Sócrates, que defende o princípio do conhece-te a ti mesmo, até Daniel Goleman com a Inteligência Emocional e minhas contribuições (Reis) sobre a Inteligência Relacional, temos boas referências para a jornada de formação de um líder e/ou CEO. Nesse sentido, muito se pode aprender sobre ser líder e, O Diário de um CEO nos apresenta algumas reflexões substantivas sobre o tema.
Um dos conceitos mais influentes na conexão entre liderança e autoconhecimento é o de inteligência relacional. Bartlett, em sua trajetória, viu que muitas de suas perdas como líder vieram da falta de consciência sobre suas próprias limitações e inseguranças. Inicialmente, ele acreditava que um CEO deveria ter todas as respostas e demonstrar força o tempo todo. Com o tempo, aprendeu que assumir vulnerabilidades e considerar suas fraquezas o tornava um líder mais humano, mais acessível e mais efetivo. Com o tempo ele entendeu que não se faz nada sozinho e tudo o que se faz pressupõe relacionamentos com “diferentes”. Essa ideia é reforçada por Brené Brown, em A Coragem de Ser Imperfeito, ao afirmar que a liderança pressupõe a construção de redes relacionais em profunda interação de competências recíprocas e oportunidades de crescimento.
Um dos maiores desafios que Bartlett enfrentou em sua jornada como líder foi aprender a lidar com o próprio ego. Ele percebeu que, muitas vezes, suas decisões eram motivadas pela necessidade de validação externa, ou que priorizavam o sucesso pessoal em detrimento do grupo e do “projeto” como um todos. Essa reflexão encontra eco na filosofia estoica, especialmente nos ensinamentos de Sêneca e Marco Aurélio no livro Meditações.
Nos dias atuais, esse conceito foi amplamente discutido por Ryan Holiday em O Ego é o Inimigo. Superar a armadilha do egoísmo exacerbado significa aprender a escutar mais, delegar responsabilidades e aceitar críticas. Um líder eficaz não precisa ser uma pessoa mais inteligente do grupo, mas sim aquela que sabe reunir talentos em torno de um propósito maior.
Bartlett enfatiza que proteger o grupo é uma das qualidades mais poderosas de um líder. Em um mundo empresarial repleto de discursos ensaiados e posturas artificiais, ele percebe que os colaboradores e clientes valorizam a honestidade e a transparência. Esse conceito se alinha ao conceito de liderança autêntica que busca criar uma cultura empresarial onde a vulnerabilidade e a transparência são incentivadas. Em sua gestão, ele introduz práticas como feedbacks abertos, reuniões honestas sobre desafios da empresa e o compartilhamento de suas próprias dificuldades por meio de metodologias ágeis, que a Inteligência Relacional chama de “roda de conversas”, conversas circulares ou “conversas nutritivas”.
A psicologia organizacional reforça essa visão. Amy Edmondson, professora de Harvard, desenvolveu o conceito de segurança psicológica, onde defende que uma das maiores competências de um líder é ser capaz de fazer com que seus liderados sintam-se seguros diante dos desafios corporativos.
Outro aprendizado fundamental dessa mesma corrente é encontrar um equilíbrio possível entre habilidades e bem-estar. Durante anos, Bartlett se dedicou intensamente ao crescimento da Social Chain, sacrificando sua saúde e seus relacionamentos. No entanto, sua aprendizagem sobre isso reforça a ideia de que o verdadeiro sucesso não pode ser construído à custa do esgotamento e das demais doenças corporativas como burnout, depressão e ansiedade.
Essa lição dialoga com a visão de Arianna Huffington em Thrive , que nos desafia a aprender a equilibrar trabalho e vida pessoal. Essa é a grande contribuição que os processos de mentoria estão trazendo para as organizações e que foi um dos maiores desafios na jornada de Bartlett. Ele percebeu que os CEOs não devem apenas buscar apenas o crescimento financeiro de suas operações , mas também criar um impacto positivo na vida das pessoas ao seu redor. Entendimento que o levou a compensar sua abordagem de liderança, adotando práticas como mindfulness, pausas estratégicas e maior atenção ao bem-estar do seu time.
Bartlett entende e promove a ideia de que um CEO eficaz não é aquele que centraliza o poder, mas sim aquele que fortalece sua equipe, dando-lhe autonomia. Essa visão se aproxima do conceito de Liderança Servidora, proposta por Robert K. Greenleaf em “The Servant as Leader”, um ensaio publicado pela primeira vez em 1970.
Bartlett aplicou essa filosofia na Social Chain para criar uma cultura onde os colaboradores tivessem autonomia para inovar e tomar decisões. Ele entendeu que um CEO não precisa ser um ditador de regras, mas sim um facilitador de crescimento e de processos. Essa abordagem não apenas fortalece o engajamento da equipe, mas também cria um ambiente de alto desempenho e inovação.
A jornada de Steven Bartlett mostra que uma liderança eficaz não nasce apenas de habilidades técnicas ou conhecimento de mercado, mas sim de um profundo entendimento de si mesmo e das relações que constrói e mantem. CEOs que desenvolvem autoconsciência são capazes de tomar decisões mais equilibradas, comunicar-se de forma autêntica e criar culturas organizacionais mais saudáveis.
Por fim, a filosofia socrática, a inteligência emocional, a visão sobre o ego, os benefícios da ênfase no bem-estar e a Inteligência Relacional, convergem para fortalecer a tese de Bartlett: o sucesso de um líder começa no autoconhecimento em um mundo onde a pressão por resultados pode obscurecer a humanidade do gestor. A mensagem de Bartlett é clara: um CEO eficaz é aquele que primeiro aprende a conviver, depois aprende a ser, em seguida aprende a fazer, para enfim aprender a aprender.
Quarta Parte 4: Lições de Vida
Ao longo do livro, Bartlett compartilha reflexões práticas sobre como construir uma carreira e uma vida significativa. Algumas das principais lições incluem a
autenticidade como o ativo mais valioso, a integridade como expressão de identidade, a dignidade como forma de promover o humano e o respeito incondicional como garantia de um humanismo saudável. “Seja fiel a si mesmo e ao que você acredita, mesmo que isso signifique seguir um caminho não convencional”, reitera Bartlett.
Embora Bartlett tenha feito muito sucesso profissional, ele conclui o livro discutindo como o verdadeiro significado da vida vai além do trabalho e das realizações de materiais. Ele aborda a importância dos relacionamentos, do propósito e do impacto que deixamos no mundo. O autor incentiva os leitores a se concentrarem no legado que desejam construir e na felicidade genuína.
“O Diário de um CEO” é mais do que uma biografia ou um manual de negócios. É um convite para reflexão sobre como vivemos, vencemos e lideramos. Steven Bartlett combina vulnerabilidade, insights práticos e histórias de sobrevivência para criar um livro que ressoa tanto em aspirantes a empreendedores quanto em qualquer pessoa buscando uma vida mais plena e significativa. Mas, acima de tudo é um livro que promove a reflexão madura e desafiadora de quem quer assumir posições de liderança mais estratégicas.
Steve Bartlett aprendeu e compartilha que a vida profissional de empreendedores, executivos, empresários, gestores e candidatos a essas posições, não se caracteriza por uma jornada racional-linear. Muito pelo contrário. A incerteza é algo presente e que não deve a ser temida, mas sim compreendida e gerenciada. Esse pensamento se alinha a diversas abordagens da filosofia, psicologia e administração, que oferecem insights sobre como enfrentar o imprevisível e construir uma carreira sólida. Bartlett faz esse alerta para deixar claro que seu “livro” não é um oráculo, nem um manual; é apenas um relato que pretende ser inspirador e gerador de insights que promovam a construção de organizações mais humanas, gestores e líderes mais capazes de “servir” e colaboradores mais comprometidos e engajados em projetos com propósitos altruístas.
Para mim foi um prazer ler O Diário de um CEO. Recomendo fortemente a leitura, reflexão e o compartilhamento dessa obra, por tudo que ela tem de desafiador na construção de organizações, gestores e líderes que, de fato, representem a restauração do que seja “essencialmente humano” em nossas atividades profissionais.
Reflitam em paz!
Homero Reis
Consultor
[1]Proibida a reprodução do todo ou de partes desse texto, por qualquer meio, sem a autorização prévia e formal do autor. Homero Reis, homero@homeroreis.com. Brasília, fevereiro/25.