Resposta a Pedro Cardoso
Do Isolamento à Conexão: Inteligência Relacional e o Futuro do Trabalho Remoto
Resposta a Pedro Cardoso
Do Isolamento à Conexão: Inteligência Relacional e o Futuro do Trabalho Remoto
Resposta a Pedro Cardoso
Do Isolamento à Conexão: Inteligência Relacional e o Futuro do Trabalho Remoto
Resposta a Pedro Cardoso
Do Isolamento à Conexão: Inteligência Relacional e o Futuro do Trabalho Remoto
Resposta a Pedro Cardoso
Do Isolamento à Conexão: Inteligência Relacional e o Futuro do Trabalho Remoto
A Jornada da Rejeição
Resposta a Pedro Cardoso
Do Isolamento à Conexão: Inteligência Relacional e o Futuro do Trabalho Remoto
Resposta a Pedro Cardoso
Do Isolamento à Conexão: Inteligência Relacional e o Futuro do Trabalho Remoto
Resposta a Pedro Cardoso
Do Isolamento à Conexão: Inteligência Relacional e o Futuro do Trabalho Remoto
Resposta a Pedro Cardoso
Do Isolamento à Conexão: Inteligência Relacional e o Futuro do Trabalho Remoto
A Jornada da Rejeição
Recentemente escutei um podcast em que Pedro Cardoso, (1962/… ), ator, redator, roteirista, autor, escritor e humorista brasileiro, expressou-se sobre algumas questões acerca do modo como os cristãos pensam a vida de Jesus. Provocativamente o ator pergunta sobre “do que Jesus salva a humanidade?”, afirmando que nunca lhe responderam tal questão. Pois bem, vamos a ela.
A salvação de si mesmo: a vida de Jesus como exemplo de humanidade plena
A humanidade, desde os primórdios, carrega consigo um paradoxo: ao mesmo tempo em que constrói civilizações grandiosas, também perpetua destruições, guerras e desigualdades. Ao tempo em que cultua o valor humanístico, exclui, segrega, discrimina. Ao tempo em que fala de fraternidade e paz, é incapaz de exercer tais conceitos. Na reflexão proposta por Pedro Cardoso, ao questionar “do que Jesus salva a humanidade?”, uma resposta emerge clara: Jesus salva a humanidade de si mesma.
Ele não traz uma salvação mística ou distante, mas um chamado para que o ser humano se reencontre sua própria humanidade, resgate a dignidade do outro e busque, na convivência amorosa, um mundo melhor. Sua vida é o mapa para a salvação. Sua vida é um convite a um projeto humano que transcende o egoísmo e a destruição.
Salvar-nos de nós mesmos é, antes de tudo, um ato de coragem. Significa encarar nossa arrogância, nossa busca desenfreada pelo poder, nossa incapacidade de perceber a beleza que reside nas diferenças e na pluralidade. Salvar-nos é romper com o ciclo vicioso da ganância, das guerras ideológicas, das desigualdades sociais e das violências cotidianas que praticamos, muitas vezes, de forma inconsciente. Jesus traz essa provocação. Sua vida não é uma doutrina fria ou uma ideologia vazia, mas um testemunho vivo de como o amor, a compaixão e a justiça podem transformar a humanidade.
Um reino que é contra a lógica do poder
Jesus era esperado como um rei. Há uma esperança humana quase incontrolável por um líder que destrua os opressores e instaure uma nova ordem. No entanto, ao contrário da expectativa de seu tempo, Jesus não busca substituir reis ou instituir um reino político. Seu reino é outro: é o reino em que a justiça se sobrepõe à lei, em que o amor integra e não exclui, em que o perdão tem mais valor que a vingança.
Esse reino é uma revolução silenciosa, subversiva, contra cultural. Ele contraria a lógica do poder que domina o mundo: enquanto o mundo busca a supremacia, Jesus ensina o serviço; enquanto o mundo exalta a força, Jesus celebra a mansidão; enquanto o mundo oprime os fracos, Jesus acolhe os vulneráveis. Quando lhe foi oferecida a oportunidade de falar em Atenas – o centro intelectual do mundo antigo – Jesus optou pelo Calvário, rejeitando o brilho do debate estéril que apenas explica, mas não transforma, optando pela demonstração clara da “vida a serviço da vida”.
A vida de Jesus: um exemplo de plenitude
Pedro Cardoso chama a atenção para um ponto crucial: muitos cristãos valorizam exageradamente a morte de Jesus, deixando de lado o significado de sua vida. O que Cardoso parece não perceber é que aqueles que assim o fazem, não entenderam o propósito da missão dele. De fato, é na vida de Jesus que encontramos o verdadeiro chamado à humanidade plena. Sua vida é uma declaração contínua do valor da existência humana, uma celebração da vida em si.
Jesus viveu para que outros pudessem viver. Ele celebrou a vida quando transformou água em vinho no casamento em Caná, ensinando que a alegria tem lugar especial na existência humana. Ele celebrou a vida quando trouxe luz aos olhos dos cegos, caminhou com os excluídos e resgatou a dignidade dos impuros e esquecidos. Ele celebrou a vida quando restaurou o caminhar do coxo, quando trouxe de volta a saúde da mulher com hemorragia, quando livrou a “pecadora” do apedrejamento, quando reconciliou aquele que o traiu três vezes.
Sua vida desafiou sistemas religiosos, políticos e sociais que oprimiam os mais fracos. Ele enfrentou a arrogância dos poderosos, não com espada ou violência, mas com palavras e gestos de justiça e acolhimento. Sua vida não se resumiu a milagres, mas ao exemplo de humanidade. Jesus reuniu inimigos em uma mesma mesa, reconciliou famílias divididas, devolveu a esperança aos que haviam desistido de viver.
O propósito de sua morte: uma declaração de vida
Por que então a morte de Jesus é tão celebrada? Porque sua morte é uma extensão de sua vida. Sua morte é a prova de que o amor verdadeiro não se dobra às forças da opressão. É um tributo à verdade e à vida que ele tanto defendeu. Na cruz, Jesus declarou que a vida é mais importante do que a própria existência. Sua entrega é um ato de resistência contra tudo o que desumaniza e diminui a dignidade humana.
Aqueles que valorizam apenas a morte de Jesus e esquecem sua vida, não compreenderam o significado de sua missão. Sua morte é a culminação de uma vida vivida com propósito, entrega e amor incondicional. Sua ressurreição, por sua vez, é a porta para a eternidade, a prova de que a vida é um ciclo que nunca termina.
O chamado: transcender a nós mesmos
Jesus nos convida a transcender. Transcender a lógica do egoísmo, do poder e da destruição. Transcender nossa visão limitada sobre o outro e sobre o mundo. Ele nos lembra que não somos tão importantes assim. Nossa arrogância nos leva a achar que o mundo é nosso. Ledo engano. Fazemos parte do mundo, com a responsabilidade de cuidar dele, conservando-o em sua generosa e abundante riqueza, com a sabedoria que emana da sustentabilidade.
Por isso, Jesus nos desafia a “olhar os lírios do campo”, a acolher o próximo como o “samaritano” o fez, a receber de volta o “filho pródigo”, a repartir o pão, a “dar também a túnica”, e a “andá a segunda milha”.
Jesus nos salva de nós mesmos ao nos mostrar que há um caminho melhor: o caminho do amor, da compaixão e da justiça. Ele nos convida a viver uma vida que faz sentido, uma vida que celebra a existência do outro e que busca transformar o mundo em um lugar mais justo e mais humano.
Ao olharmos para a vida de Jesus, encontramos uma resposta clara para a pergunta de Pedro Cardoso: Jesus salva a humanidade dela mesma, oferecendo um exemplo vivo de como devemos viver. Sua vida é um convite permanente a sermos melhores, a reconstruirmos o que está quebrado e a reencontrarmos nossa própria humanidade.
Reflitam em paz!
POR HOMERO REIS©
PROIBIDA A REPRODUÇÃO DO TODO OU DE PARTES DESSE TEXTO, POR QUALQUER MEIO, SEM A AUTORIZAÇÃO PRÉVIA E FORMAL DO AUTOR. HOMERO REIS, HOMERO@HOMEROREIS.COM. BRASÍLIA, DEZEMBRO/2024
by HOMERO REIS ©[1]
“Inteligência” é a capacidade de se “ler dentro de alguma coisa”. Ler dentro dos relacionamentos é o conceito básico de inteligência relacional. Nesse texto quero aplicar esse conceito no entendimento do que está acontecendo no mundo do trabalho, considerando o resultado de uma pandemia recente, a instalação durante ela do “home office” e as consequências de tudo isso para os relacionamentos entre as pessoas e para as organizações.
Nos últimos tempos o trabalho remoto ganhou muita força, principalmente considerando as experiências das organizações durante e depois da pandemia de COVID-19. No começo, parecia uma solução perfeita: sem trânsito, horários mais flexíveis, trabalhar em casa com mais autonomia, foco nos resultados e não na burocracia da legislação trabalhista, insumos da tecnologia, etc.
Mas, com o tempo, as consequências do trabalho remoto começaram a aparecer, notadamente em decorrência de temas sobre os quais tínhamos muita teoria, mas pouco experimento com tal nível de globalidade. Impactos na vida privada decorrentes do fato de que somos seres relacionais, nos fizeram perceber que existe uma demanda “quase que inconsciente” de contatos entre “diferentes” como uma forma de manter minimamente a saúde das relações entre pessoas e o senso comum de “humanidade”.
De fato, o trabalho por sua natureza coletiva, também tem um certo nível saudável de demandas de dependência uns dos outros, o que é vital para a produtividade e saúde humanas. Afinal, somos seres que atuam em redes relacionais.
Uma das grandes questões do trabalho remoto, percebida como experiência real, foi a falta de contato entre as pessoas. No escritório, a gente acaba trocando ideias, desabafando sobre o dia a dia e criando laços com os colegas, explorando outros temas que “não fazem parte do trabalho”, mas que fazem parte da vida e do que chamamos de humanidade. Já em casa, essa interação fica limitada e o resultado é que muitos se sentem sozinhos e desconfortáveis, mesmo cercados dos que se constituem como núcleo familiar seja ele de que natureza for.
Esse isolamento causou vários problemas e suas consequências apareceram nas estatísticas de saúde e produtividade em todos os institutos de pesquisa. A revista FORBES, a mais conceituada publicação sobre o mundo dos negócios, em recente artigo (setembro/24), mostrou como cresceu, nos últimos 36 meses, a tristeza, a depressão, o bournout, principalmente dentro dos espaços corporativos. A conclusão é de que o isolamento e o trabalho remoto tem muito a nos dizer sobre as origens dessas patologias emocionais.
Muitas vezes, a gente nem percebe o quanto essas pequenas interações cotidianas fazem diferença no nosso bem-estar. No início do trabalho remoto, a produtividade pareceu aumentar dada a liberdade que se tinha de se “trabalhar do jeito que a gente quiser e quando quiser”. A ideia era de que “o importante é a entrega e o acordo sobre expectativas”.
Mas, no andar da carruagem a gente acabou percebendo que a redução da interatividade interpessoal em seu aspecto físico-presencial, afetou a saúde e, como consequência, os resultados. Ou seja, aquilo que melhoramos em termos de desempenho, foi consumido pelo aumento das doenças ocupacionais. Daquelas que conhecíamos e das tantas outros que estamos a descobrir depois.
As reuniões online que, apesar de funcionais, são mais objetivas e diretas, deixam pouco espaço para conversas informais e troca de ideias espontâneas. Aqueles momentos de “brainstorm” ou uma conversas no corredor que geram insights, se perderam e aquilo que parecia ser muito bom, não foi tão bom assim.
Esse cenário tem um impacto forte não só na saúde mental, mas também nos índices dos resultados. O isolamento pode fazer com que as pessoas se sintam mais tristes, e, com o tempo, isso evolui para algo mais sério, como a depressão e outras “dificuldades”.
A falta de separação entre a vida pessoal e o trabalho também aumentou e o risco de esgotamento deixou de ser risco para ser uma realidade. Quando o escritório está em casa, muita gente acaba se sentindo “presa” no trabalho o tempo todo e o espaço sagrado da intimidade foi devastado pelo whatsapp a qualquer hora do dia ou da noite. É difícil desligar. Mas também é difícil desligar o chefe com síndrome do trabalho compulsivo.
A pessoa trabalha mais horas do que deveria, além de ficar com um sentimento de culpa latente, associado a um cansaço físico e mental não percebido.
Diante desse cenário, muitas empresas estão tentando encontrar um equilíbrio entre as vantagens do trabalho remoto e do trabalho presencial. O chamado modelo híbrido que combina o melhor do trabalho remoto e do presencial, permite que os colaboradores tenham liberdade para escolher onde e quando trabalhar, de acordo com suas necessidades e conforme os acordos feitos com as equipes e com a empresa.
Esse modelo tem ganhado popularidade à medida que as organizações registram que nem todos os funcionários se adaptam bem ao home office integral, mas, ao mesmo tempo, querem preservar as vantagens da flexibilidade, equilibrando suas responsabilidades profissionais e pessoais de maneira mais eficaz.
Foi isso que um cliente meu expressou depois de um programa de inteligência relacional. “Eles (colaboradores e gestores), podem trabalhar em casa em dias em que precisam estar perto da família ou quando têm compromissos pessoais, mas também podem ir ao escritório em momentos em que precisam de um ambiente mais colaborativo com reuniões presenciais. Estou satisfeito com os resultados.”
A promoção de momentos presenciais periódicos para fortalecer os laços da equipe são fundamentais, mas o que muda no novo cenário do trabalho híbrido é que a escolha desses momentos não é mais uma imposição gerencial; antes, passa a ser um acordo entre pessoas maduras que entendem suas responsabilidades e compromissos.
Esses encontros são usados para atividades estratégicas, como sessões de planejamento, brainstorming ou treinamentos, mas também para momentos de socialização, como confraternizações, que ajudam a construir relacionamentos mais fortes entre todos, deixando a opção do trabalho remoto para as atividades operacionais e de caráter personalíssimo.
No fim das contas, o trabalho remoto tem suas vantagens, mas também traz muitos desafios que precisam ser enfrentados. A falta de contato e o isolamento são questões sérias, e é fundamental que as empresas estejam atentas a isso.
Então, o futuro do trabalho parece caminhar-se para um modelo mais flexível, onde cada vez mais será possível aproveitar o melhor dos dois mundos: a liberdade do home office e a interação do trabalho presencial, considerando que essa combinação promove tanto a produtividade quanto o bem-estar de todos. Afinal, o que todo mundo quer é encontrar o equilíbrio perfeito entre a vida pessoal e o trabalho, sem abrir a mão da saúde e da qualidade de vida relacional.
Na Homero Reis – Relações Inteligentes (www.homeroreis.com), estamos ajudando as organizações a encontrarem esse caminho mais adequado para uma nova “cultura” do trabalho. Nosso desafio junto aos nossos clientes tem sido o de promover espaços de responsabilidade e protagonismo, a partir da flexibilidade cognitiva, que nos permite construir juntos novos paradigmas para as relações de trabalho e produção.
A partir da inteligência relacional, buscamos encontrar soluções que atendam à necessidade das organizações de melhorarem seus resultados, mas também das pessoas de melhorarem sua qualidade de vida em todos os domínios do viver. Isso porque entendemos que “existe vida para além do trabalho”, mas é no trabalho que se constrói uma parte significativa de nossa identidade social e de nosso propósito existencial.
Resolvemos isso com muitas estratégias que promovem uma combinação possível (não perfeita), entre trabalho remoto e presencial, integrando as pessoas em uma cultura acolhedora, participativa e geradora do senso de pertencimento. Essas estratégias tem minorado significativamente a saúde de todos, fortalecido o senso de cooperação e colaboração, reduzindo custos e aumentado a interatividade de todos.
Os temas mais comuns que aparecem nesses projetos híbridos e que tem sido objeto de nossa oferta ao mercado, são:
- Gestão e monitoramento de equipes, onde usamos ferramentas de gestão de projetos e metodologias ágeis onde todos, colaboradores, gestores e líderes, desenvolvem novas competências conversacionais, garantindo que suas equipes se sintam reforçadas e orientadas tanto no ambiente presencial como no modelo remoto;
- Inovação e criatividade, onde usamos as técnicas construtivistas de “atividades cooperativas” e oficinas de relacionamentos;
- Segurança e privacidade, onde usamos modelos de protocolos de relacionamentos para estabelecer processos e limites relacionais voltados para preservação dos espaços individuais e controle dos espaços coletivos, bem como proteger redes, dispositivos, aplicativos, sistemas e dados de ameaças cibernéticas;
- Ergonomia e saúde física no trabalho remoto, onde usamos a prescrição de “dietas” de trabalho, laser, saúde e atividades físicas como processos educacionais na construção de hábitos saudáveis em todos os domínios da vida;
- e, questões ligadas à diversidade, inclusão e gênero, onde promovemos a reflexão, o debate e a construção de códigos de conduta e ética na vida, bem como a busca inteligente de um equilíbrio entre vida pessoal e profissional de todos e para todos.
Fazemos isso a partir de dois grandes eixos andragógicos: mentorias e transferência de tecnologia. No primeiro, construímos junto com os clientes um processo educacional a partir das melhores práticas, de modo que cada um se torne um multiplicador da nova cultura do trabalho dentro da organização em que atua.
No segundo, promovemos a transferência de conteúdos para a organização, de modo que ela “ganhe tempo” na instalação de novos paradigmas nas relações de trabalho e produção, focando em resultados e qualidade de vida.
É assim que atuamos.
Seja bem-vindo à Homero Reis – Relações Inteligentes.
Venha conversar conosco.
Abraços.
Homero Reis
Sócio-fundador.
[1] © proibida a reprodução do todo ou de parte desse texto sem a prévia autorização do autor. Direitos reservados a REIS, Homero; Brasília/DF, setembro/2024. homero@homeroreis.com
Entenda, Lide e Supere
por Homero Reis©
A vida e os relacionamentos humanos são complexos e cheios de circunstâncias nem sempre agradáveis, claras e objetivas. Muito pelo contrário. Vivemos em redes relacionais em intensa interação onde as interferências recíprocas são muito mais amplas do que “supõem nossa vã filosofia”. Mas, considerando a história da humanidade, começamos a estudar há muito pouco tempo os impactos (causas e consequências) de nossas interferências recíprocas em nossa saúde pessoal, social e emocional.
É fato que o que nasce da barriga da mulher é a reprodução biológica da espécie; mas, o que nos torna seres humanos é nossa vida sócio-comunitária porque “ser humano é ser social”. É nesse sentido que somos a origem e o destino de nossas competências e fracassos. Com essa distinção básica, começou-se a estudar o que as interações sociais promovem em termos de identidade e de saúde tanto na sociedade como nos indivíduos. Desde então, muitas coisas foram sendo explicadas e entendidas, mas muitas questões novas estão surgindo desses estudos. Dentre elas, o que se tem até o momento como o mais complexo dos sentimentos, e como um dos aspectos mais difíceis de serem compreendidos e cuidados é a questão da rejeição. Nos sentimos rejeitados, aprendemos a viver com isso e rejeitamos os outros num ciclo vicioso contínuo. Mas, amos conversar sobre isso.
Conceituando melhor o termo: Rejeição é uma palavra que evoca uma gama de emoções e experiências complexas. Desde os primeiros dias de nossa existência até os estágios mais avançados da vida, todos nós nos encontramos em muitos momentos, confrontados por esse sentimento desconfortável. Mas o que exatamente é rejeição? Como ela afeta nossa mente, nossas emoções e nosso comportamento? O que filósofos, educadores e religiosos dizem sobre a rejeição? E, o mais importante, como lidar com ela e ser capaz de superar esse desafio emocional?
A rejeição é a sensação de ser excluído, abandonado ou não aceito. Ela pode ser experimentada em diversas formas e em diferentes contextos. Pode ocorrer de forma sutil, como um olhar de desaprovação, uma frase dita por alguém, ou de maneira mais direta e ostensiva, como ser demitido de um emprego, rejeitado em um pedido de amor. Rejeitar alguém significa resistir às suas diferenças, desqualificá-lo a partir de preconceitos, desprezar ou recusar algo ou alguém por qualquer que seja a razão. Estudos mostram que dentre todas as “tragédias humanas”, a rejeição é a que gera as feridas emocionais mais profundas e dolorosas. A dor que ela provoca é mais intensa que a dor da perda e da morte de alguém que amamos muito. O que é mais grave é que a rejeição se faz presente em todos os âmbitos da vida e não se conhece nenhuma mecânica social que não a tenha em seu escopo. Todos os indivíduos, povos, línguas, culturas e raças, ao longo de todo o tempo viveram (ou vivem) situações de rejeição. Isso ocorre desde as relações sociais nucleares, até as relações entre estados, povos e nações.
A rejeição ocorre quando um indivíduo é deliberadamente excluído de uma relação ou interação social por outro indivíduo ou por grupos inteiros, incluindo aí a rejeição de seus pares, a rejeição dos afetos, a étnica, cultural e a rejeição familiar, além das que decorrem de preconceitos de qualquer natureza.
Além disso, a rejeição pode ser ativa, quando promove a exposição do outro ridicularizando-o, desqualificando-o (bullying), ou; passiva, quando ignora o outro. Mas, em qualquer caso, a experiência de ser rejeitado ou de viver circunstâncias inevitáveis de rejeição, embora seja subjetiva, gera inúmeras consequências objetivas na vida. Seus efeitos mais comuns aparecem travestidos de isolamento social, sentimento de exclusão e cancelamento, quebra de vínculos afetivos, “síndrome do estrangeiro”, além de solidão, baixa autoestima, agressividade, depressão, insegurança, dificuldades afetivo-relacionais, dentre outras.
A rejeição é especialmente dolorosa porque a necessidade de interação com outros seres humanos é uma necessidade básica e essencial para a construção de nossa identidade. Segundo Maslow (falarei dele mais a frente), todos os seres humanos, mesmo aqueles mais introvertidos, precisam ser capazes de dar e receber afeto para serem psicologicamente saudáveis. O contato simples ou a interação social eventual com os outros não é suficiente para atender a essa necessidade. As pessoas necessitam formar e manter relacionamentos interpessoais significativos e estáveis para satisfazer necessidades de amar e ser amado, como de pertencimento social. Se algum desses ingredientes (pertencimento e amor), estiverem faltando, as pessoas começarão a sentir-se solitárias e infelizes. Por isso a rejeição é uma ameaça significativa. De fato, a maioria das ansiedades humanas parece decorrer de preocupações sobre a questão da rejeição.
O modo como o indivíduo espera ser reconhecido no meio em que vive é um componente-chave para a qualidade da autoimagem e do modo como ele atua me sociedade. Tanto é que um estudo da Duke University, conduzido por Mark Leary (2022), sugeriu que o objetivo principal da autoimagem é monitorar nossas relações sociais e detectar a possibilidades de rejeição. Nesse estudo, a autoimagem aparece como uma medida da nossa capacidade de tolerar a exclusão. Quando essa taxa é baixa, aparecem comportamentos antissociais (solidão, isolamento, agorafobia, etc); bem como comportamento agressivo, desatenção, impulsividade e altas taxas de ansiedade.
Depois que o indivíduo “admite” viver em estado de rejeição, ou sucumbe-se a esse estado, tende a julgar impossível livrar-se dele e sua vida, no sentido mais amplo, passa a ser determinada por desmotivações, vitimismo, resistência à mudança, comportamento excessivamente rotineiro. No estudo da Duke University, pesquisadores descobriram que, a rejeição quando internalizada como “conduta normal do mundo”, promove quebra de conexões sociais e um vazio existencial preenchido, muitas vezes, por sentimentos de preconceitos e tirania, dando lugar à angústia constante.
É importante considerar que o tema da rejeição é amplo e a maneira como ela pode se manifestar, em diferentes áreas da vida, é complexo e diverso em cada contexto. As principais formas de manifestação do “sentimento” de rejeição, começam com a exclusão passiva por um grupo social ou por alguém, e segue com rompimento amoroso ou preferência familiar, até rejeição profissional, como não ser selecionado para um emprego ou receber críticas negativas reiteradas vezes. Ela também pode ocorrer de maneira sutil, como não ser convidado para um evento, ou de forma mais direta, ser insultado ou menosprezado por outras pessoas.
A rejeição tem um impacto significativo no bem-estar mental e emocional, desencadeando uma série de emoções negativas, como tristeza, raiva, vergonha e ansiedade. Além disso, repetida ou prolongada contribui para o desenvolvimento de problemas de saúde mental, como transtornos obsessivo compulsivo, e as já citadas depressão, baixa autoestima e transtornos de ansiedade.
A rejeição cria um ciclo vicioso e negativo de vergonha crônica em que a pessoa começa a internalizar a mensagem de que não é digna de amor ou aceitação, se envergonha por isso e, por isso passa a acreditar que não é digna de amor e aceitação. Isso leva a um padrão de pensamento e comportamento que tende à autodestruição.
Do ponto de vista psíquico, a rejeição ativa áreas do cérebro associadas à dor física, sugerindo que ela pode ser percebida pelo nosso cérebro como uma forma de lesão emocional. Isso explica por que a rejeição pode ser tão dolorosa e difícil de superar. A psicologia oferece insights valiosos sobre como a rejeição funciona e como podemos lidar com ela. A Teoria da Autodeterminação, (p.ex.), afirma que todos nós temos uma necessidade inata de nos sentir conectados e aceitos pelos outros. Quando essa necessidade não é atendida, experimentamos a dor da rejeição. A resiliência como capacidade de suportar e se recuperar de adversidades e desafios, incluindo a rejeição, é outro indicador importante. A psicologia nos ensina que a resiliência não é algo inato, mas sim uma habilidade que pode ser desenvolvida através de práticas e estratégias específicas que nos fortalecem contra os “estragos” da rejeição.
Freud (Sigmund), ofereceu várias contribuições importantes para a compreensão da rejeição enquanto fenômeno psíquico. Embora ele não a tenha abordado diretamente em sua obra, muitos de seus conceitos e teorias são relevantes para a forma como entendemos esse fenômeno.
Na teoria do complexo de Édipo (p.ex.), usada para explicar o desenvolvimento da sexualidade infantil e a formação do superego, Freud defende que durante a fase fálica do desenvolvimento psicossexual, as crianças desenvolvem desejos inconscientes pelo genitor do sexo oposto e hostilidade em relação ao genitor do mesmo sexo. A resolução bem-sucedida desse complexo envolve a identificação com o genitor do mesmo sexo e a internalização dos valores e normas sociais, enquanto a rejeição desses desejos pode levar a conflitos psíquicos e distúrbios emocionais. A resolução do complexo de Édipo pressupõe a competência para se lidar com a rejeição.
Freud também descreveu uma série de mecanismos de defesa que o ego utiliza para lidar com conflitos e ansiedades. A negação (p.ex.), é um mecanismo de defesa pelo qual a pessoa recusa aceitar uma determinada realidade dolorosa ou perturbadora. Nesse caso, a rejeição é uma forma de negação, onde o indivíduo tenta negar ou minimizar o impacto emocional de uma experiência de exclusão ou não aceitação.
Na teoria sobre o narcisismo, Freud discute a questão do amor-próprio e da autoestima. Para ele o narcisismo saudável consiste em ser capaz de reconhecer sua beleza e de estimar-se por isso, sendo natural ao desenvolvimento humano uma “alta” autoestima. Mas, quando em excesso, o narcisismo leva à rigidez psíquica e à incapacidade de lidar com o fato de que os outros podem discordar de nós. Nesse caso, a rejeição pode ser particularmente desafiadora para os indivíduos com um alto grau de narcisismo, pois ameaça a imagem idealizada de si mesmos.
Embora Freud não tenha tratado explicitamente da rejeição como um fenômeno isolado, suas teorias sobre o desenvolvimento psicossexual, os mecanismos de defesa e o narcisismo oferecem insights importantes sobre como a rejeição pode ser entendida e abordada do ponto de vista psicanalítico. A partir desses conceitos, os psicanalistas contemporâneos continuam a explorar a dinâmica da rejeição e seu impacto na vida mental e emocional dos indivíduos.
Do ponto de vista filosófico, muito se fala sobre a rejeição. Vários filósofos ao longo da história exploraram o tema, oferecendo perspectivas valiosas sobre esse aspecto da experiência humana. Por exemplo, Søren Kierkegaard, o filósofo dinamarquês do século XIX, pai do existencialismo, abordou a rejeição em sua obra “O Conceito de Angústia”. Nela ele explora a ideia de que a rejeição é uma manifestação da angústia existencial, resultante da liberdade e da responsabilidade do indivíduo. Kierkegaard argumentava que a rejeição é uma parte inevitável da busca pela autenticidade e pelo significado na vida. A questão está em saber lidar com ela e não sucumbir-se a ela.
Já Friedrich Nietzsche discutiu a rejeição em relação ao conceito de ressentimento em sua obra “Genealogia da Moral”. Ele sugeria que a rejeição surge como uma reação à inferioridade percebida em relação a outra pessoa ou grupo. Nietzsche via a superação do ressentimento e da rejeição como uma parte essencial do projeto de “maturidade humana “e da afirmação da vontade de poder.
Sartre (Jean-Paul), o existencialista francês, explorou a rejeição em sua filosofia da liberdade e da responsabilidade individual. No livro “O Ser e o Nada”, argumenta que a rejeição é uma consequência inevitável da liberdade de escolha. Ele enfatizava a importância de assumir a responsabilidade por nossas próprias ações, mesmo quando enfrentamos a rejeição dos outros. Para ele, cada escolha pressupõe a renúncia de infinitas outras possibilidades. Saber renunciar é saber lidar com a rejeição.
Michel Foucault examinou a dinâmica do poder e da exclusão social em sua análise das instituições sociais e do controle disciplinar. Na obra “Vigiar e Punir”, ele descreveu como a rejeição pode ser utilizada como uma ferramenta de controle social, marginalizando aqueles que desafiam as normas estabelecidas. Foucault destacava a importância de resistir à rejeição e de lutar contra as estruturas opressivas do poder.
Esses filósofos (dentre tantos), oferecem uma variedade de perspectivas sobre a rejeição, desde sua relação com a angústia existencial e o ressentimento, até sua conexão com a liberdade e o poder. Suas ideias continuam a influenciar o pensamento contemporâneo sobre esse tema complexo e universal.
Mas o que os educadores falam sobre a rejeição? À semelhança da filosofia, os educadores também têm na rejeição um tema estruturante de suas teorias. Jean Piaget, um dos educadores mais influentes e pai do construtivismo, quando tratou do desenvolvimento cognitivo infantil, não se concentrou especificamente na rejeição, mas nos trouxe importantes princípios, no contexto educacional, que têm contribuído com perspectivas sobre como a rejeição pode afetar o processo educacional e o desenvolvimento das crianças. Suas teorias esclarecem como elas lidam com o conflito e a desaprovação. Piaget enfatizou a importância do jogo simbólico e da interação social na aprendizagem das crianças. Ele argumentava que as crianças constroem ativamente seu próprio conhecimento por meio da exploração e da experimentação. O conflito cognitivo entre a construção da identidade e a rejeição natural dos outros, desempenha um papel crucial nesse processo.
Vygotsky, outro importante teórico do desenvolvimento infantil, tem ideias relevantes para o tema da rejeição no processo educacional, com repercussões na vida adulta. Ele enfatizou o papel do ambiente social na aprendizagem das crianças, argumentando que a interação com os outros e a participação em atividades culturais e sociais são fundamentais para o desenvolvimento cognitivo. Vygotsky introduziu o conceito de “zona proximal de desenvolvimento”, que se refere ao espaço entre o que uma criança pode fazer sozinha e o que pode fazer com a ajuda de um adulto ou colega mais experiente. No contexto educacional, a rejeição por parte dos colegas ou dos professores pode afetar negativamente a autoestima e o engajamento dos alunos, limitando assim seu acesso à zona proximal de desenvolvimento e seu potencial de aprendizagem. Tal processo cria mecanismos que se repetirão na vida adulta. Quando alguém entende que está sendo rejeitado, sua mobilização e seu potencial para a vida, são profundamente reduzidos.
Carl Rogers também abordou questões relacionadas à educação e ao desenvolvimento pessoal, nos dando boas pistas para se entender o efeito da rejeição na vida. Ele enfatizou a importância da aceitação incondicional e do respeito genuíno no processo educacional, argumentando que os alunos prosperam em um ambiente onde se sentem valorizados e respeitados como indivíduos. A rejeição por parte dos professores ou dos colegas, mina a autoestima e a autoconfiança, prejudicando o desempenho acadêmico, profissional, relacional e o bem-estar emocional.
Na hierarquia das necessidades psicológicas de Abraham Maslow, depois de satisfeitas as necessidades básicas (fisiológicas: comer, beber, etc), todos os demais níveis (segurança, social, estima) presumem reconhecimento e aceitação. Segurança e pertencimento são o contraponto à rejeição que, quando não “processada” ameaça toda a estabilidade psicossocial das pessoas e dificulta o processo de aprendizagem, desenvolvimento e engajamento social.
Howard Gardner, conhecido por sua teoria das inteligências múltiplas, mentes que criam e estruturas da mente, também enfatiza a importância do reconhecimento e da valorização das habilidades e talentos únicos de cada um, num contexto de aceitação e acolhimento. A rejeição, ao surgir, pode nos fazer sentir inadequados ou desvalorizados por não nos encaixar em determinado padrão “de sucesso”, o que prejudica substantivamente a autoestima e motivação para a vida.
Carol Dweck, conhecida por seu trabalho sobre a mentalidade de crescimento, sugere que as crenças das pessoas sobre suas próprias habilidades influenciam seu comportamento e desempenho. No contexto relacional, Dweck argumenta que nossas habilidades podem ser desenvolvidas através do esforço e da prática e, se associado a isso também se tem um contexto de aceitação dessas habilidades pelo grupo social, exponencializa-se o desempenho e a saúde tanto da pessoa como da “comunidade”. Por outro lado, se esse contexto é de rejeição, as perdas pessoais e sociais são enormes. A rejeição desencadeia uma mentalidade de “fixação”, onde as pessoas se veem como incapazes de mudar ou melhorar, prejudicando assim seu desempenho, sua motivação para aprender e seu compromisso com a vida. Dweck vai mais além quando afirma que a rejeição é uma forma extremamente agressiva de relacionamentos tóxicos e abusivos.
Na religião cristã, a abordagem da rejeição segue a linha da complexidade, refletindo uma combinação de ensinamentos bíblicos, interpretações teológicas e práticas espirituais que atuam a partir de dois argumentos: 1) A rejeição é um fenômeno decorrente do pecado. O homem rejeitou a Deus e, por isso sofre as consequências de sua escolha; 2) A salvação em Cristo restaura a relação do homem com Deus, afastando a rejeição e criando um novo homem e um povo que vive a partir do amor. Esse povo é chamado de “igreja de cristo”, “corpo de Cristo”, “Reino de Deus”.
As perspectivas da rejeição, do ponto de vista da fé cristã, em seus aspectos negativos e positivos, podem ser resumidos assim:
1. Deus é amor e aceita e ama incondicionalmente cada indivíduo, independentemente de suas falhas ou imperfeições. Essa aceitação divina é vista como uma fonte de segurança e consolo para aqueles que se sentem rejeitados pelos outros.
2. A morte e ressurreição de Jesus Cristo, dá a todas as pessoas a oportunidade de serem perdoadas e reconciliadas com Deus. Isso significa que, mesmo quando nos sentimos rejeitados pelos outros ou por nós mesmos, podemos encontrar esperança e renovação na fé em Cristo, pela aceitação de seu sacrifício na cruz e de sua condição de Senhor.
3. A comunidade cristã (igreja), é vista como um lugar de acolhimento e apoio mútuo, onde os membros são encorajados a se amarem e cuidarem uns dos outros. Os cristãos são chamados a praticar a empatia, a compaixão e a solidariedade, oferecendo conforto e apoio àqueles que estão enfrentando a rejeição.
4. Para os cristãos, a identidade do indivíduo não está enraizada nas opiniões ou julgamentos dos outros, mas sim na sua relação com Deus em Cristo Jesus, como filhas e filhos amados. Isso significa que a rejeição por parte dos outros não define quem somos, pois nossa identidade é encontrada em nossa fé em Cristo.
5. A fé cristã ensina que, mesmo diante da adversidade e da rejeição, podemos encontrar força e esperança na promessa de Deus de que Ele está conosco em todas as circunstâncias. Essa confiança na providência divina nos capacita a perseverar e a superar os desafios que enfrentamos.
A religião cristã aborda a rejeição como um desafio humano comum, mas oferece uma perspectiva de esperança, amor e aceitação divinos, juntamente com o apoio da comunidade de fé. Esses ensinamentos proporcionam conforto e orientação para aqueles que lidam com a rejeição, incentivando-os a encontrar significado e propósito em sua relação com Deus e com os outros.
Aqui vão alguns textos bíblicos que abordam o tema da rejeição: Salmo 27:10 (NVI): “Embora meus pais me abandonem, o Senhor me receberá.” Isaías 53:3 (NVI): “Foi desprezado e rejeitado pelos homens, um homem de dores e familiarizado com o sofrimento. Como alguém de quem os homens escondem o rosto, foi desprezado, e nós não o tínhamos em estima.” Mateus 21:42 (NVI): “Jesus lhes disse: ‘Vocês nunca leram nas Escrituras: ‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; isso vem do Senhor, e é algo maravilhoso para nós’. “Lucas 20:17 (NVI): “Jesus olhou para eles e perguntou: ‘Então, o que significa o que está escrito: ‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular’?” João 1:11 (NVI): “Ele veio para o que era seu, mas os seus não o receberam.” Romanos 9:33 (NVI): “Como está escrito: ‘Eis que ponho em Sião uma pedra de tropeço e uma rocha que faz cair; mas aquele que confia nela jamais será envergonhado’.”
Esses textos e tantos outros, refletem diferentes aspectos da rejeição, desde a experiência de ser abandonado pelos outros até a rejeição de Jesus Cristo pelos que o cercavam durante seu ministério terreno. No entanto, eles também transmitem a mensagem de esperança e redenção, mostrando como Deus pode transformar a rejeição em algo significativo e poderoso.
Mas, a boa notícia é que todos esses filósofos, psicólogos, educadores, sociólogos, e as orientações da fé cristã, oferecem perspectivas valiosas sobre a rejeição, tanto no seu aspecto diagnóstico, como na capacitação para se saber lidar com ela. Todos os que estudam o tema destacam a importância de se construir ambientes relacionais que promovam a aceitação, respeito mútuo e o reconhecimento das habilidades e potencialidades únicas de cada um, bem como a valorização das diferenças de cor, raça, sexo e cultura. Se assim o for, a dinâmica da pluralidade-aceita cria uma mentalidade de crescimento, de apoio e incentivo para que todos, juntos, enfrentem os desafios de construir vidas e sociedades mais adequadas e saudáveis.
Aqui estão algumas perspectivas e estratégias que fomentam relacionamentos mais saudáveis, mais inclusivos, acolhedores e menos promotores da rejeição:
1. A promoção da empatia e da inclusão a partir do entendimento das experiências e perspectivas uns dos outros, reduz o potencial de rejeição e exclusão.
2. O desenvolvimento de habilidades sociais e a convivência entre diferentes é fundamental para lidar com situações de rejeição. A prática de habilidades como comunicação eficaz, resolução de conflitos e trabalho em equipe, ajudam a construir relacionamentos saudáveis e resilientes.
3. A valorização da autoestima e da autoconfiança fortalecem o desenvolvimento e a estruturação da autoimagem positiva e de uma autoestima bem alicerçadas. A importância do elogio, do feedback, da educação continuada, da mentoria constante e da valorização da autonomia, são fundamentais.
4. As estratégias de enfrentamento e confrontamento saudáveis para se lidar com a rejeição e a adversidade, são bem-vindas. Isso inclui técnicas de relaxamento, respiração profunda, mindfulness, competências conversacionais, bem como o desenvolvimento de habilidades de pensamento positivo e resiliência emocional.
5. A criação de uma cultura de segurança, de honestidade intelectual, de flexibilidade cognitiva e de resolução de problemas complexos em grupos heterogêneos, reduz sensivelmente o senso de rejeição, promovendo abertura para a relacionamentos inteligentes e fornecendo recursos e orientação para se enfrentar as circunstâncias da vida social.
6. Programas educacionais de prevenção de bullying para organizações e instituições de todas as naturezas, incluindo treinamento para gestores e funcionários sobre aceitação e respeito é fundamental. A intervenção imediata quando comportamentos e falas inadequadas são identificados, é um princípio muito eficaz. A ideia é promover em toda a sociedade, ambientes seguros, inclusivos e solidários, neutralizando qualquer expressão preconceituosa. Ao fornecerem orientação, apoio e recursos, esses programas ajudam as pessoas a desenvolverem habilidades e resiliência para enfrentar os desafios da vida e construir relacionamentos saudáveis e significativos.
Do ponto de vista pessoal, lidar com a rejeição é desafiador. Mas, existem várias estratégias e atitudes que podem nos ajudar a enfrentá-la de forma saudável e construtiva:
1. Reconheça e aceite seus sentimentos de rejeição. É normal se sentir triste, magoado ou zangado. Permita-se experimentar essas emoções, mas lembre-se de que elas não definem quem você é. Converse sobre isso com alguém competente em que você confia.
2. Reflita sobre como você está reagindo à rejeição. Está se culpando ou se depreciando? Tente identificar pensamentos distorcidos e substituí-los por pensamentos mais realistas e compassivos.
3. Busque apoio em amigos, familiares ou profissionais de saúde mental. Compartilhar seus sentimentos com outras pessoas pode ajudá-lo a se sentir compreendido e apoiado. Mentorias e processos terapêuticos são muito úteis.
4. Cultive uma autoestima saudável, reconhecendo suas qualidades e valor pessoal. Lembre-se de que a rejeição de uma pessoa ou situação não significa que você não seja digno de amor e aceitação.
5. Veja a rejeição como uma oportunidade de crescimento e aprendizado. Pergunte a si mesmo o que você pode aprender dessa experiência e como pode usá-la para se fortalecer no futuro. Seja proativo.
6. Priorize o autocuidado físico, emocional e mental. Cuide de si mesmo praticando atividades que o façam sentir-se bem, como exercícios, meditação, hobbies ou passatempos.
7. Evite se fixar no passado ou se preocupar demasiadamente com o futuro. Concentre-se no momento presente e nas coisas que você pode controlar.
A rejeição é uma parte inevitável da experiência humana, mas não precisa nos definir ou nos limitar. Ao compreendermos o que é rejeição, como ela nos afeta e como podemos lidar com ela, podemos aprender a transformar essa experiência desafiadora e dolorida, em uma oportunidade de crescimento e fortalecimento pessoal. Com práticas e atitudes positivas, podemos nos libertar do peso da rejeição e seguir em frente em direção a uma vida mais plena e satisfatória, lembrando sempre de que não estamos sozinhos nessa jornada.
E você, gostou?
Faz sentido essa reflexão?
Vamos conversar sobre o tema?
Acesse-me em homero@homeroreis.com; ou @homero.reis
Reflita em paz!
Homero Reis©.
Curitiba/PR, abril/2024
Recentemente escutei um podcast em que Pedro Cardoso, (1962/… ), ator, redator, roteirista, autor, escritor e humorista brasileiro, expressou-se sobre algumas questões acerca do modo como os cristãos pensam a vida de Jesus. Provocativamente o ator pergunta sobre “do que Jesus salva a humanidade?”, afirmando que nunca lhe responderam tal questão. Pois bem, vamos a ela.
A salvação de si mesmo: a vida de Jesus como exemplo de humanidade plena
A humanidade, desde os primórdios, carrega consigo um paradoxo: ao mesmo tempo em que constrói civilizações grandiosas, também perpetua destruições, guerras e desigualdades. Ao tempo em que cultua o valor humanístico, exclui, segrega, discrimina. Ao tempo em que fala de fraternidade e paz, é incapaz de exercer tais conceitos. Na reflexão proposta por Pedro Cardoso, ao questionar “do que Jesus salva a humanidade?”, uma resposta emerge clara: Jesus salva a humanidade de si mesma.
Ele não traz uma salvação mística ou distante, mas um chamado para que o ser humano se reencontre sua própria humanidade, resgate a dignidade do outro e busque, na convivência amorosa, um mundo melhor. Sua vida é o mapa para a salvação. Sua vida é um convite a um projeto humano que transcende o egoísmo e a destruição.
Salvar-nos de nós mesmos é, antes de tudo, um ato de coragem. Significa encarar nossa arrogância, nossa busca desenfreada pelo poder, nossa incapacidade de perceber a beleza que reside nas diferenças e na pluralidade. Salvar-nos é romper com o ciclo vicioso da ganância, das guerras ideológicas, das desigualdades sociais e das violências cotidianas que praticamos, muitas vezes, de forma inconsciente. Jesus traz essa provocação. Sua vida não é uma doutrina fria ou uma ideologia vazia, mas um testemunho vivo de como o amor, a compaixão e a justiça podem transformar a humanidade.
Um reino que é contra a lógica do poder
Jesus era esperado como um rei. Há uma esperança humana quase incontrolável por um líder que destrua os opressores e instaure uma nova ordem. No entanto, ao contrário da expectativa de seu tempo, Jesus não busca substituir reis ou instituir um reino político. Seu reino é outro: é o reino em que a justiça se sobrepõe à lei, em que o amor integra e não exclui, em que o perdão tem mais valor que a vingança.
Esse reino é uma revolução silenciosa, subversiva, contra cultural. Ele contraria a lógica do poder que domina o mundo: enquanto o mundo busca a supremacia, Jesus ensina o serviço; enquanto o mundo exalta a força, Jesus celebra a mansidão; enquanto o mundo oprime os fracos, Jesus acolhe os vulneráveis. Quando lhe foi oferecida a oportunidade de falar em Atenas – o centro intelectual do mundo antigo – Jesus optou pelo Calvário, rejeitando o brilho do debate estéril que apenas explica, mas não transforma, optando pela demonstração clara da “vida a serviço da vida”.
A vida de Jesus: um exemplo de plenitude
Pedro Cardoso chama a atenção para um ponto crucial: muitos cristãos valorizam exageradamente a morte de Jesus, deixando de lado o significado de sua vida. O que Cardoso parece não perceber é que aqueles que assim o fazem, não entenderam o propósito da missão dele. De fato, é na vida de Jesus que encontramos o verdadeiro chamado à humanidade plena. Sua vida é uma declaração contínua do valor da existência humana, uma celebração da vida em si.
Jesus viveu para que outros pudessem viver. Ele celebrou a vida quando transformou água em vinho no casamento em Caná, ensinando que a alegria tem lugar especial na existência humana. Ele celebrou a vida quando trouxe luz aos olhos dos cegos, caminhou com os excluídos e resgatou a dignidade dos impuros e esquecidos. Ele celebrou a vida quando restaurou o caminhar do coxo, quando trouxe de volta a saúde da mulher com hemorragia, quando livrou a “pecadora” do apedrejamento, quando reconciliou aquele que o traiu três vezes.
Sua vida desafiou sistemas religiosos, políticos e sociais que oprimiam os mais fracos. Ele enfrentou a arrogância dos poderosos, não com espada ou violência, mas com palavras e gestos de justiça e acolhimento. Sua vida não se resumiu a milagres, mas ao exemplo de humanidade. Jesus reuniu inimigos em uma mesma mesa, reconciliou famílias divididas, devolveu a esperança aos que haviam desistido de viver.
O propósito de sua morte: uma declaração de vida
Por que então a morte de Jesus é tão celebrada? Porque sua morte é uma extensão de sua vida. Sua morte é a prova de que o amor verdadeiro não se dobra às forças da opressão. É um tributo à verdade e à vida que ele tanto defendeu. Na cruz, Jesus declarou que a vida é mais importante do que a própria existência. Sua entrega é um ato de resistência contra tudo o que desumaniza e diminui a dignidade humana.
Aqueles que valorizam apenas a morte de Jesus e esquecem sua vida, não compreenderam o significado de sua missão. Sua morte é a culminação de uma vida vivida com propósito, entrega e amor incondicional. Sua ressurreição, por sua vez, é a porta para a eternidade, a prova de que a vida é um ciclo que nunca termina.
O chamado: transcender a nós mesmos
Jesus nos convida a transcender. Transcender a lógica do egoísmo, do poder e da destruição. Transcender nossa visão limitada sobre o outro e sobre o mundo. Ele nos lembra que não somos tão importantes assim. Nossa arrogância nos leva a achar que o mundo é nosso. Ledo engano. Fazemos parte do mundo, com a responsabilidade de cuidar dele, conservando-o em sua generosa e abundante riqueza, com a sabedoria que emana da sustentabilidade.
Por isso, Jesus nos desafia a “olhar os lírios do campo”, a acolher o próximo como o “samaritano” o fez, a receber de volta o “filho pródigo”, a repartir o pão, a “dar também a túnica”, e a “andá a segunda milha”.
Jesus nos salva de nós mesmos ao nos mostrar que há um caminho melhor: o caminho do amor, da compaixão e da justiça. Ele nos convida a viver uma vida que faz sentido, uma vida que celebra a existência do outro e que busca transformar o mundo em um lugar mais justo e mais humano.
Ao olharmos para a vida de Jesus, encontramos uma resposta clara para a pergunta de Pedro Cardoso: Jesus salva a humanidade dela mesma, oferecendo um exemplo vivo de como devemos viver. Sua vida é um convite permanente a sermos melhores, a reconstruirmos o que está quebrado e a reencontrarmos nossa própria humanidade.
Reflitam em paz!
POR HOMERO REIS©
PROIBIDA A REPRODUÇÃO DO TODO OU DE PARTES DESSE TEXTO, POR QUALQUER MEIO, SEM A AUTORIZAÇÃO PRÉVIA E FORMAL DO AUTOR. HOMERO REIS, HOMERO@HOMEROREIS.COM. BRASÍLIA, DEZEMBRO/2024
by HOMERO REIS ©[1]
“Inteligência” é a capacidade de se “ler dentro de alguma coisa”. Ler dentro dos relacionamentos é o conceito básico de inteligência relacional. Nesse texto quero aplicar esse conceito no entendimento do que está acontecendo no mundo do trabalho, considerando o resultado de uma pandemia recente, a instalação durante ela do “home office” e as consequências de tudo isso para os relacionamentos entre as pessoas e para as organizações.
Nos últimos tempos o trabalho remoto ganhou muita força, principalmente considerando as experiências das organizações durante e depois da pandemia de COVID-19. No começo, parecia uma solução perfeita: sem trânsito, horários mais flexíveis, trabalhar em casa com mais autonomia, foco nos resultados e não na burocracia da legislação trabalhista, insumos da tecnologia, etc.
Mas, com o tempo, as consequências do trabalho remoto começaram a aparecer, notadamente em decorrência de temas sobre os quais tínhamos muita teoria, mas pouco experimento com tal nível de globalidade. Impactos na vida privada decorrentes do fato de que somos seres relacionais, nos fizeram perceber que existe uma demanda “quase que inconsciente” de contatos entre “diferentes” como uma forma de manter minimamente a saúde das relações entre pessoas e o senso comum de “humanidade”.
De fato, o trabalho por sua natureza coletiva, também tem um certo nível saudável de demandas de dependência uns dos outros, o que é vital para a produtividade e saúde humanas. Afinal, somos seres que atuam em redes relacionais.
Uma das grandes questões do trabalho remoto, percebida como experiência real, foi a falta de contato entre as pessoas. No escritório, a gente acaba trocando ideias, desabafando sobre o dia a dia e criando laços com os colegas, explorando outros temas que “não fazem parte do trabalho”, mas que fazem parte da vida e do que chamamos de humanidade. Já em casa, essa interação fica limitada e o resultado é que muitos se sentem sozinhos e desconfortáveis, mesmo cercados dos que se constituem como núcleo familiar seja ele de que natureza for.
Esse isolamento causou vários problemas e suas consequências apareceram nas estatísticas de saúde e produtividade em todos os institutos de pesquisa. A revista FORBES, a mais conceituada publicação sobre o mundo dos negócios, em recente artigo (setembro/24), mostrou como cresceu, nos últimos 36 meses, a tristeza, a depressão, o bournout, principalmente dentro dos espaços corporativos. A conclusão é de que o isolamento e o trabalho remoto tem muito a nos dizer sobre as origens dessas patologias emocionais.
Muitas vezes, a gente nem percebe o quanto essas pequenas interações cotidianas fazem diferença no nosso bem-estar. No início do trabalho remoto, a produtividade pareceu aumentar dada a liberdade que se tinha de se “trabalhar do jeito que a gente quiser e quando quiser”. A ideia era de que “o importante é a entrega e o acordo sobre expectativas”.
Mas, no andar da carruagem a gente acabou percebendo que a redução da interatividade interpessoal em seu aspecto físico-presencial, afetou a saúde e, como consequência, os resultados. Ou seja, aquilo que melhoramos em termos de desempenho, foi consumido pelo aumento das doenças ocupacionais. Daquelas que conhecíamos e das tantas outros que estamos a descobrir depois.
As reuniões online que, apesar de funcionais, são mais objetivas e diretas, deixam pouco espaço para conversas informais e troca de ideias espontâneas. Aqueles momentos de “brainstorm” ou uma conversas no corredor que geram insights, se perderam e aquilo que parecia ser muito bom, não foi tão bom assim.
Esse cenário tem um impacto forte não só na saúde mental, mas também nos índices dos resultados. O isolamento pode fazer com que as pessoas se sintam mais tristes, e, com o tempo, isso evolui para algo mais sério, como a depressão e outras “dificuldades”.
A falta de separação entre a vida pessoal e o trabalho também aumentou e o risco de esgotamento deixou de ser risco para ser uma realidade. Quando o escritório está em casa, muita gente acaba se sentindo “presa” no trabalho o tempo todo e o espaço sagrado da intimidade foi devastado pelo whatsapp a qualquer hora do dia ou da noite. É difícil desligar. Mas também é difícil desligar o chefe com síndrome do trabalho compulsivo.
A pessoa trabalha mais horas do que deveria, além de ficar com um sentimento de culpa latente, associado a um cansaço físico e mental não percebido.
Diante desse cenário, muitas empresas estão tentando encontrar um equilíbrio entre as vantagens do trabalho remoto e do trabalho presencial. O chamado modelo híbrido que combina o melhor do trabalho remoto e do presencial, permite que os colaboradores tenham liberdade para escolher onde e quando trabalhar, de acordo com suas necessidades e conforme os acordos feitos com as equipes e com a empresa.
Esse modelo tem ganhado popularidade à medida que as organizações registram que nem todos os funcionários se adaptam bem ao home office integral, mas, ao mesmo tempo, querem preservar as vantagens da flexibilidade, equilibrando suas responsabilidades profissionais e pessoais de maneira mais eficaz.
Foi isso que um cliente meu expressou depois de um programa de inteligência relacional. “Eles (colaboradores e gestores), podem trabalhar em casa em dias em que precisam estar perto da família ou quando têm compromissos pessoais, mas também podem ir ao escritório em momentos em que precisam de um ambiente mais colaborativo com reuniões presenciais. Estou satisfeito com os resultados.”
A promoção de momentos presenciais periódicos para fortalecer os laços da equipe são fundamentais, mas o que muda no novo cenário do trabalho híbrido é que a escolha desses momentos não é mais uma imposição gerencial; antes, passa a ser um acordo entre pessoas maduras que entendem suas responsabilidades e compromissos.
Esses encontros são usados para atividades estratégicas, como sessões de planejamento, brainstorming ou treinamentos, mas também para momentos de socialização, como confraternizações, que ajudam a construir relacionamentos mais fortes entre todos, deixando a opção do trabalho remoto para as atividades operacionais e de caráter personalíssimo.
No fim das contas, o trabalho remoto tem suas vantagens, mas também traz muitos desafios que precisam ser enfrentados. A falta de contato e o isolamento são questões sérias, e é fundamental que as empresas estejam atentas a isso.
Então, o futuro do trabalho parece caminhar-se para um modelo mais flexível, onde cada vez mais será possível aproveitar o melhor dos dois mundos: a liberdade do home office e a interação do trabalho presencial, considerando que essa combinação promove tanto a produtividade quanto o bem-estar de todos. Afinal, o que todo mundo quer é encontrar o equilíbrio perfeito entre a vida pessoal e o trabalho, sem abrir a mão da saúde e da qualidade de vida relacional.
Na Homero Reis – Relações Inteligentes (www.homeroreis.com), estamos ajudando as organizações a encontrarem esse caminho mais adequado para uma nova “cultura” do trabalho. Nosso desafio junto aos nossos clientes tem sido o de promover espaços de responsabilidade e protagonismo, a partir da flexibilidade cognitiva, que nos permite construir juntos novos paradigmas para as relações de trabalho e produção.
A partir da inteligência relacional, buscamos encontrar soluções que atendam à necessidade das organizações de melhorarem seus resultados, mas também das pessoas de melhorarem sua qualidade de vida em todos os domínios do viver. Isso porque entendemos que “existe vida para além do trabalho”, mas é no trabalho que se constrói uma parte significativa de nossa identidade social e de nosso propósito existencial.
Resolvemos isso com muitas estratégias que promovem uma combinação possível (não perfeita), entre trabalho remoto e presencial, integrando as pessoas em uma cultura acolhedora, participativa e geradora do senso de pertencimento. Essas estratégias tem minorado significativamente a saúde de todos, fortalecido o senso de cooperação e colaboração, reduzindo custos e aumentado a interatividade de todos.
Os temas mais comuns que aparecem nesses projetos híbridos e que tem sido objeto de nossa oferta ao mercado, são:
- Gestão e monitoramento de equipes, onde usamos ferramentas de gestão de projetos e metodologias ágeis onde todos, colaboradores, gestores e líderes, desenvolvem novas competências conversacionais, garantindo que suas equipes se sintam reforçadas e orientadas tanto no ambiente presencial como no modelo remoto;
- Inovação e criatividade, onde usamos as técnicas construtivistas de “atividades cooperativas” e oficinas de relacionamentos;
- Segurança e privacidade, onde usamos modelos de protocolos de relacionamentos para estabelecer processos e limites relacionais voltados para preservação dos espaços individuais e controle dos espaços coletivos, bem como proteger redes, dispositivos, aplicativos, sistemas e dados de ameaças cibernéticas;
- Ergonomia e saúde física no trabalho remoto, onde usamos a prescrição de “dietas” de trabalho, laser, saúde e atividades físicas como processos educacionais na construção de hábitos saudáveis em todos os domínios da vida;
- e, questões ligadas à diversidade, inclusão e gênero, onde promovemos a reflexão, o debate e a construção de códigos de conduta e ética na vida, bem como a busca inteligente de um equilíbrio entre vida pessoal e profissional de todos e para todos.
Fazemos isso a partir de dois grandes eixos andragógicos: mentorias e transferência de tecnologia. No primeiro, construímos junto com os clientes um processo educacional a partir das melhores práticas, de modo que cada um se torne um multiplicador da nova cultura do trabalho dentro da organização em que atua.
No segundo, promovemos a transferência de conteúdos para a organização, de modo que ela “ganhe tempo” na instalação de novos paradigmas nas relações de trabalho e produção, focando em resultados e qualidade de vida.
É assim que atuamos.
Seja bem-vindo à Homero Reis – Relações Inteligentes.
Venha conversar conosco.
Abraços.
Homero Reis
Sócio-fundador.
[1] © proibida a reprodução do todo ou de parte desse texto sem a prévia autorização do autor. Direitos reservados a REIS, Homero; Brasília/DF, setembro/2024. homero@homeroreis.com
Entenda, Lide e Supere
por Homero Reis©
A vida e os relacionamentos humanos são complexos e cheios de circunstâncias nem sempre agradáveis, claras e objetivas. Muito pelo contrário. Vivemos em redes relacionais em intensa interação onde as interferências recíprocas são muito mais amplas do que “supõem nossa vã filosofia”. Mas, considerando a história da humanidade, começamos a estudar há muito pouco tempo os impactos (causas e consequências) de nossas interferências recíprocas em nossa saúde pessoal, social e emocional.
É fato que o que nasce da barriga da mulher é a reprodução biológica da espécie; mas, o que nos torna seres humanos é nossa vida sócio-comunitária porque “ser humano é ser social”. É nesse sentido que somos a origem e o destino de nossas competências e fracassos. Com essa distinção básica, começou-se a estudar o que as interações sociais promovem em termos de identidade e de saúde tanto na sociedade como nos indivíduos. Desde então, muitas coisas foram sendo explicadas e entendidas, mas muitas questões novas estão surgindo desses estudos. Dentre elas, o que se tem até o momento como o mais complexo dos sentimentos, e como um dos aspectos mais difíceis de serem compreendidos e cuidados é a questão da rejeição. Nos sentimos rejeitados, aprendemos a viver com isso e rejeitamos os outros num ciclo vicioso contínuo. Mas, amos conversar sobre isso.
Conceituando melhor o termo: Rejeição é uma palavra que evoca uma gama de emoções e experiências complexas. Desde os primeiros dias de nossa existência até os estágios mais avançados da vida, todos nós nos encontramos em muitos momentos, confrontados por esse sentimento desconfortável. Mas o que exatamente é rejeição? Como ela afeta nossa mente, nossas emoções e nosso comportamento? O que filósofos, educadores e religiosos dizem sobre a rejeição? E, o mais importante, como lidar com ela e ser capaz de superar esse desafio emocional?
A rejeição é a sensação de ser excluído, abandonado ou não aceito. Ela pode ser experimentada em diversas formas e em diferentes contextos. Pode ocorrer de forma sutil, como um olhar de desaprovação, uma frase dita por alguém, ou de maneira mais direta e ostensiva, como ser demitido de um emprego, rejeitado em um pedido de amor. Rejeitar alguém significa resistir às suas diferenças, desqualificá-lo a partir de preconceitos, desprezar ou recusar algo ou alguém por qualquer que seja a razão. Estudos mostram que dentre todas as “tragédias humanas”, a rejeição é a que gera as feridas emocionais mais profundas e dolorosas. A dor que ela provoca é mais intensa que a dor da perda e da morte de alguém que amamos muito. O que é mais grave é que a rejeição se faz presente em todos os âmbitos da vida e não se conhece nenhuma mecânica social que não a tenha em seu escopo. Todos os indivíduos, povos, línguas, culturas e raças, ao longo de todo o tempo viveram (ou vivem) situações de rejeição. Isso ocorre desde as relações sociais nucleares, até as relações entre estados, povos e nações.
A rejeição ocorre quando um indivíduo é deliberadamente excluído de uma relação ou interação social por outro indivíduo ou por grupos inteiros, incluindo aí a rejeição de seus pares, a rejeição dos afetos, a étnica, cultural e a rejeição familiar, além das que decorrem de preconceitos de qualquer natureza.
Além disso, a rejeição pode ser ativa, quando promove a exposição do outro ridicularizando-o, desqualificando-o (bullying), ou; passiva, quando ignora o outro. Mas, em qualquer caso, a experiência de ser rejeitado ou de viver circunstâncias inevitáveis de rejeição, embora seja subjetiva, gera inúmeras consequências objetivas na vida. Seus efeitos mais comuns aparecem travestidos de isolamento social, sentimento de exclusão e cancelamento, quebra de vínculos afetivos, “síndrome do estrangeiro”, além de solidão, baixa autoestima, agressividade, depressão, insegurança, dificuldades afetivo-relacionais, dentre outras.
A rejeição é especialmente dolorosa porque a necessidade de interação com outros seres humanos é uma necessidade básica e essencial para a construção de nossa identidade. Segundo Maslow (falarei dele mais a frente), todos os seres humanos, mesmo aqueles mais introvertidos, precisam ser capazes de dar e receber afeto para serem psicologicamente saudáveis. O contato simples ou a interação social eventual com os outros não é suficiente para atender a essa necessidade. As pessoas necessitam formar e manter relacionamentos interpessoais significativos e estáveis para satisfazer necessidades de amar e ser amado, como de pertencimento social. Se algum desses ingredientes (pertencimento e amor), estiverem faltando, as pessoas começarão a sentir-se solitárias e infelizes. Por isso a rejeição é uma ameaça significativa. De fato, a maioria das ansiedades humanas parece decorrer de preocupações sobre a questão da rejeição.
O modo como o indivíduo espera ser reconhecido no meio em que vive é um componente-chave para a qualidade da autoimagem e do modo como ele atua me sociedade. Tanto é que um estudo da Duke University, conduzido por Mark Leary (2022), sugeriu que o objetivo principal da autoimagem é monitorar nossas relações sociais e detectar a possibilidades de rejeição. Nesse estudo, a autoimagem aparece como uma medida da nossa capacidade de tolerar a exclusão. Quando essa taxa é baixa, aparecem comportamentos antissociais (solidão, isolamento, agorafobia, etc); bem como comportamento agressivo, desatenção, impulsividade e altas taxas de ansiedade.
Depois que o indivíduo “admite” viver em estado de rejeição, ou sucumbe-se a esse estado, tende a julgar impossível livrar-se dele e sua vida, no sentido mais amplo, passa a ser determinada por desmotivações, vitimismo, resistência à mudança, comportamento excessivamente rotineiro. No estudo da Duke University, pesquisadores descobriram que, a rejeição quando internalizada como “conduta normal do mundo”, promove quebra de conexões sociais e um vazio existencial preenchido, muitas vezes, por sentimentos de preconceitos e tirania, dando lugar à angústia constante.
É importante considerar que o tema da rejeição é amplo e a maneira como ela pode se manifestar, em diferentes áreas da vida, é complexo e diverso em cada contexto. As principais formas de manifestação do “sentimento” de rejeição, começam com a exclusão passiva por um grupo social ou por alguém, e segue com rompimento amoroso ou preferência familiar, até rejeição profissional, como não ser selecionado para um emprego ou receber críticas negativas reiteradas vezes. Ela também pode ocorrer de maneira sutil, como não ser convidado para um evento, ou de forma mais direta, ser insultado ou menosprezado por outras pessoas.
A rejeição tem um impacto significativo no bem-estar mental e emocional, desencadeando uma série de emoções negativas, como tristeza, raiva, vergonha e ansiedade. Além disso, repetida ou prolongada contribui para o desenvolvimento de problemas de saúde mental, como transtornos obsessivo compulsivo, e as já citadas depressão, baixa autoestima e transtornos de ansiedade.
A rejeição cria um ciclo vicioso e negativo de vergonha crônica em que a pessoa começa a internalizar a mensagem de que não é digna de amor ou aceitação, se envergonha por isso e, por isso passa a acreditar que não é digna de amor e aceitação. Isso leva a um padrão de pensamento e comportamento que tende à autodestruição.
Do ponto de vista psíquico, a rejeição ativa áreas do cérebro associadas à dor física, sugerindo que ela pode ser percebida pelo nosso cérebro como uma forma de lesão emocional. Isso explica por que a rejeição pode ser tão dolorosa e difícil de superar. A psicologia oferece insights valiosos sobre como a rejeição funciona e como podemos lidar com ela. A Teoria da Autodeterminação, (p.ex.), afirma que todos nós temos uma necessidade inata de nos sentir conectados e aceitos pelos outros. Quando essa necessidade não é atendida, experimentamos a dor da rejeição. A resiliência como capacidade de suportar e se recuperar de adversidades e desafios, incluindo a rejeição, é outro indicador importante. A psicologia nos ensina que a resiliência não é algo inato, mas sim uma habilidade que pode ser desenvolvida através de práticas e estratégias específicas que nos fortalecem contra os “estragos” da rejeição.
Freud (Sigmund), ofereceu várias contribuições importantes para a compreensão da rejeição enquanto fenômeno psíquico. Embora ele não a tenha abordado diretamente em sua obra, muitos de seus conceitos e teorias são relevantes para a forma como entendemos esse fenômeno.
Na teoria do complexo de Édipo (p.ex.), usada para explicar o desenvolvimento da sexualidade infantil e a formação do superego, Freud defende que durante a fase fálica do desenvolvimento psicossexual, as crianças desenvolvem desejos inconscientes pelo genitor do sexo oposto e hostilidade em relação ao genitor do mesmo sexo. A resolução bem-sucedida desse complexo envolve a identificação com o genitor do mesmo sexo e a internalização dos valores e normas sociais, enquanto a rejeição desses desejos pode levar a conflitos psíquicos e distúrbios emocionais. A resolução do complexo de Édipo pressupõe a competência para se lidar com a rejeição.
Freud também descreveu uma série de mecanismos de defesa que o ego utiliza para lidar com conflitos e ansiedades. A negação (p.ex.), é um mecanismo de defesa pelo qual a pessoa recusa aceitar uma determinada realidade dolorosa ou perturbadora. Nesse caso, a rejeição é uma forma de negação, onde o indivíduo tenta negar ou minimizar o impacto emocional de uma experiência de exclusão ou não aceitação.
Na teoria sobre o narcisismo, Freud discute a questão do amor-próprio e da autoestima. Para ele o narcisismo saudável consiste em ser capaz de reconhecer sua beleza e de estimar-se por isso, sendo natural ao desenvolvimento humano uma “alta” autoestima. Mas, quando em excesso, o narcisismo leva à rigidez psíquica e à incapacidade de lidar com o fato de que os outros podem discordar de nós. Nesse caso, a rejeição pode ser particularmente desafiadora para os indivíduos com um alto grau de narcisismo, pois ameaça a imagem idealizada de si mesmos.
Embora Freud não tenha tratado explicitamente da rejeição como um fenômeno isolado, suas teorias sobre o desenvolvimento psicossexual, os mecanismos de defesa e o narcisismo oferecem insights importantes sobre como a rejeição pode ser entendida e abordada do ponto de vista psicanalítico. A partir desses conceitos, os psicanalistas contemporâneos continuam a explorar a dinâmica da rejeição e seu impacto na vida mental e emocional dos indivíduos.
Do ponto de vista filosófico, muito se fala sobre a rejeição. Vários filósofos ao longo da história exploraram o tema, oferecendo perspectivas valiosas sobre esse aspecto da experiência humana. Por exemplo, Søren Kierkegaard, o filósofo dinamarquês do século XIX, pai do existencialismo, abordou a rejeição em sua obra “O Conceito de Angústia”. Nela ele explora a ideia de que a rejeição é uma manifestação da angústia existencial, resultante da liberdade e da responsabilidade do indivíduo. Kierkegaard argumentava que a rejeição é uma parte inevitável da busca pela autenticidade e pelo significado na vida. A questão está em saber lidar com ela e não sucumbir-se a ela.
Já Friedrich Nietzsche discutiu a rejeição em relação ao conceito de ressentimento em sua obra “Genealogia da Moral”. Ele sugeria que a rejeição surge como uma reação à inferioridade percebida em relação a outra pessoa ou grupo. Nietzsche via a superação do ressentimento e da rejeição como uma parte essencial do projeto de “maturidade humana “e da afirmação da vontade de poder.
Sartre (Jean-Paul), o existencialista francês, explorou a rejeição em sua filosofia da liberdade e da responsabilidade individual. No livro “O Ser e o Nada”, argumenta que a rejeição é uma consequência inevitável da liberdade de escolha. Ele enfatizava a importância de assumir a responsabilidade por nossas próprias ações, mesmo quando enfrentamos a rejeição dos outros. Para ele, cada escolha pressupõe a renúncia de infinitas outras possibilidades. Saber renunciar é saber lidar com a rejeição.
Michel Foucault examinou a dinâmica do poder e da exclusão social em sua análise das instituições sociais e do controle disciplinar. Na obra “Vigiar e Punir”, ele descreveu como a rejeição pode ser utilizada como uma ferramenta de controle social, marginalizando aqueles que desafiam as normas estabelecidas. Foucault destacava a importância de resistir à rejeição e de lutar contra as estruturas opressivas do poder.
Esses filósofos (dentre tantos), oferecem uma variedade de perspectivas sobre a rejeição, desde sua relação com a angústia existencial e o ressentimento, até sua conexão com a liberdade e o poder. Suas ideias continuam a influenciar o pensamento contemporâneo sobre esse tema complexo e universal.
Mas o que os educadores falam sobre a rejeição? À semelhança da filosofia, os educadores também têm na rejeição um tema estruturante de suas teorias. Jean Piaget, um dos educadores mais influentes e pai do construtivismo, quando tratou do desenvolvimento cognitivo infantil, não se concentrou especificamente na rejeição, mas nos trouxe importantes princípios, no contexto educacional, que têm contribuído com perspectivas sobre como a rejeição pode afetar o processo educacional e o desenvolvimento das crianças. Suas teorias esclarecem como elas lidam com o conflito e a desaprovação. Piaget enfatizou a importância do jogo simbólico e da interação social na aprendizagem das crianças. Ele argumentava que as crianças constroem ativamente seu próprio conhecimento por meio da exploração e da experimentação. O conflito cognitivo entre a construção da identidade e a rejeição natural dos outros, desempenha um papel crucial nesse processo.
Vygotsky, outro importante teórico do desenvolvimento infantil, tem ideias relevantes para o tema da rejeição no processo educacional, com repercussões na vida adulta. Ele enfatizou o papel do ambiente social na aprendizagem das crianças, argumentando que a interação com os outros e a participação em atividades culturais e sociais são fundamentais para o desenvolvimento cognitivo. Vygotsky introduziu o conceito de “zona proximal de desenvolvimento”, que se refere ao espaço entre o que uma criança pode fazer sozinha e o que pode fazer com a ajuda de um adulto ou colega mais experiente. No contexto educacional, a rejeição por parte dos colegas ou dos professores pode afetar negativamente a autoestima e o engajamento dos alunos, limitando assim seu acesso à zona proximal de desenvolvimento e seu potencial de aprendizagem. Tal processo cria mecanismos que se repetirão na vida adulta. Quando alguém entende que está sendo rejeitado, sua mobilização e seu potencial para a vida, são profundamente reduzidos.
Carl Rogers também abordou questões relacionadas à educação e ao desenvolvimento pessoal, nos dando boas pistas para se entender o efeito da rejeição na vida. Ele enfatizou a importância da aceitação incondicional e do respeito genuíno no processo educacional, argumentando que os alunos prosperam em um ambiente onde se sentem valorizados e respeitados como indivíduos. A rejeição por parte dos professores ou dos colegas, mina a autoestima e a autoconfiança, prejudicando o desempenho acadêmico, profissional, relacional e o bem-estar emocional.
Na hierarquia das necessidades psicológicas de Abraham Maslow, depois de satisfeitas as necessidades básicas (fisiológicas: comer, beber, etc), todos os demais níveis (segurança, social, estima) presumem reconhecimento e aceitação. Segurança e pertencimento são o contraponto à rejeição que, quando não “processada” ameaça toda a estabilidade psicossocial das pessoas e dificulta o processo de aprendizagem, desenvolvimento e engajamento social.
Howard Gardner, conhecido por sua teoria das inteligências múltiplas, mentes que criam e estruturas da mente, também enfatiza a importância do reconhecimento e da valorização das habilidades e talentos únicos de cada um, num contexto de aceitação e acolhimento. A rejeição, ao surgir, pode nos fazer sentir inadequados ou desvalorizados por não nos encaixar em determinado padrão “de sucesso”, o que prejudica substantivamente a autoestima e motivação para a vida.
Carol Dweck, conhecida por seu trabalho sobre a mentalidade de crescimento, sugere que as crenças das pessoas sobre suas próprias habilidades influenciam seu comportamento e desempenho. No contexto relacional, Dweck argumenta que nossas habilidades podem ser desenvolvidas através do esforço e da prática e, se associado a isso também se tem um contexto de aceitação dessas habilidades pelo grupo social, exponencializa-se o desempenho e a saúde tanto da pessoa como da “comunidade”. Por outro lado, se esse contexto é de rejeição, as perdas pessoais e sociais são enormes. A rejeição desencadeia uma mentalidade de “fixação”, onde as pessoas se veem como incapazes de mudar ou melhorar, prejudicando assim seu desempenho, sua motivação para aprender e seu compromisso com a vida. Dweck vai mais além quando afirma que a rejeição é uma forma extremamente agressiva de relacionamentos tóxicos e abusivos.
Na religião cristã, a abordagem da rejeição segue a linha da complexidade, refletindo uma combinação de ensinamentos bíblicos, interpretações teológicas e práticas espirituais que atuam a partir de dois argumentos: 1) A rejeição é um fenômeno decorrente do pecado. O homem rejeitou a Deus e, por isso sofre as consequências de sua escolha; 2) A salvação em Cristo restaura a relação do homem com Deus, afastando a rejeição e criando um novo homem e um povo que vive a partir do amor. Esse povo é chamado de “igreja de cristo”, “corpo de Cristo”, “Reino de Deus”.
As perspectivas da rejeição, do ponto de vista da fé cristã, em seus aspectos negativos e positivos, podem ser resumidos assim:
1. Deus é amor e aceita e ama incondicionalmente cada indivíduo, independentemente de suas falhas ou imperfeições. Essa aceitação divina é vista como uma fonte de segurança e consolo para aqueles que se sentem rejeitados pelos outros.
2. A morte e ressurreição de Jesus Cristo, dá a todas as pessoas a oportunidade de serem perdoadas e reconciliadas com Deus. Isso significa que, mesmo quando nos sentimos rejeitados pelos outros ou por nós mesmos, podemos encontrar esperança e renovação na fé em Cristo, pela aceitação de seu sacrifício na cruz e de sua condição de Senhor.
3. A comunidade cristã (igreja), é vista como um lugar de acolhimento e apoio mútuo, onde os membros são encorajados a se amarem e cuidarem uns dos outros. Os cristãos são chamados a praticar a empatia, a compaixão e a solidariedade, oferecendo conforto e apoio àqueles que estão enfrentando a rejeição.
4. Para os cristãos, a identidade do indivíduo não está enraizada nas opiniões ou julgamentos dos outros, mas sim na sua relação com Deus em Cristo Jesus, como filhas e filhos amados. Isso significa que a rejeição por parte dos outros não define quem somos, pois nossa identidade é encontrada em nossa fé em Cristo.
5. A fé cristã ensina que, mesmo diante da adversidade e da rejeição, podemos encontrar força e esperança na promessa de Deus de que Ele está conosco em todas as circunstâncias. Essa confiança na providência divina nos capacita a perseverar e a superar os desafios que enfrentamos.
A religião cristã aborda a rejeição como um desafio humano comum, mas oferece uma perspectiva de esperança, amor e aceitação divinos, juntamente com o apoio da comunidade de fé. Esses ensinamentos proporcionam conforto e orientação para aqueles que lidam com a rejeição, incentivando-os a encontrar significado e propósito em sua relação com Deus e com os outros.
Aqui vão alguns textos bíblicos que abordam o tema da rejeição: Salmo 27:10 (NVI): “Embora meus pais me abandonem, o Senhor me receberá.” Isaías 53:3 (NVI): “Foi desprezado e rejeitado pelos homens, um homem de dores e familiarizado com o sofrimento. Como alguém de quem os homens escondem o rosto, foi desprezado, e nós não o tínhamos em estima.” Mateus 21:42 (NVI): “Jesus lhes disse: ‘Vocês nunca leram nas Escrituras: ‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; isso vem do Senhor, e é algo maravilhoso para nós’. “Lucas 20:17 (NVI): “Jesus olhou para eles e perguntou: ‘Então, o que significa o que está escrito: ‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular’?” João 1:11 (NVI): “Ele veio para o que era seu, mas os seus não o receberam.” Romanos 9:33 (NVI): “Como está escrito: ‘Eis que ponho em Sião uma pedra de tropeço e uma rocha que faz cair; mas aquele que confia nela jamais será envergonhado’.”
Esses textos e tantos outros, refletem diferentes aspectos da rejeição, desde a experiência de ser abandonado pelos outros até a rejeição de Jesus Cristo pelos que o cercavam durante seu ministério terreno. No entanto, eles também transmitem a mensagem de esperança e redenção, mostrando como Deus pode transformar a rejeição em algo significativo e poderoso.
Mas, a boa notícia é que todos esses filósofos, psicólogos, educadores, sociólogos, e as orientações da fé cristã, oferecem perspectivas valiosas sobre a rejeição, tanto no seu aspecto diagnóstico, como na capacitação para se saber lidar com ela. Todos os que estudam o tema destacam a importância de se construir ambientes relacionais que promovam a aceitação, respeito mútuo e o reconhecimento das habilidades e potencialidades únicas de cada um, bem como a valorização das diferenças de cor, raça, sexo e cultura. Se assim o for, a dinâmica da pluralidade-aceita cria uma mentalidade de crescimento, de apoio e incentivo para que todos, juntos, enfrentem os desafios de construir vidas e sociedades mais adequadas e saudáveis.
Aqui estão algumas perspectivas e estratégias que fomentam relacionamentos mais saudáveis, mais inclusivos, acolhedores e menos promotores da rejeição:
1. A promoção da empatia e da inclusão a partir do entendimento das experiências e perspectivas uns dos outros, reduz o potencial de rejeição e exclusão.
2. O desenvolvimento de habilidades sociais e a convivência entre diferentes é fundamental para lidar com situações de rejeição. A prática de habilidades como comunicação eficaz, resolução de conflitos e trabalho em equipe, ajudam a construir relacionamentos saudáveis e resilientes.
3. A valorização da autoestima e da autoconfiança fortalecem o desenvolvimento e a estruturação da autoimagem positiva e de uma autoestima bem alicerçadas. A importância do elogio, do feedback, da educação continuada, da mentoria constante e da valorização da autonomia, são fundamentais.
4. As estratégias de enfrentamento e confrontamento saudáveis para se lidar com a rejeição e a adversidade, são bem-vindas. Isso inclui técnicas de relaxamento, respiração profunda, mindfulness, competências conversacionais, bem como o desenvolvimento de habilidades de pensamento positivo e resiliência emocional.
5. A criação de uma cultura de segurança, de honestidade intelectual, de flexibilidade cognitiva e de resolução de problemas complexos em grupos heterogêneos, reduz sensivelmente o senso de rejeição, promovendo abertura para a relacionamentos inteligentes e fornecendo recursos e orientação para se enfrentar as circunstâncias da vida social.
6. Programas educacionais de prevenção de bullying para organizações e instituições de todas as naturezas, incluindo treinamento para gestores e funcionários sobre aceitação e respeito é fundamental. A intervenção imediata quando comportamentos e falas inadequadas são identificados, é um princípio muito eficaz. A ideia é promover em toda a sociedade, ambientes seguros, inclusivos e solidários, neutralizando qualquer expressão preconceituosa. Ao fornecerem orientação, apoio e recursos, esses programas ajudam as pessoas a desenvolverem habilidades e resiliência para enfrentar os desafios da vida e construir relacionamentos saudáveis e significativos.
Do ponto de vista pessoal, lidar com a rejeição é desafiador. Mas, existem várias estratégias e atitudes que podem nos ajudar a enfrentá-la de forma saudável e construtiva:
1. Reconheça e aceite seus sentimentos de rejeição. É normal se sentir triste, magoado ou zangado. Permita-se experimentar essas emoções, mas lembre-se de que elas não definem quem você é. Converse sobre isso com alguém competente em que você confia.
2. Reflita sobre como você está reagindo à rejeição. Está se culpando ou se depreciando? Tente identificar pensamentos distorcidos e substituí-los por pensamentos mais realistas e compassivos.
3. Busque apoio em amigos, familiares ou profissionais de saúde mental. Compartilhar seus sentimentos com outras pessoas pode ajudá-lo a se sentir compreendido e apoiado. Mentorias e processos terapêuticos são muito úteis.
4. Cultive uma autoestima saudável, reconhecendo suas qualidades e valor pessoal. Lembre-se de que a rejeição de uma pessoa ou situação não significa que você não seja digno de amor e aceitação.
5. Veja a rejeição como uma oportunidade de crescimento e aprendizado. Pergunte a si mesmo o que você pode aprender dessa experiência e como pode usá-la para se fortalecer no futuro. Seja proativo.
6. Priorize o autocuidado físico, emocional e mental. Cuide de si mesmo praticando atividades que o façam sentir-se bem, como exercícios, meditação, hobbies ou passatempos.
7. Evite se fixar no passado ou se preocupar demasiadamente com o futuro. Concentre-se no momento presente e nas coisas que você pode controlar.
A rejeição é uma parte inevitável da experiência humana, mas não precisa nos definir ou nos limitar. Ao compreendermos o que é rejeição, como ela nos afeta e como podemos lidar com ela, podemos aprender a transformar essa experiência desafiadora e dolorida, em uma oportunidade de crescimento e fortalecimento pessoal. Com práticas e atitudes positivas, podemos nos libertar do peso da rejeição e seguir em frente em direção a uma vida mais plena e satisfatória, lembrando sempre de que não estamos sozinhos nessa jornada.
E você, gostou?
Faz sentido essa reflexão?
Vamos conversar sobre o tema?
Acesse-me em homero@homeroreis.com; ou @homero.reis
Reflita em paz!
Homero Reis©.
Curitiba/PR, abril/2024
Recentemente escutei um podcast em que Pedro Cardoso, (1962/… ), ator, redator, roteirista, autor, escritor e humorista brasileiro, expressou-se sobre algumas questões acerca do modo como os cristãos pensam a vida de Jesus. Provocativamente o ator pergunta sobre “do que Jesus salva a humanidade?”, afirmando que nunca lhe responderam tal questão. Pois bem, vamos a ela.
A salvação de si mesmo: a vida de Jesus como exemplo de humanidade plena
A humanidade, desde os primórdios, carrega consigo um paradoxo: ao mesmo tempo em que constrói civilizações grandiosas, também perpetua destruições, guerras e desigualdades. Ao tempo em que cultua o valor humanístico, exclui, segrega, discrimina. Ao tempo em que fala de fraternidade e paz, é incapaz de exercer tais conceitos. Na reflexão proposta por Pedro Cardoso, ao questionar “do que Jesus salva a humanidade?”, uma resposta emerge clara: Jesus salva a humanidade de si mesma.
Ele não traz uma salvação mística ou distante, mas um chamado para que o ser humano se reencontre sua própria humanidade, resgate a dignidade do outro e busque, na convivência amorosa, um mundo melhor. Sua vida é o mapa para a salvação. Sua vida é um convite a um projeto humano que transcende o egoísmo e a destruição.
Salvar-nos de nós mesmos é, antes de tudo, um ato de coragem. Significa encarar nossa arrogância, nossa busca desenfreada pelo poder, nossa incapacidade de perceber a beleza que reside nas diferenças e na pluralidade. Salvar-nos é romper com o ciclo vicioso da ganância, das guerras ideológicas, das desigualdades sociais e das violências cotidianas que praticamos, muitas vezes, de forma inconsciente. Jesus traz essa provocação. Sua vida não é uma doutrina fria ou uma ideologia vazia, mas um testemunho vivo de como o amor, a compaixão e a justiça podem transformar a humanidade.
Um reino que é contra a lógica do poder
Jesus era esperado como um rei. Há uma esperança humana quase incontrolável por um líder que destrua os opressores e instaure uma nova ordem. No entanto, ao contrário da expectativa de seu tempo, Jesus não busca substituir reis ou instituir um reino político. Seu reino é outro: é o reino em que a justiça se sobrepõe à lei, em que o amor integra e não exclui, em que o perdão tem mais valor que a vingança.
Esse reino é uma revolução silenciosa, subversiva, contra cultural. Ele contraria a lógica do poder que domina o mundo: enquanto o mundo busca a supremacia, Jesus ensina o serviço; enquanto o mundo exalta a força, Jesus celebra a mansidão; enquanto o mundo oprime os fracos, Jesus acolhe os vulneráveis. Quando lhe foi oferecida a oportunidade de falar em Atenas – o centro intelectual do mundo antigo – Jesus optou pelo Calvário, rejeitando o brilho do debate estéril que apenas explica, mas não transforma, optando pela demonstração clara da “vida a serviço da vida”.
A vida de Jesus: um exemplo de plenitude
Pedro Cardoso chama a atenção para um ponto crucial: muitos cristãos valorizam exageradamente a morte de Jesus, deixando de lado o significado de sua vida. O que Cardoso parece não perceber é que aqueles que assim o fazem, não entenderam o propósito da missão dele. De fato, é na vida de Jesus que encontramos o verdadeiro chamado à humanidade plena. Sua vida é uma declaração contínua do valor da existência humana, uma celebração da vida em si.
Jesus viveu para que outros pudessem viver. Ele celebrou a vida quando transformou água em vinho no casamento em Caná, ensinando que a alegria tem lugar especial na existência humana. Ele celebrou a vida quando trouxe luz aos olhos dos cegos, caminhou com os excluídos e resgatou a dignidade dos impuros e esquecidos. Ele celebrou a vida quando restaurou o caminhar do coxo, quando trouxe de volta a saúde da mulher com hemorragia, quando livrou a “pecadora” do apedrejamento, quando reconciliou aquele que o traiu três vezes.
Sua vida desafiou sistemas religiosos, políticos e sociais que oprimiam os mais fracos. Ele enfrentou a arrogância dos poderosos, não com espada ou violência, mas com palavras e gestos de justiça e acolhimento. Sua vida não se resumiu a milagres, mas ao exemplo de humanidade. Jesus reuniu inimigos em uma mesma mesa, reconciliou famílias divididas, devolveu a esperança aos que haviam desistido de viver.
O propósito de sua morte: uma declaração de vida
Por que então a morte de Jesus é tão celebrada? Porque sua morte é uma extensão de sua vida. Sua morte é a prova de que o amor verdadeiro não se dobra às forças da opressão. É um tributo à verdade e à vida que ele tanto defendeu. Na cruz, Jesus declarou que a vida é mais importante do que a própria existência. Sua entrega é um ato de resistência contra tudo o que desumaniza e diminui a dignidade humana.
Aqueles que valorizam apenas a morte de Jesus e esquecem sua vida, não compreenderam o significado de sua missão. Sua morte é a culminação de uma vida vivida com propósito, entrega e amor incondicional. Sua ressurreição, por sua vez, é a porta para a eternidade, a prova de que a vida é um ciclo que nunca termina.
O chamado: transcender a nós mesmos
Jesus nos convida a transcender. Transcender a lógica do egoísmo, do poder e da destruição. Transcender nossa visão limitada sobre o outro e sobre o mundo. Ele nos lembra que não somos tão importantes assim. Nossa arrogância nos leva a achar que o mundo é nosso. Ledo engano. Fazemos parte do mundo, com a responsabilidade de cuidar dele, conservando-o em sua generosa e abundante riqueza, com a sabedoria que emana da sustentabilidade.
Por isso, Jesus nos desafia a “olhar os lírios do campo”, a acolher o próximo como o “samaritano” o fez, a receber de volta o “filho pródigo”, a repartir o pão, a “dar também a túnica”, e a “andá a segunda milha”.
Jesus nos salva de nós mesmos ao nos mostrar que há um caminho melhor: o caminho do amor, da compaixão e da justiça. Ele nos convida a viver uma vida que faz sentido, uma vida que celebra a existência do outro e que busca transformar o mundo em um lugar mais justo e mais humano.
Ao olharmos para a vida de Jesus, encontramos uma resposta clara para a pergunta de Pedro Cardoso: Jesus salva a humanidade dela mesma, oferecendo um exemplo vivo de como devemos viver. Sua vida é um convite permanente a sermos melhores, a reconstruirmos o que está quebrado e a reencontrarmos nossa própria humanidade.
Reflitam em paz!
POR HOMERO REIS©
PROIBIDA A REPRODUÇÃO DO TODO OU DE PARTES DESSE TEXTO, POR QUALQUER MEIO, SEM A AUTORIZAÇÃO PRÉVIA E FORMAL DO AUTOR. HOMERO REIS, HOMERO@HOMEROREIS.COM. BRASÍLIA, DEZEMBRO/2024
by HOMERO REIS ©[1]
“Inteligência” é a capacidade de se “ler dentro de alguma coisa”. Ler dentro dos relacionamentos é o conceito básico de inteligência relacional. Nesse texto quero aplicar esse conceito no entendimento do que está acontecendo no mundo do trabalho, considerando o resultado de uma pandemia recente, a instalação durante ela do “home office” e as consequências de tudo isso para os relacionamentos entre as pessoas e para as organizações.
Nos últimos tempos o trabalho remoto ganhou muita força, principalmente considerando as experiências das organizações durante e depois da pandemia de COVID-19. No começo, parecia uma solução perfeita: sem trânsito, horários mais flexíveis, trabalhar em casa com mais autonomia, foco nos resultados e não na burocracia da legislação trabalhista, insumos da tecnologia, etc.
Mas, com o tempo, as consequências do trabalho remoto começaram a aparecer, notadamente em decorrência de temas sobre os quais tínhamos muita teoria, mas pouco experimento com tal nível de globalidade. Impactos na vida privada decorrentes do fato de que somos seres relacionais, nos fizeram perceber que existe uma demanda “quase que inconsciente” de contatos entre “diferentes” como uma forma de manter minimamente a saúde das relações entre pessoas e o senso comum de “humanidade”.
De fato, o trabalho por sua natureza coletiva, também tem um certo nível saudável de demandas de dependência uns dos outros, o que é vital para a produtividade e saúde humanas. Afinal, somos seres que atuam em redes relacionais.
Uma das grandes questões do trabalho remoto, percebida como experiência real, foi a falta de contato entre as pessoas. No escritório, a gente acaba trocando ideias, desabafando sobre o dia a dia e criando laços com os colegas, explorando outros temas que “não fazem parte do trabalho”, mas que fazem parte da vida e do que chamamos de humanidade. Já em casa, essa interação fica limitada e o resultado é que muitos se sentem sozinhos e desconfortáveis, mesmo cercados dos que se constituem como núcleo familiar seja ele de que natureza for.
Esse isolamento causou vários problemas e suas consequências apareceram nas estatísticas de saúde e produtividade em todos os institutos de pesquisa. A revista FORBES, a mais conceituada publicação sobre o mundo dos negócios, em recente artigo (setembro/24), mostrou como cresceu, nos últimos 36 meses, a tristeza, a depressão, o bournout, principalmente dentro dos espaços corporativos. A conclusão é de que o isolamento e o trabalho remoto tem muito a nos dizer sobre as origens dessas patologias emocionais.
Muitas vezes, a gente nem percebe o quanto essas pequenas interações cotidianas fazem diferença no nosso bem-estar. No início do trabalho remoto, a produtividade pareceu aumentar dada a liberdade que se tinha de se “trabalhar do jeito que a gente quiser e quando quiser”. A ideia era de que “o importante é a entrega e o acordo sobre expectativas”.
Mas, no andar da carruagem a gente acabou percebendo que a redução da interatividade interpessoal em seu aspecto físico-presencial, afetou a saúde e, como consequência, os resultados. Ou seja, aquilo que melhoramos em termos de desempenho, foi consumido pelo aumento das doenças ocupacionais. Daquelas que conhecíamos e das tantas outros que estamos a descobrir depois.
As reuniões online que, apesar de funcionais, são mais objetivas e diretas, deixam pouco espaço para conversas informais e troca de ideias espontâneas. Aqueles momentos de “brainstorm” ou uma conversas no corredor que geram insights, se perderam e aquilo que parecia ser muito bom, não foi tão bom assim.
Esse cenário tem um impacto forte não só na saúde mental, mas também nos índices dos resultados. O isolamento pode fazer com que as pessoas se sintam mais tristes, e, com o tempo, isso evolui para algo mais sério, como a depressão e outras “dificuldades”.
A falta de separação entre a vida pessoal e o trabalho também aumentou e o risco de esgotamento deixou de ser risco para ser uma realidade. Quando o escritório está em casa, muita gente acaba se sentindo “presa” no trabalho o tempo todo e o espaço sagrado da intimidade foi devastado pelo whatsapp a qualquer hora do dia ou da noite. É difícil desligar. Mas também é difícil desligar o chefe com síndrome do trabalho compulsivo.
A pessoa trabalha mais horas do que deveria, além de ficar com um sentimento de culpa latente, associado a um cansaço físico e mental não percebido.
Diante desse cenário, muitas empresas estão tentando encontrar um equilíbrio entre as vantagens do trabalho remoto e do trabalho presencial. O chamado modelo híbrido que combina o melhor do trabalho remoto e do presencial, permite que os colaboradores tenham liberdade para escolher onde e quando trabalhar, de acordo com suas necessidades e conforme os acordos feitos com as equipes e com a empresa.
Esse modelo tem ganhado popularidade à medida que as organizações registram que nem todos os funcionários se adaptam bem ao home office integral, mas, ao mesmo tempo, querem preservar as vantagens da flexibilidade, equilibrando suas responsabilidades profissionais e pessoais de maneira mais eficaz.
Foi isso que um cliente meu expressou depois de um programa de inteligência relacional. “Eles (colaboradores e gestores), podem trabalhar em casa em dias em que precisam estar perto da família ou quando têm compromissos pessoais, mas também podem ir ao escritório em momentos em que precisam de um ambiente mais colaborativo com reuniões presenciais. Estou satisfeito com os resultados.”
A promoção de momentos presenciais periódicos para fortalecer os laços da equipe são fundamentais, mas o que muda no novo cenário do trabalho híbrido é que a escolha desses momentos não é mais uma imposição gerencial; antes, passa a ser um acordo entre pessoas maduras que entendem suas responsabilidades e compromissos.
Esses encontros são usados para atividades estratégicas, como sessões de planejamento, brainstorming ou treinamentos, mas também para momentos de socialização, como confraternizações, que ajudam a construir relacionamentos mais fortes entre todos, deixando a opção do trabalho remoto para as atividades operacionais e de caráter personalíssimo.
No fim das contas, o trabalho remoto tem suas vantagens, mas também traz muitos desafios que precisam ser enfrentados. A falta de contato e o isolamento são questões sérias, e é fundamental que as empresas estejam atentas a isso.
Então, o futuro do trabalho parece caminhar-se para um modelo mais flexível, onde cada vez mais será possível aproveitar o melhor dos dois mundos: a liberdade do home office e a interação do trabalho presencial, considerando que essa combinação promove tanto a produtividade quanto o bem-estar de todos. Afinal, o que todo mundo quer é encontrar o equilíbrio perfeito entre a vida pessoal e o trabalho, sem abrir a mão da saúde e da qualidade de vida relacional.
Na Homero Reis – Relações Inteligentes (www.homeroreis.com), estamos ajudando as organizações a encontrarem esse caminho mais adequado para uma nova “cultura” do trabalho. Nosso desafio junto aos nossos clientes tem sido o de promover espaços de responsabilidade e protagonismo, a partir da flexibilidade cognitiva, que nos permite construir juntos novos paradigmas para as relações de trabalho e produção.
A partir da inteligência relacional, buscamos encontrar soluções que atendam à necessidade das organizações de melhorarem seus resultados, mas também das pessoas de melhorarem sua qualidade de vida em todos os domínios do viver. Isso porque entendemos que “existe vida para além do trabalho”, mas é no trabalho que se constrói uma parte significativa de nossa identidade social e de nosso propósito existencial.
Resolvemos isso com muitas estratégias que promovem uma combinação possível (não perfeita), entre trabalho remoto e presencial, integrando as pessoas em uma cultura acolhedora, participativa e geradora do senso de pertencimento. Essas estratégias tem minorado significativamente a saúde de todos, fortalecido o senso de cooperação e colaboração, reduzindo custos e aumentado a interatividade de todos.
Os temas mais comuns que aparecem nesses projetos híbridos e que tem sido objeto de nossa oferta ao mercado, são:
- Gestão e monitoramento de equipes, onde usamos ferramentas de gestão de projetos e metodologias ágeis onde todos, colaboradores, gestores e líderes, desenvolvem novas competências conversacionais, garantindo que suas equipes se sintam reforçadas e orientadas tanto no ambiente presencial como no modelo remoto;
- Inovação e criatividade, onde usamos as técnicas construtivistas de “atividades cooperativas” e oficinas de relacionamentos;
- Segurança e privacidade, onde usamos modelos de protocolos de relacionamentos para estabelecer processos e limites relacionais voltados para preservação dos espaços individuais e controle dos espaços coletivos, bem como proteger redes, dispositivos, aplicativos, sistemas e dados de ameaças cibernéticas;
- Ergonomia e saúde física no trabalho remoto, onde usamos a prescrição de “dietas” de trabalho, laser, saúde e atividades físicas como processos educacionais na construção de hábitos saudáveis em todos os domínios da vida;
- e, questões ligadas à diversidade, inclusão e gênero, onde promovemos a reflexão, o debate e a construção de códigos de conduta e ética na vida, bem como a busca inteligente de um equilíbrio entre vida pessoal e profissional de todos e para todos.
Fazemos isso a partir de dois grandes eixos andragógicos: mentorias e transferência de tecnologia. No primeiro, construímos junto com os clientes um processo educacional a partir das melhores práticas, de modo que cada um se torne um multiplicador da nova cultura do trabalho dentro da organização em que atua.
No segundo, promovemos a transferência de conteúdos para a organização, de modo que ela “ganhe tempo” na instalação de novos paradigmas nas relações de trabalho e produção, focando em resultados e qualidade de vida.
É assim que atuamos.
Seja bem-vindo à Homero Reis – Relações Inteligentes.
Venha conversar conosco.
Abraços.
Homero Reis
Sócio-fundador.
[1] © proibida a reprodução do todo ou de parte desse texto sem a prévia autorização do autor. Direitos reservados a REIS, Homero; Brasília/DF, setembro/2024. homero@homeroreis.com
Entenda, Lide e Supere
por Homero Reis©
A vida e os relacionamentos humanos são complexos e cheios de circunstâncias nem sempre agradáveis, claras e objetivas. Muito pelo contrário. Vivemos em redes relacionais em intensa interação onde as interferências recíprocas são muito mais amplas do que “supõem nossa vã filosofia”. Mas, considerando a história da humanidade, começamos a estudar há muito pouco tempo os impactos (causas e consequências) de nossas interferências recíprocas em nossa saúde pessoal, social e emocional.
É fato que o que nasce da barriga da mulher é a reprodução biológica da espécie; mas, o que nos torna seres humanos é nossa vida sócio-comunitária porque “ser humano é ser social”. É nesse sentido que somos a origem e o destino de nossas competências e fracassos. Com essa distinção básica, começou-se a estudar o que as interações sociais promovem em termos de identidade e de saúde tanto na sociedade como nos indivíduos. Desde então, muitas coisas foram sendo explicadas e entendidas, mas muitas questões novas estão surgindo desses estudos. Dentre elas, o que se tem até o momento como o mais complexo dos sentimentos, e como um dos aspectos mais difíceis de serem compreendidos e cuidados é a questão da rejeição. Nos sentimos rejeitados, aprendemos a viver com isso e rejeitamos os outros num ciclo vicioso contínuo. Mas, amos conversar sobre isso.
Conceituando melhor o termo: Rejeição é uma palavra que evoca uma gama de emoções e experiências complexas. Desde os primeiros dias de nossa existência até os estágios mais avançados da vida, todos nós nos encontramos em muitos momentos, confrontados por esse sentimento desconfortável. Mas o que exatamente é rejeição? Como ela afeta nossa mente, nossas emoções e nosso comportamento? O que filósofos, educadores e religiosos dizem sobre a rejeição? E, o mais importante, como lidar com ela e ser capaz de superar esse desafio emocional?
A rejeição é a sensação de ser excluído, abandonado ou não aceito. Ela pode ser experimentada em diversas formas e em diferentes contextos. Pode ocorrer de forma sutil, como um olhar de desaprovação, uma frase dita por alguém, ou de maneira mais direta e ostensiva, como ser demitido de um emprego, rejeitado em um pedido de amor. Rejeitar alguém significa resistir às suas diferenças, desqualificá-lo a partir de preconceitos, desprezar ou recusar algo ou alguém por qualquer que seja a razão. Estudos mostram que dentre todas as “tragédias humanas”, a rejeição é a que gera as feridas emocionais mais profundas e dolorosas. A dor que ela provoca é mais intensa que a dor da perda e da morte de alguém que amamos muito. O que é mais grave é que a rejeição se faz presente em todos os âmbitos da vida e não se conhece nenhuma mecânica social que não a tenha em seu escopo. Todos os indivíduos, povos, línguas, culturas e raças, ao longo de todo o tempo viveram (ou vivem) situações de rejeição. Isso ocorre desde as relações sociais nucleares, até as relações entre estados, povos e nações.
A rejeição ocorre quando um indivíduo é deliberadamente excluído de uma relação ou interação social por outro indivíduo ou por grupos inteiros, incluindo aí a rejeição de seus pares, a rejeição dos afetos, a étnica, cultural e a rejeição familiar, além das que decorrem de preconceitos de qualquer natureza.
Além disso, a rejeição pode ser ativa, quando promove a exposição do outro ridicularizando-o, desqualificando-o (bullying), ou; passiva, quando ignora o outro. Mas, em qualquer caso, a experiência de ser rejeitado ou de viver circunstâncias inevitáveis de rejeição, embora seja subjetiva, gera inúmeras consequências objetivas na vida. Seus efeitos mais comuns aparecem travestidos de isolamento social, sentimento de exclusão e cancelamento, quebra de vínculos afetivos, “síndrome do estrangeiro”, além de solidão, baixa autoestima, agressividade, depressão, insegurança, dificuldades afetivo-relacionais, dentre outras.
A rejeição é especialmente dolorosa porque a necessidade de interação com outros seres humanos é uma necessidade básica e essencial para a construção de nossa identidade. Segundo Maslow (falarei dele mais a frente), todos os seres humanos, mesmo aqueles mais introvertidos, precisam ser capazes de dar e receber afeto para serem psicologicamente saudáveis. O contato simples ou a interação social eventual com os outros não é suficiente para atender a essa necessidade. As pessoas necessitam formar e manter relacionamentos interpessoais significativos e estáveis para satisfazer necessidades de amar e ser amado, como de pertencimento social. Se algum desses ingredientes (pertencimento e amor), estiverem faltando, as pessoas começarão a sentir-se solitárias e infelizes. Por isso a rejeição é uma ameaça significativa. De fato, a maioria das ansiedades humanas parece decorrer de preocupações sobre a questão da rejeição.
O modo como o indivíduo espera ser reconhecido no meio em que vive é um componente-chave para a qualidade da autoimagem e do modo como ele atua me sociedade. Tanto é que um estudo da Duke University, conduzido por Mark Leary (2022), sugeriu que o objetivo principal da autoimagem é monitorar nossas relações sociais e detectar a possibilidades de rejeição. Nesse estudo, a autoimagem aparece como uma medida da nossa capacidade de tolerar a exclusão. Quando essa taxa é baixa, aparecem comportamentos antissociais (solidão, isolamento, agorafobia, etc); bem como comportamento agressivo, desatenção, impulsividade e altas taxas de ansiedade.
Depois que o indivíduo “admite” viver em estado de rejeição, ou sucumbe-se a esse estado, tende a julgar impossível livrar-se dele e sua vida, no sentido mais amplo, passa a ser determinada por desmotivações, vitimismo, resistência à mudança, comportamento excessivamente rotineiro. No estudo da Duke University, pesquisadores descobriram que, a rejeição quando internalizada como “conduta normal do mundo”, promove quebra de conexões sociais e um vazio existencial preenchido, muitas vezes, por sentimentos de preconceitos e tirania, dando lugar à angústia constante.
É importante considerar que o tema da rejeição é amplo e a maneira como ela pode se manifestar, em diferentes áreas da vida, é complexo e diverso em cada contexto. As principais formas de manifestação do “sentimento” de rejeição, começam com a exclusão passiva por um grupo social ou por alguém, e segue com rompimento amoroso ou preferência familiar, até rejeição profissional, como não ser selecionado para um emprego ou receber críticas negativas reiteradas vezes. Ela também pode ocorrer de maneira sutil, como não ser convidado para um evento, ou de forma mais direta, ser insultado ou menosprezado por outras pessoas.
A rejeição tem um impacto significativo no bem-estar mental e emocional, desencadeando uma série de emoções negativas, como tristeza, raiva, vergonha e ansiedade. Além disso, repetida ou prolongada contribui para o desenvolvimento de problemas de saúde mental, como transtornos obsessivo compulsivo, e as já citadas depressão, baixa autoestima e transtornos de ansiedade.
A rejeição cria um ciclo vicioso e negativo de vergonha crônica em que a pessoa começa a internalizar a mensagem de que não é digna de amor ou aceitação, se envergonha por isso e, por isso passa a acreditar que não é digna de amor e aceitação. Isso leva a um padrão de pensamento e comportamento que tende à autodestruição.
Do ponto de vista psíquico, a rejeição ativa áreas do cérebro associadas à dor física, sugerindo que ela pode ser percebida pelo nosso cérebro como uma forma de lesão emocional. Isso explica por que a rejeição pode ser tão dolorosa e difícil de superar. A psicologia oferece insights valiosos sobre como a rejeição funciona e como podemos lidar com ela. A Teoria da Autodeterminação, (p.ex.), afirma que todos nós temos uma necessidade inata de nos sentir conectados e aceitos pelos outros. Quando essa necessidade não é atendida, experimentamos a dor da rejeição. A resiliência como capacidade de suportar e se recuperar de adversidades e desafios, incluindo a rejeição, é outro indicador importante. A psicologia nos ensina que a resiliência não é algo inato, mas sim uma habilidade que pode ser desenvolvida através de práticas e estratégias específicas que nos fortalecem contra os “estragos” da rejeição.
Freud (Sigmund), ofereceu várias contribuições importantes para a compreensão da rejeição enquanto fenômeno psíquico. Embora ele não a tenha abordado diretamente em sua obra, muitos de seus conceitos e teorias são relevantes para a forma como entendemos esse fenômeno.
Na teoria do complexo de Édipo (p.ex.), usada para explicar o desenvolvimento da sexualidade infantil e a formação do superego, Freud defende que durante a fase fálica do desenvolvimento psicossexual, as crianças desenvolvem desejos inconscientes pelo genitor do sexo oposto e hostilidade em relação ao genitor do mesmo sexo. A resolução bem-sucedida desse complexo envolve a identificação com o genitor do mesmo sexo e a internalização dos valores e normas sociais, enquanto a rejeição desses desejos pode levar a conflitos psíquicos e distúrbios emocionais. A resolução do complexo de Édipo pressupõe a competência para se lidar com a rejeição.
Freud também descreveu uma série de mecanismos de defesa que o ego utiliza para lidar com conflitos e ansiedades. A negação (p.ex.), é um mecanismo de defesa pelo qual a pessoa recusa aceitar uma determinada realidade dolorosa ou perturbadora. Nesse caso, a rejeição é uma forma de negação, onde o indivíduo tenta negar ou minimizar o impacto emocional de uma experiência de exclusão ou não aceitação.
Na teoria sobre o narcisismo, Freud discute a questão do amor-próprio e da autoestima. Para ele o narcisismo saudável consiste em ser capaz de reconhecer sua beleza e de estimar-se por isso, sendo natural ao desenvolvimento humano uma “alta” autoestima. Mas, quando em excesso, o narcisismo leva à rigidez psíquica e à incapacidade de lidar com o fato de que os outros podem discordar de nós. Nesse caso, a rejeição pode ser particularmente desafiadora para os indivíduos com um alto grau de narcisismo, pois ameaça a imagem idealizada de si mesmos.
Embora Freud não tenha tratado explicitamente da rejeição como um fenômeno isolado, suas teorias sobre o desenvolvimento psicossexual, os mecanismos de defesa e o narcisismo oferecem insights importantes sobre como a rejeição pode ser entendida e abordada do ponto de vista psicanalítico. A partir desses conceitos, os psicanalistas contemporâneos continuam a explorar a dinâmica da rejeição e seu impacto na vida mental e emocional dos indivíduos.
Do ponto de vista filosófico, muito se fala sobre a rejeição. Vários filósofos ao longo da história exploraram o tema, oferecendo perspectivas valiosas sobre esse aspecto da experiência humana. Por exemplo, Søren Kierkegaard, o filósofo dinamarquês do século XIX, pai do existencialismo, abordou a rejeição em sua obra “O Conceito de Angústia”. Nela ele explora a ideia de que a rejeição é uma manifestação da angústia existencial, resultante da liberdade e da responsabilidade do indivíduo. Kierkegaard argumentava que a rejeição é uma parte inevitável da busca pela autenticidade e pelo significado na vida. A questão está em saber lidar com ela e não sucumbir-se a ela.
Já Friedrich Nietzsche discutiu a rejeição em relação ao conceito de ressentimento em sua obra “Genealogia da Moral”. Ele sugeria que a rejeição surge como uma reação à inferioridade percebida em relação a outra pessoa ou grupo. Nietzsche via a superação do ressentimento e da rejeição como uma parte essencial do projeto de “maturidade humana “e da afirmação da vontade de poder.
Sartre (Jean-Paul), o existencialista francês, explorou a rejeição em sua filosofia da liberdade e da responsabilidade individual. No livro “O Ser e o Nada”, argumenta que a rejeição é uma consequência inevitável da liberdade de escolha. Ele enfatizava a importância de assumir a responsabilidade por nossas próprias ações, mesmo quando enfrentamos a rejeição dos outros. Para ele, cada escolha pressupõe a renúncia de infinitas outras possibilidades. Saber renunciar é saber lidar com a rejeição.
Michel Foucault examinou a dinâmica do poder e da exclusão social em sua análise das instituições sociais e do controle disciplinar. Na obra “Vigiar e Punir”, ele descreveu como a rejeição pode ser utilizada como uma ferramenta de controle social, marginalizando aqueles que desafiam as normas estabelecidas. Foucault destacava a importância de resistir à rejeição e de lutar contra as estruturas opressivas do poder.
Esses filósofos (dentre tantos), oferecem uma variedade de perspectivas sobre a rejeição, desde sua relação com a angústia existencial e o ressentimento, até sua conexão com a liberdade e o poder. Suas ideias continuam a influenciar o pensamento contemporâneo sobre esse tema complexo e universal.
Mas o que os educadores falam sobre a rejeição? À semelhança da filosofia, os educadores também têm na rejeição um tema estruturante de suas teorias. Jean Piaget, um dos educadores mais influentes e pai do construtivismo, quando tratou do desenvolvimento cognitivo infantil, não se concentrou especificamente na rejeição, mas nos trouxe importantes princípios, no contexto educacional, que têm contribuído com perspectivas sobre como a rejeição pode afetar o processo educacional e o desenvolvimento das crianças. Suas teorias esclarecem como elas lidam com o conflito e a desaprovação. Piaget enfatizou a importância do jogo simbólico e da interação social na aprendizagem das crianças. Ele argumentava que as crianças constroem ativamente seu próprio conhecimento por meio da exploração e da experimentação. O conflito cognitivo entre a construção da identidade e a rejeição natural dos outros, desempenha um papel crucial nesse processo.
Vygotsky, outro importante teórico do desenvolvimento infantil, tem ideias relevantes para o tema da rejeição no processo educacional, com repercussões na vida adulta. Ele enfatizou o papel do ambiente social na aprendizagem das crianças, argumentando que a interação com os outros e a participação em atividades culturais e sociais são fundamentais para o desenvolvimento cognitivo. Vygotsky introduziu o conceito de “zona proximal de desenvolvimento”, que se refere ao espaço entre o que uma criança pode fazer sozinha e o que pode fazer com a ajuda de um adulto ou colega mais experiente. No contexto educacional, a rejeição por parte dos colegas ou dos professores pode afetar negativamente a autoestima e o engajamento dos alunos, limitando assim seu acesso à zona proximal de desenvolvimento e seu potencial de aprendizagem. Tal processo cria mecanismos que se repetirão na vida adulta. Quando alguém entende que está sendo rejeitado, sua mobilização e seu potencial para a vida, são profundamente reduzidos.
Carl Rogers também abordou questões relacionadas à educação e ao desenvolvimento pessoal, nos dando boas pistas para se entender o efeito da rejeição na vida. Ele enfatizou a importância da aceitação incondicional e do respeito genuíno no processo educacional, argumentando que os alunos prosperam em um ambiente onde se sentem valorizados e respeitados como indivíduos. A rejeição por parte dos professores ou dos colegas, mina a autoestima e a autoconfiança, prejudicando o desempenho acadêmico, profissional, relacional e o bem-estar emocional.
Na hierarquia das necessidades psicológicas de Abraham Maslow, depois de satisfeitas as necessidades básicas (fisiológicas: comer, beber, etc), todos os demais níveis (segurança, social, estima) presumem reconhecimento e aceitação. Segurança e pertencimento são o contraponto à rejeição que, quando não “processada” ameaça toda a estabilidade psicossocial das pessoas e dificulta o processo de aprendizagem, desenvolvimento e engajamento social.
Howard Gardner, conhecido por sua teoria das inteligências múltiplas, mentes que criam e estruturas da mente, também enfatiza a importância do reconhecimento e da valorização das habilidades e talentos únicos de cada um, num contexto de aceitação e acolhimento. A rejeição, ao surgir, pode nos fazer sentir inadequados ou desvalorizados por não nos encaixar em determinado padrão “de sucesso”, o que prejudica substantivamente a autoestima e motivação para a vida.
Carol Dweck, conhecida por seu trabalho sobre a mentalidade de crescimento, sugere que as crenças das pessoas sobre suas próprias habilidades influenciam seu comportamento e desempenho. No contexto relacional, Dweck argumenta que nossas habilidades podem ser desenvolvidas através do esforço e da prática e, se associado a isso também se tem um contexto de aceitação dessas habilidades pelo grupo social, exponencializa-se o desempenho e a saúde tanto da pessoa como da “comunidade”. Por outro lado, se esse contexto é de rejeição, as perdas pessoais e sociais são enormes. A rejeição desencadeia uma mentalidade de “fixação”, onde as pessoas se veem como incapazes de mudar ou melhorar, prejudicando assim seu desempenho, sua motivação para aprender e seu compromisso com a vida. Dweck vai mais além quando afirma que a rejeição é uma forma extremamente agressiva de relacionamentos tóxicos e abusivos.
Na religião cristã, a abordagem da rejeição segue a linha da complexidade, refletindo uma combinação de ensinamentos bíblicos, interpretações teológicas e práticas espirituais que atuam a partir de dois argumentos: 1) A rejeição é um fenômeno decorrente do pecado. O homem rejeitou a Deus e, por isso sofre as consequências de sua escolha; 2) A salvação em Cristo restaura a relação do homem com Deus, afastando a rejeição e criando um novo homem e um povo que vive a partir do amor. Esse povo é chamado de “igreja de cristo”, “corpo de Cristo”, “Reino de Deus”.
As perspectivas da rejeição, do ponto de vista da fé cristã, em seus aspectos negativos e positivos, podem ser resumidos assim:
1. Deus é amor e aceita e ama incondicionalmente cada indivíduo, independentemente de suas falhas ou imperfeições. Essa aceitação divina é vista como uma fonte de segurança e consolo para aqueles que se sentem rejeitados pelos outros.
2. A morte e ressurreição de Jesus Cristo, dá a todas as pessoas a oportunidade de serem perdoadas e reconciliadas com Deus. Isso significa que, mesmo quando nos sentimos rejeitados pelos outros ou por nós mesmos, podemos encontrar esperança e renovação na fé em Cristo, pela aceitação de seu sacrifício na cruz e de sua condição de Senhor.
3. A comunidade cristã (igreja), é vista como um lugar de acolhimento e apoio mútuo, onde os membros são encorajados a se amarem e cuidarem uns dos outros. Os cristãos são chamados a praticar a empatia, a compaixão e a solidariedade, oferecendo conforto e apoio àqueles que estão enfrentando a rejeição.
4. Para os cristãos, a identidade do indivíduo não está enraizada nas opiniões ou julgamentos dos outros, mas sim na sua relação com Deus em Cristo Jesus, como filhas e filhos amados. Isso significa que a rejeição por parte dos outros não define quem somos, pois nossa identidade é encontrada em nossa fé em Cristo.
5. A fé cristã ensina que, mesmo diante da adversidade e da rejeição, podemos encontrar força e esperança na promessa de Deus de que Ele está conosco em todas as circunstâncias. Essa confiança na providência divina nos capacita a perseverar e a superar os desafios que enfrentamos.
A religião cristã aborda a rejeição como um desafio humano comum, mas oferece uma perspectiva de esperança, amor e aceitação divinos, juntamente com o apoio da comunidade de fé. Esses ensinamentos proporcionam conforto e orientação para aqueles que lidam com a rejeição, incentivando-os a encontrar significado e propósito em sua relação com Deus e com os outros.
Aqui vão alguns textos bíblicos que abordam o tema da rejeição: Salmo 27:10 (NVI): “Embora meus pais me abandonem, o Senhor me receberá.” Isaías 53:3 (NVI): “Foi desprezado e rejeitado pelos homens, um homem de dores e familiarizado com o sofrimento. Como alguém de quem os homens escondem o rosto, foi desprezado, e nós não o tínhamos em estima.” Mateus 21:42 (NVI): “Jesus lhes disse: ‘Vocês nunca leram nas Escrituras: ‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; isso vem do Senhor, e é algo maravilhoso para nós’. “Lucas 20:17 (NVI): “Jesus olhou para eles e perguntou: ‘Então, o que significa o que está escrito: ‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular’?” João 1:11 (NVI): “Ele veio para o que era seu, mas os seus não o receberam.” Romanos 9:33 (NVI): “Como está escrito: ‘Eis que ponho em Sião uma pedra de tropeço e uma rocha que faz cair; mas aquele que confia nela jamais será envergonhado’.”
Esses textos e tantos outros, refletem diferentes aspectos da rejeição, desde a experiência de ser abandonado pelos outros até a rejeição de Jesus Cristo pelos que o cercavam durante seu ministério terreno. No entanto, eles também transmitem a mensagem de esperança e redenção, mostrando como Deus pode transformar a rejeição em algo significativo e poderoso.
Mas, a boa notícia é que todos esses filósofos, psicólogos, educadores, sociólogos, e as orientações da fé cristã, oferecem perspectivas valiosas sobre a rejeição, tanto no seu aspecto diagnóstico, como na capacitação para se saber lidar com ela. Todos os que estudam o tema destacam a importância de se construir ambientes relacionais que promovam a aceitação, respeito mútuo e o reconhecimento das habilidades e potencialidades únicas de cada um, bem como a valorização das diferenças de cor, raça, sexo e cultura. Se assim o for, a dinâmica da pluralidade-aceita cria uma mentalidade de crescimento, de apoio e incentivo para que todos, juntos, enfrentem os desafios de construir vidas e sociedades mais adequadas e saudáveis.
Aqui estão algumas perspectivas e estratégias que fomentam relacionamentos mais saudáveis, mais inclusivos, acolhedores e menos promotores da rejeição:
1. A promoção da empatia e da inclusão a partir do entendimento das experiências e perspectivas uns dos outros, reduz o potencial de rejeição e exclusão.
2. O desenvolvimento de habilidades sociais e a convivência entre diferentes é fundamental para lidar com situações de rejeição. A prática de habilidades como comunicação eficaz, resolução de conflitos e trabalho em equipe, ajudam a construir relacionamentos saudáveis e resilientes.
3. A valorização da autoestima e da autoconfiança fortalecem o desenvolvimento e a estruturação da autoimagem positiva e de uma autoestima bem alicerçadas. A importância do elogio, do feedback, da educação continuada, da mentoria constante e da valorização da autonomia, são fundamentais.
4. As estratégias de enfrentamento e confrontamento saudáveis para se lidar com a rejeição e a adversidade, são bem-vindas. Isso inclui técnicas de relaxamento, respiração profunda, mindfulness, competências conversacionais, bem como o desenvolvimento de habilidades de pensamento positivo e resiliência emocional.
5. A criação de uma cultura de segurança, de honestidade intelectual, de flexibilidade cognitiva e de resolução de problemas complexos em grupos heterogêneos, reduz sensivelmente o senso de rejeição, promovendo abertura para a relacionamentos inteligentes e fornecendo recursos e orientação para se enfrentar as circunstâncias da vida social.
6. Programas educacionais de prevenção de bullying para organizações e instituições de todas as naturezas, incluindo treinamento para gestores e funcionários sobre aceitação e respeito é fundamental. A intervenção imediata quando comportamentos e falas inadequadas são identificados, é um princípio muito eficaz. A ideia é promover em toda a sociedade, ambientes seguros, inclusivos e solidários, neutralizando qualquer expressão preconceituosa. Ao fornecerem orientação, apoio e recursos, esses programas ajudam as pessoas a desenvolverem habilidades e resiliência para enfrentar os desafios da vida e construir relacionamentos saudáveis e significativos.
Do ponto de vista pessoal, lidar com a rejeição é desafiador. Mas, existem várias estratégias e atitudes que podem nos ajudar a enfrentá-la de forma saudável e construtiva:
1. Reconheça e aceite seus sentimentos de rejeição. É normal se sentir triste, magoado ou zangado. Permita-se experimentar essas emoções, mas lembre-se de que elas não definem quem você é. Converse sobre isso com alguém competente em que você confia.
2. Reflita sobre como você está reagindo à rejeição. Está se culpando ou se depreciando? Tente identificar pensamentos distorcidos e substituí-los por pensamentos mais realistas e compassivos.
3. Busque apoio em amigos, familiares ou profissionais de saúde mental. Compartilhar seus sentimentos com outras pessoas pode ajudá-lo a se sentir compreendido e apoiado. Mentorias e processos terapêuticos são muito úteis.
4. Cultive uma autoestima saudável, reconhecendo suas qualidades e valor pessoal. Lembre-se de que a rejeição de uma pessoa ou situação não significa que você não seja digno de amor e aceitação.
5. Veja a rejeição como uma oportunidade de crescimento e aprendizado. Pergunte a si mesmo o que você pode aprender dessa experiência e como pode usá-la para se fortalecer no futuro. Seja proativo.
6. Priorize o autocuidado físico, emocional e mental. Cuide de si mesmo praticando atividades que o façam sentir-se bem, como exercícios, meditação, hobbies ou passatempos.
7. Evite se fixar no passado ou se preocupar demasiadamente com o futuro. Concentre-se no momento presente e nas coisas que você pode controlar.
A rejeição é uma parte inevitável da experiência humana, mas não precisa nos definir ou nos limitar. Ao compreendermos o que é rejeição, como ela nos afeta e como podemos lidar com ela, podemos aprender a transformar essa experiência desafiadora e dolorida, em uma oportunidade de crescimento e fortalecimento pessoal. Com práticas e atitudes positivas, podemos nos libertar do peso da rejeição e seguir em frente em direção a uma vida mais plena e satisfatória, lembrando sempre de que não estamos sozinhos nessa jornada.
E você, gostou?
Faz sentido essa reflexão?
Vamos conversar sobre o tema?
Acesse-me em homero@homeroreis.com; ou @homero.reis
Reflita em paz!
Homero Reis©.
Curitiba/PR, abril/2024
Recentemente escutei um podcast em que Pedro Cardoso, (1962/… ), ator, redator, roteirista, autor, escritor e humorista brasileiro, expressou-se sobre algumas questões acerca do modo como os cristãos pensam a vida de Jesus. Provocativamente o ator pergunta sobre “do que Jesus salva a humanidade?”, afirmando que nunca lhe responderam tal questão. Pois bem, vamos a ela.
A salvação de si mesmo: a vida de Jesus como exemplo de humanidade plena
A humanidade, desde os primórdios, carrega consigo um paradoxo: ao mesmo tempo em que constrói civilizações grandiosas, também perpetua destruições, guerras e desigualdades. Ao tempo em que cultua o valor humanístico, exclui, segrega, discrimina. Ao tempo em que fala de fraternidade e paz, é incapaz de exercer tais conceitos. Na reflexão proposta por Pedro Cardoso, ao questionar “do que Jesus salva a humanidade?”, uma resposta emerge clara: Jesus salva a humanidade de si mesma.
Ele não traz uma salvação mística ou distante, mas um chamado para que o ser humano se reencontre sua própria humanidade, resgate a dignidade do outro e busque, na convivência amorosa, um mundo melhor. Sua vida é o mapa para a salvação. Sua vida é um convite a um projeto humano que transcende o egoísmo e a destruição.
Salvar-nos de nós mesmos é, antes de tudo, um ato de coragem. Significa encarar nossa arrogância, nossa busca desenfreada pelo poder, nossa incapacidade de perceber a beleza que reside nas diferenças e na pluralidade. Salvar-nos é romper com o ciclo vicioso da ganância, das guerras ideológicas, das desigualdades sociais e das violências cotidianas que praticamos, muitas vezes, de forma inconsciente. Jesus traz essa provocação. Sua vida não é uma doutrina fria ou uma ideologia vazia, mas um testemunho vivo de como o amor, a compaixão e a justiça podem transformar a humanidade.
Um reino que é contra a lógica do poder
Jesus era esperado como um rei. Há uma esperança humana quase incontrolável por um líder que destrua os opressores e instaure uma nova ordem. No entanto, ao contrário da expectativa de seu tempo, Jesus não busca substituir reis ou instituir um reino político. Seu reino é outro: é o reino em que a justiça se sobrepõe à lei, em que o amor integra e não exclui, em que o perdão tem mais valor que a vingança.
Esse reino é uma revolução silenciosa, subversiva, contra cultural. Ele contraria a lógica do poder que domina o mundo: enquanto o mundo busca a supremacia, Jesus ensina o serviço; enquanto o mundo exalta a força, Jesus celebra a mansidão; enquanto o mundo oprime os fracos, Jesus acolhe os vulneráveis. Quando lhe foi oferecida a oportunidade de falar em Atenas – o centro intelectual do mundo antigo – Jesus optou pelo Calvário, rejeitando o brilho do debate estéril que apenas explica, mas não transforma, optando pela demonstração clara da “vida a serviço da vida”.
A vida de Jesus: um exemplo de plenitude
Pedro Cardoso chama a atenção para um ponto crucial: muitos cristãos valorizam exageradamente a morte de Jesus, deixando de lado o significado de sua vida. O que Cardoso parece não perceber é que aqueles que assim o fazem, não entenderam o propósito da missão dele. De fato, é na vida de Jesus que encontramos o verdadeiro chamado à humanidade plena. Sua vida é uma declaração contínua do valor da existência humana, uma celebração da vida em si.
Jesus viveu para que outros pudessem viver. Ele celebrou a vida quando transformou água em vinho no casamento em Caná, ensinando que a alegria tem lugar especial na existência humana. Ele celebrou a vida quando trouxe luz aos olhos dos cegos, caminhou com os excluídos e resgatou a dignidade dos impuros e esquecidos. Ele celebrou a vida quando restaurou o caminhar do coxo, quando trouxe de volta a saúde da mulher com hemorragia, quando livrou a “pecadora” do apedrejamento, quando reconciliou aquele que o traiu três vezes.
Sua vida desafiou sistemas religiosos, políticos e sociais que oprimiam os mais fracos. Ele enfrentou a arrogância dos poderosos, não com espada ou violência, mas com palavras e gestos de justiça e acolhimento. Sua vida não se resumiu a milagres, mas ao exemplo de humanidade. Jesus reuniu inimigos em uma mesma mesa, reconciliou famílias divididas, devolveu a esperança aos que haviam desistido de viver.
O propósito de sua morte: uma declaração de vida
Por que então a morte de Jesus é tão celebrada? Porque sua morte é uma extensão de sua vida. Sua morte é a prova de que o amor verdadeiro não se dobra às forças da opressão. É um tributo à verdade e à vida que ele tanto defendeu. Na cruz, Jesus declarou que a vida é mais importante do que a própria existência. Sua entrega é um ato de resistência contra tudo o que desumaniza e diminui a dignidade humana.
Aqueles que valorizam apenas a morte de Jesus e esquecem sua vida, não compreenderam o significado de sua missão. Sua morte é a culminação de uma vida vivida com propósito, entrega e amor incondicional. Sua ressurreição, por sua vez, é a porta para a eternidade, a prova de que a vida é um ciclo que nunca termina.
O chamado: transcender a nós mesmos
Jesus nos convida a transcender. Transcender a lógica do egoísmo, do poder e da destruição. Transcender nossa visão limitada sobre o outro e sobre o mundo. Ele nos lembra que não somos tão importantes assim. Nossa arrogância nos leva a achar que o mundo é nosso. Ledo engano. Fazemos parte do mundo, com a responsabilidade de cuidar dele, conservando-o em sua generosa e abundante riqueza, com a sabedoria que emana da sustentabilidade.
Por isso, Jesus nos desafia a “olhar os lírios do campo”, a acolher o próximo como o “samaritano” o fez, a receber de volta o “filho pródigo”, a repartir o pão, a “dar também a túnica”, e a “andá a segunda milha”.
Jesus nos salva de nós mesmos ao nos mostrar que há um caminho melhor: o caminho do amor, da compaixão e da justiça. Ele nos convida a viver uma vida que faz sentido, uma vida que celebra a existência do outro e que busca transformar o mundo em um lugar mais justo e mais humano.
Ao olharmos para a vida de Jesus, encontramos uma resposta clara para a pergunta de Pedro Cardoso: Jesus salva a humanidade dela mesma, oferecendo um exemplo vivo de como devemos viver. Sua vida é um convite permanente a sermos melhores, a reconstruirmos o que está quebrado e a reencontrarmos nossa própria humanidade.
Reflitam em paz!
POR HOMERO REIS©
PROIBIDA A REPRODUÇÃO DO TODO OU DE PARTES DESSE TEXTO, POR QUALQUER MEIO, SEM A AUTORIZAÇÃO PRÉVIA E FORMAL DO AUTOR. HOMERO REIS, HOMERO@HOMEROREIS.COM. BRASÍLIA, DEZEMBRO/2024
by HOMERO REIS ©[1]
“Inteligência” é a capacidade de se “ler dentro de alguma coisa”. Ler dentro dos relacionamentos é o conceito básico de inteligência relacional. Nesse texto quero aplicar esse conceito no entendimento do que está acontecendo no mundo do trabalho, considerando o resultado de uma pandemia recente, a instalação durante ela do “home office” e as consequências de tudo isso para os relacionamentos entre as pessoas e para as organizações.
Nos últimos tempos o trabalho remoto ganhou muita força, principalmente considerando as experiências das organizações durante e depois da pandemia de COVID-19. No começo, parecia uma solução perfeita: sem trânsito, horários mais flexíveis, trabalhar em casa com mais autonomia, foco nos resultados e não na burocracia da legislação trabalhista, insumos da tecnologia, etc.
Mas, com o tempo, as consequências do trabalho remoto começaram a aparecer, notadamente em decorrência de temas sobre os quais tínhamos muita teoria, mas pouco experimento com tal nível de globalidade. Impactos na vida privada decorrentes do fato de que somos seres relacionais, nos fizeram perceber que existe uma demanda “quase que inconsciente” de contatos entre “diferentes” como uma forma de manter minimamente a saúde das relações entre pessoas e o senso comum de “humanidade”.
De fato, o trabalho por sua natureza coletiva, também tem um certo nível saudável de demandas de dependência uns dos outros, o que é vital para a produtividade e saúde humanas. Afinal, somos seres que atuam em redes relacionais.
Uma das grandes questões do trabalho remoto, percebida como experiência real, foi a falta de contato entre as pessoas. No escritório, a gente acaba trocando ideias, desabafando sobre o dia a dia e criando laços com os colegas, explorando outros temas que “não fazem parte do trabalho”, mas que fazem parte da vida e do que chamamos de humanidade. Já em casa, essa interação fica limitada e o resultado é que muitos se sentem sozinhos e desconfortáveis, mesmo cercados dos que se constituem como núcleo familiar seja ele de que natureza for.
Esse isolamento causou vários problemas e suas consequências apareceram nas estatísticas de saúde e produtividade em todos os institutos de pesquisa. A revista FORBES, a mais conceituada publicação sobre o mundo dos negócios, em recente artigo (setembro/24), mostrou como cresceu, nos últimos 36 meses, a tristeza, a depressão, o bournout, principalmente dentro dos espaços corporativos. A conclusão é de que o isolamento e o trabalho remoto tem muito a nos dizer sobre as origens dessas patologias emocionais.
Muitas vezes, a gente nem percebe o quanto essas pequenas interações cotidianas fazem diferença no nosso bem-estar. No início do trabalho remoto, a produtividade pareceu aumentar dada a liberdade que se tinha de se “trabalhar do jeito que a gente quiser e quando quiser”. A ideia era de que “o importante é a entrega e o acordo sobre expectativas”.
Mas, no andar da carruagem a gente acabou percebendo que a redução da interatividade interpessoal em seu aspecto físico-presencial, afetou a saúde e, como consequência, os resultados. Ou seja, aquilo que melhoramos em termos de desempenho, foi consumido pelo aumento das doenças ocupacionais. Daquelas que conhecíamos e das tantas outros que estamos a descobrir depois.
As reuniões online que, apesar de funcionais, são mais objetivas e diretas, deixam pouco espaço para conversas informais e troca de ideias espontâneas. Aqueles momentos de “brainstorm” ou uma conversas no corredor que geram insights, se perderam e aquilo que parecia ser muito bom, não foi tão bom assim.
Esse cenário tem um impacto forte não só na saúde mental, mas também nos índices dos resultados. O isolamento pode fazer com que as pessoas se sintam mais tristes, e, com o tempo, isso evolui para algo mais sério, como a depressão e outras “dificuldades”.
A falta de separação entre a vida pessoal e o trabalho também aumentou e o risco de esgotamento deixou de ser risco para ser uma realidade. Quando o escritório está em casa, muita gente acaba se sentindo “presa” no trabalho o tempo todo e o espaço sagrado da intimidade foi devastado pelo whatsapp a qualquer hora do dia ou da noite. É difícil desligar. Mas também é difícil desligar o chefe com síndrome do trabalho compulsivo.
A pessoa trabalha mais horas do que deveria, além de ficar com um sentimento de culpa latente, associado a um cansaço físico e mental não percebido.
Diante desse cenário, muitas empresas estão tentando encontrar um equilíbrio entre as vantagens do trabalho remoto e do trabalho presencial. O chamado modelo híbrido que combina o melhor do trabalho remoto e do presencial, permite que os colaboradores tenham liberdade para escolher onde e quando trabalhar, de acordo com suas necessidades e conforme os acordos feitos com as equipes e com a empresa.
Esse modelo tem ganhado popularidade à medida que as organizações registram que nem todos os funcionários se adaptam bem ao home office integral, mas, ao mesmo tempo, querem preservar as vantagens da flexibilidade, equilibrando suas responsabilidades profissionais e pessoais de maneira mais eficaz.
Foi isso que um cliente meu expressou depois de um programa de inteligência relacional. “Eles (colaboradores e gestores), podem trabalhar em casa em dias em que precisam estar perto da família ou quando têm compromissos pessoais, mas também podem ir ao escritório em momentos em que precisam de um ambiente mais colaborativo com reuniões presenciais. Estou satisfeito com os resultados.”
A promoção de momentos presenciais periódicos para fortalecer os laços da equipe são fundamentais, mas o que muda no novo cenário do trabalho híbrido é que a escolha desses momentos não é mais uma imposição gerencial; antes, passa a ser um acordo entre pessoas maduras que entendem suas responsabilidades e compromissos.
Esses encontros são usados para atividades estratégicas, como sessões de planejamento, brainstorming ou treinamentos, mas também para momentos de socialização, como confraternizações, que ajudam a construir relacionamentos mais fortes entre todos, deixando a opção do trabalho remoto para as atividades operacionais e de caráter personalíssimo.
No fim das contas, o trabalho remoto tem suas vantagens, mas também traz muitos desafios que precisam ser enfrentados. A falta de contato e o isolamento são questões sérias, e é fundamental que as empresas estejam atentas a isso.
Então, o futuro do trabalho parece caminhar-se para um modelo mais flexível, onde cada vez mais será possível aproveitar o melhor dos dois mundos: a liberdade do home office e a interação do trabalho presencial, considerando que essa combinação promove tanto a produtividade quanto o bem-estar de todos. Afinal, o que todo mundo quer é encontrar o equilíbrio perfeito entre a vida pessoal e o trabalho, sem abrir a mão da saúde e da qualidade de vida relacional.
Na Homero Reis – Relações Inteligentes (www.homeroreis.com), estamos ajudando as organizações a encontrarem esse caminho mais adequado para uma nova “cultura” do trabalho. Nosso desafio junto aos nossos clientes tem sido o de promover espaços de responsabilidade e protagonismo, a partir da flexibilidade cognitiva, que nos permite construir juntos novos paradigmas para as relações de trabalho e produção.
A partir da inteligência relacional, buscamos encontrar soluções que atendam à necessidade das organizações de melhorarem seus resultados, mas também das pessoas de melhorarem sua qualidade de vida em todos os domínios do viver. Isso porque entendemos que “existe vida para além do trabalho”, mas é no trabalho que se constrói uma parte significativa de nossa identidade social e de nosso propósito existencial.
Resolvemos isso com muitas estratégias que promovem uma combinação possível (não perfeita), entre trabalho remoto e presencial, integrando as pessoas em uma cultura acolhedora, participativa e geradora do senso de pertencimento. Essas estratégias tem minorado significativamente a saúde de todos, fortalecido o senso de cooperação e colaboração, reduzindo custos e aumentado a interatividade de todos.
Os temas mais comuns que aparecem nesses projetos híbridos e que tem sido objeto de nossa oferta ao mercado, são:
- Gestão e monitoramento de equipes, onde usamos ferramentas de gestão de projetos e metodologias ágeis onde todos, colaboradores, gestores e líderes, desenvolvem novas competências conversacionais, garantindo que suas equipes se sintam reforçadas e orientadas tanto no ambiente presencial como no modelo remoto;
- Inovação e criatividade, onde usamos as técnicas construtivistas de “atividades cooperativas” e oficinas de relacionamentos;
- Segurança e privacidade, onde usamos modelos de protocolos de relacionamentos para estabelecer processos e limites relacionais voltados para preservação dos espaços individuais e controle dos espaços coletivos, bem como proteger redes, dispositivos, aplicativos, sistemas e dados de ameaças cibernéticas;
- Ergonomia e saúde física no trabalho remoto, onde usamos a prescrição de “dietas” de trabalho, laser, saúde e atividades físicas como processos educacionais na construção de hábitos saudáveis em todos os domínios da vida;
- e, questões ligadas à diversidade, inclusão e gênero, onde promovemos a reflexão, o debate e a construção de códigos de conduta e ética na vida, bem como a busca inteligente de um equilíbrio entre vida pessoal e profissional de todos e para todos.
Fazemos isso a partir de dois grandes eixos andragógicos: mentorias e transferência de tecnologia. No primeiro, construímos junto com os clientes um processo educacional a partir das melhores práticas, de modo que cada um se torne um multiplicador da nova cultura do trabalho dentro da organização em que atua.
No segundo, promovemos a transferência de conteúdos para a organização, de modo que ela “ganhe tempo” na instalação de novos paradigmas nas relações de trabalho e produção, focando em resultados e qualidade de vida.
É assim que atuamos.
Seja bem-vindo à Homero Reis – Relações Inteligentes.
Venha conversar conosco.
Abraços.
Homero Reis
Sócio-fundador.
[1] © proibida a reprodução do todo ou de parte desse texto sem a prévia autorização do autor. Direitos reservados a REIS, Homero; Brasília/DF, setembro/2024. homero@homeroreis.com
Entenda, Lide e Supere
por Homero Reis©
A vida e os relacionamentos humanos são complexos e cheios de circunstâncias nem sempre agradáveis, claras e objetivas. Muito pelo contrário. Vivemos em redes relacionais em intensa interação onde as interferências recíprocas são muito mais amplas do que “supõem nossa vã filosofia”. Mas, considerando a história da humanidade, começamos a estudar há muito pouco tempo os impactos (causas e consequências) de nossas interferências recíprocas em nossa saúde pessoal, social e emocional.
É fato que o que nasce da barriga da mulher é a reprodução biológica da espécie; mas, o que nos torna seres humanos é nossa vida sócio-comunitária porque “ser humano é ser social”. É nesse sentido que somos a origem e o destino de nossas competências e fracassos. Com essa distinção básica, começou-se a estudar o que as interações sociais promovem em termos de identidade e de saúde tanto na sociedade como nos indivíduos. Desde então, muitas coisas foram sendo explicadas e entendidas, mas muitas questões novas estão surgindo desses estudos. Dentre elas, o que se tem até o momento como o mais complexo dos sentimentos, e como um dos aspectos mais difíceis de serem compreendidos e cuidados é a questão da rejeição. Nos sentimos rejeitados, aprendemos a viver com isso e rejeitamos os outros num ciclo vicioso contínuo. Mas, amos conversar sobre isso.
Conceituando melhor o termo: Rejeição é uma palavra que evoca uma gama de emoções e experiências complexas. Desde os primeiros dias de nossa existência até os estágios mais avançados da vida, todos nós nos encontramos em muitos momentos, confrontados por esse sentimento desconfortável. Mas o que exatamente é rejeição? Como ela afeta nossa mente, nossas emoções e nosso comportamento? O que filósofos, educadores e religiosos dizem sobre a rejeição? E, o mais importante, como lidar com ela e ser capaz de superar esse desafio emocional?
A rejeição é a sensação de ser excluído, abandonado ou não aceito. Ela pode ser experimentada em diversas formas e em diferentes contextos. Pode ocorrer de forma sutil, como um olhar de desaprovação, uma frase dita por alguém, ou de maneira mais direta e ostensiva, como ser demitido de um emprego, rejeitado em um pedido de amor. Rejeitar alguém significa resistir às suas diferenças, desqualificá-lo a partir de preconceitos, desprezar ou recusar algo ou alguém por qualquer que seja a razão. Estudos mostram que dentre todas as “tragédias humanas”, a rejeição é a que gera as feridas emocionais mais profundas e dolorosas. A dor que ela provoca é mais intensa que a dor da perda e da morte de alguém que amamos muito. O que é mais grave é que a rejeição se faz presente em todos os âmbitos da vida e não se conhece nenhuma mecânica social que não a tenha em seu escopo. Todos os indivíduos, povos, línguas, culturas e raças, ao longo de todo o tempo viveram (ou vivem) situações de rejeição. Isso ocorre desde as relações sociais nucleares, até as relações entre estados, povos e nações.
A rejeição ocorre quando um indivíduo é deliberadamente excluído de uma relação ou interação social por outro indivíduo ou por grupos inteiros, incluindo aí a rejeição de seus pares, a rejeição dos afetos, a étnica, cultural e a rejeição familiar, além das que decorrem de preconceitos de qualquer natureza.
Além disso, a rejeição pode ser ativa, quando promove a exposição do outro ridicularizando-o, desqualificando-o (bullying), ou; passiva, quando ignora o outro. Mas, em qualquer caso, a experiência de ser rejeitado ou de viver circunstâncias inevitáveis de rejeição, embora seja subjetiva, gera inúmeras consequências objetivas na vida. Seus efeitos mais comuns aparecem travestidos de isolamento social, sentimento de exclusão e cancelamento, quebra de vínculos afetivos, “síndrome do estrangeiro”, além de solidão, baixa autoestima, agressividade, depressão, insegurança, dificuldades afetivo-relacionais, dentre outras.
A rejeição é especialmente dolorosa porque a necessidade de interação com outros seres humanos é uma necessidade básica e essencial para a construção de nossa identidade. Segundo Maslow (falarei dele mais a frente), todos os seres humanos, mesmo aqueles mais introvertidos, precisam ser capazes de dar e receber afeto para serem psicologicamente saudáveis. O contato simples ou a interação social eventual com os outros não é suficiente para atender a essa necessidade. As pessoas necessitam formar e manter relacionamentos interpessoais significativos e estáveis para satisfazer necessidades de amar e ser amado, como de pertencimento social. Se algum desses ingredientes (pertencimento e amor), estiverem faltando, as pessoas começarão a sentir-se solitárias e infelizes. Por isso a rejeição é uma ameaça significativa. De fato, a maioria das ansiedades humanas parece decorrer de preocupações sobre a questão da rejeição.
O modo como o indivíduo espera ser reconhecido no meio em que vive é um componente-chave para a qualidade da autoimagem e do modo como ele atua me sociedade. Tanto é que um estudo da Duke University, conduzido por Mark Leary (2022), sugeriu que o objetivo principal da autoimagem é monitorar nossas relações sociais e detectar a possibilidades de rejeição. Nesse estudo, a autoimagem aparece como uma medida da nossa capacidade de tolerar a exclusão. Quando essa taxa é baixa, aparecem comportamentos antissociais (solidão, isolamento, agorafobia, etc); bem como comportamento agressivo, desatenção, impulsividade e altas taxas de ansiedade.
Depois que o indivíduo “admite” viver em estado de rejeição, ou sucumbe-se a esse estado, tende a julgar impossível livrar-se dele e sua vida, no sentido mais amplo, passa a ser determinada por desmotivações, vitimismo, resistência à mudança, comportamento excessivamente rotineiro. No estudo da Duke University, pesquisadores descobriram que, a rejeição quando internalizada como “conduta normal do mundo”, promove quebra de conexões sociais e um vazio existencial preenchido, muitas vezes, por sentimentos de preconceitos e tirania, dando lugar à angústia constante.
É importante considerar que o tema da rejeição é amplo e a maneira como ela pode se manifestar, em diferentes áreas da vida, é complexo e diverso em cada contexto. As principais formas de manifestação do “sentimento” de rejeição, começam com a exclusão passiva por um grupo social ou por alguém, e segue com rompimento amoroso ou preferência familiar, até rejeição profissional, como não ser selecionado para um emprego ou receber críticas negativas reiteradas vezes. Ela também pode ocorrer de maneira sutil, como não ser convidado para um evento, ou de forma mais direta, ser insultado ou menosprezado por outras pessoas.
A rejeição tem um impacto significativo no bem-estar mental e emocional, desencadeando uma série de emoções negativas, como tristeza, raiva, vergonha e ansiedade. Além disso, repetida ou prolongada contribui para o desenvolvimento de problemas de saúde mental, como transtornos obsessivo compulsivo, e as já citadas depressão, baixa autoestima e transtornos de ansiedade.
A rejeição cria um ciclo vicioso e negativo de vergonha crônica em que a pessoa começa a internalizar a mensagem de que não é digna de amor ou aceitação, se envergonha por isso e, por isso passa a acreditar que não é digna de amor e aceitação. Isso leva a um padrão de pensamento e comportamento que tende à autodestruição.
Do ponto de vista psíquico, a rejeição ativa áreas do cérebro associadas à dor física, sugerindo que ela pode ser percebida pelo nosso cérebro como uma forma de lesão emocional. Isso explica por que a rejeição pode ser tão dolorosa e difícil de superar. A psicologia oferece insights valiosos sobre como a rejeição funciona e como podemos lidar com ela. A Teoria da Autodeterminação, (p.ex.), afirma que todos nós temos uma necessidade inata de nos sentir conectados e aceitos pelos outros. Quando essa necessidade não é atendida, experimentamos a dor da rejeição. A resiliência como capacidade de suportar e se recuperar de adversidades e desafios, incluindo a rejeição, é outro indicador importante. A psicologia nos ensina que a resiliência não é algo inato, mas sim uma habilidade que pode ser desenvolvida através de práticas e estratégias específicas que nos fortalecem contra os “estragos” da rejeição.
Freud (Sigmund), ofereceu várias contribuições importantes para a compreensão da rejeição enquanto fenômeno psíquico. Embora ele não a tenha abordado diretamente em sua obra, muitos de seus conceitos e teorias são relevantes para a forma como entendemos esse fenômeno.
Na teoria do complexo de Édipo (p.ex.), usada para explicar o desenvolvimento da sexualidade infantil e a formação do superego, Freud defende que durante a fase fálica do desenvolvimento psicossexual, as crianças desenvolvem desejos inconscientes pelo genitor do sexo oposto e hostilidade em relação ao genitor do mesmo sexo. A resolução bem-sucedida desse complexo envolve a identificação com o genitor do mesmo sexo e a internalização dos valores e normas sociais, enquanto a rejeição desses desejos pode levar a conflitos psíquicos e distúrbios emocionais. A resolução do complexo de Édipo pressupõe a competência para se lidar com a rejeição.
Freud também descreveu uma série de mecanismos de defesa que o ego utiliza para lidar com conflitos e ansiedades. A negação (p.ex.), é um mecanismo de defesa pelo qual a pessoa recusa aceitar uma determinada realidade dolorosa ou perturbadora. Nesse caso, a rejeição é uma forma de negação, onde o indivíduo tenta negar ou minimizar o impacto emocional de uma experiência de exclusão ou não aceitação.
Na teoria sobre o narcisismo, Freud discute a questão do amor-próprio e da autoestima. Para ele o narcisismo saudável consiste em ser capaz de reconhecer sua beleza e de estimar-se por isso, sendo natural ao desenvolvimento humano uma “alta” autoestima. Mas, quando em excesso, o narcisismo leva à rigidez psíquica e à incapacidade de lidar com o fato de que os outros podem discordar de nós. Nesse caso, a rejeição pode ser particularmente desafiadora para os indivíduos com um alto grau de narcisismo, pois ameaça a imagem idealizada de si mesmos.
Embora Freud não tenha tratado explicitamente da rejeição como um fenômeno isolado, suas teorias sobre o desenvolvimento psicossexual, os mecanismos de defesa e o narcisismo oferecem insights importantes sobre como a rejeição pode ser entendida e abordada do ponto de vista psicanalítico. A partir desses conceitos, os psicanalistas contemporâneos continuam a explorar a dinâmica da rejeição e seu impacto na vida mental e emocional dos indivíduos.
Do ponto de vista filosófico, muito se fala sobre a rejeição. Vários filósofos ao longo da história exploraram o tema, oferecendo perspectivas valiosas sobre esse aspecto da experiência humana. Por exemplo, Søren Kierkegaard, o filósofo dinamarquês do século XIX, pai do existencialismo, abordou a rejeição em sua obra “O Conceito de Angústia”. Nela ele explora a ideia de que a rejeição é uma manifestação da angústia existencial, resultante da liberdade e da responsabilidade do indivíduo. Kierkegaard argumentava que a rejeição é uma parte inevitável da busca pela autenticidade e pelo significado na vida. A questão está em saber lidar com ela e não sucumbir-se a ela.
Já Friedrich Nietzsche discutiu a rejeição em relação ao conceito de ressentimento em sua obra “Genealogia da Moral”. Ele sugeria que a rejeição surge como uma reação à inferioridade percebida em relação a outra pessoa ou grupo. Nietzsche via a superação do ressentimento e da rejeição como uma parte essencial do projeto de “maturidade humana “e da afirmação da vontade de poder.
Sartre (Jean-Paul), o existencialista francês, explorou a rejeição em sua filosofia da liberdade e da responsabilidade individual. No livro “O Ser e o Nada”, argumenta que a rejeição é uma consequência inevitável da liberdade de escolha. Ele enfatizava a importância de assumir a responsabilidade por nossas próprias ações, mesmo quando enfrentamos a rejeição dos outros. Para ele, cada escolha pressupõe a renúncia de infinitas outras possibilidades. Saber renunciar é saber lidar com a rejeição.
Michel Foucault examinou a dinâmica do poder e da exclusão social em sua análise das instituições sociais e do controle disciplinar. Na obra “Vigiar e Punir”, ele descreveu como a rejeição pode ser utilizada como uma ferramenta de controle social, marginalizando aqueles que desafiam as normas estabelecidas. Foucault destacava a importância de resistir à rejeição e de lutar contra as estruturas opressivas do poder.
Esses filósofos (dentre tantos), oferecem uma variedade de perspectivas sobre a rejeição, desde sua relação com a angústia existencial e o ressentimento, até sua conexão com a liberdade e o poder. Suas ideias continuam a influenciar o pensamento contemporâneo sobre esse tema complexo e universal.
Mas o que os educadores falam sobre a rejeição? À semelhança da filosofia, os educadores também têm na rejeição um tema estruturante de suas teorias. Jean Piaget, um dos educadores mais influentes e pai do construtivismo, quando tratou do desenvolvimento cognitivo infantil, não se concentrou especificamente na rejeição, mas nos trouxe importantes princípios, no contexto educacional, que têm contribuído com perspectivas sobre como a rejeição pode afetar o processo educacional e o desenvolvimento das crianças. Suas teorias esclarecem como elas lidam com o conflito e a desaprovação. Piaget enfatizou a importância do jogo simbólico e da interação social na aprendizagem das crianças. Ele argumentava que as crianças constroem ativamente seu próprio conhecimento por meio da exploração e da experimentação. O conflito cognitivo entre a construção da identidade e a rejeição natural dos outros, desempenha um papel crucial nesse processo.
Vygotsky, outro importante teórico do desenvolvimento infantil, tem ideias relevantes para o tema da rejeição no processo educacional, com repercussões na vida adulta. Ele enfatizou o papel do ambiente social na aprendizagem das crianças, argumentando que a interação com os outros e a participação em atividades culturais e sociais são fundamentais para o desenvolvimento cognitivo. Vygotsky introduziu o conceito de “zona proximal de desenvolvimento”, que se refere ao espaço entre o que uma criança pode fazer sozinha e o que pode fazer com a ajuda de um adulto ou colega mais experiente. No contexto educacional, a rejeição por parte dos colegas ou dos professores pode afetar negativamente a autoestima e o engajamento dos alunos, limitando assim seu acesso à zona proximal de desenvolvimento e seu potencial de aprendizagem. Tal processo cria mecanismos que se repetirão na vida adulta. Quando alguém entende que está sendo rejeitado, sua mobilização e seu potencial para a vida, são profundamente reduzidos.
Carl Rogers também abordou questões relacionadas à educação e ao desenvolvimento pessoal, nos dando boas pistas para se entender o efeito da rejeição na vida. Ele enfatizou a importância da aceitação incondicional e do respeito genuíno no processo educacional, argumentando que os alunos prosperam em um ambiente onde se sentem valorizados e respeitados como indivíduos. A rejeição por parte dos professores ou dos colegas, mina a autoestima e a autoconfiança, prejudicando o desempenho acadêmico, profissional, relacional e o bem-estar emocional.
Na hierarquia das necessidades psicológicas de Abraham Maslow, depois de satisfeitas as necessidades básicas (fisiológicas: comer, beber, etc), todos os demais níveis (segurança, social, estima) presumem reconhecimento e aceitação. Segurança e pertencimento são o contraponto à rejeição que, quando não “processada” ameaça toda a estabilidade psicossocial das pessoas e dificulta o processo de aprendizagem, desenvolvimento e engajamento social.
Howard Gardner, conhecido por sua teoria das inteligências múltiplas, mentes que criam e estruturas da mente, também enfatiza a importância do reconhecimento e da valorização das habilidades e talentos únicos de cada um, num contexto de aceitação e acolhimento. A rejeição, ao surgir, pode nos fazer sentir inadequados ou desvalorizados por não nos encaixar em determinado padrão “de sucesso”, o que prejudica substantivamente a autoestima e motivação para a vida.
Carol Dweck, conhecida por seu trabalho sobre a mentalidade de crescimento, sugere que as crenças das pessoas sobre suas próprias habilidades influenciam seu comportamento e desempenho. No contexto relacional, Dweck argumenta que nossas habilidades podem ser desenvolvidas através do esforço e da prática e, se associado a isso também se tem um contexto de aceitação dessas habilidades pelo grupo social, exponencializa-se o desempenho e a saúde tanto da pessoa como da “comunidade”. Por outro lado, se esse contexto é de rejeição, as perdas pessoais e sociais são enormes. A rejeição desencadeia uma mentalidade de “fixação”, onde as pessoas se veem como incapazes de mudar ou melhorar, prejudicando assim seu desempenho, sua motivação para aprender e seu compromisso com a vida. Dweck vai mais além quando afirma que a rejeição é uma forma extremamente agressiva de relacionamentos tóxicos e abusivos.
Na religião cristã, a abordagem da rejeição segue a linha da complexidade, refletindo uma combinação de ensinamentos bíblicos, interpretações teológicas e práticas espirituais que atuam a partir de dois argumentos: 1) A rejeição é um fenômeno decorrente do pecado. O homem rejeitou a Deus e, por isso sofre as consequências de sua escolha; 2) A salvação em Cristo restaura a relação do homem com Deus, afastando a rejeição e criando um novo homem e um povo que vive a partir do amor. Esse povo é chamado de “igreja de cristo”, “corpo de Cristo”, “Reino de Deus”.
As perspectivas da rejeição, do ponto de vista da fé cristã, em seus aspectos negativos e positivos, podem ser resumidos assim:
1. Deus é amor e aceita e ama incondicionalmente cada indivíduo, independentemente de suas falhas ou imperfeições. Essa aceitação divina é vista como uma fonte de segurança e consolo para aqueles que se sentem rejeitados pelos outros.
2. A morte e ressurreição de Jesus Cristo, dá a todas as pessoas a oportunidade de serem perdoadas e reconciliadas com Deus. Isso significa que, mesmo quando nos sentimos rejeitados pelos outros ou por nós mesmos, podemos encontrar esperança e renovação na fé em Cristo, pela aceitação de seu sacrifício na cruz e de sua condição de Senhor.
3. A comunidade cristã (igreja), é vista como um lugar de acolhimento e apoio mútuo, onde os membros são encorajados a se amarem e cuidarem uns dos outros. Os cristãos são chamados a praticar a empatia, a compaixão e a solidariedade, oferecendo conforto e apoio àqueles que estão enfrentando a rejeição.
4. Para os cristãos, a identidade do indivíduo não está enraizada nas opiniões ou julgamentos dos outros, mas sim na sua relação com Deus em Cristo Jesus, como filhas e filhos amados. Isso significa que a rejeição por parte dos outros não define quem somos, pois nossa identidade é encontrada em nossa fé em Cristo.
5. A fé cristã ensina que, mesmo diante da adversidade e da rejeição, podemos encontrar força e esperança na promessa de Deus de que Ele está conosco em todas as circunstâncias. Essa confiança na providência divina nos capacita a perseverar e a superar os desafios que enfrentamos.
A religião cristã aborda a rejeição como um desafio humano comum, mas oferece uma perspectiva de esperança, amor e aceitação divinos, juntamente com o apoio da comunidade de fé. Esses ensinamentos proporcionam conforto e orientação para aqueles que lidam com a rejeição, incentivando-os a encontrar significado e propósito em sua relação com Deus e com os outros.
Aqui vão alguns textos bíblicos que abordam o tema da rejeição: Salmo 27:10 (NVI): “Embora meus pais me abandonem, o Senhor me receberá.” Isaías 53:3 (NVI): “Foi desprezado e rejeitado pelos homens, um homem de dores e familiarizado com o sofrimento. Como alguém de quem os homens escondem o rosto, foi desprezado, e nós não o tínhamos em estima.” Mateus 21:42 (NVI): “Jesus lhes disse: ‘Vocês nunca leram nas Escrituras: ‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; isso vem do Senhor, e é algo maravilhoso para nós’. “Lucas 20:17 (NVI): “Jesus olhou para eles e perguntou: ‘Então, o que significa o que está escrito: ‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular’?” João 1:11 (NVI): “Ele veio para o que era seu, mas os seus não o receberam.” Romanos 9:33 (NVI): “Como está escrito: ‘Eis que ponho em Sião uma pedra de tropeço e uma rocha que faz cair; mas aquele que confia nela jamais será envergonhado’.”
Esses textos e tantos outros, refletem diferentes aspectos da rejeição, desde a experiência de ser abandonado pelos outros até a rejeição de Jesus Cristo pelos que o cercavam durante seu ministério terreno. No entanto, eles também transmitem a mensagem de esperança e redenção, mostrando como Deus pode transformar a rejeição em algo significativo e poderoso.
Mas, a boa notícia é que todos esses filósofos, psicólogos, educadores, sociólogos, e as orientações da fé cristã, oferecem perspectivas valiosas sobre a rejeição, tanto no seu aspecto diagnóstico, como na capacitação para se saber lidar com ela. Todos os que estudam o tema destacam a importância de se construir ambientes relacionais que promovam a aceitação, respeito mútuo e o reconhecimento das habilidades e potencialidades únicas de cada um, bem como a valorização das diferenças de cor, raça, sexo e cultura. Se assim o for, a dinâmica da pluralidade-aceita cria uma mentalidade de crescimento, de apoio e incentivo para que todos, juntos, enfrentem os desafios de construir vidas e sociedades mais adequadas e saudáveis.
Aqui estão algumas perspectivas e estratégias que fomentam relacionamentos mais saudáveis, mais inclusivos, acolhedores e menos promotores da rejeição:
1. A promoção da empatia e da inclusão a partir do entendimento das experiências e perspectivas uns dos outros, reduz o potencial de rejeição e exclusão.
2. O desenvolvimento de habilidades sociais e a convivência entre diferentes é fundamental para lidar com situações de rejeição. A prática de habilidades como comunicação eficaz, resolução de conflitos e trabalho em equipe, ajudam a construir relacionamentos saudáveis e resilientes.
3. A valorização da autoestima e da autoconfiança fortalecem o desenvolvimento e a estruturação da autoimagem positiva e de uma autoestima bem alicerçadas. A importância do elogio, do feedback, da educação continuada, da mentoria constante e da valorização da autonomia, são fundamentais.
4. As estratégias de enfrentamento e confrontamento saudáveis para se lidar com a rejeição e a adversidade, são bem-vindas. Isso inclui técnicas de relaxamento, respiração profunda, mindfulness, competências conversacionais, bem como o desenvolvimento de habilidades de pensamento positivo e resiliência emocional.
5. A criação de uma cultura de segurança, de honestidade intelectual, de flexibilidade cognitiva e de resolução de problemas complexos em grupos heterogêneos, reduz sensivelmente o senso de rejeição, promovendo abertura para a relacionamentos inteligentes e fornecendo recursos e orientação para se enfrentar as circunstâncias da vida social.
6. Programas educacionais de prevenção de bullying para organizações e instituições de todas as naturezas, incluindo treinamento para gestores e funcionários sobre aceitação e respeito é fundamental. A intervenção imediata quando comportamentos e falas inadequadas são identificados, é um princípio muito eficaz. A ideia é promover em toda a sociedade, ambientes seguros, inclusivos e solidários, neutralizando qualquer expressão preconceituosa. Ao fornecerem orientação, apoio e recursos, esses programas ajudam as pessoas a desenvolverem habilidades e resiliência para enfrentar os desafios da vida e construir relacionamentos saudáveis e significativos.
Do ponto de vista pessoal, lidar com a rejeição é desafiador. Mas, existem várias estratégias e atitudes que podem nos ajudar a enfrentá-la de forma saudável e construtiva:
1. Reconheça e aceite seus sentimentos de rejeição. É normal se sentir triste, magoado ou zangado. Permita-se experimentar essas emoções, mas lembre-se de que elas não definem quem você é. Converse sobre isso com alguém competente em que você confia.
2. Reflita sobre como você está reagindo à rejeição. Está se culpando ou se depreciando? Tente identificar pensamentos distorcidos e substituí-los por pensamentos mais realistas e compassivos.
3. Busque apoio em amigos, familiares ou profissionais de saúde mental. Compartilhar seus sentimentos com outras pessoas pode ajudá-lo a se sentir compreendido e apoiado. Mentorias e processos terapêuticos são muito úteis.
4. Cultive uma autoestima saudável, reconhecendo suas qualidades e valor pessoal. Lembre-se de que a rejeição de uma pessoa ou situação não significa que você não seja digno de amor e aceitação.
5. Veja a rejeição como uma oportunidade de crescimento e aprendizado. Pergunte a si mesmo o que você pode aprender dessa experiência e como pode usá-la para se fortalecer no futuro. Seja proativo.
6. Priorize o autocuidado físico, emocional e mental. Cuide de si mesmo praticando atividades que o façam sentir-se bem, como exercícios, meditação, hobbies ou passatempos.
7. Evite se fixar no passado ou se preocupar demasiadamente com o futuro. Concentre-se no momento presente e nas coisas que você pode controlar.
A rejeição é uma parte inevitável da experiência humana, mas não precisa nos definir ou nos limitar. Ao compreendermos o que é rejeição, como ela nos afeta e como podemos lidar com ela, podemos aprender a transformar essa experiência desafiadora e dolorida, em uma oportunidade de crescimento e fortalecimento pessoal. Com práticas e atitudes positivas, podemos nos libertar do peso da rejeição e seguir em frente em direção a uma vida mais plena e satisfatória, lembrando sempre de que não estamos sozinhos nessa jornada.
E você, gostou?
Faz sentido essa reflexão?
Vamos conversar sobre o tema?
Acesse-me em homero@homeroreis.com; ou @homero.reis
Reflita em paz!
Homero Reis©.
Curitiba/PR, abril/2024
Recentemente escutei um podcast em que Pedro Cardoso, (1962/… ), ator, redator, roteirista, autor, escritor e humorista brasileiro, expressou-se sobre algumas questões acerca do modo como os cristãos pensam a vida de Jesus. Provocativamente o ator pergunta sobre “do que Jesus salva a humanidade?”, afirmando que nunca lhe responderam tal questão. Pois bem, vamos a ela.
A salvação de si mesmo: a vida de Jesus como exemplo de humanidade plena
A humanidade, desde os primórdios, carrega consigo um paradoxo: ao mesmo tempo em que constrói civilizações grandiosas, também perpetua destruições, guerras e desigualdades. Ao tempo em que cultua o valor humanístico, exclui, segrega, discrimina. Ao tempo em que fala de fraternidade e paz, é incapaz de exercer tais conceitos. Na reflexão proposta por Pedro Cardoso, ao questionar “do que Jesus salva a humanidade?”, uma resposta emerge clara: Jesus salva a humanidade de si mesma.
Ele não traz uma salvação mística ou distante, mas um chamado para que o ser humano se reencontre sua própria humanidade, resgate a dignidade do outro e busque, na convivência amorosa, um mundo melhor. Sua vida é o mapa para a salvação. Sua vida é um convite a um projeto humano que transcende o egoísmo e a destruição.
Salvar-nos de nós mesmos é, antes de tudo, um ato de coragem. Significa encarar nossa arrogância, nossa busca desenfreada pelo poder, nossa incapacidade de perceber a beleza que reside nas diferenças e na pluralidade. Salvar-nos é romper com o ciclo vicioso da ganância, das guerras ideológicas, das desigualdades sociais e das violências cotidianas que praticamos, muitas vezes, de forma inconsciente. Jesus traz essa provocação. Sua vida não é uma doutrina fria ou uma ideologia vazia, mas um testemunho vivo de como o amor, a compaixão e a justiça podem transformar a humanidade.
Um reino que é contra a lógica do poder
Jesus era esperado como um rei. Há uma esperança humana quase incontrolável por um líder que destrua os opressores e instaure uma nova ordem. No entanto, ao contrário da expectativa de seu tempo, Jesus não busca substituir reis ou instituir um reino político. Seu reino é outro: é o reino em que a justiça se sobrepõe à lei, em que o amor integra e não exclui, em que o perdão tem mais valor que a vingança.
Esse reino é uma revolução silenciosa, subversiva, contra cultural. Ele contraria a lógica do poder que domina o mundo: enquanto o mundo busca a supremacia, Jesus ensina o serviço; enquanto o mundo exalta a força, Jesus celebra a mansidão; enquanto o mundo oprime os fracos, Jesus acolhe os vulneráveis. Quando lhe foi oferecida a oportunidade de falar em Atenas – o centro intelectual do mundo antigo – Jesus optou pelo Calvário, rejeitando o brilho do debate estéril que apenas explica, mas não transforma, optando pela demonstração clara da “vida a serviço da vida”.
A vida de Jesus: um exemplo de plenitude
Pedro Cardoso chama a atenção para um ponto crucial: muitos cristãos valorizam exageradamente a morte de Jesus, deixando de lado o significado de sua vida. O que Cardoso parece não perceber é que aqueles que assim o fazem, não entenderam o propósito da missão dele. De fato, é na vida de Jesus que encontramos o verdadeiro chamado à humanidade plena. Sua vida é uma declaração contínua do valor da existência humana, uma celebração da vida em si.
Jesus viveu para que outros pudessem viver. Ele celebrou a vida quando transformou água em vinho no casamento em Caná, ensinando que a alegria tem lugar especial na existência humana. Ele celebrou a vida quando trouxe luz aos olhos dos cegos, caminhou com os excluídos e resgatou a dignidade dos impuros e esquecidos. Ele celebrou a vida quando restaurou o caminhar do coxo, quando trouxe de volta a saúde da mulher com hemorragia, quando livrou a “pecadora” do apedrejamento, quando reconciliou aquele que o traiu três vezes.
Sua vida desafiou sistemas religiosos, políticos e sociais que oprimiam os mais fracos. Ele enfrentou a arrogância dos poderosos, não com espada ou violência, mas com palavras e gestos de justiça e acolhimento. Sua vida não se resumiu a milagres, mas ao exemplo de humanidade. Jesus reuniu inimigos em uma mesma mesa, reconciliou famílias divididas, devolveu a esperança aos que haviam desistido de viver.
O propósito de sua morte: uma declaração de vida
Por que então a morte de Jesus é tão celebrada? Porque sua morte é uma extensão de sua vida. Sua morte é a prova de que o amor verdadeiro não se dobra às forças da opressão. É um tributo à verdade e à vida que ele tanto defendeu. Na cruz, Jesus declarou que a vida é mais importante do que a própria existência. Sua entrega é um ato de resistência contra tudo o que desumaniza e diminui a dignidade humana.
Aqueles que valorizam apenas a morte de Jesus e esquecem sua vida, não compreenderam o significado de sua missão. Sua morte é a culminação de uma vida vivida com propósito, entrega e amor incondicional. Sua ressurreição, por sua vez, é a porta para a eternidade, a prova de que a vida é um ciclo que nunca termina.
O chamado: transcender a nós mesmos
Jesus nos convida a transcender. Transcender a lógica do egoísmo, do poder e da destruição. Transcender nossa visão limitada sobre o outro e sobre o mundo. Ele nos lembra que não somos tão importantes assim. Nossa arrogância nos leva a achar que o mundo é nosso. Ledo engano. Fazemos parte do mundo, com a responsabilidade de cuidar dele, conservando-o em sua generosa e abundante riqueza, com a sabedoria que emana da sustentabilidade.
Por isso, Jesus nos desafia a “olhar os lírios do campo”, a acolher o próximo como o “samaritano” o fez, a receber de volta o “filho pródigo”, a repartir o pão, a “dar também a túnica”, e a “andá a segunda milha”.
Jesus nos salva de nós mesmos ao nos mostrar que há um caminho melhor: o caminho do amor, da compaixão e da justiça. Ele nos convida a viver uma vida que faz sentido, uma vida que celebra a existência do outro e que busca transformar o mundo em um lugar mais justo e mais humano.
Ao olharmos para a vida de Jesus, encontramos uma resposta clara para a pergunta de Pedro Cardoso: Jesus salva a humanidade dela mesma, oferecendo um exemplo vivo de como devemos viver. Sua vida é um convite permanente a sermos melhores, a reconstruirmos o que está quebrado e a reencontrarmos nossa própria humanidade.
Reflitam em paz!
POR HOMERO REIS©
PROIBIDA A REPRODUÇÃO DO TODO OU DE PARTES DESSE TEXTO, POR QUALQUER MEIO, SEM A AUTORIZAÇÃO PRÉVIA E FORMAL DO AUTOR. HOMERO REIS, HOMERO@HOMEROREIS.COM. BRASÍLIA, DEZEMBRO/2024
by HOMERO REIS ©[1]
“Inteligência” é a capacidade de se “ler dentro de alguma coisa”. Ler dentro dos relacionamentos é o conceito básico de inteligência relacional. Nesse texto quero aplicar esse conceito no entendimento do que está acontecendo no mundo do trabalho, considerando o resultado de uma pandemia recente, a instalação durante ela do “home office” e as consequências de tudo isso para os relacionamentos entre as pessoas e para as organizações.
Nos últimos tempos o trabalho remoto ganhou muita força, principalmente considerando as experiências das organizações durante e depois da pandemia de COVID-19. No começo, parecia uma solução perfeita: sem trânsito, horários mais flexíveis, trabalhar em casa com mais autonomia, foco nos resultados e não na burocracia da legislação trabalhista, insumos da tecnologia, etc.
Mas, com o tempo, as consequências do trabalho remoto começaram a aparecer, notadamente em decorrência de temas sobre os quais tínhamos muita teoria, mas pouco experimento com tal nível de globalidade. Impactos na vida privada decorrentes do fato de que somos seres relacionais, nos fizeram perceber que existe uma demanda “quase que inconsciente” de contatos entre “diferentes” como uma forma de manter minimamente a saúde das relações entre pessoas e o senso comum de “humanidade”.
De fato, o trabalho por sua natureza coletiva, também tem um certo nível saudável de demandas de dependência uns dos outros, o que é vital para a produtividade e saúde humanas. Afinal, somos seres que atuam em redes relacionais.
Uma das grandes questões do trabalho remoto, percebida como experiência real, foi a falta de contato entre as pessoas. No escritório, a gente acaba trocando ideias, desabafando sobre o dia a dia e criando laços com os colegas, explorando outros temas que “não fazem parte do trabalho”, mas que fazem parte da vida e do que chamamos de humanidade. Já em casa, essa interação fica limitada e o resultado é que muitos se sentem sozinhos e desconfortáveis, mesmo cercados dos que se constituem como núcleo familiar seja ele de que natureza for.
Esse isolamento causou vários problemas e suas consequências apareceram nas estatísticas de saúde e produtividade em todos os institutos de pesquisa. A revista FORBES, a mais conceituada publicação sobre o mundo dos negócios, em recente artigo (setembro/24), mostrou como cresceu, nos últimos 36 meses, a tristeza, a depressão, o bournout, principalmente dentro dos espaços corporativos. A conclusão é de que o isolamento e o trabalho remoto tem muito a nos dizer sobre as origens dessas patologias emocionais.
Muitas vezes, a gente nem percebe o quanto essas pequenas interações cotidianas fazem diferença no nosso bem-estar. No início do trabalho remoto, a produtividade pareceu aumentar dada a liberdade que se tinha de se “trabalhar do jeito que a gente quiser e quando quiser”. A ideia era de que “o importante é a entrega e o acordo sobre expectativas”.
Mas, no andar da carruagem a gente acabou percebendo que a redução da interatividade interpessoal em seu aspecto físico-presencial, afetou a saúde e, como consequência, os resultados. Ou seja, aquilo que melhoramos em termos de desempenho, foi consumido pelo aumento das doenças ocupacionais. Daquelas que conhecíamos e das tantas outros que estamos a descobrir depois.
As reuniões online que, apesar de funcionais, são mais objetivas e diretas, deixam pouco espaço para conversas informais e troca de ideias espontâneas. Aqueles momentos de “brainstorm” ou uma conversas no corredor que geram insights, se perderam e aquilo que parecia ser muito bom, não foi tão bom assim.
Esse cenário tem um impacto forte não só na saúde mental, mas também nos índices dos resultados. O isolamento pode fazer com que as pessoas se sintam mais tristes, e, com o tempo, isso evolui para algo mais sério, como a depressão e outras “dificuldades”.
A falta de separação entre a vida pessoal e o trabalho também aumentou e o risco de esgotamento deixou de ser risco para ser uma realidade. Quando o escritório está em casa, muita gente acaba se sentindo “presa” no trabalho o tempo todo e o espaço sagrado da intimidade foi devastado pelo whatsapp a qualquer hora do dia ou da noite. É difícil desligar. Mas também é difícil desligar o chefe com síndrome do trabalho compulsivo.
A pessoa trabalha mais horas do que deveria, além de ficar com um sentimento de culpa latente, associado a um cansaço físico e mental não percebido.
Diante desse cenário, muitas empresas estão tentando encontrar um equilíbrio entre as vantagens do trabalho remoto e do trabalho presencial. O chamado modelo híbrido que combina o melhor do trabalho remoto e do presencial, permite que os colaboradores tenham liberdade para escolher onde e quando trabalhar, de acordo com suas necessidades e conforme os acordos feitos com as equipes e com a empresa.
Esse modelo tem ganhado popularidade à medida que as organizações registram que nem todos os funcionários se adaptam bem ao home office integral, mas, ao mesmo tempo, querem preservar as vantagens da flexibilidade, equilibrando suas responsabilidades profissionais e pessoais de maneira mais eficaz.
Foi isso que um cliente meu expressou depois de um programa de inteligência relacional. “Eles (colaboradores e gestores), podem trabalhar em casa em dias em que precisam estar perto da família ou quando têm compromissos pessoais, mas também podem ir ao escritório em momentos em que precisam de um ambiente mais colaborativo com reuniões presenciais. Estou satisfeito com os resultados.”
A promoção de momentos presenciais periódicos para fortalecer os laços da equipe são fundamentais, mas o que muda no novo cenário do trabalho híbrido é que a escolha desses momentos não é mais uma imposição gerencial; antes, passa a ser um acordo entre pessoas maduras que entendem suas responsabilidades e compromissos.
Esses encontros são usados para atividades estratégicas, como sessões de planejamento, brainstorming ou treinamentos, mas também para momentos de socialização, como confraternizações, que ajudam a construir relacionamentos mais fortes entre todos, deixando a opção do trabalho remoto para as atividades operacionais e de caráter personalíssimo.
No fim das contas, o trabalho remoto tem suas vantagens, mas também traz muitos desafios que precisam ser enfrentados. A falta de contato e o isolamento são questões sérias, e é fundamental que as empresas estejam atentas a isso.
Então, o futuro do trabalho parece caminhar-se para um modelo mais flexível, onde cada vez mais será possível aproveitar o melhor dos dois mundos: a liberdade do home office e a interação do trabalho presencial, considerando que essa combinação promove tanto a produtividade quanto o bem-estar de todos. Afinal, o que todo mundo quer é encontrar o equilíbrio perfeito entre a vida pessoal e o trabalho, sem abrir a mão da saúde e da qualidade de vida relacional.
Na Homero Reis – Relações Inteligentes (www.homeroreis.com), estamos ajudando as organizações a encontrarem esse caminho mais adequado para uma nova “cultura” do trabalho. Nosso desafio junto aos nossos clientes tem sido o de promover espaços de responsabilidade e protagonismo, a partir da flexibilidade cognitiva, que nos permite construir juntos novos paradigmas para as relações de trabalho e produção.
A partir da inteligência relacional, buscamos encontrar soluções que atendam à necessidade das organizações de melhorarem seus resultados, mas também das pessoas de melhorarem sua qualidade de vida em todos os domínios do viver. Isso porque entendemos que “existe vida para além do trabalho”, mas é no trabalho que se constrói uma parte significativa de nossa identidade social e de nosso propósito existencial.
Resolvemos isso com muitas estratégias que promovem uma combinação possível (não perfeita), entre trabalho remoto e presencial, integrando as pessoas em uma cultura acolhedora, participativa e geradora do senso de pertencimento. Essas estratégias tem minorado significativamente a saúde de todos, fortalecido o senso de cooperação e colaboração, reduzindo custos e aumentado a interatividade de todos.
Os temas mais comuns que aparecem nesses projetos híbridos e que tem sido objeto de nossa oferta ao mercado, são:
- Gestão e monitoramento de equipes, onde usamos ferramentas de gestão de projetos e metodologias ágeis onde todos, colaboradores, gestores e líderes, desenvolvem novas competências conversacionais, garantindo que suas equipes se sintam reforçadas e orientadas tanto no ambiente presencial como no modelo remoto;
- Inovação e criatividade, onde usamos as técnicas construtivistas de “atividades cooperativas” e oficinas de relacionamentos;
- Segurança e privacidade, onde usamos modelos de protocolos de relacionamentos para estabelecer processos e limites relacionais voltados para preservação dos espaços individuais e controle dos espaços coletivos, bem como proteger redes, dispositivos, aplicativos, sistemas e dados de ameaças cibernéticas;
- Ergonomia e saúde física no trabalho remoto, onde usamos a prescrição de “dietas” de trabalho, laser, saúde e atividades físicas como processos educacionais na construção de hábitos saudáveis em todos os domínios da vida;
- e, questões ligadas à diversidade, inclusão e gênero, onde promovemos a reflexão, o debate e a construção de códigos de conduta e ética na vida, bem como a busca inteligente de um equilíbrio entre vida pessoal e profissional de todos e para todos.
Fazemos isso a partir de dois grandes eixos andragógicos: mentorias e transferência de tecnologia. No primeiro, construímos junto com os clientes um processo educacional a partir das melhores práticas, de modo que cada um se torne um multiplicador da nova cultura do trabalho dentro da organização em que atua.
No segundo, promovemos a transferência de conteúdos para a organização, de modo que ela “ganhe tempo” na instalação de novos paradigmas nas relações de trabalho e produção, focando em resultados e qualidade de vida.
É assim que atuamos.
Seja bem-vindo à Homero Reis – Relações Inteligentes.
Venha conversar conosco.
Abraços.
Homero Reis
Sócio-fundador.
[1] © proibida a reprodução do todo ou de parte desse texto sem a prévia autorização do autor. Direitos reservados a REIS, Homero; Brasília/DF, setembro/2024. homero@homeroreis.com
Entenda, Lide e Supere
por Homero Reis©
A vida e os relacionamentos humanos são complexos e cheios de circunstâncias nem sempre agradáveis, claras e objetivas. Muito pelo contrário. Vivemos em redes relacionais em intensa interação onde as interferências recíprocas são muito mais amplas do que “supõem nossa vã filosofia”. Mas, considerando a história da humanidade, começamos a estudar há muito pouco tempo os impactos (causas e consequências) de nossas interferências recíprocas em nossa saúde pessoal, social e emocional.
É fato que o que nasce da barriga da mulher é a reprodução biológica da espécie; mas, o que nos torna seres humanos é nossa vida sócio-comunitária porque “ser humano é ser social”. É nesse sentido que somos a origem e o destino de nossas competências e fracassos. Com essa distinção básica, começou-se a estudar o que as interações sociais promovem em termos de identidade e de saúde tanto na sociedade como nos indivíduos. Desde então, muitas coisas foram sendo explicadas e entendidas, mas muitas questões novas estão surgindo desses estudos. Dentre elas, o que se tem até o momento como o mais complexo dos sentimentos, e como um dos aspectos mais difíceis de serem compreendidos e cuidados é a questão da rejeição. Nos sentimos rejeitados, aprendemos a viver com isso e rejeitamos os outros num ciclo vicioso contínuo. Mas, amos conversar sobre isso.
Conceituando melhor o termo: Rejeição é uma palavra que evoca uma gama de emoções e experiências complexas. Desde os primeiros dias de nossa existência até os estágios mais avançados da vida, todos nós nos encontramos em muitos momentos, confrontados por esse sentimento desconfortável. Mas o que exatamente é rejeição? Como ela afeta nossa mente, nossas emoções e nosso comportamento? O que filósofos, educadores e religiosos dizem sobre a rejeição? E, o mais importante, como lidar com ela e ser capaz de superar esse desafio emocional?
A rejeição é a sensação de ser excluído, abandonado ou não aceito. Ela pode ser experimentada em diversas formas e em diferentes contextos. Pode ocorrer de forma sutil, como um olhar de desaprovação, uma frase dita por alguém, ou de maneira mais direta e ostensiva, como ser demitido de um emprego, rejeitado em um pedido de amor. Rejeitar alguém significa resistir às suas diferenças, desqualificá-lo a partir de preconceitos, desprezar ou recusar algo ou alguém por qualquer que seja a razão. Estudos mostram que dentre todas as “tragédias humanas”, a rejeição é a que gera as feridas emocionais mais profundas e dolorosas. A dor que ela provoca é mais intensa que a dor da perda e da morte de alguém que amamos muito. O que é mais grave é que a rejeição se faz presente em todos os âmbitos da vida e não se conhece nenhuma mecânica social que não a tenha em seu escopo. Todos os indivíduos, povos, línguas, culturas e raças, ao longo de todo o tempo viveram (ou vivem) situações de rejeição. Isso ocorre desde as relações sociais nucleares, até as relações entre estados, povos e nações.
A rejeição ocorre quando um indivíduo é deliberadamente excluído de uma relação ou interação social por outro indivíduo ou por grupos inteiros, incluindo aí a rejeição de seus pares, a rejeição dos afetos, a étnica, cultural e a rejeição familiar, além das que decorrem de preconceitos de qualquer natureza.
Além disso, a rejeição pode ser ativa, quando promove a exposição do outro ridicularizando-o, desqualificando-o (bullying), ou; passiva, quando ignora o outro. Mas, em qualquer caso, a experiência de ser rejeitado ou de viver circunstâncias inevitáveis de rejeição, embora seja subjetiva, gera inúmeras consequências objetivas na vida. Seus efeitos mais comuns aparecem travestidos de isolamento social, sentimento de exclusão e cancelamento, quebra de vínculos afetivos, “síndrome do estrangeiro”, além de solidão, baixa autoestima, agressividade, depressão, insegurança, dificuldades afetivo-relacionais, dentre outras.
A rejeição é especialmente dolorosa porque a necessidade de interação com outros seres humanos é uma necessidade básica e essencial para a construção de nossa identidade. Segundo Maslow (falarei dele mais a frente), todos os seres humanos, mesmo aqueles mais introvertidos, precisam ser capazes de dar e receber afeto para serem psicologicamente saudáveis. O contato simples ou a interação social eventual com os outros não é suficiente para atender a essa necessidade. As pessoas necessitam formar e manter relacionamentos interpessoais significativos e estáveis para satisfazer necessidades de amar e ser amado, como de pertencimento social. Se algum desses ingredientes (pertencimento e amor), estiverem faltando, as pessoas começarão a sentir-se solitárias e infelizes. Por isso a rejeição é uma ameaça significativa. De fato, a maioria das ansiedades humanas parece decorrer de preocupações sobre a questão da rejeição.
O modo como o indivíduo espera ser reconhecido no meio em que vive é um componente-chave para a qualidade da autoimagem e do modo como ele atua me sociedade. Tanto é que um estudo da Duke University, conduzido por Mark Leary (2022), sugeriu que o objetivo principal da autoimagem é monitorar nossas relações sociais e detectar a possibilidades de rejeição. Nesse estudo, a autoimagem aparece como uma medida da nossa capacidade de tolerar a exclusão. Quando essa taxa é baixa, aparecem comportamentos antissociais (solidão, isolamento, agorafobia, etc); bem como comportamento agressivo, desatenção, impulsividade e altas taxas de ansiedade.
Depois que o indivíduo “admite” viver em estado de rejeição, ou sucumbe-se a esse estado, tende a julgar impossível livrar-se dele e sua vida, no sentido mais amplo, passa a ser determinada por desmotivações, vitimismo, resistência à mudança, comportamento excessivamente rotineiro. No estudo da Duke University, pesquisadores descobriram que, a rejeição quando internalizada como “conduta normal do mundo”, promove quebra de conexões sociais e um vazio existencial preenchido, muitas vezes, por sentimentos de preconceitos e tirania, dando lugar à angústia constante.
É importante considerar que o tema da rejeição é amplo e a maneira como ela pode se manifestar, em diferentes áreas da vida, é complexo e diverso em cada contexto. As principais formas de manifestação do “sentimento” de rejeição, começam com a exclusão passiva por um grupo social ou por alguém, e segue com rompimento amoroso ou preferência familiar, até rejeição profissional, como não ser selecionado para um emprego ou receber críticas negativas reiteradas vezes. Ela também pode ocorrer de maneira sutil, como não ser convidado para um evento, ou de forma mais direta, ser insultado ou menosprezado por outras pessoas.
A rejeição tem um impacto significativo no bem-estar mental e emocional, desencadeando uma série de emoções negativas, como tristeza, raiva, vergonha e ansiedade. Além disso, repetida ou prolongada contribui para o desenvolvimento de problemas de saúde mental, como transtornos obsessivo compulsivo, e as já citadas depressão, baixa autoestima e transtornos de ansiedade.
A rejeição cria um ciclo vicioso e negativo de vergonha crônica em que a pessoa começa a internalizar a mensagem de que não é digna de amor ou aceitação, se envergonha por isso e, por isso passa a acreditar que não é digna de amor e aceitação. Isso leva a um padrão de pensamento e comportamento que tende à autodestruição.
Do ponto de vista psíquico, a rejeição ativa áreas do cérebro associadas à dor física, sugerindo que ela pode ser percebida pelo nosso cérebro como uma forma de lesão emocional. Isso explica por que a rejeição pode ser tão dolorosa e difícil de superar. A psicologia oferece insights valiosos sobre como a rejeição funciona e como podemos lidar com ela. A Teoria da Autodeterminação, (p.ex.), afirma que todos nós temos uma necessidade inata de nos sentir conectados e aceitos pelos outros. Quando essa necessidade não é atendida, experimentamos a dor da rejeição. A resiliência como capacidade de suportar e se recuperar de adversidades e desafios, incluindo a rejeição, é outro indicador importante. A psicologia nos ensina que a resiliência não é algo inato, mas sim uma habilidade que pode ser desenvolvida através de práticas e estratégias específicas que nos fortalecem contra os “estragos” da rejeição.
Freud (Sigmund), ofereceu várias contribuições importantes para a compreensão da rejeição enquanto fenômeno psíquico. Embora ele não a tenha abordado diretamente em sua obra, muitos de seus conceitos e teorias são relevantes para a forma como entendemos esse fenômeno.
Na teoria do complexo de Édipo (p.ex.), usada para explicar o desenvolvimento da sexualidade infantil e a formação do superego, Freud defende que durante a fase fálica do desenvolvimento psicossexual, as crianças desenvolvem desejos inconscientes pelo genitor do sexo oposto e hostilidade em relação ao genitor do mesmo sexo. A resolução bem-sucedida desse complexo envolve a identificação com o genitor do mesmo sexo e a internalização dos valores e normas sociais, enquanto a rejeição desses desejos pode levar a conflitos psíquicos e distúrbios emocionais. A resolução do complexo de Édipo pressupõe a competência para se lidar com a rejeição.
Freud também descreveu uma série de mecanismos de defesa que o ego utiliza para lidar com conflitos e ansiedades. A negação (p.ex.), é um mecanismo de defesa pelo qual a pessoa recusa aceitar uma determinada realidade dolorosa ou perturbadora. Nesse caso, a rejeição é uma forma de negação, onde o indivíduo tenta negar ou minimizar o impacto emocional de uma experiência de exclusão ou não aceitação.
Na teoria sobre o narcisismo, Freud discute a questão do amor-próprio e da autoestima. Para ele o narcisismo saudável consiste em ser capaz de reconhecer sua beleza e de estimar-se por isso, sendo natural ao desenvolvimento humano uma “alta” autoestima. Mas, quando em excesso, o narcisismo leva à rigidez psíquica e à incapacidade de lidar com o fato de que os outros podem discordar de nós. Nesse caso, a rejeição pode ser particularmente desafiadora para os indivíduos com um alto grau de narcisismo, pois ameaça a imagem idealizada de si mesmos.
Embora Freud não tenha tratado explicitamente da rejeição como um fenômeno isolado, suas teorias sobre o desenvolvimento psicossexual, os mecanismos de defesa e o narcisismo oferecem insights importantes sobre como a rejeição pode ser entendida e abordada do ponto de vista psicanalítico. A partir desses conceitos, os psicanalistas contemporâneos continuam a explorar a dinâmica da rejeição e seu impacto na vida mental e emocional dos indivíduos.
Do ponto de vista filosófico, muito se fala sobre a rejeição. Vários filósofos ao longo da história exploraram o tema, oferecendo perspectivas valiosas sobre esse aspecto da experiência humana. Por exemplo, Søren Kierkegaard, o filósofo dinamarquês do século XIX, pai do existencialismo, abordou a rejeição em sua obra “O Conceito de Angústia”. Nela ele explora a ideia de que a rejeição é uma manifestação da angústia existencial, resultante da liberdade e da responsabilidade do indivíduo. Kierkegaard argumentava que a rejeição é uma parte inevitável da busca pela autenticidade e pelo significado na vida. A questão está em saber lidar com ela e não sucumbir-se a ela.
Já Friedrich Nietzsche discutiu a rejeição em relação ao conceito de ressentimento em sua obra “Genealogia da Moral”. Ele sugeria que a rejeição surge como uma reação à inferioridade percebida em relação a outra pessoa ou grupo. Nietzsche via a superação do ressentimento e da rejeição como uma parte essencial do projeto de “maturidade humana “e da afirmação da vontade de poder.
Sartre (Jean-Paul), o existencialista francês, explorou a rejeição em sua filosofia da liberdade e da responsabilidade individual. No livro “O Ser e o Nada”, argumenta que a rejeição é uma consequência inevitável da liberdade de escolha. Ele enfatizava a importância de assumir a responsabilidade por nossas próprias ações, mesmo quando enfrentamos a rejeição dos outros. Para ele, cada escolha pressupõe a renúncia de infinitas outras possibilidades. Saber renunciar é saber lidar com a rejeição.
Michel Foucault examinou a dinâmica do poder e da exclusão social em sua análise das instituições sociais e do controle disciplinar. Na obra “Vigiar e Punir”, ele descreveu como a rejeição pode ser utilizada como uma ferramenta de controle social, marginalizando aqueles que desafiam as normas estabelecidas. Foucault destacava a importância de resistir à rejeição e de lutar contra as estruturas opressivas do poder.
Esses filósofos (dentre tantos), oferecem uma variedade de perspectivas sobre a rejeição, desde sua relação com a angústia existencial e o ressentimento, até sua conexão com a liberdade e o poder. Suas ideias continuam a influenciar o pensamento contemporâneo sobre esse tema complexo e universal.
Mas o que os educadores falam sobre a rejeição? À semelhança da filosofia, os educadores também têm na rejeição um tema estruturante de suas teorias. Jean Piaget, um dos educadores mais influentes e pai do construtivismo, quando tratou do desenvolvimento cognitivo infantil, não se concentrou especificamente na rejeição, mas nos trouxe importantes princípios, no contexto educacional, que têm contribuído com perspectivas sobre como a rejeição pode afetar o processo educacional e o desenvolvimento das crianças. Suas teorias esclarecem como elas lidam com o conflito e a desaprovação. Piaget enfatizou a importância do jogo simbólico e da interação social na aprendizagem das crianças. Ele argumentava que as crianças constroem ativamente seu próprio conhecimento por meio da exploração e da experimentação. O conflito cognitivo entre a construção da identidade e a rejeição natural dos outros, desempenha um papel crucial nesse processo.
Vygotsky, outro importante teórico do desenvolvimento infantil, tem ideias relevantes para o tema da rejeição no processo educacional, com repercussões na vida adulta. Ele enfatizou o papel do ambiente social na aprendizagem das crianças, argumentando que a interação com os outros e a participação em atividades culturais e sociais são fundamentais para o desenvolvimento cognitivo. Vygotsky introduziu o conceito de “zona proximal de desenvolvimento”, que se refere ao espaço entre o que uma criança pode fazer sozinha e o que pode fazer com a ajuda de um adulto ou colega mais experiente. No contexto educacional, a rejeição por parte dos colegas ou dos professores pode afetar negativamente a autoestima e o engajamento dos alunos, limitando assim seu acesso à zona proximal de desenvolvimento e seu potencial de aprendizagem. Tal processo cria mecanismos que se repetirão na vida adulta. Quando alguém entende que está sendo rejeitado, sua mobilização e seu potencial para a vida, são profundamente reduzidos.
Carl Rogers também abordou questões relacionadas à educação e ao desenvolvimento pessoal, nos dando boas pistas para se entender o efeito da rejeição na vida. Ele enfatizou a importância da aceitação incondicional e do respeito genuíno no processo educacional, argumentando que os alunos prosperam em um ambiente onde se sentem valorizados e respeitados como indivíduos. A rejeição por parte dos professores ou dos colegas, mina a autoestima e a autoconfiança, prejudicando o desempenho acadêmico, profissional, relacional e o bem-estar emocional.
Na hierarquia das necessidades psicológicas de Abraham Maslow, depois de satisfeitas as necessidades básicas (fisiológicas: comer, beber, etc), todos os demais níveis (segurança, social, estima) presumem reconhecimento e aceitação. Segurança e pertencimento são o contraponto à rejeição que, quando não “processada” ameaça toda a estabilidade psicossocial das pessoas e dificulta o processo de aprendizagem, desenvolvimento e engajamento social.
Howard Gardner, conhecido por sua teoria das inteligências múltiplas, mentes que criam e estruturas da mente, também enfatiza a importância do reconhecimento e da valorização das habilidades e talentos únicos de cada um, num contexto de aceitação e acolhimento. A rejeição, ao surgir, pode nos fazer sentir inadequados ou desvalorizados por não nos encaixar em determinado padrão “de sucesso”, o que prejudica substantivamente a autoestima e motivação para a vida.
Carol Dweck, conhecida por seu trabalho sobre a mentalidade de crescimento, sugere que as crenças das pessoas sobre suas próprias habilidades influenciam seu comportamento e desempenho. No contexto relacional, Dweck argumenta que nossas habilidades podem ser desenvolvidas através do esforço e da prática e, se associado a isso também se tem um contexto de aceitação dessas habilidades pelo grupo social, exponencializa-se o desempenho e a saúde tanto da pessoa como da “comunidade”. Por outro lado, se esse contexto é de rejeição, as perdas pessoais e sociais são enormes. A rejeição desencadeia uma mentalidade de “fixação”, onde as pessoas se veem como incapazes de mudar ou melhorar, prejudicando assim seu desempenho, sua motivação para aprender e seu compromisso com a vida. Dweck vai mais além quando afirma que a rejeição é uma forma extremamente agressiva de relacionamentos tóxicos e abusivos.
Na religião cristã, a abordagem da rejeição segue a linha da complexidade, refletindo uma combinação de ensinamentos bíblicos, interpretações teológicas e práticas espirituais que atuam a partir de dois argumentos: 1) A rejeição é um fenômeno decorrente do pecado. O homem rejeitou a Deus e, por isso sofre as consequências de sua escolha; 2) A salvação em Cristo restaura a relação do homem com Deus, afastando a rejeição e criando um novo homem e um povo que vive a partir do amor. Esse povo é chamado de “igreja de cristo”, “corpo de Cristo”, “Reino de Deus”.
As perspectivas da rejeição, do ponto de vista da fé cristã, em seus aspectos negativos e positivos, podem ser resumidos assim:
1. Deus é amor e aceita e ama incondicionalmente cada indivíduo, independentemente de suas falhas ou imperfeições. Essa aceitação divina é vista como uma fonte de segurança e consolo para aqueles que se sentem rejeitados pelos outros.
2. A morte e ressurreição de Jesus Cristo, dá a todas as pessoas a oportunidade de serem perdoadas e reconciliadas com Deus. Isso significa que, mesmo quando nos sentimos rejeitados pelos outros ou por nós mesmos, podemos encontrar esperança e renovação na fé em Cristo, pela aceitação de seu sacrifício na cruz e de sua condição de Senhor.
3. A comunidade cristã (igreja), é vista como um lugar de acolhimento e apoio mútuo, onde os membros são encorajados a se amarem e cuidarem uns dos outros. Os cristãos são chamados a praticar a empatia, a compaixão e a solidariedade, oferecendo conforto e apoio àqueles que estão enfrentando a rejeição.
4. Para os cristãos, a identidade do indivíduo não está enraizada nas opiniões ou julgamentos dos outros, mas sim na sua relação com Deus em Cristo Jesus, como filhas e filhos amados. Isso significa que a rejeição por parte dos outros não define quem somos, pois nossa identidade é encontrada em nossa fé em Cristo.
5. A fé cristã ensina que, mesmo diante da adversidade e da rejeição, podemos encontrar força e esperança na promessa de Deus de que Ele está conosco em todas as circunstâncias. Essa confiança na providência divina nos capacita a perseverar e a superar os desafios que enfrentamos.
A religião cristã aborda a rejeição como um desafio humano comum, mas oferece uma perspectiva de esperança, amor e aceitação divinos, juntamente com o apoio da comunidade de fé. Esses ensinamentos proporcionam conforto e orientação para aqueles que lidam com a rejeição, incentivando-os a encontrar significado e propósito em sua relação com Deus e com os outros.
Aqui vão alguns textos bíblicos que abordam o tema da rejeição: Salmo 27:10 (NVI): “Embora meus pais me abandonem, o Senhor me receberá.” Isaías 53:3 (NVI): “Foi desprezado e rejeitado pelos homens, um homem de dores e familiarizado com o sofrimento. Como alguém de quem os homens escondem o rosto, foi desprezado, e nós não o tínhamos em estima.” Mateus 21:42 (NVI): “Jesus lhes disse: ‘Vocês nunca leram nas Escrituras: ‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; isso vem do Senhor, e é algo maravilhoso para nós’. “Lucas 20:17 (NVI): “Jesus olhou para eles e perguntou: ‘Então, o que significa o que está escrito: ‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular’?” João 1:11 (NVI): “Ele veio para o que era seu, mas os seus não o receberam.” Romanos 9:33 (NVI): “Como está escrito: ‘Eis que ponho em Sião uma pedra de tropeço e uma rocha que faz cair; mas aquele que confia nela jamais será envergonhado’.”
Esses textos e tantos outros, refletem diferentes aspectos da rejeição, desde a experiência de ser abandonado pelos outros até a rejeição de Jesus Cristo pelos que o cercavam durante seu ministério terreno. No entanto, eles também transmitem a mensagem de esperança e redenção, mostrando como Deus pode transformar a rejeição em algo significativo e poderoso.
Mas, a boa notícia é que todos esses filósofos, psicólogos, educadores, sociólogos, e as orientações da fé cristã, oferecem perspectivas valiosas sobre a rejeição, tanto no seu aspecto diagnóstico, como na capacitação para se saber lidar com ela. Todos os que estudam o tema destacam a importância de se construir ambientes relacionais que promovam a aceitação, respeito mútuo e o reconhecimento das habilidades e potencialidades únicas de cada um, bem como a valorização das diferenças de cor, raça, sexo e cultura. Se assim o for, a dinâmica da pluralidade-aceita cria uma mentalidade de crescimento, de apoio e incentivo para que todos, juntos, enfrentem os desafios de construir vidas e sociedades mais adequadas e saudáveis.
Aqui estão algumas perspectivas e estratégias que fomentam relacionamentos mais saudáveis, mais inclusivos, acolhedores e menos promotores da rejeição:
1. A promoção da empatia e da inclusão a partir do entendimento das experiências e perspectivas uns dos outros, reduz o potencial de rejeição e exclusão.
2. O desenvolvimento de habilidades sociais e a convivência entre diferentes é fundamental para lidar com situações de rejeição. A prática de habilidades como comunicação eficaz, resolução de conflitos e trabalho em equipe, ajudam a construir relacionamentos saudáveis e resilientes.
3. A valorização da autoestima e da autoconfiança fortalecem o desenvolvimento e a estruturação da autoimagem positiva e de uma autoestima bem alicerçadas. A importância do elogio, do feedback, da educação continuada, da mentoria constante e da valorização da autonomia, são fundamentais.
4. As estratégias de enfrentamento e confrontamento saudáveis para se lidar com a rejeição e a adversidade, são bem-vindas. Isso inclui técnicas de relaxamento, respiração profunda, mindfulness, competências conversacionais, bem como o desenvolvimento de habilidades de pensamento positivo e resiliência emocional.
5. A criação de uma cultura de segurança, de honestidade intelectual, de flexibilidade cognitiva e de resolução de problemas complexos em grupos heterogêneos, reduz sensivelmente o senso de rejeição, promovendo abertura para a relacionamentos inteligentes e fornecendo recursos e orientação para se enfrentar as circunstâncias da vida social.
6. Programas educacionais de prevenção de bullying para organizações e instituições de todas as naturezas, incluindo treinamento para gestores e funcionários sobre aceitação e respeito é fundamental. A intervenção imediata quando comportamentos e falas inadequadas são identificados, é um princípio muito eficaz. A ideia é promover em toda a sociedade, ambientes seguros, inclusivos e solidários, neutralizando qualquer expressão preconceituosa. Ao fornecerem orientação, apoio e recursos, esses programas ajudam as pessoas a desenvolverem habilidades e resiliência para enfrentar os desafios da vida e construir relacionamentos saudáveis e significativos.
Do ponto de vista pessoal, lidar com a rejeição é desafiador. Mas, existem várias estratégias e atitudes que podem nos ajudar a enfrentá-la de forma saudável e construtiva:
1. Reconheça e aceite seus sentimentos de rejeição. É normal se sentir triste, magoado ou zangado. Permita-se experimentar essas emoções, mas lembre-se de que elas não definem quem você é. Converse sobre isso com alguém competente em que você confia.
2. Reflita sobre como você está reagindo à rejeição. Está se culpando ou se depreciando? Tente identificar pensamentos distorcidos e substituí-los por pensamentos mais realistas e compassivos.
3. Busque apoio em amigos, familiares ou profissionais de saúde mental. Compartilhar seus sentimentos com outras pessoas pode ajudá-lo a se sentir compreendido e apoiado. Mentorias e processos terapêuticos são muito úteis.
4. Cultive uma autoestima saudável, reconhecendo suas qualidades e valor pessoal. Lembre-se de que a rejeição de uma pessoa ou situação não significa que você não seja digno de amor e aceitação.
5. Veja a rejeição como uma oportunidade de crescimento e aprendizado. Pergunte a si mesmo o que você pode aprender dessa experiência e como pode usá-la para se fortalecer no futuro. Seja proativo.
6. Priorize o autocuidado físico, emocional e mental. Cuide de si mesmo praticando atividades que o façam sentir-se bem, como exercícios, meditação, hobbies ou passatempos.
7. Evite se fixar no passado ou se preocupar demasiadamente com o futuro. Concentre-se no momento presente e nas coisas que você pode controlar.
A rejeição é uma parte inevitável da experiência humana, mas não precisa nos definir ou nos limitar. Ao compreendermos o que é rejeição, como ela nos afeta e como podemos lidar com ela, podemos aprender a transformar essa experiência desafiadora e dolorida, em uma oportunidade de crescimento e fortalecimento pessoal. Com práticas e atitudes positivas, podemos nos libertar do peso da rejeição e seguir em frente em direção a uma vida mais plena e satisfatória, lembrando sempre de que não estamos sozinhos nessa jornada.
E você, gostou?
Faz sentido essa reflexão?
Vamos conversar sobre o tema?
Acesse-me em homero@homeroreis.com; ou @homero.reis
Reflita em paz!
Homero Reis©.
Curitiba/PR, abril/2024
Recentemente escutei um podcast em que Pedro Cardoso, (1962/… ), ator, redator, roteirista, autor, escritor e humorista brasileiro, expressou-se sobre algumas questões acerca do modo como os cristãos pensam a vida de Jesus. Provocativamente o ator pergunta sobre “do que Jesus salva a humanidade?”, afirmando que nunca lhe responderam tal questão. Pois bem, vamos a ela.
A salvação de si mesmo: a vida de Jesus como exemplo de humanidade plena
A humanidade, desde os primórdios, carrega consigo um paradoxo: ao mesmo tempo em que constrói civilizações grandiosas, também perpetua destruições, guerras e desigualdades. Ao tempo em que cultua o valor humanístico, exclui, segrega, discrimina. Ao tempo em que fala de fraternidade e paz, é incapaz de exercer tais conceitos. Na reflexão proposta por Pedro Cardoso, ao questionar “do que Jesus salva a humanidade?”, uma resposta emerge clara: Jesus salva a humanidade de si mesma.
Ele não traz uma salvação mística ou distante, mas um chamado para que o ser humano se reencontre sua própria humanidade, resgate a dignidade do outro e busque, na convivência amorosa, um mundo melhor. Sua vida é o mapa para a salvação. Sua vida é um convite a um projeto humano que transcende o egoísmo e a destruição.
Salvar-nos de nós mesmos é, antes de tudo, um ato de coragem. Significa encarar nossa arrogância, nossa busca desenfreada pelo poder, nossa incapacidade de perceber a beleza que reside nas diferenças e na pluralidade. Salvar-nos é romper com o ciclo vicioso da ganância, das guerras ideológicas, das desigualdades sociais e das violências cotidianas que praticamos, muitas vezes, de forma inconsciente. Jesus traz essa provocação. Sua vida não é uma doutrina fria ou uma ideologia vazia, mas um testemunho vivo de como o amor, a compaixão e a justiça podem transformar a humanidade.
Um reino que é contra a lógica do poder
Jesus era esperado como um rei. Há uma esperança humana quase incontrolável por um líder que destrua os opressores e instaure uma nova ordem. No entanto, ao contrário da expectativa de seu tempo, Jesus não busca substituir reis ou instituir um reino político. Seu reino é outro: é o reino em que a justiça se sobrepõe à lei, em que o amor integra e não exclui, em que o perdão tem mais valor que a vingança.
Esse reino é uma revolução silenciosa, subversiva, contra cultural. Ele contraria a lógica do poder que domina o mundo: enquanto o mundo busca a supremacia, Jesus ensina o serviço; enquanto o mundo exalta a força, Jesus celebra a mansidão; enquanto o mundo oprime os fracos, Jesus acolhe os vulneráveis. Quando lhe foi oferecida a oportunidade de falar em Atenas – o centro intelectual do mundo antigo – Jesus optou pelo Calvário, rejeitando o brilho do debate estéril que apenas explica, mas não transforma, optando pela demonstração clara da “vida a serviço da vida”.
A vida de Jesus: um exemplo de plenitude
Pedro Cardoso chama a atenção para um ponto crucial: muitos cristãos valorizam exageradamente a morte de Jesus, deixando de lado o significado de sua vida. O que Cardoso parece não perceber é que aqueles que assim o fazem, não entenderam o propósito da missão dele. De fato, é na vida de Jesus que encontramos o verdadeiro chamado à humanidade plena. Sua vida é uma declaração contínua do valor da existência humana, uma celebração da vida em si.
Jesus viveu para que outros pudessem viver. Ele celebrou a vida quando transformou água em vinho no casamento em Caná, ensinando que a alegria tem lugar especial na existência humana. Ele celebrou a vida quando trouxe luz aos olhos dos cegos, caminhou com os excluídos e resgatou a dignidade dos impuros e esquecidos. Ele celebrou a vida quando restaurou o caminhar do coxo, quando trouxe de volta a saúde da mulher com hemorragia, quando livrou a “pecadora” do apedrejamento, quando reconciliou aquele que o traiu três vezes.
Sua vida desafiou sistemas religiosos, políticos e sociais que oprimiam os mais fracos. Ele enfrentou a arrogância dos poderosos, não com espada ou violência, mas com palavras e gestos de justiça e acolhimento. Sua vida não se resumiu a milagres, mas ao exemplo de humanidade. Jesus reuniu inimigos em uma mesma mesa, reconciliou famílias divididas, devolveu a esperança aos que haviam desistido de viver.
O propósito de sua morte: uma declaração de vida
Por que então a morte de Jesus é tão celebrada? Porque sua morte é uma extensão de sua vida. Sua morte é a prova de que o amor verdadeiro não se dobra às forças da opressão. É um tributo à verdade e à vida que ele tanto defendeu. Na cruz, Jesus declarou que a vida é mais importante do que a própria existência. Sua entrega é um ato de resistência contra tudo o que desumaniza e diminui a dignidade humana.
Aqueles que valorizam apenas a morte de Jesus e esquecem sua vida, não compreenderam o significado de sua missão. Sua morte é a culminação de uma vida vivida com propósito, entrega e amor incondicional. Sua ressurreição, por sua vez, é a porta para a eternidade, a prova de que a vida é um ciclo que nunca termina.
O chamado: transcender a nós mesmos
Jesus nos convida a transcender. Transcender a lógica do egoísmo, do poder e da destruição. Transcender nossa visão limitada sobre o outro e sobre o mundo. Ele nos lembra que não somos tão importantes assim. Nossa arrogância nos leva a achar que o mundo é nosso. Ledo engano. Fazemos parte do mundo, com a responsabilidade de cuidar dele, conservando-o em sua generosa e abundante riqueza, com a sabedoria que emana da sustentabilidade.
Por isso, Jesus nos desafia a “olhar os lírios do campo”, a acolher o próximo como o “samaritano” o fez, a receber de volta o “filho pródigo”, a repartir o pão, a “dar também a túnica”, e a “andá a segunda milha”.
Jesus nos salva de nós mesmos ao nos mostrar que há um caminho melhor: o caminho do amor, da compaixão e da justiça. Ele nos convida a viver uma vida que faz sentido, uma vida que celebra a existência do outro e que busca transformar o mundo em um lugar mais justo e mais humano.
Ao olharmos para a vida de Jesus, encontramos uma resposta clara para a pergunta de Pedro Cardoso: Jesus salva a humanidade dela mesma, oferecendo um exemplo vivo de como devemos viver. Sua vida é um convite permanente a sermos melhores, a reconstruirmos o que está quebrado e a reencontrarmos nossa própria humanidade.
Reflitam em paz!
POR HOMERO REIS©
PROIBIDA A REPRODUÇÃO DO TODO OU DE PARTES DESSE TEXTO, POR QUALQUER MEIO, SEM A AUTORIZAÇÃO PRÉVIA E FORMAL DO AUTOR. HOMERO REIS, HOMERO@HOMEROREIS.COM. BRASÍLIA, DEZEMBRO/2024
by HOMERO REIS ©[1]
“Inteligência” é a capacidade de se “ler dentro de alguma coisa”. Ler dentro dos relacionamentos é o conceito básico de inteligência relacional. Nesse texto quero aplicar esse conceito no entendimento do que está acontecendo no mundo do trabalho, considerando o resultado de uma pandemia recente, a instalação durante ela do “home office” e as consequências de tudo isso para os relacionamentos entre as pessoas e para as organizações.
Nos últimos tempos o trabalho remoto ganhou muita força, principalmente considerando as experiências das organizações durante e depois da pandemia de COVID-19. No começo, parecia uma solução perfeita: sem trânsito, horários mais flexíveis, trabalhar em casa com mais autonomia, foco nos resultados e não na burocracia da legislação trabalhista, insumos da tecnologia, etc.
Mas, com o tempo, as consequências do trabalho remoto começaram a aparecer, notadamente em decorrência de temas sobre os quais tínhamos muita teoria, mas pouco experimento com tal nível de globalidade. Impactos na vida privada decorrentes do fato de que somos seres relacionais, nos fizeram perceber que existe uma demanda “quase que inconsciente” de contatos entre “diferentes” como uma forma de manter minimamente a saúde das relações entre pessoas e o senso comum de “humanidade”.
De fato, o trabalho por sua natureza coletiva, também tem um certo nível saudável de demandas de dependência uns dos outros, o que é vital para a produtividade e saúde humanas. Afinal, somos seres que atuam em redes relacionais.
Uma das grandes questões do trabalho remoto, percebida como experiência real, foi a falta de contato entre as pessoas. No escritório, a gente acaba trocando ideias, desabafando sobre o dia a dia e criando laços com os colegas, explorando outros temas que “não fazem parte do trabalho”, mas que fazem parte da vida e do que chamamos de humanidade. Já em casa, essa interação fica limitada e o resultado é que muitos se sentem sozinhos e desconfortáveis, mesmo cercados dos que se constituem como núcleo familiar seja ele de que natureza for.
Esse isolamento causou vários problemas e suas consequências apareceram nas estatísticas de saúde e produtividade em todos os institutos de pesquisa. A revista FORBES, a mais conceituada publicação sobre o mundo dos negócios, em recente artigo (setembro/24), mostrou como cresceu, nos últimos 36 meses, a tristeza, a depressão, o bournout, principalmente dentro dos espaços corporativos. A conclusão é de que o isolamento e o trabalho remoto tem muito a nos dizer sobre as origens dessas patologias emocionais.
Muitas vezes, a gente nem percebe o quanto essas pequenas interações cotidianas fazem diferença no nosso bem-estar. No início do trabalho remoto, a produtividade pareceu aumentar dada a liberdade que se tinha de se “trabalhar do jeito que a gente quiser e quando quiser”. A ideia era de que “o importante é a entrega e o acordo sobre expectativas”.
Mas, no andar da carruagem a gente acabou percebendo que a redução da interatividade interpessoal em seu aspecto físico-presencial, afetou a saúde e, como consequência, os resultados. Ou seja, aquilo que melhoramos em termos de desempenho, foi consumido pelo aumento das doenças ocupacionais. Daquelas que conhecíamos e das tantas outros que estamos a descobrir depois.
As reuniões online que, apesar de funcionais, são mais objetivas e diretas, deixam pouco espaço para conversas informais e troca de ideias espontâneas. Aqueles momentos de “brainstorm” ou uma conversas no corredor que geram insights, se perderam e aquilo que parecia ser muito bom, não foi tão bom assim.
Esse cenário tem um impacto forte não só na saúde mental, mas também nos índices dos resultados. O isolamento pode fazer com que as pessoas se sintam mais tristes, e, com o tempo, isso evolui para algo mais sério, como a depressão e outras “dificuldades”.
A falta de separação entre a vida pessoal e o trabalho também aumentou e o risco de esgotamento deixou de ser risco para ser uma realidade. Quando o escritório está em casa, muita gente acaba se sentindo “presa” no trabalho o tempo todo e o espaço sagrado da intimidade foi devastado pelo whatsapp a qualquer hora do dia ou da noite. É difícil desligar. Mas também é difícil desligar o chefe com síndrome do trabalho compulsivo.
A pessoa trabalha mais horas do que deveria, além de ficar com um sentimento de culpa latente, associado a um cansaço físico e mental não percebido.
Diante desse cenário, muitas empresas estão tentando encontrar um equilíbrio entre as vantagens do trabalho remoto e do trabalho presencial. O chamado modelo híbrido que combina o melhor do trabalho remoto e do presencial, permite que os colaboradores tenham liberdade para escolher onde e quando trabalhar, de acordo com suas necessidades e conforme os acordos feitos com as equipes e com a empresa.
Esse modelo tem ganhado popularidade à medida que as organizações registram que nem todos os funcionários se adaptam bem ao home office integral, mas, ao mesmo tempo, querem preservar as vantagens da flexibilidade, equilibrando suas responsabilidades profissionais e pessoais de maneira mais eficaz.
Foi isso que um cliente meu expressou depois de um programa de inteligência relacional. “Eles (colaboradores e gestores), podem trabalhar em casa em dias em que precisam estar perto da família ou quando têm compromissos pessoais, mas também podem ir ao escritório em momentos em que precisam de um ambiente mais colaborativo com reuniões presenciais. Estou satisfeito com os resultados.”
A promoção de momentos presenciais periódicos para fortalecer os laços da equipe são fundamentais, mas o que muda no novo cenário do trabalho híbrido é que a escolha desses momentos não é mais uma imposição gerencial; antes, passa a ser um acordo entre pessoas maduras que entendem suas responsabilidades e compromissos.
Esses encontros são usados para atividades estratégicas, como sessões de planejamento, brainstorming ou treinamentos, mas também para momentos de socialização, como confraternizações, que ajudam a construir relacionamentos mais fortes entre todos, deixando a opção do trabalho remoto para as atividades operacionais e de caráter personalíssimo.
No fim das contas, o trabalho remoto tem suas vantagens, mas também traz muitos desafios que precisam ser enfrentados. A falta de contato e o isolamento são questões sérias, e é fundamental que as empresas estejam atentas a isso.
Então, o futuro do trabalho parece caminhar-se para um modelo mais flexível, onde cada vez mais será possível aproveitar o melhor dos dois mundos: a liberdade do home office e a interação do trabalho presencial, considerando que essa combinação promove tanto a produtividade quanto o bem-estar de todos. Afinal, o que todo mundo quer é encontrar o equilíbrio perfeito entre a vida pessoal e o trabalho, sem abrir a mão da saúde e da qualidade de vida relacional.
Na Homero Reis – Relações Inteligentes (www.homeroreis.com), estamos ajudando as organizações a encontrarem esse caminho mais adequado para uma nova “cultura” do trabalho. Nosso desafio junto aos nossos clientes tem sido o de promover espaços de responsabilidade e protagonismo, a partir da flexibilidade cognitiva, que nos permite construir juntos novos paradigmas para as relações de trabalho e produção.
A partir da inteligência relacional, buscamos encontrar soluções que atendam à necessidade das organizações de melhorarem seus resultados, mas também das pessoas de melhorarem sua qualidade de vida em todos os domínios do viver. Isso porque entendemos que “existe vida para além do trabalho”, mas é no trabalho que se constrói uma parte significativa de nossa identidade social e de nosso propósito existencial.
Resolvemos isso com muitas estratégias que promovem uma combinação possível (não perfeita), entre trabalho remoto e presencial, integrando as pessoas em uma cultura acolhedora, participativa e geradora do senso de pertencimento. Essas estratégias tem minorado significativamente a saúde de todos, fortalecido o senso de cooperação e colaboração, reduzindo custos e aumentado a interatividade de todos.
Os temas mais comuns que aparecem nesses projetos híbridos e que tem sido objeto de nossa oferta ao mercado, são:
- Gestão e monitoramento de equipes, onde usamos ferramentas de gestão de projetos e metodologias ágeis onde todos, colaboradores, gestores e líderes, desenvolvem novas competências conversacionais, garantindo que suas equipes se sintam reforçadas e orientadas tanto no ambiente presencial como no modelo remoto;
- Inovação e criatividade, onde usamos as técnicas construtivistas de “atividades cooperativas” e oficinas de relacionamentos;
- Segurança e privacidade, onde usamos modelos de protocolos de relacionamentos para estabelecer processos e limites relacionais voltados para preservação dos espaços individuais e controle dos espaços coletivos, bem como proteger redes, dispositivos, aplicativos, sistemas e dados de ameaças cibernéticas;
- Ergonomia e saúde física no trabalho remoto, onde usamos a prescrição de “dietas” de trabalho, laser, saúde e atividades físicas como processos educacionais na construção de hábitos saudáveis em todos os domínios da vida;
- e, questões ligadas à diversidade, inclusão e gênero, onde promovemos a reflexão, o debate e a construção de códigos de conduta e ética na vida, bem como a busca inteligente de um equilíbrio entre vida pessoal e profissional de todos e para todos.
Fazemos isso a partir de dois grandes eixos andragógicos: mentorias e transferência de tecnologia. No primeiro, construímos junto com os clientes um processo educacional a partir das melhores práticas, de modo que cada um se torne um multiplicador da nova cultura do trabalho dentro da organização em que atua.
No segundo, promovemos a transferência de conteúdos para a organização, de modo que ela “ganhe tempo” na instalação de novos paradigmas nas relações de trabalho e produção, focando em resultados e qualidade de vida.
É assim que atuamos.
Seja bem-vindo à Homero Reis – Relações Inteligentes.
Venha conversar conosco.
Abraços.
Homero Reis
Sócio-fundador.
[1] © proibida a reprodução do todo ou de parte desse texto sem a prévia autorização do autor. Direitos reservados a REIS, Homero; Brasília/DF, setembro/2024. homero@homeroreis.com
Entenda, Lide e Supere
por Homero Reis©
A vida e os relacionamentos humanos são complexos e cheios de circunstâncias nem sempre agradáveis, claras e objetivas. Muito pelo contrário. Vivemos em redes relacionais em intensa interação onde as interferências recíprocas são muito mais amplas do que “supõem nossa vã filosofia”. Mas, considerando a história da humanidade, começamos a estudar há muito pouco tempo os impactos (causas e consequências) de nossas interferências recíprocas em nossa saúde pessoal, social e emocional.
É fato que o que nasce da barriga da mulher é a reprodução biológica da espécie; mas, o que nos torna seres humanos é nossa vida sócio-comunitária porque “ser humano é ser social”. É nesse sentido que somos a origem e o destino de nossas competências e fracassos. Com essa distinção básica, começou-se a estudar o que as interações sociais promovem em termos de identidade e de saúde tanto na sociedade como nos indivíduos. Desde então, muitas coisas foram sendo explicadas e entendidas, mas muitas questões novas estão surgindo desses estudos. Dentre elas, o que se tem até o momento como o mais complexo dos sentimentos, e como um dos aspectos mais difíceis de serem compreendidos e cuidados é a questão da rejeição. Nos sentimos rejeitados, aprendemos a viver com isso e rejeitamos os outros num ciclo vicioso contínuo. Mas, amos conversar sobre isso.
Conceituando melhor o termo: Rejeição é uma palavra que evoca uma gama de emoções e experiências complexas. Desde os primeiros dias de nossa existência até os estágios mais avançados da vida, todos nós nos encontramos em muitos momentos, confrontados por esse sentimento desconfortável. Mas o que exatamente é rejeição? Como ela afeta nossa mente, nossas emoções e nosso comportamento? O que filósofos, educadores e religiosos dizem sobre a rejeição? E, o mais importante, como lidar com ela e ser capaz de superar esse desafio emocional?
A rejeição é a sensação de ser excluído, abandonado ou não aceito. Ela pode ser experimentada em diversas formas e em diferentes contextos. Pode ocorrer de forma sutil, como um olhar de desaprovação, uma frase dita por alguém, ou de maneira mais direta e ostensiva, como ser demitido de um emprego, rejeitado em um pedido de amor. Rejeitar alguém significa resistir às suas diferenças, desqualificá-lo a partir de preconceitos, desprezar ou recusar algo ou alguém por qualquer que seja a razão. Estudos mostram que dentre todas as “tragédias humanas”, a rejeição é a que gera as feridas emocionais mais profundas e dolorosas. A dor que ela provoca é mais intensa que a dor da perda e da morte de alguém que amamos muito. O que é mais grave é que a rejeição se faz presente em todos os âmbitos da vida e não se conhece nenhuma mecânica social que não a tenha em seu escopo. Todos os indivíduos, povos, línguas, culturas e raças, ao longo de todo o tempo viveram (ou vivem) situações de rejeição. Isso ocorre desde as relações sociais nucleares, até as relações entre estados, povos e nações.
A rejeição ocorre quando um indivíduo é deliberadamente excluído de uma relação ou interação social por outro indivíduo ou por grupos inteiros, incluindo aí a rejeição de seus pares, a rejeição dos afetos, a étnica, cultural e a rejeição familiar, além das que decorrem de preconceitos de qualquer natureza.
Além disso, a rejeição pode ser ativa, quando promove a exposição do outro ridicularizando-o, desqualificando-o (bullying), ou; passiva, quando ignora o outro. Mas, em qualquer caso, a experiência de ser rejeitado ou de viver circunstâncias inevitáveis de rejeição, embora seja subjetiva, gera inúmeras consequências objetivas na vida. Seus efeitos mais comuns aparecem travestidos de isolamento social, sentimento de exclusão e cancelamento, quebra de vínculos afetivos, “síndrome do estrangeiro”, além de solidão, baixa autoestima, agressividade, depressão, insegurança, dificuldades afetivo-relacionais, dentre outras.
A rejeição é especialmente dolorosa porque a necessidade de interação com outros seres humanos é uma necessidade básica e essencial para a construção de nossa identidade. Segundo Maslow (falarei dele mais a frente), todos os seres humanos, mesmo aqueles mais introvertidos, precisam ser capazes de dar e receber afeto para serem psicologicamente saudáveis. O contato simples ou a interação social eventual com os outros não é suficiente para atender a essa necessidade. As pessoas necessitam formar e manter relacionamentos interpessoais significativos e estáveis para satisfazer necessidades de amar e ser amado, como de pertencimento social. Se algum desses ingredientes (pertencimento e amor), estiverem faltando, as pessoas começarão a sentir-se solitárias e infelizes. Por isso a rejeição é uma ameaça significativa. De fato, a maioria das ansiedades humanas parece decorrer de preocupações sobre a questão da rejeição.
O modo como o indivíduo espera ser reconhecido no meio em que vive é um componente-chave para a qualidade da autoimagem e do modo como ele atua me sociedade. Tanto é que um estudo da Duke University, conduzido por Mark Leary (2022), sugeriu que o objetivo principal da autoimagem é monitorar nossas relações sociais e detectar a possibilidades de rejeição. Nesse estudo, a autoimagem aparece como uma medida da nossa capacidade de tolerar a exclusão. Quando essa taxa é baixa, aparecem comportamentos antissociais (solidão, isolamento, agorafobia, etc); bem como comportamento agressivo, desatenção, impulsividade e altas taxas de ansiedade.
Depois que o indivíduo “admite” viver em estado de rejeição, ou sucumbe-se a esse estado, tende a julgar impossível livrar-se dele e sua vida, no sentido mais amplo, passa a ser determinada por desmotivações, vitimismo, resistência à mudança, comportamento excessivamente rotineiro. No estudo da Duke University, pesquisadores descobriram que, a rejeição quando internalizada como “conduta normal do mundo”, promove quebra de conexões sociais e um vazio existencial preenchido, muitas vezes, por sentimentos de preconceitos e tirania, dando lugar à angústia constante.
É importante considerar que o tema da rejeição é amplo e a maneira como ela pode se manifestar, em diferentes áreas da vida, é complexo e diverso em cada contexto. As principais formas de manifestação do “sentimento” de rejeição, começam com a exclusão passiva por um grupo social ou por alguém, e segue com rompimento amoroso ou preferência familiar, até rejeição profissional, como não ser selecionado para um emprego ou receber críticas negativas reiteradas vezes. Ela também pode ocorrer de maneira sutil, como não ser convidado para um evento, ou de forma mais direta, ser insultado ou menosprezado por outras pessoas.
A rejeição tem um impacto significativo no bem-estar mental e emocional, desencadeando uma série de emoções negativas, como tristeza, raiva, vergonha e ansiedade. Além disso, repetida ou prolongada contribui para o desenvolvimento de problemas de saúde mental, como transtornos obsessivo compulsivo, e as já citadas depressão, baixa autoestima e transtornos de ansiedade.
A rejeição cria um ciclo vicioso e negativo de vergonha crônica em que a pessoa começa a internalizar a mensagem de que não é digna de amor ou aceitação, se envergonha por isso e, por isso passa a acreditar que não é digna de amor e aceitação. Isso leva a um padrão de pensamento e comportamento que tende à autodestruição.
Do ponto de vista psíquico, a rejeição ativa áreas do cérebro associadas à dor física, sugerindo que ela pode ser percebida pelo nosso cérebro como uma forma de lesão emocional. Isso explica por que a rejeição pode ser tão dolorosa e difícil de superar. A psicologia oferece insights valiosos sobre como a rejeição funciona e como podemos lidar com ela. A Teoria da Autodeterminação, (p.ex.), afirma que todos nós temos uma necessidade inata de nos sentir conectados e aceitos pelos outros. Quando essa necessidade não é atendida, experimentamos a dor da rejeição. A resiliência como capacidade de suportar e se recuperar de adversidades e desafios, incluindo a rejeição, é outro indicador importante. A psicologia nos ensina que a resiliência não é algo inato, mas sim uma habilidade que pode ser desenvolvida através de práticas e estratégias específicas que nos fortalecem contra os “estragos” da rejeição.
Freud (Sigmund), ofereceu várias contribuições importantes para a compreensão da rejeição enquanto fenômeno psíquico. Embora ele não a tenha abordado diretamente em sua obra, muitos de seus conceitos e teorias são relevantes para a forma como entendemos esse fenômeno.
Na teoria do complexo de Édipo (p.ex.), usada para explicar o desenvolvimento da sexualidade infantil e a formação do superego, Freud defende que durante a fase fálica do desenvolvimento psicossexual, as crianças desenvolvem desejos inconscientes pelo genitor do sexo oposto e hostilidade em relação ao genitor do mesmo sexo. A resolução bem-sucedida desse complexo envolve a identificação com o genitor do mesmo sexo e a internalização dos valores e normas sociais, enquanto a rejeição desses desejos pode levar a conflitos psíquicos e distúrbios emocionais. A resolução do complexo de Édipo pressupõe a competência para se lidar com a rejeição.
Freud também descreveu uma série de mecanismos de defesa que o ego utiliza para lidar com conflitos e ansiedades. A negação (p.ex.), é um mecanismo de defesa pelo qual a pessoa recusa aceitar uma determinada realidade dolorosa ou perturbadora. Nesse caso, a rejeição é uma forma de negação, onde o indivíduo tenta negar ou minimizar o impacto emocional de uma experiência de exclusão ou não aceitação.
Na teoria sobre o narcisismo, Freud discute a questão do amor-próprio e da autoestima. Para ele o narcisismo saudável consiste em ser capaz de reconhecer sua beleza e de estimar-se por isso, sendo natural ao desenvolvimento humano uma “alta” autoestima. Mas, quando em excesso, o narcisismo leva à rigidez psíquica e à incapacidade de lidar com o fato de que os outros podem discordar de nós. Nesse caso, a rejeição pode ser particularmente desafiadora para os indivíduos com um alto grau de narcisismo, pois ameaça a imagem idealizada de si mesmos.
Embora Freud não tenha tratado explicitamente da rejeição como um fenômeno isolado, suas teorias sobre o desenvolvimento psicossexual, os mecanismos de defesa e o narcisismo oferecem insights importantes sobre como a rejeição pode ser entendida e abordada do ponto de vista psicanalítico. A partir desses conceitos, os psicanalistas contemporâneos continuam a explorar a dinâmica da rejeição e seu impacto na vida mental e emocional dos indivíduos.
Do ponto de vista filosófico, muito se fala sobre a rejeição. Vários filósofos ao longo da história exploraram o tema, oferecendo perspectivas valiosas sobre esse aspecto da experiência humana. Por exemplo, Søren Kierkegaard, o filósofo dinamarquês do século XIX, pai do existencialismo, abordou a rejeição em sua obra “O Conceito de Angústia”. Nela ele explora a ideia de que a rejeição é uma manifestação da angústia existencial, resultante da liberdade e da responsabilidade do indivíduo. Kierkegaard argumentava que a rejeição é uma parte inevitável da busca pela autenticidade e pelo significado na vida. A questão está em saber lidar com ela e não sucumbir-se a ela.
Já Friedrich Nietzsche discutiu a rejeição em relação ao conceito de ressentimento em sua obra “Genealogia da Moral”. Ele sugeria que a rejeição surge como uma reação à inferioridade percebida em relação a outra pessoa ou grupo. Nietzsche via a superação do ressentimento e da rejeição como uma parte essencial do projeto de “maturidade humana “e da afirmação da vontade de poder.
Sartre (Jean-Paul), o existencialista francês, explorou a rejeição em sua filosofia da liberdade e da responsabilidade individual. No livro “O Ser e o Nada”, argumenta que a rejeição é uma consequência inevitável da liberdade de escolha. Ele enfatizava a importância de assumir a responsabilidade por nossas próprias ações, mesmo quando enfrentamos a rejeição dos outros. Para ele, cada escolha pressupõe a renúncia de infinitas outras possibilidades. Saber renunciar é saber lidar com a rejeição.
Michel Foucault examinou a dinâmica do poder e da exclusão social em sua análise das instituições sociais e do controle disciplinar. Na obra “Vigiar e Punir”, ele descreveu como a rejeição pode ser utilizada como uma ferramenta de controle social, marginalizando aqueles que desafiam as normas estabelecidas. Foucault destacava a importância de resistir à rejeição e de lutar contra as estruturas opressivas do poder.
Esses filósofos (dentre tantos), oferecem uma variedade de perspectivas sobre a rejeição, desde sua relação com a angústia existencial e o ressentimento, até sua conexão com a liberdade e o poder. Suas ideias continuam a influenciar o pensamento contemporâneo sobre esse tema complexo e universal.
Mas o que os educadores falam sobre a rejeição? À semelhança da filosofia, os educadores também têm na rejeição um tema estruturante de suas teorias. Jean Piaget, um dos educadores mais influentes e pai do construtivismo, quando tratou do desenvolvimento cognitivo infantil, não se concentrou especificamente na rejeição, mas nos trouxe importantes princípios, no contexto educacional, que têm contribuído com perspectivas sobre como a rejeição pode afetar o processo educacional e o desenvolvimento das crianças. Suas teorias esclarecem como elas lidam com o conflito e a desaprovação. Piaget enfatizou a importância do jogo simbólico e da interação social na aprendizagem das crianças. Ele argumentava que as crianças constroem ativamente seu próprio conhecimento por meio da exploração e da experimentação. O conflito cognitivo entre a construção da identidade e a rejeição natural dos outros, desempenha um papel crucial nesse processo.
Vygotsky, outro importante teórico do desenvolvimento infantil, tem ideias relevantes para o tema da rejeição no processo educacional, com repercussões na vida adulta. Ele enfatizou o papel do ambiente social na aprendizagem das crianças, argumentando que a interação com os outros e a participação em atividades culturais e sociais são fundamentais para o desenvolvimento cognitivo. Vygotsky introduziu o conceito de “zona proximal de desenvolvimento”, que se refere ao espaço entre o que uma criança pode fazer sozinha e o que pode fazer com a ajuda de um adulto ou colega mais experiente. No contexto educacional, a rejeição por parte dos colegas ou dos professores pode afetar negativamente a autoestima e o engajamento dos alunos, limitando assim seu acesso à zona proximal de desenvolvimento e seu potencial de aprendizagem. Tal processo cria mecanismos que se repetirão na vida adulta. Quando alguém entende que está sendo rejeitado, sua mobilização e seu potencial para a vida, são profundamente reduzidos.
Carl Rogers também abordou questões relacionadas à educação e ao desenvolvimento pessoal, nos dando boas pistas para se entender o efeito da rejeição na vida. Ele enfatizou a importância da aceitação incondicional e do respeito genuíno no processo educacional, argumentando que os alunos prosperam em um ambiente onde se sentem valorizados e respeitados como indivíduos. A rejeição por parte dos professores ou dos colegas, mina a autoestima e a autoconfiança, prejudicando o desempenho acadêmico, profissional, relacional e o bem-estar emocional.
Na hierarquia das necessidades psicológicas de Abraham Maslow, depois de satisfeitas as necessidades básicas (fisiológicas: comer, beber, etc), todos os demais níveis (segurança, social, estima) presumem reconhecimento e aceitação. Segurança e pertencimento são o contraponto à rejeição que, quando não “processada” ameaça toda a estabilidade psicossocial das pessoas e dificulta o processo de aprendizagem, desenvolvimento e engajamento social.
Howard Gardner, conhecido por sua teoria das inteligências múltiplas, mentes que criam e estruturas da mente, também enfatiza a importância do reconhecimento e da valorização das habilidades e talentos únicos de cada um, num contexto de aceitação e acolhimento. A rejeição, ao surgir, pode nos fazer sentir inadequados ou desvalorizados por não nos encaixar em determinado padrão “de sucesso”, o que prejudica substantivamente a autoestima e motivação para a vida.
Carol Dweck, conhecida por seu trabalho sobre a mentalidade de crescimento, sugere que as crenças das pessoas sobre suas próprias habilidades influenciam seu comportamento e desempenho. No contexto relacional, Dweck argumenta que nossas habilidades podem ser desenvolvidas através do esforço e da prática e, se associado a isso também se tem um contexto de aceitação dessas habilidades pelo grupo social, exponencializa-se o desempenho e a saúde tanto da pessoa como da “comunidade”. Por outro lado, se esse contexto é de rejeição, as perdas pessoais e sociais são enormes. A rejeição desencadeia uma mentalidade de “fixação”, onde as pessoas se veem como incapazes de mudar ou melhorar, prejudicando assim seu desempenho, sua motivação para aprender e seu compromisso com a vida. Dweck vai mais além quando afirma que a rejeição é uma forma extremamente agressiva de relacionamentos tóxicos e abusivos.
Na religião cristã, a abordagem da rejeição segue a linha da complexidade, refletindo uma combinação de ensinamentos bíblicos, interpretações teológicas e práticas espirituais que atuam a partir de dois argumentos: 1) A rejeição é um fenômeno decorrente do pecado. O homem rejeitou a Deus e, por isso sofre as consequências de sua escolha; 2) A salvação em Cristo restaura a relação do homem com Deus, afastando a rejeição e criando um novo homem e um povo que vive a partir do amor. Esse povo é chamado de “igreja de cristo”, “corpo de Cristo”, “Reino de Deus”.
As perspectivas da rejeição, do ponto de vista da fé cristã, em seus aspectos negativos e positivos, podem ser resumidos assim:
1. Deus é amor e aceita e ama incondicionalmente cada indivíduo, independentemente de suas falhas ou imperfeições. Essa aceitação divina é vista como uma fonte de segurança e consolo para aqueles que se sentem rejeitados pelos outros.
2. A morte e ressurreição de Jesus Cristo, dá a todas as pessoas a oportunidade de serem perdoadas e reconciliadas com Deus. Isso significa que, mesmo quando nos sentimos rejeitados pelos outros ou por nós mesmos, podemos encontrar esperança e renovação na fé em Cristo, pela aceitação de seu sacrifício na cruz e de sua condição de Senhor.
3. A comunidade cristã (igreja), é vista como um lugar de acolhimento e apoio mútuo, onde os membros são encorajados a se amarem e cuidarem uns dos outros. Os cristãos são chamados a praticar a empatia, a compaixão e a solidariedade, oferecendo conforto e apoio àqueles que estão enfrentando a rejeição.
4. Para os cristãos, a identidade do indivíduo não está enraizada nas opiniões ou julgamentos dos outros, mas sim na sua relação com Deus em Cristo Jesus, como filhas e filhos amados. Isso significa que a rejeição por parte dos outros não define quem somos, pois nossa identidade é encontrada em nossa fé em Cristo.
5. A fé cristã ensina que, mesmo diante da adversidade e da rejeição, podemos encontrar força e esperança na promessa de Deus de que Ele está conosco em todas as circunstâncias. Essa confiança na providência divina nos capacita a perseverar e a superar os desafios que enfrentamos.
A religião cristã aborda a rejeição como um desafio humano comum, mas oferece uma perspectiva de esperança, amor e aceitação divinos, juntamente com o apoio da comunidade de fé. Esses ensinamentos proporcionam conforto e orientação para aqueles que lidam com a rejeição, incentivando-os a encontrar significado e propósito em sua relação com Deus e com os outros.
Aqui vão alguns textos bíblicos que abordam o tema da rejeição: Salmo 27:10 (NVI): “Embora meus pais me abandonem, o Senhor me receberá.” Isaías 53:3 (NVI): “Foi desprezado e rejeitado pelos homens, um homem de dores e familiarizado com o sofrimento. Como alguém de quem os homens escondem o rosto, foi desprezado, e nós não o tínhamos em estima.” Mateus 21:42 (NVI): “Jesus lhes disse: ‘Vocês nunca leram nas Escrituras: ‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; isso vem do Senhor, e é algo maravilhoso para nós’. “Lucas 20:17 (NVI): “Jesus olhou para eles e perguntou: ‘Então, o que significa o que está escrito: ‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular’?” João 1:11 (NVI): “Ele veio para o que era seu, mas os seus não o receberam.” Romanos 9:33 (NVI): “Como está escrito: ‘Eis que ponho em Sião uma pedra de tropeço e uma rocha que faz cair; mas aquele que confia nela jamais será envergonhado’.”
Esses textos e tantos outros, refletem diferentes aspectos da rejeição, desde a experiência de ser abandonado pelos outros até a rejeição de Jesus Cristo pelos que o cercavam durante seu ministério terreno. No entanto, eles também transmitem a mensagem de esperança e redenção, mostrando como Deus pode transformar a rejeição em algo significativo e poderoso.
Mas, a boa notícia é que todos esses filósofos, psicólogos, educadores, sociólogos, e as orientações da fé cristã, oferecem perspectivas valiosas sobre a rejeição, tanto no seu aspecto diagnóstico, como na capacitação para se saber lidar com ela. Todos os que estudam o tema destacam a importância de se construir ambientes relacionais que promovam a aceitação, respeito mútuo e o reconhecimento das habilidades e potencialidades únicas de cada um, bem como a valorização das diferenças de cor, raça, sexo e cultura. Se assim o for, a dinâmica da pluralidade-aceita cria uma mentalidade de crescimento, de apoio e incentivo para que todos, juntos, enfrentem os desafios de construir vidas e sociedades mais adequadas e saudáveis.
Aqui estão algumas perspectivas e estratégias que fomentam relacionamentos mais saudáveis, mais inclusivos, acolhedores e menos promotores da rejeição:
1. A promoção da empatia e da inclusão a partir do entendimento das experiências e perspectivas uns dos outros, reduz o potencial de rejeição e exclusão.
2. O desenvolvimento de habilidades sociais e a convivência entre diferentes é fundamental para lidar com situações de rejeição. A prática de habilidades como comunicação eficaz, resolução de conflitos e trabalho em equipe, ajudam a construir relacionamentos saudáveis e resilientes.
3. A valorização da autoestima e da autoconfiança fortalecem o desenvolvimento e a estruturação da autoimagem positiva e de uma autoestima bem alicerçadas. A importância do elogio, do feedback, da educação continuada, da mentoria constante e da valorização da autonomia, são fundamentais.
4. As estratégias de enfrentamento e confrontamento saudáveis para se lidar com a rejeição e a adversidade, são bem-vindas. Isso inclui técnicas de relaxamento, respiração profunda, mindfulness, competências conversacionais, bem como o desenvolvimento de habilidades de pensamento positivo e resiliência emocional.
5. A criação de uma cultura de segurança, de honestidade intelectual, de flexibilidade cognitiva e de resolução de problemas complexos em grupos heterogêneos, reduz sensivelmente o senso de rejeição, promovendo abertura para a relacionamentos inteligentes e fornecendo recursos e orientação para se enfrentar as circunstâncias da vida social.
6. Programas educacionais de prevenção de bullying para organizações e instituições de todas as naturezas, incluindo treinamento para gestores e funcionários sobre aceitação e respeito é fundamental. A intervenção imediata quando comportamentos e falas inadequadas são identificados, é um princípio muito eficaz. A ideia é promover em toda a sociedade, ambientes seguros, inclusivos e solidários, neutralizando qualquer expressão preconceituosa. Ao fornecerem orientação, apoio e recursos, esses programas ajudam as pessoas a desenvolverem habilidades e resiliência para enfrentar os desafios da vida e construir relacionamentos saudáveis e significativos.
Do ponto de vista pessoal, lidar com a rejeição é desafiador. Mas, existem várias estratégias e atitudes que podem nos ajudar a enfrentá-la de forma saudável e construtiva:
1. Reconheça e aceite seus sentimentos de rejeição. É normal se sentir triste, magoado ou zangado. Permita-se experimentar essas emoções, mas lembre-se de que elas não definem quem você é. Converse sobre isso com alguém competente em que você confia.
2. Reflita sobre como você está reagindo à rejeição. Está se culpando ou se depreciando? Tente identificar pensamentos distorcidos e substituí-los por pensamentos mais realistas e compassivos.
3. Busque apoio em amigos, familiares ou profissionais de saúde mental. Compartilhar seus sentimentos com outras pessoas pode ajudá-lo a se sentir compreendido e apoiado. Mentorias e processos terapêuticos são muito úteis.
4. Cultive uma autoestima saudável, reconhecendo suas qualidades e valor pessoal. Lembre-se de que a rejeição de uma pessoa ou situação não significa que você não seja digno de amor e aceitação.
5. Veja a rejeição como uma oportunidade de crescimento e aprendizado. Pergunte a si mesmo o que você pode aprender dessa experiência e como pode usá-la para se fortalecer no futuro. Seja proativo.
6. Priorize o autocuidado físico, emocional e mental. Cuide de si mesmo praticando atividades que o façam sentir-se bem, como exercícios, meditação, hobbies ou passatempos.
7. Evite se fixar no passado ou se preocupar demasiadamente com o futuro. Concentre-se no momento presente e nas coisas que você pode controlar.
A rejeição é uma parte inevitável da experiência humana, mas não precisa nos definir ou nos limitar. Ao compreendermos o que é rejeição, como ela nos afeta e como podemos lidar com ela, podemos aprender a transformar essa experiência desafiadora e dolorida, em uma oportunidade de crescimento e fortalecimento pessoal. Com práticas e atitudes positivas, podemos nos libertar do peso da rejeição e seguir em frente em direção a uma vida mais plena e satisfatória, lembrando sempre de que não estamos sozinhos nessa jornada.
E você, gostou?
Faz sentido essa reflexão?
Vamos conversar sobre o tema?
Acesse-me em homero@homeroreis.com; ou @homero.reis
Reflita em paz!
Homero Reis©.
Curitiba/PR, abril/2024